A voz de Bianca no celular me deixou em pânico. Pulei da cama no mesmo instante desperta até de mais agora. Não podia ser, ele não podia ter morrido. Apesar de todas as briguinhas entre ele e Bianca, eu sabia que ele era uma boa pessoa e o homem que minha prima gostava, mesmo que de uma forma maluca.— Onde você tá Bianca? — gritei querendo que ela prestasse atenção na minha voz. — Estou indo pra aí, me fala onde está?Miguel já tinha pulado da cama junto comigo, não sei se ele tinha conseguido ouvir a conversa, mas já estava se arrumando assim como eu.— Eu estou... Eu estou na... na rua da boca. Miguel sabe onde é. — ela conseguiu falar sobre as lágrimas com muita dificuldade. — Marcaram ele prima, marcaram ele como se fosse um animal.— Merda. — sussurrei sabendo que era mais um morto como Miguel falou mais cedo no celular. — Estamos indo Bianca, se protege!Corri pra fora e Miguel já me esperava na porta com uma arma na mão, não ia nem perguntar o pra que, aquilo era mais do que n
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo, Camila me falava o que tinha acontecido ontem, como ela tinha acabado com todos aqueles machucados e meu sangue fervia. Raiva líquida corria em minhas veias, raiva por ela ter mentido, por não ter confiado em mim, não ter confiado que eu podia manter ela segura.— Tem ideia do que eu devia ter feito por terem tocado em você? Quanto mais te machucado daquele jeito! — não queria gritar, mas já estava gritando há muito tempo. — Porra Camila, que ideia inventar aquela mentira. Achou que estava protegendo quem deixando eles a solta?— Eu já disse, eles juraram que matariam o Juninho...— Eles não matariam ele, só falaram isso pra assustar você! Os dois deveriam estar com uma faca cravada na cabeça a essa hora, jogados no rio pra servir de exemplo pra qualquer outro.Os olhos dela se arregalaram, indo da revolta para o espanto. Depois do que tinha visto o que eu falasse era o de menos, não tinha como não ficar assustada depois de toda essa m
Eu estava tendo lapsos de memória, não conseguia me manter acordado por muito tempo, minha mente oscilava entre o presente e a realidade.Mas nos segundo em que eu conseguia me manter alerta, eu tentava focar nos rostos que estavam a minha volta.— Porque a gente não acaba com ele de uma vez? — ouvi algum deles perguntar, mas dessa vez continuei com os olhos fechados, para não recomeçar a sessão de socos.— Quantas vezes tenho que repetir, ele é um recado, o recado mais próximo de Miguel!Aquele filho da puta, o policial de merda que tinha nos feito acreditar que tinha aceitado o acordo anterior, só pra isso agora. Com certeza algum dos homens que já estavam roubando Miguel fizeram isso, se bandearam pro lado dele e começaram a dar todas as coordenadas e locais de tudo.Não duvido que foi um acordo para que o ladrão ficasse com o morro e o policial ganhasse o que queria. Mas quem era a merda do ladrão? Quem tinha traído Miguel assim, a ponto de se juntar com a polícia?— Mas a mina já
Ver meu irmão daquele jeito me irritou profundamente, era tudo culpa minha, se eu tivesse encontrado o filho da puta que estava roubando teria conseguido evitar isso. Agora Camila tinha apanhado na rua dos capangas dele e meu irmão foi torturado e cortado como... Nem sei com o que comparar o que fizeram com Vitinho.Peguei a moto e pilotei a mil por hora indo direto para o galpão, se eles achavam que podiam fazer aquilo com meu irmão e pensar que tudo ficaria numa boa estavam enganados.— Acorda esse filho da puta agora! — cheguei gritando ao ver Zé desmaiado na cadeira. — Ou ele fala agora ou morre aos poucos.— O que? Onde? — ele acordou gritando assustado e demorou a perceber que estava amarrado na cadeira.— Cansei de conversa seu merdinha. Ou conta o que sabe dos ataques, das mortes, ou vai morrer! — gritei com toda a frustração do meu ser.— Vai pro inferno! — ele cuspiu no chão manchando meu tênis de sangue. — Tu e toda tua família vão cair! Foram três anos de reinado que você
Vitor finalmente tinha acordado e aberto os olhos lindos pra mim, mas fui tomada por uma mistura de felicidade e ainda mais pena, ele estava com manchas amareladas na parte branca dos glóbulos, de tantos socos ali, além das pálpebras inchadas de mais.Meu docinha tinha sido arrebentado de tantas formas, o medico que Miguel tinha chamado deu morfina pra ele e alguns anti-inflamatórios, os cortes feitos com uma navalha curta cobriam seus braços, foram unidos com um tipo de fita que ajudaria a fechar, o homem baixinho e barrigudo garantiu que logo estariam cicatrizando.Deixei também que ele fosse o responsável por tirar o aviso e as tachinhas do peito de Vitinho, porque de verdade eu não tinha nenhuma força ou coragem no meu ser que me faria tirar aquilo. Depois de todo limpo, cuidado e devidamente medicado, Vitor começou a falar, não se importou comigo pedindo que parasse de falar e descansasse, ele tinha algo importante para contar.— Miguel... chama o...— Ok, vou ligar pra ele, mas
Não podia acreditar no que meu irmão tinha feito, ele sempre foi contra qualquer cara que batia em mulher aqui no morro e assim como nosso pai, ele também dava um jeito nos safados. Ele ter ido pra cima de Camila, logo a nossa ursinha, me deixava ainda mais em choque. Eu queria quebrar a cara dele, arrebentar o nariz e arrancar uns dentes no processo.Ver nossa menina no chão com os olhos assustados e chorando por culpa do desgraçado ao meu lado me fez ser consumido por ódio. Eu vi o jeito que Miguel olhou para ela no outro dia, tanto cuidado, paixão, que decidi tirar meu time de campo. E agora ver isso me revoltava, não o deixaria junto dela nunca mais, não depois de mostrar que qualquer um pode envenenar sua mente contra ela.A coisa mais estúpida que ele fez foi acreditar no que um traidor disse. Era impossível que Renato estivesse vivo, o cara tomou um tiro na frente dele e meu irmão engolia aquilo de um desgraçado a beira da morte? Era uma tremenda burrice.— Prima, voltei! Compr
Cai sentado no sofá sentindo minha cabeça explodir com a quantidade de informação e coisas que estavam completamente confusas em minha mente. As palavras de Vitinho se misturavam com as do Zé, indo de frente as palavras de Bianca. Eu não sabia em quem acreditar, quem estava certo naquela história, a maioria das coisas eram tentativas de me manipular, outras eu já nem sei se eram reais ou paranoias minha.Me peguei analisando cada passo, tudo o que Camila tinha feito aqui desde que chegou. Sim ela podia ter contado com a ajuda de alguém para salvar Juninho da moto, como vou saber que o motoqueiro era algum comparsa de Renato. Sua tia foi quem disse que eu podia agradecer com um emprego, isso podia fazer parte do plano deles já que qualquer pessoa no morro sabia que eu não gostava de dever pra ninguém.Mas então tinha a cena no beco dela chorando nos meus braços, ela beijando Vitinho... isso eram coisas que me fariam correr pra longe de qualquer mulher e todos sabiam, ela indo trabalhar
Eu estava arrasada, me sentindo um caco e nem um longo banho quente me ajudou a amenizar meu estado de espírito. Bianca gritava por todo lado da casa, depois que ela me fez contar o que aconteceu no quarto ela xingou Miguel de tudo o que é coisa, alguma delas que eu nem conhecia. De verdade queria só ficar quieta, dormir e não pensar em nada do que tinha acontecido, ao menos por aquele dia. Mas se tornou impossível com toda a barulheira que Bianca estava fazendo. — Eu deveria ter quebrado a cara daquele idiota, ou dado um tiro nele, era o que eu deveria ter feito! — Por favor, prima, chega desse assunto eu só quero esquecer isso por alguns minutos. — mas não importava o quanto eu pedia, ela não se calava. — Como ele pode pensar que Renato estava vivo? — aquela era uma pergunta da qual eu não tinha a resposta e duvidava que um dia teria. — Isso não faz o menor sentido. Meu irmão morreu há três anos, junto com o pai dele e Miguel e Vitor estavam no enterro. Porque Zé iria dizer isso