AuroraNão me lembro da última vez que me senti tão bem assim, aquele conforto de estar entre minhas cobertas fofas, mas não tinha o cheiro de sempre e sim, o cheiro dele… Parecia que ele estava ali. Me mexi e enfim abri os olhos. A claridade era impedida de entrar parcialmente pela cortina, eu não fazia ideia de que que horas eram, só sabia que estava com fome. Virei-me e meu coração acelerou. Ele estava ali, dormindo.O que ele estava fazendo na minha cama?Passei a mão no meu corpo e estava vestida, mas aquela camisa não era minha, não tinha mais nada além dela e do cheiro dele. Como essa camisa veio parar no meu corpo? Só lembro de ter sentido aquela tontura. Levei a gola ao nariz e cheirei… aquele cheiro que tanto me enlouquecia… Thales tinha uma mão na barriga e o outro braço no por cima dos olhos, dormia de forma relaxada. Ele não estava embrulhado, então analisei todo seu corpo, desde a meia escura que sumia por dentro da calça, até a gola alta da camisa.Inclinei-me para v
Aurora— E você está achando ruim essa de agora? — perguntei, insegura. Eu, certamente, sou muito sem graça e talvez ele só tivesse se interessado por mim devido a ligação de almas. Se não fosse isso, ele não se interessaria.— Eu também gosto dessa sua versão, a verdadeira Aurora, que fica incrivelmente bela com as bochechas coradas.Falhei na tarefa de segurar o sorriso, meu peito se encheu de felicidade ao ouvir isso, era um sentimento gostoso de sentir. O telefone tocou na sala, mas Thales se levantou primeiro.— Eu atendo, deve ser meu irmão, estava esperando sua ligação. Termine de comer, não demoro.Concordei e comi mais um pouco. Ele parecia ser muito calmo, isso me dava um pouco mais de coragem para esclarecer tudo. Talvez ele compreendesse não só a noite que eu não lembro, mas também o resto. Sorri, esperançosa.Quando Thales voltou, pereceu tenso e a minha preocupação retornou fortemente.— Aconteceu alguma coisa? — perguntei.— Sim, aconteceu. — Thales me encarou por um l
AuroraThales levantou, o que me alarmou no primeiro momento, mas ele seguiu para a lareira.— Posso?— Claro. Fique à vontade.Ele começou a ajeitar os pedaços de madeira e olhei suas costas largas, achei atencioso da sua parte me dá um pouco mais de tempo. Falar o que eu tinha para falar, não era fácil.— Você aceita um chocolate quente? — perguntei, incerta.— Aceito sim — respondeu sem se virar.Meus passos foram trêmulos até a cozinha. Peguei os itens um pouco no automático, o balcão estava limpo e arrumado, o prato que comi não estava em canto nenhum, certamente, Thales arrumou enquanto eu estava no quarto. Ele era diferente do que pensei. Thales demonstra ser um um homem rude, suas feições são duras, mas hoje seus gestos demonstraram o contrário, ele estava sendo muito paciente.Coloquei a canela em pau na pequena panela onde mexia a bebida e me arrependi quase que de imediato. Será que ele gostava de canela? Devia ter perguntado. De todo modo, já tinha colocado, se ele achass
AuroraThales não me interrompeu em nenhum momento, ele ficou sério durante toda a minha narrativa, não foi fácil dizer tudo, eu ainda me sentia deslocada desse mundo, perdida nos sentimentos. É ruim quando se tem um futuro incerto como provavelmente iria ter. Por vezes me imaginei me transformando em um lobo, ficava imaginando se seria terrivelmente doloroso, se depois disso estarei consciente, se voltarei a ter a forma humana.Sem dúvidas o meu maior medo era perder minha humanidade, e me tornar irracional a ponto de abandonar tudo, mesmo que Adelya tenha deixado claro que eu seria tanto loba quanto humana. Isso me assustava.Não ser totalmente humana me aterrorizava.A loba é forte, e depois dessa noite, conseguia sentir seus desejos. E, era uma árdua batalha dentro de mim, ela queria me subjugar, queria que eu aceitasse sua presença, que eu fosse obediente, que eu entregasse minha consciência, mas eu não podia permitir que acontecesse novamente.Quando terminei de dizer tudo, me
Thales— Thales, o que está acontecendo com você esses dias? — Diego perguntou assim que parou de servir uma das mesas.O movimento estava fraco devido aos últimos acontecimentos.— Nada.— Como nada? Hoje você chegou quase de noite.Sequei o último copo e o olhei desinteressado. Nem se eu quisesse poderia dizer.— Eu só não estava muito disposto, apenas me atrasei.— Nós somos amigos, certo?— Que pergunta besta, Diego. — Então, como seu amigo, gostaria de saber quando está acontecendo algo importante na sua vida.— Não está acontecendo nada. — Joguei o pano sobre o ombro.Antes que ele abrisse a boca novamente, Rubens entrou no bar chamando a atenção de todos. Ele bateu as botas no chão tirando o excesso de neve e em seguida, pendurou o casaco junto ao chapéu em um dos ganchos da parede próxima à entrada.— E aí. — Diego o cumprimentou quando ele sentou na banqueta alta na frente do balcão. — Como vai, Diego?— Vai tomar alguma coisa? — perguntei por perguntar, mas ele estava de f
Thales— Segura as coisas aí que vou fazer uma ligação. — Deixei Diego no balcão e saí pela porta dos fundos.Ao entrar no escritório, fechei a porta. Precisava avisar sobre a caçada e saber como ela está.Felizmente, fui atendido sem demora.— Oi, é Thales. — Ah, oi. Aconteceu alguma coisa?— Sim. Ela ainda está dormindo?— Na mesma posição que você a deixou.— Melhor assim. Liguei pra avisar que os homens farão uma caçada hoje. Será perigoso sair.— Isso é terrível, Thales.— Eles estão preocupados, são acostumados a resolver as coisas na força bruta.— Eu soube do que aconteceu quando estava na escola. As notícias correm rápido por aqui. Eu não tenho dúvidas que foi ela.— Já aconteceu, agora devemos pensar no futuro.— Confesso que estou com medo.— Eu estarei com ela e farei o que for necessário. Conte comigo daqui por diante.— Você virá mais tarde? Estou preocupada com o estado que vai acordar e você consegue acalmá-la.— Eu irei assim que fechar o bar, diga a ela caso acorde
Aurora— Aurora, acalme-se! — Sua voz saiu firme. Eu obedeci, mas a loba relutou. Puxei a respiração e sentei novamente. — Você se esqueceu da razão de estarmos fugindo? Esqueceu que sua mãe morreu tentando fugir? — Mãe, as pessoas vão achar que foi apenas um animal, isso não vai levantar suspeitas.— Isso é o que você pensa. Acha que eles iriam deixar uma criatura como você escapar? Você é única, ninguém sabe o que de fato será capaz.— Mãe...— Aurora, me ouça, filha. — Sentou do outro lado da mesa e segurou minha mão. — Eles têm armas e sabe-se lá quais outros recursos, são perigosos.— Mãe, não vou mais fugir. Não posso viver uma vida inteira assim.— Eu temo tanto por você. — Eu sei, mãe, é só que eu não aguento mais.Mamãe apertou minhas mãos, eu entendia sua preocupação e medo, mas já estava farta de viver fugindo. Eu não duvidava de que fosse perigoso, mas devia existir uma maneira de vivermos em paz.— Tudo bem. — Acariciou minhas mãos e sorriu fraco. — Mas me prometa que s
Thales— Entra. — Janete saiu de frente da porta me dando passagem.— Ela acordou?— Sim, mas se enfiou no quarto de novo. — Aconteceu alguma coisa?— Estou preocupada, ela não comeu nada desde que cheguei. — Ela também não comeu quando eu estava aqui, até tentou, mas não deu certo.— Ela precisa se alimentar, mas não posso enfiar a comida goela abaixo.— E o animal de ontem? Talvez esteja sendo o bastante até agora. — Eu não sei, ela parece fraca.— Vou tentar convencê-la. — Thales, eu soube o que aconteceu entre vocês. Ela me contou. — Parei mas não virei. — Eu sei que não foi culpa sua, muito menos dela, mas não devia ter acontecido desse jeito. Aurora não sabe muito a respeito disso, ela não teve experiências com namoro e essas coisas.— Janete, eu não tenho a intenção de brincar com sua filha, O que aconteceu ontem não irá se repetir daquela forma.— Não é que queira interferir na relação de vocês, Thales, Aurora é adulta e toma as próprias decisões, mas eu me preocupo.— Voc