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A ALIANÇA DOS IMORTAIS
A ALIANÇA DOS IMORTAIS
Por: Jenna A Smith
1- Arrumando a bagunça

Muitos anos se passaram desde a última guerra entre os vampiros e os lobisomens. Eu fora uma das pessoas que ficaram fora da guerra. Não por não saber lutar ou por ser mulher. Foi escolha minha ficar fora de tudo aquilo. Sempre que eu via um lobisomem ser morto na minha frente, eu sentia arrepios e me perguntava por que o estavam matando. Alguns eram até crianças.

Como vampira, era meu dever me proteger contra os lobisomens, ou seja, matá-los quando fossem um perigo para a minha vida. Eles também seguiam essa lei, e a obedeciam. Mas os vampiros não.

Esse foi um dos motivos pelo qual foi começado uma guerra. O outro motivo foi porque uma princesa vampira se apaixonou por um lobisomem… e teve um filho dele.

Quando os vampiros descobriram, principalmente os nossos líderes vampiros, mataram tanto a garota quanto seu amado, junto com o bebê.

Séculos depois de a guerra acabar e todos estarem tranquilos acreditando em uma falsa paz, outra guerra começou, mas esta, por debaixo dos tapetes, para que a multidão não percebesse. Quando fosse tarde demais eles puxariam esse tapete e todos cairiam. Quando tudo começou, eu estava por fora, como sempre. Mas algo sempre acontecia para me trazer para o meio da bagunça.

Tudo começou naquele fatídico dia, depois de uma noite inteira na balada com meu melhor amigo Alec, que trouxera duas acompanhantes para a nossa casa. Pelos barulhos vindos do quarto ao lado eu tinha certeza de que uma delas ainda estava viva, mas achava que a outra estava morta a muito tempo. Só não sabia qual estava morta e qual estava viva, apenas lembrava de uma loira e uma morena entrando em nosso carro no início da manhã.

Os gemidos de Alec atravessavam a parede e vinham até mim, tentando-me a ir até lá e acabar com a pós-festa dele. Quase me levantei da cama, mas o sono me venceu e eu continuei deitada em minha cama.

Minutos depois ouvi mais um barulho vindo do quarto de Alec, dessa vez eu me levantei e saí do quarto, indo para o quarto do meu amigo. Andei sobre o tapete vermelho de veludo do corredor, um pouco gasto pelos anos de uso. Meus dedos tocaram a maçaneta da porta do quarto e ela foi aberta rapidamente.

Como eu prevera, uma delas estava morta, a loira, caída no tapete do quarto ao pé da cama. Havia marcas em seu pescoço, onde saía sangue e manchava o tapete. Seus braços estavam estendidos no chão e seus olhos abertos fitavam o vazio.

Alec estava na cama com a morena, os dois estavam nus, ela estava de costas para ele, gemendo tanto de dor quanto de prazer. Alec estava atrás dela, seus dentes estavam cravados na curva de seu pescoço, o sangue escorria de sua boca até os peitos da morena. Seus seios estavam duros e a mão de meu amigo estava entre as pernas da jovem, acariciando-a. Ele entrava e saía dela, lentamente, querendo prolongar o prazer pelo máximo de tempo possível.

Quando perceberam minha presença, Alec retirou os dentes do pescoço da morena rápido demais e ela gritou de dor, caindo sobre os travesseiros espalhados sobre a cama. Alec saiu de dentro dela e desceu da cama.

               - Aconteceu alguma coisa? – perguntou ele com os lábios sujos de sangue. Ele veio em minha direção com o instinto de me proteger, senti isso em sua proximidade.

Pude sentir sua preocupação comigo, o medo de que tivesse acontecido alguma coisa comigo. Seu cabelo preto estava grudado na testa por causa do suor que escorria pelo seu corpo. Seus olhos estavam cravados em mim, como se ele estivesse tentando ler meus pensamentos. Seu corpo era musculoso, por causa dos exercícios que ele praticava regularmente. Ele era mais alto que eu, e muito lindo. Suas sobrancelhas eram grossas, sua boca era carnuda e ele tinha pequenas marcas de expressão no rosto, mesmo que não envelhecesse a mais de trezentos anos.

- Eu estou bem – garanti-lhe. – Só que os barulhos que invadiram o meu quarto o dia todo não me deixaram dormir. Acho que já está na hora de acabar com a festa. Não concorda comigo?

- Acho que devemos perguntar se Carly concorda com você – disse ele apontando para a morena caída na cama. Uma poça de sangue se formara em volta de seu pescoço e ela não se mexia mais. Nem respirava. Nem seu coração batia. – Droga.

Alec passou a mão nos cabelos, a mão que estava entre as pernas da morena, mas se lembrou e baixou a mão rapidamente, envergonhado.

- Pode deixar que eu cuido disso – disse ele.

- Com certeza. Mas não deixe Muriel saber disso. É a quinta garota esse mês que você mata - relembrei.

- Eu sei, Alena. Mas foi sem querer, você sabe que eu não consigo me controlar quando estou com fome.

Desviei meus olhos dos de Alec.

- Eu entendo, Alec. Você é como um irmão para mim e eu odiaria que algo acontecesse com você. Prometo que iremos à cidade com mais frequência para nos alimentarmos contanto que você não mate mais ninguém. Se matar mais uma pessoa que seja, você terá que voltar a se alimentar apenas com bolsas de sangue.

Ele me olhou boquiaberto.

- Você sabe que nenhum vampiro consegue viver apenas com bolsas de sangue.

- Se eu consegui, você também consegue.

- É, você conseguiu... por um ano e meio. Até ter um surto e matar dezessete pessoas em um prostíbulo. E isso foi a oitenta anos atrás. Os tempos mudaram, Alena. Você mesma estava se alimentando direto da garganta de um barman na noite passada. Não se faça de santa.

Engoli em seco enquanto meu melhor amigo jogava na minha cara meus pecados, como se eu precisasse disso. Mesmo assim, Alec foi muito mal comigo. Ele sabia que as vezes até o mais forte perdia as forças, e o mais controlador também perdia o controle.

- Tudo bem, Alec, faça o que você quiser, mas se Muriel souber disso e vier atrás de você eu estarei do seu lado para te dizer “eu te avisei”.

Dei as costas a ele e caminhei até a porta.

- Desculpe, Alena.

Parei na porta do quarto e falei por sobre o ombro.

- Pelo quê? - perguntei, me fazendo de inocente.

- É sério? - questionou ele. Quando eu não respondi e dei um passo a mais para fora do quarto ele continuou: - Por ter sido um idiota. Eu não deveria ter me portado desse modo. Você não é uma garota qualquer para eu te tratar de qualquer jeito. Você é a minha irmãzinha, minha melhor amiga, eu te amo Alena.

Para algumas pessoas aquilo poderia parecer uma declaração de amor. Mas para mim, que já estava acostumada com esse lado de Alec, sabia que não era fingimento, mas que também não era um sentimento verdadeiro. Sim, nos amávamos, mas como irmãos, nada mais. Mesmo Alec sendo gostoso e me provocando quando eu estava com fome.

Nesses momentos, ele não parecia brincar quando dizia que queria me levar para a cama. Geralmente eu nem dava bola para o que ele dizia, mas por mais que eu o amasse como um irmão, as vezes não tinha como ignorar aquele corpo nu bem na minha frente. Ele nem se preocupou em se vestir.

- Em primeiro lugar: não me chame de “irmãzinha”. Eu sou mais velha que você, o que me torna a irmã mais velha. E em segundo lugar: coloque logo uma roupa e se livre dos corpos.

Ele deu um passo à frente, com os braços abertos como se quisesse me abraçar. Espalmei uma das mãos em seu peito e o empurrei de leve, apenas para ele não chegar mais perto. O cheiro de sexo impregnava o quarto e o corpo dele.

- Não vai me dar um abraço? – perguntou ele fazendo beicinho.

- Se livre logo dos corpos – repeti. Me virei para a porta para sair do quarto, mas me virei no último segundo.

Alec havia pegado a loira do chão e a colocara em seu ombro, já saindo do quarto.

- Você não vai colocar uma roupa?

Ele negou com um aceno de cabeça.

- Algum problema? – perguntou ele, como se cogitasse mesmo andar nu pela casa.

Dava para perceber que ele estava gozando com a minha cara. Queria ver a minha reação ao ver o corpo dele nu na minha frente. Para minha sorte, consegui manter a expressão e a pressão sanguínea neutra para que ele não percebesse que o ver daquele jeito mexia um pouco comigo.

- Não, problema algum – respondi, então dei as costas a ele e voltei para o meu quarto. Parei na porta para olhar para trás uma última vez. Alec estava de costas para mim carregando a garota loira nos ombros. Continuei olhando seu belíssimo corpo enquanto ele descia as escadas.

Segundos depois, eu já não conseguia vê-lo, então entrei no meu quarto e tranquei a porta. Me joguei na cama e fiquei olhando o teto por alguns minutos. Pelos sons, eu soube que Alec havia voltado para buscar a morena e leva-la para o porão, como fizera com a outra. Dez minutos depois, Alec já estava deitado em sua cama.

Um completo silêncio caiu sobre a casa. Os únicos sons que vinham eram dos roncos da Dorothea, a empregada que dormia no primeiro andar.

Felizmente consegui dormir por algumas horas, sem sonho algum. Quando acordei, já era noite para a maioria das pessoas, mas para mim era o início do dia. Me espreguicei na cama e quase derrubei alguma coisa que estava perto do meu pé.

Era uma caixa grande, preta com um laço branco em cima. Me sentei na cama e peguei a caixa. Desfiz o laço no mesmo momento em que Alec entrava no meu quarto, vestido com uma calça jeans e uma camisa de botões azul.

Ele se jogou na minha cama e olhou a caixa.

- O que é isso? – quis saber ele.

- Não sei. Achei que era seu.

Tirei a fita e abri a tampa da caixa. Um papel caiu no chão e Alec o pegou.

- “Querida Alena! Queria lhe fazer o pedido pessoalmente, mas creio que não haja muito tempo para formalidades. Esta noite, haverá uma festa em minha casa. Você e seu amigo Alex estão convidados. Espero que goste do presente, escolhi especialmente para você. Com carinho, Muriel.” – Alec leu o cartão, então franziu o cenho. - Alex? Sério que ele escreveu meu nome errado? Foi ele que me transformou a trezentos anos atrás.

- Você e mais dezenas de pessoas. Não o culpe, ele não é muito bom para gravar nomes. – comentei enquanto desembrulhava o presente de Muriel.

Dentro da caixa tinha um lindo vestido vermelho, com seda e renda e um decote maior do que eu estava acostumada a usar. Aquele era o típico vestido que as vampiras usavam para chamar a atenção do sexo oposto. Mas eu não gostava muito de chamar a atenção, por isso sempre que eu ia às festas de Muriel, usava apenas um vestido preto. Com renda, ou de seda, claro, mas quase não mostrava nada do meu corpo, como aquele vestido vermelho mostraria.  O vestido era tomara-que-caia, com um corpete apertado e uma saia longa e rodada que ia até o chão. Dentro da caixa havia também um par de salto alto vermelho que combinava com o vestido.

- Você não vai usar isso! – disse Alec em um tom acusatório.

- Por que não? – quis saber.

- Olha o decote dessa coisa. Não combina com você e, definitivamente vermelho não é a sua cor.

- Como se isso fosse da sua conta.

Me levantei, tirei o vestido da caixa e fui até a frente do espelho segurando o vestido na frente do corpo. Certo que vermelho não era a minha cor, mas até que ficaria bem em mim. Meus cabelos negros estavam bagunçados pois eu acabara de acordar e meu rosto estava sem nenhum resquício da maquiagem que eu usara na noite anterior.

Vermelho caia bem em mim, mas desde que eu me entendia por gente, e isso fazia muitos e muitos anos, eu achava que roupas vermelhas eram para prostitutas, ou como era dito na minha época “damas da noite”.

Eu preferiria usar roupas escuras ou da cor azul, que realçava a cor dos meus olhos, que era azul claro. Mas ainda assim, eu usaria o vestido vermelho na festa.

Ele era presente de meu pai, meu criador, Muriel. Ele não gostaria que eu chegasse em sua festa com qualquer vestido que não fosse aquele.

Alec gostando ou não, eu seria o centro das atenções naquela festa. Junto com outras vampiras que poderiam ou não estar usando roupas da mesma cor, iniciando uma competição para chamar atenção dos vampiros poderosos que Muriel convidaria.

Seria divertido, contando que não houvesse brigas.

- Vá tomar um banho e coloque seu melhor smoking – mandei, olhando para Alec através do reflexo do espelho. – Não temos muito tempo para nos aprontar, então peça ajuda à Dorothea.

Alec veio até mim e colocou as mãos em meus ombros.

- Acho que vou ficar em casa. Não estou com vontade de sair hoje – disse ele, dando de ombros, como se achasse que tinha escolha.

Me virei para ele e segurei o vestido com apenas uma das mãos.

- O convite se estende a você também, Alex. Então é melhor se aprontar.

Lhe dei as costas e coloquei o vestido sobre a cama.

Alec suspirou alto atrás de mim e hesitou, pensando se recusaria mais uma vez, me fazendo ficar com raiva, ou se apenas cedia e saia do quarto, obedecendo as minhas ordens.

Respirei fundo e me preparei para gritar com ele se fosse necessário. Eu também não queria ir a uma festa depois de festejar a noite toda com meu melhor amigo. Eu queria poder descansar, mas eu não tinha escolha, e Alec também não. Se eu estava sendo obrigada a colocar aquele vestido e a ir naquela festa, ele também teria que ir.

Por sorte, Alec apenas assentiu e saiu do quarto sem falar nada.

Fiquei em pé ao lado da minha cama, olhando para o vestido vermelho à minha frente, imaginando todo o trabalho que eu teria nas próximas horas para estar perfeita, assim como Muriel gostava.

Ele era um homem rude e gentil ao mesmo tempo. Poderia elogiar você em um segundo, e no outro poderia estar arrancando a sua cabeça. Eu sabia lidar com ele pois já tinha passado várias vidas ao seu lado, conhecendo-o cada vez mais.

Alec ainda não o conhecia o bastante, por isso não o temia o suficiente. Eu era a voz de meu amigo para nosso criador, e a voz de nosso criador para o meu amigo.

Se eu deixasse que os dois conversassem sozinhos por apenas um minuto sem que eu estivesse por perto, certamente meu amigo já teria morrido a muito tempo.

Mas por mais que eu temesse meu criador, eu ainda o amava. Ele havia se tornado um pai para mim depois da minha transformação, e não apenas porque ele havia me criado, mas sim porque ele cuidou de mim como meus pais humanos nunca haviam feito.

Ele foi a minha única família até Alec aparecer na minha vida.

Eu devia minha vida a ele.

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