Passei a noite me sentindo péssimo, mal consegui pregar os olhos, mais uma vez tudo que eu queria era ir correndo atrás dela e pagar com a língua, creio que nunca engoli tanto o meu orgulho como durante o nosso namoro, mas eu estava decidido a resolver de uma vez por todas a situação. Sem pensar muito segui para a casa da tia Clarisse para encontrá-la, eu já havia mandado mensagens, mas ela ainda sequer tinha visto, provavelmente ainda estava dormindo e eu já não suportava esperar.
Rafael me recepcionou com uma expressão preocupada, da mesma forma que eu, ele não era do tipo que levava desentendimentos tolos adiante, e me tratou normalmente mesmo depois do meu chilique no dia anterior.
— Como ela está? — Perguntei meio sem jeito.
— Passou a noite mal. — Ele disse sem me olhar diretamente n
Durante tantos anos reneguei esse sentimento maldito, tinha jurado para mim mesmo que jamais me submeteria a isso e no entanto não fui capaz de proteger a mim mesmo, eu estava padecendo. Passei a noite em claro, eu tinha umas cervejas na geladeira, mesmo tendo ciência de que precisava de algo muito mais forte para sanar a minha dor, decidi beber, e estava disposto a beber até cair. Fui até a cozinha e de cara me deparei com uma garrafa de vinho, geralmente a Jhenny e eu bebíamos juntos. Quantas lembranças aquela simples garrafa foi capaz de me trazer. Não pensei muito e bebi no gargalo mesmo, todo o conteúdo da garrafa que ainda estava cheia, arremessando-a na parede logo em seguida. Todos aqueles cacos de vidro no chão, com certeza estavam mais intactos que o meu coração naquele momento. Abri a geladeira pegando uma cerveja e me escorei no balcão, come
Me apressei em me vestir e desci correndo, na esperança de encontrá-la, mas Jhenny já havia sumido, subi frustrado, sem saber ao certo o que estava sentindo naquele momento, eu não estava errado, mas mesmo assim me senti mal, fiquei me perguntando o que ela queria, se estava arrependida e descobriu que me amava, que era comigo que queria estar. — Jéssica, preciso dar uma saída, se arruma, vou te deixar em casa. — Disse segurando o choro. — Quem era ela? Sua ex? — Não importa! Faça o que estou te pedindo, por favor! — Você me disse que não tinha mais namorada, por que ela ficou tão chateada? Era mentira? Você estava traindo a sua namorada comigo? — Não, Jéssica, não traí ninguém, depois conversamos, tudo
Já era de se esperar que o Rafael ficaria revoltado ao saber da decisão da vovó, e ela fez questão de avisar para ele que não queria mais a Jhenny na casa dela, e obviamente meu primo a defenderia com unhas e dentes, porém sobrou para mim. Nossa família estava reunida na mesa da área da churrasqueira, eu estava um pouco mais distante com a Fernanda quando ele veio furioso na minha direção. — Veio trazer recado da Jhen? Ela ainda não teve coragem de dirigir a palavra ao meu irmão? — Fernanda disparou assim que ele chegou. — Fernanda! — A repreendi. Minha irmã estava revoltada, da mesma forma que a vovó, ela havia tomado minhas dores e culpava a Jhenny. — Posso falar com você Felipe? A sós! — Rafael disse ignorando-a.
Quando abri meus olhos, estava num local absolutamente desconhecido, eu não conseguia me mover e sentia uma dor terrível em cada parte do meu corpo sempre que tentava. Um aparelho apitava ritmicamente, e movendo apenas os olhos analisei o local, me dando conta de que se tratava de um hospital. Minha perna estava erguida, presa a um ferro que a mantinha para cima, com uma série de pinos fincados em meu osso. Um dos meus braços estava igualmente imobilizado, e meu peito doía de forma aguda pelo simples fato de eu respirar. — Como está se sentindo, rapaz? — Um senhor que acredito ser um médico se aproximou. — Mal. — Respondi com dificuldade. — Tudo dói. — Natural, você sofreu múltiplas fraturas ao sofrer uma acidente de moto, se lembra disso? Acordei mais uma vez confuso, havia um tubo enfiado em minha boca, e uma série de aparelhos conectados em meu corpo, eu não conseguia falar, mas ao menos o ar circulava em meus pulmões. Meu peito ainda doía, porém bem menos do que antes, eu estava relaxado e ainda meio sonolento, provavelmente devido às medicações. — Vocês está bem, meu amor? Estou aqui! Olhei lentamente para o lado, encontrando o olhar preocupado da tia Anelise. Eu queria saber o que estava acontecendo, só lembrava de sentir muita dor e falta de ar, e agora aparentemente haviam aparelhos me oxigenando. — Você passou por uma cirurgia no pulmão, mas logo vão tirar esses tubos de você e tudo vai ficar bem, não se preocupe. Eu só conseguia imaginar que a minha situação estava se 37. Lágrimas de crocodilo
Na sexta-feira Roberto apareceu novamente, tia Clarisse suspirou quando ele pediu para que ela nos deixasse a sós, confesso que eu estava surpreso por ele ainda estar em Brasília, por ter deixado sua vida perfeitinha com a sua família adorada para perder tempo tentando conseguir o meu perdão. — Filho, você vai continuar agindo assim de forma tão infantil? Parece uma criança mimada! — Estou vivo, não estou? Não se preocupe, que pelo visto você não vai carregar a culpa de não estar aqui pro meu enterro! Já pode voltar pra sua família! — Felipe, eu estou pedindo seu perdão! Eu quero fazer diferente! — Eu não preciso da sua falsa paternidade agora! Eu tinha 10 anos, 10 anos quando minha mãe morreu, quando você largou a minha irmã e eu feito dois lixos! Já se
Uns dias depois, Jhenny apareceu com o Cristiano para me visitar, fiquei extremamente aliviado quando a vi, era possível notar em seu olhar a tristeza, ela ainda não estava bem, mas ainda assim logo abriu um sorriso ao olhar para mim. — Oi, Felipe! Podemos? — Hum, Fe-lipe, gostei! — Cristiano disse sorrindo, ele fazia de propósito para irritar ela, com certeza. — Bobo! — Ela deu uma risadinha. — Jhenny!!! Oi Cris! Podem entrar, claro! — Falei animado com a visita dela, talvez com a do meu primo também, mas só talvez. — Você parece bem melhor, estou feliz por você! — Jhenny se aproximou me abraçando, Cristiano odiava, mas ela pouco se importava. — Me sinto b
Ainda naquela semana eu recebi alta, dependia de cadeira de rodas pois levaria um tempo para que todos aqueles pinos fossem removidos da minha perna e eu voltasse a andar, além do mais um dos meus braços permanecia engessado. Devido a isso, não pude voltar para o meu apartamento, tive que ficar na casa da minha avó, pois dependia dos outros para praticamente tudo, até mesmo para tomar banho. Tia Adelina estava morando a um tempo nos Estados Unidos e veio me ver logo que soube que eu estava em casa, sendo assim, ela passou um tempo conosco para ajudar nos cuidados que eu precisava, vovó já não aguentava fazer tanto esforço, minha irmã parecia uma bonequinha delicada e eu com 1,80 metros beirava os 100 kg, não era nada fácil para elas. Rafael aparecia com frequência para ajudar, nesses momentos eu podia tomar banhos decentes, pois na frente dele eu