Voltei para o salão de dança e encontrei Alec conversando com uma moça. Ela era linda e estava usando um vestido preto. A cor não era chamativa, mas o decote em V que ia até seu umbigo chama atenção para os seus seios.
Era naquele ponto da pele dela que estavam os olhos de Alec. Ele nem tentava disfarçar.
Foi quando ele ergueu a mão e a apalpou que eu cheguei perto o bastante para cutuca-lo no ombro.
Ele se virou para mim e sorriu. Apontou para os seios da mulher à sua frente e teve a audácia de me perguntar se eu os achava bonitos.
Revirei os olhos e concordei com a cabeça. Realmente eram seios lindos, mas aquele não era lugar para aquele tipo de assunto ou para aquele tipo de toque íntimo.
Pedi licença à moça e ela me olhou de cima a baixo. O sorriso sumiu de seus lábios pintados de vermelho e ela nos deu as costas, indo conversar com outro vampiro.
Alec se virou para mim e me ofereceu a bebida que estava em sua outra mão.
Era uísque puro.
Eu dei um gole na bebida e lhe devolvi o copo.
- Onde você conseguiu isso? – perguntei, apontando para o copo em sua mão.
- Os garçons começaram a servir uísque logo depois que você saiu – ele abriu um largo sorriso. – Eu acho que Muriel quer que fiquemos bêbados nessa festa.
Revirei os olhos. Aquilo era improvável.
Quando vampiros ficavam bêbados, eles ficavam mais do que felizes, e faziam coisas que seus instintos primitivos lhes mandavam fazer.
Que seriam copular e matar inocentes.
Normalmente copular vinha em primeiro lugar. E certamente Muriel não queria que rolasse uma orgia de vampiros naquela festa tão requintada.
Ainda mais se ele havia convidado pessoas de fora do nosso círculo. Talvez vampiros de outros clãs. Muriel conhecia muita gente, humanos e vampiros, e certamente não restringiria a festa apenas para seus filhos.
Alguém importante deveria estar vindo.
Eu só não sabia quem seria importante o bastante para fazer meu pai servir uísque no meio do que deveria ser um baile.
Abri a boca e apontei para um garçom que passou perto de nós com uma bandeja com copos cheios de um liquido verde.
- Aquilo é o que eu estou pensando?
Alec seguiu com os olhos até onde eu apontava com o dedo.
- Estão servindo Absinto?
Até mesmo ele ficou confuso ao ver aquilo.
Uma das bebidas mais fortes que conhecíamos. O efeito era maior nos humanos, mas ainda assim, se ingerido em grandes quantidades, poderia ter o mesmo efeito nos vampiros.
- Muriel está tentando nos embebedar – falamos juntos baixinho.
Era estranho, mas não era apenas isso.
Outras bebidas fortes foram servidas no decorrer da noite e umas músicas um pouco mais dançantes foram tocadas pelas musicistas. Músicas de época, mas ainda assim, diferente do que costumávamos ver naquelas festas.
Eu olhei para a porta de entrada com o meu quinto copo na mão. Eu ainda não estava bêbada, mas já estava sorrindo.
Muriel estava sério, olhando para todos nós, ele parecia nervoso ao arrumar as lapelas de seu smoking.
Um garçom se aproximou dele e lhe ofereceu um drink, mas ele recusou e olhou em volta até me achar no meio da multidão.
O salão estava cheio e eu estava cercada por antigos amigos que não via há meses. Alguns eu não via já fazia anos.
Chamei Muriel para se juntar a nós. Ele sorriu, mas negou com a cabeça.
Ele ficou mais de uma hora ali, vendo todos beberem e se divertirem.
Depois do décimo drink eu estava ficando um pouco alta e decidi parar de beber antes que decidisse tirar a roupa e sentar no colo de alguém, assim como havia feito na noite anterior quando fora em um bar com Alec.
Aquele tipo de comportamento não seria aceitável na frente do meu criador.
Olhei novamente para Muriel e o vi vindo na minha direção. Meu coração se acelerou quando escutei a mudança da música. Era a nossa música.
Lenta e romântica. A primeira música que eu havia dançado com ele quando nos conhecemos algumas semanas antes dele me transformar.
Eu saí do meio do meu grupo de amigos e os deixei falando sozinhos.
Fui para o centro do salão onde Muriel ficou me aguardando. Ele fez uma mesura teatral e me estendeu a mão.
Eu segurei os dois lados da minha saia vermelha e lhe cumprimentei. Lhe estendi a minha mão e ele me puxou delicadamente para si. Coloquei uma mão sobre seu ombro enquanto ele repousava sua mão delicadamente em minha cintura.
Olhei em seus olhos verdes e não precisamos de palavras.
Eu conseguia sentir e ver o amor dele por mim brilhando em seus olhos. Ele sorriu e acariciou as minhas costas. Foi um toque gentil e nada paternal.
Meu corpo reagiu instantaneamente, sem que eu conseguisse me conter. Eu me contraí por dentro e o desejei mais do que qualquer coisa.
Talvez eu devesse ter parado no quinto drink.
Antes que eu pudesse me inclinar para beijá-lo nos lábios, ele abaixou a cabeça e a colocou na curva do meu pescoço com o ombro.
Ele beijou a minha pele sensível e depois sussurrou no meu ouvido:
- Não importa o que aconteça, mantenha a calma e não corra – disse ele, sem um pingo de brincadeira em sua voz. – Diga o mesmo ao seu amigo. Não grite e não negue nada do que eu lhe disser. Apenas fique parada e tudo vai ficar bem.
Franzi o cenho e me afastei alguns centímetros para olhar em seus olhos.
- O que está acontecendo?
Ele estava me deixando nervosa novamente. Meu coração estava acelerado, mas não pelo motivo de antes.
Ele engoliu em seco.
- Vai ficar tudo bem. Eles não vão te machucar – foi tudo o que ele conseguiu dizer antes de alguém atrapalhar a nossa dança.
Era Browen, novamente.
Ele olhou para mim como se pedisse desculpas e depois falou com Muriel.
- Senhor, os convidados chegaram.
Muriel olhou em meus olhos e respirou fundo. Ele pegou minha mão e a levantou até seus lábios, beijando a dobra dos meus dedos novamente.
- Vai ficar tudo bem. Eu prometo.
Ele soltou a minha mão e saiu do salão com Browen, sem responder à minha pergunta.
Eu sentia como se houvesse alguma coisa errada.
Os pelos da minha nuca se arrepiaram e eu olhei em volta à procura de Alec. Ele estava novamente com a moça do decote, mas dessa vez estava um pouco mais comportado, com as mãos atrás das costas e um metro separando seus corpos que emanavam tesão.
Assim que eu me aproximei, ele olhou na minha direção e se despediu de sua nova amiga. Ele veio na minha direção e colocou as mãos em meus ombros.
- Alena, o que aconteceu? – ele perguntou, preocupado com a expressão em meu rosto.
- Precisamos ir embora – falei, me virando e o puxando pela mão.
Ele me seguiu sem fazer perguntas.
Passamos pelas pessoas no salão e quase chegamos na porta.
A música parou de repente e vi Muriel parado na porta do salão, barrando a nossa passagem.
Ele me olhou fundo nos olhos e me advertiu a não me mexer.
Alec parou do meu lado e sussurrou em meu ouvido:
- O que está acontecendo?
Eu não consegui responder.
Estava olhando com olhos arregalados para o grupo de homens atrás de Muriel.
- Não se mexa e não diga nada – sussurrei para Alec, apertando sua mão até que ele assentisse com a cabeça.
Todas os vampiros no salão pararam de conversar e se viraram para os novos convidados.
O silêncio reinou durante alguns segundos.
Muriel pigarreou e apontou para os homens ao seu lado, pronto para apresenta-los.
Eu não queria saber quem eles eram.
Só queria saber porque um grupo de lobisomens estava em um salão cheio de vampiros.
- Filhos e filhas – Muriel forçou um sorriso, como se quisesse dizer que estava tudo bem. – Esses são meus novos amigos. E nossos novos aliados nessa guerra. Eles fazem parte do clã de lobisomens do Norte. Pelo menos metade dos vampiros do salão mostraram suas presas e sibilaram, vendo que estavam na verdade de frente para o inimigo. De frente para os monstros que nos perseguiam e nos matavam. Alec e eu ficamos quietos, não querendo chamar atenção para nós. Pelo menos não mais atenção do que aquele vestido vermelho já chamava. Eu era um ponto vermelho em um mar negro. Todos os lobisomens estavam olhando diretamente para mim. Cada célula no meu corpo me mandava correr o mais rápido possível, mas eu sabia que Muriel iria atrás de mim e me mataria da pior forma possível. Então eu fiquei parada, com o queixo erguido e com as batidas do coração controladas. A presença de Alec do meu lado me ajudava a ficar calma. - Sei que d
- O que eu devo fazer agora? – perguntei, olhando nos olhos de Lohan. Ele se levantou e pegou o pergaminho para ver as assinaturas. - Por agora, não há mais nada a ser feito. – Ele sorriu para mim. Um sorriso normal, sem malícia, sem desejos ocultos. – Pode aproveitar a festa e depois vá para casa. Em dois dias alguém irá busca-la para leva-la para Montana. Muriel nos dará seu contato e seu endereço. Me levantei. Browen e Muriel se levantaram comigo. - Não preciso alertá-la para não fugir, não é? – Lohan olhou para o meu criador e depois para mim. – Espero que tudo ocorra bem, para que seu pai não precise escolher outra pessoa para tomar seu lugar. Eu queria que Muriel escolhesse outra pessoa, mas eu não podia fugir. Ele me encontraria. E se eu pensasse em dar um passo sem a autorização dele, estaria condenando Alec. - Estarei aguardando ansiosamente. – Tentei forçar um sorriso, mas sabia que se tentasse, iria começar a chorar e não ir
O vestido deslizou e caiu no chão. Eu só não fiquei nua pois estava usando espartilho e várias saias de enchimento por baixo. Me virei para Alec com raiva. - Por quê fez isso? Eu ganhei esse vestido de presente de Muriel – gritei. Ele deu de ombros. - Eu odiei esse vestido – disse ele, olhando nos meus olhos com total desprezo. – Precisa que eu tire o seu espartilho também? Cruzei os braços sobre os peitos. Minha pele estava arrepiada e minhas mãos estavam suadas. - Para você rasga-lo também? A expressão no rosto de Alec suavizou. - Este foi dado por mim. Eu não faria isso. Prometo tirar com cuidado – disse ele, com sinceridade nos olhos. Me virei de costas e apoiei as mãos nas laterais do espelho. Dessa vez as mãos de Alec tocaram gentilmente os fios que prendiam o meu espartilho e ele começou a desatar os nós feitos por Dorothea. Eu levantei o olhar e percebi um brilho em seus olhos, que estavam cravad
Acordei no dia seguinte depois do almoço. O sol brilhava do lado de fora, impedindo que eu saísse. Alec estava dormindo de bruços na minha cama, respirando silenciosamente. As vezes ele dava pequenos sorrisos e murmurava algo, como se estivesse tendo um bom sonho. Eu me levantei em silêncio para não o acordar e fui para o banheiro tomar um banho. Encostei a porta e enchi a banheira, colocando sais minerais para fazer espuma. Entrei na água quente e fiquei olhando a espuma em silêncio, me sentindo estranha. Eu estava feliz e triste ao mesmo tempo por ter tido a oportunidade de estar com Alec. Feliz pois o sexo tinha sido muito bom, mas triste porque não poderíamos mais continuar juntos e depois que eu fosse embora eu não sabia quando eu o veria novamente. Àquela hora William já deveria ter assinado o tratado. Eu já estava noiva de um lobisomem. Fiquei olhando a espuma sumir e a água esfriar. Fiquei ali por horas. Alec ac
Naquela mesma noite recebi uma visita inesperada. Muriel e mais cinco guarda-costas apareceram na minha casa para passar a noite e o dia seguinte comigo, para garantir que eu não fugiria. Se eu tivesse qualquer plano de fuga em mente, teria corrido por água a baixo naquele momento. Dorothea limpou os quartos para nossos novos hóspedes e depois trouxe-lhes o que beber. Uma bolsa de sangue humano para cada. Eu fui a única a não me alimentar. Estava nervosa demais. Quando o sol nasceu e eu já estava me preparando para dormir, recebi uma visita nos meus aposentos. Muriel entrou sem bater na porta, pegando-me vestida com o mesmo robe do dia anterior, sentada na beirada da cama com lágrimas nos olhos. Assim que eu o vi, virei-me para secar o rosto e em seguida me pus de pé. Muriel fechou a porta e ficou parado, com a mão ainda na maçaneta. - Veio garantir que eu não me exibiria à luz do sol para fugir desse casamento?
Lohan apareceu com cinco humanas assim que o sol se pôs. Eles entraram no apartamento e começaram a arrumar as coisas. Tecidos, tesouras, fitas métricas, cadernos de anotações, revistas de noivas... Cruzei os braços e fiquei olhando, horrorizada com aquilo tudo. Eu nem perdi tempo trocando de roupa e fiquei apenas com meu roupão de banho, sem nada por baixo. Lohan não se incomodou com a minha aparência, e manteve seus olhos longe do meu decote, como um cavalheiro. - Como William é? – perguntei, em pé ao lado de Lohan enquanto as humanas organizavam suas coisas sobre os sofás e mesas na sala. - Aparência ou personalidade? – ele olhou nos meus olhos e ergueu uma sobrancelha. Havia um sorriso leve em seu rosto. Senti-me estranhamente confortável ao seu lado. Dei de ombros. A aparência não me importava. Eu não era fútil para querer um homem bonito como noivo, ainda mais quando estava sendo obrigada a me casar com um desconhecido. -
Provei realmente que Brianna era virgem. Ela adorou cada segundo que esteve comigo e não se assustou quando mostrei minhas presas a ela. Provavelmente Lohan contou que eu era uma vampira. Ela pediu que eu a mordesse, mas talvez ela não imaginasse que ela tinha sido levada até ali para morrer, pois em um momento ela sussurrou para mim que queria de novo. E queria aproveitar tudo que o mundo tinha para dar. Infelizmente eu estava com fome e quando eu a mordi pela segunda vez, não consegui parar. Drenei todo seu sangue e depois deixei que ela caísse no chão para abrir espaço para que eu me deitasse na cama e dormisse durante o dia todo. No dia seguinte, após o pôr do sol, um dos lobisomens, capangas de Lohan, entrou no apartamento e foi direto ao meu quarto. Eu ainda estava nua sobre os lençóis, mas ele não olhou para mim. Apenas abriu um saco preto no chão e colocou o corpo de Brianna dentro. Ele a tirou dali e me deixou sozinha. <
Fiquei imaginando como o sangue vermelho se destacaria no vestido branco que eu estava usando naquele momento. Ficaria lindo. Apenas duas de minhas costureiras estavam comigo naquele dia. As outras mulheres que acompanhavam vieram para fazer outros trabalhos. Uma cuidaria do meu cabelo, outra das minhas unhas e uma cuidaria da minha maquiagem. Elas eram humanas e provavelmente não faziam a mínima ideia do que eu era. A sexta mulher que entrou no apartamento era um lobisomem. Ela não falava comigo, nem olhava na minha direção. Ela passava as informações que tinha para Lohan e ele as passava para mim. Ainda faltava uma hora para o sol se pôr e eu já estava quase pronta para a cerimônia. Meus olhos estavam inchados por causa do choro da noite anterior. Se a maquiadora percebeu, não comentou. Provavelmente achava que eram lágrimas de felicidade. Naquele momento eu não conseguia fingir felicidade. Não me importei com isso e o Lohan não me c