A Grande Chegada

Capítulo 2: A Chegada De Agnes

 Enquanto se despedia de sua família com uma mistura de euforia e nervosismo, a cena na porta de casa parecia tirada de um filme. Sua mãe, Maria Menina Assis de Mourão, a olhava com uma expressão que misturava preocupação e dúvida.

 “Agnes, não se esqueça de me ligar quando chegar, ou então faço seu irmão ir te buscar!”, disse ela com tom duro, mas ansioso. “E não vá se distrair com homens! Você não está lá para passear! Se der errado, não se preocupe que a vaga na casa da colega da sua tia Ilda está guardadinha para você, filha.” Essas foram palavras que a fizeram se arrepiar, mas por saber o significado dessas mesmas palavras para sua mãe, ela apenas sorriu e agradeceu.

 O irmão, Samuel Eduardo Assis de Mourão, com seu olhar desconfiado de sempre, fez questão de sussurrar: “Se cuida, panaca! Se vir um monte de ‘nego’ correndo, corra na mesma direção.” É com um sorriso saudoso que ela o abraça.

 Mas, antes que pudesse responder, seu pai, Ademir de Mourão, apareceu abruptamente na cena, como sempre, em busca de recursos financeiros - mesmo que recebesse por mês mais do que os três juntos. “Oh, princesa! Não sabia que estava saindo hoje já. Só não se esqueça de nós, hein! Manda umas moedas quando puder, querida. Papai anda passando por muita necessidade, sabe? Eu estou até pegando dinheiro emprestado este mês, afinal, as contas não esperam.” Ela ficou um pouco balançada, pois a impressão que ele deu era de puro sofrimento. A frase poderia até ser parte de sua rotina familiar padrão, mas sempre deixava Agnes com um gosto amargo, e ao bater os olhos nas costas do pai, vê a confirmação que precisava: seu irmão negando silenciosamente. A jovem só não sabe se era para ela não emprestar dinheiro para seu pai ou se o homem estava mentindo sobre suas dificuldades. Sua atenção voltou a Ademir e tudo o que conseguiu foi lhe dar um sorriso falso e se despedir.

 Após quatro horas em um ônibus, balançando-se enquanto ouvia músicas no fone, ela finalmente avistou o centro da cidade de Itapimba. À distância, poderia ser visto o topo do hotel reluzindo em um azul celeste sob o contraste do sol intensamente alaranjado e que parecia prometer novas aventuras e amizades. Contudo, assim que ela pisou no estacionamento da rodoviária, a euforia começou a escorregar de seu coração, dando espaço para a ansiedade. E, para piorar, a van prometida para pegá-la parecia ter desaparecido da face da Terra. “Maravilha!”, pensou Agnes, cruzando os braços e lançando um olhar desapontado para o céu. “Só espero que eu não precise dormir aqui.”

 Pouco antes da marca de duas horas, um luxuoso carro – que ela reparou estar estacionado do outro lado da rua há quase duas horas – se aproximou. O motorista, um homem de terno bem alinhado e sorriso cansadamente irônico, fez um gesto com a mão. “Senhorita Assis de Mourão?”, perguntou entediado, como se já soubesse a resposta.

 “Ahn... Ela mesma!” exclamou Agnes, desconfiada e quase respirando novamente. “Achei que ia ter que fazer uma maratona da vida no meio do nada. ‘Tô aliviada! Mas, espera, não vai me sequestrar, vai?” Rindo sem graça.

 “Seja bem-vinda a Itapimba. Sou Joel, o seu motorista de hoje. Vamos, entre!” Ele ignorou suas palavras ridículas e segurou a porta do carro com elegância. Já dentro, Agnes se pergunta se estava mesmo tendo um dia tão surpreendente quanto parecia. Assim que a jovem eufórica entrou, o motorista fechou a porta e o sorriso morreu enquanto revirava os olhos. "Era só o que me faltava!"

 Ao entrar, ela não pôde deixar de admirar o conforto. "Wow, isso é bem... espaçoso e chique. Muito chique!" pensou, massageando suas expectativas sobre o que aconteceria a seguir.

                                                                               ...

 Ao chegar no hotel, Agnes se sentiu como se tivesse sido transportada para outra dimensão. Uma em que ela era a estrela de cinema de Bollywood que estaria hospedada em um lugar tão brilhante. As paredes eram adornadas com obras de arte de tema oceânico, e o cheiro de maresia e produtos de limpeza se misturava com risos e música leve. Seu coração batia acelerado com a ideia de finalmente iniciar sua jornada profissional em algo com o qual sonhou por anos, enquanto compartilhava momentos com hóspedes variados. Mas não era o sonho que a aguardava.

 Logo ao entrar, Agnes sentiu o olhar penetrante da recepcionista. Com cabelos avermelhados, levemente esticados e longos até a cintura, Cristina exibia um sorriso irônico que instantaneamente fez Agnes, com seu jeans e sua blusa extravagantemente colorida, sentir-se como uma criança em uma apresentação escolar, nervosa e exposta.

 “Oi, sou a nova estagiária, Agnes Assis de Mourão”, disse, tentando projetar confiança. A resposta não foi o que esperava.

 Cristina arqueou uma sobrancelha e começou a rachar um sorriso que passou tão rapidamente dos lábios às suas retinas, que Agnes quase se ofendeu. “Então, imagino que você tenha se confundido com o setor. Aqui é a recepção, querida. As camareiras estão lá embaixo.”

 “Não, na verdade, estou aqui…” Agnes tentou explicar, mas antes que pudesse terminar, Cristina a interrompeu.

 “Claro! Todos sonham em ser confortáveis ao lado de esfregões e trabucos, não é mesmo? Seja você mesma, querida!” ela disse, enquanto olhava Agnes da cabeça aos pés, como se a analisasse. O tom de deboche era tão claro quanto o sol ofuscante que iluminava o saguão do hotel.

 "O que faço agora?" Pensou Agnes frustrada com sua primeira má impressão do lugar.

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