Quando abri meus olhos, estava num local absolutamente desconhecido, eu não conseguia me mover e sentia uma dor terrível em cada parte do meu corpo sempre que tentava. Um aparelho apitava ritmicamente, e movendo apenas os olhos analisei o local, me dando conta de que se tratava de um hospital. Minha perna estava erguida, presa a um ferro que a mantinha para cima, com uma série de pinos fincados em meu osso. Um dos meus braços estava igualmente imobilizado, e meu peito doía de forma aguda pelo simples fato de eu respirar.
— Como está se sentindo, rapaz? — Um senhor que acredito ser um médico se aproximou.
— Mal. — Respondi com dificuldade. — Tudo dói.
— Natural, você sofreu múltiplas fraturas ao sofrer uma acidente de moto, se lembra disso?
Acordei mais uma vez confuso, havia um tubo enfiado em minha boca, e uma série de aparelhos conectados em meu corpo, eu não conseguia falar, mas ao menos o ar circulava em meus pulmões. Meu peito ainda doía, porém bem menos do que antes, eu estava relaxado e ainda meio sonolento, provavelmente devido às medicações. — Vocês está bem, meu amor? Estou aqui! Olhei lentamente para o lado, encontrando o olhar preocupado da tia Anelise. Eu queria saber o que estava acontecendo, só lembrava de sentir muita dor e falta de ar, e agora aparentemente haviam aparelhos me oxigenando. — Você passou por uma cirurgia no pulmão, mas logo vão tirar esses tubos de você e tudo vai ficar bem, não se preocupe. Eu só conseguia imaginar que a minha situação estava se
Na sexta-feira Roberto apareceu novamente, tia Clarisse suspirou quando ele pediu para que ela nos deixasse a sós, confesso que eu estava surpreso por ele ainda estar em Brasília, por ter deixado sua vida perfeitinha com a sua família adorada para perder tempo tentando conseguir o meu perdão. — Filho, você vai continuar agindo assim de forma tão infantil? Parece uma criança mimada! — Estou vivo, não estou? Não se preocupe, que pelo visto você não vai carregar a culpa de não estar aqui pro meu enterro! Já pode voltar pra sua família! — Felipe, eu estou pedindo seu perdão! Eu quero fazer diferente! — Eu não preciso da sua falsa paternidade agora! Eu tinha 10 anos, 10 anos quando minha mãe morreu, quando você largou a minha irmã e eu feito dois lixos! Já se
Uns dias depois, Jhenny apareceu com o Cristiano para me visitar, fiquei extremamente aliviado quando a vi, era possível notar em seu olhar a tristeza, ela ainda não estava bem, mas ainda assim logo abriu um sorriso ao olhar para mim. — Oi, Felipe! Podemos? — Hum, Fe-lipe, gostei! — Cristiano disse sorrindo, ele fazia de propósito para irritar ela, com certeza. — Bobo! — Ela deu uma risadinha. — Jhenny!!! Oi Cris! Podem entrar, claro! — Falei animado com a visita dela, talvez com a do meu primo também, mas só talvez. — Você parece bem melhor, estou feliz por você! — Jhenny se aproximou me abraçando, Cristiano odiava, mas ela pouco se importava. — Me sinto b
Ainda naquela semana eu recebi alta, dependia de cadeira de rodas pois levaria um tempo para que todos aqueles pinos fossem removidos da minha perna e eu voltasse a andar, além do mais um dos meus braços permanecia engessado. Devido a isso, não pude voltar para o meu apartamento, tive que ficar na casa da minha avó, pois dependia dos outros para praticamente tudo, até mesmo para tomar banho. Tia Adelina estava morando a um tempo nos Estados Unidos e veio me ver logo que soube que eu estava em casa, sendo assim, ela passou um tempo conosco para ajudar nos cuidados que eu precisava, vovó já não aguentava fazer tanto esforço, minha irmã parecia uma bonequinha delicada e eu com 1,80 metros beirava os 100 kg, não era nada fácil para elas. Rafael aparecia com frequência para ajudar, nesses momentos eu podia tomar banhos decentes, pois na frente dele eu
Acabei indo pro tal noivado, os esforços que eu estava fazendo para evitar a dor na minha perna, talvez fossem muito menores do que os que eu fazia para suportar a dor do coração. Joguei um jogo perigoso, ciente dos riscos desde o início, foi game over para mim e agora eu precisava recomeçar a partida. Recomeçar significava aceitar o amor dos dois, aceitar que se casariam, teriam lindos filhos e eu voltaria ser o Felipe de antes, alguém convicto de que a solidão me acompanharia e que essa realidade não era para mim. Não posso negar que o meu primo foi incrível no pedido, ele cantou uma música conhecida da dupla sertaneja Bruno & Marrone, “Quer casar comigo”, e por sinal cantava muito bem. Jhenny ficou muito emocionada, ela olhava para ele de uma forma que eu jamais havia visto, quanto amor cabia naquele sorriso, quanta entrega, como fui bobo p
Marquei para segunda-feira a entrevista da tal Manuela com a Vanuza, confesso que a minha intenção todo tempo foi ajudar de alguma forma e estava decidido a contratá-la, porém não sabia nada sobre a moça, só tinha visto ela no dia em que soube da traição e no dia do noivado, e por sinal estava aos beijos com o melhor amigo do Cristiano, muito provavelmente o fim do relacionamento com o meu primo não havia sido um problema para ela. Mas eu não podia arriscar, a morena poderia ser apenas mais um rostinho bonito de corpo escultural daqueles que meu primo era acostumado, não posso negar que o traste sempre teve um ótimo gosto, porém eu precisava de alguém para ser o meu braço direito e se ela não fosse capaz, não haveria beleza no mundo que me fizesse perder tempo contratando-a, por isso deixei claro para Vanuza que fosse extremamente exigente e avaliasse se a moça teria o perfil necessário para o que e
A princípio eu estava muito estressado no que se referia ao meu trabalho, preocupado com a forma que conduziria tudo, mas depois de ter contratado a Manuela, pra minha surpresa as coisas deslancharam. Creio que justamente por ser tão conversadora, passei a receber muitos elogios de clientes que diziam ter gostado muito do atendimento, segundo eles, Manuela era capaz de ouvir o que eles precisavam e dar vida àquilo. Ela sempre chegava até mim cheia de ideias para os projetos, coisas que muitas vezes sequer passariam pela minha cabeça, detalhes que faziam toda a diferença no final e me fizeram conquistar cada vez mais clientes, principalmente do público feminino, sendo assim ela não só provou ser capaz, como muito competente e excelente no que fazia. — Acabamos, finalmente! — Eu suspirei satisfeito após finalizarmos juntos o projeto importante de um
Os dias foram passando, eu já estava entediado preso na casa da vovó, após a cirurgia ficou mais fácil me locomover, porém ainda dependia da cadeira de rodas e de ajuda para a maioria das coisas. Eu sentia falta do meu apartamento, de ter o meu espaço, minha liberdade, e haviam outras coisas que eu sentia muita falta e que definitivamente não teria como resolver ali. A última mulher em que eu havia encostado foi a minha secretária, Jéssica, depois de terminar definitivamente com a Jhenny, ainda saí com a loira algumas vezes, até que sofri o acidente e desde então fiquei na seca, já estava subindo pelas paredes. Algumas vezes pensei em ligar pra Jéssica, eu teria a desculpa que estaríamos trabalhando e a vovó não precisava saber em quê, mas eu não tinha privacidade, e acredito que ainda que tivesse 40 anos, de baixo do teto da dona Carmen, se uma mulher entrasse em meu quarto a porta teria que ficar