Os dias passaram e não voltamos a nos falar, voltei a minha rotina normal, de casa para o escritório e do escritório para casa, usei o trabalho para me distrair da vontade imensa que estava de correr atrás dela, e na grande maioria das vezes chegava em casa tarde da noite, já na hora de dormir novamente.
Depois de me acostumar a passar os finais de semana com a minha perdição, senti uma falta terrível no primeiro final de semana que não a tinha comigo, não quis ir para a casa da vovó e tão pouco busquei Fernanda, eu só queria ficar sozinho e me livrar daquele sentimento, daquela saudade.
Na segunda-feira cheguei no escritório extremamente estressado, tinha uma série de projetos para analisar e estava desde o domingo lutando contra uma dor de cabeça infernal causada pela ressaca das mágoas que afoguei na bebida.
Entramos no mês de junho, faltava pouco para o dia dos namorados, seria o nosso primeiro juntos e o meu primeiro na vida. Eu não fazia ideia do que deveria fazer, pensei em flores, chocolate, mas tudo isso me parecia muito clichê. Recorri à Fernanda para tentar fazer algo diferente e ela me ajudou com uma surpresa. Talvez tudo tenha ficado muito mais extravagante do que seria se eu tivesse feito sozinho, mas confiei que a minha irmã soubesse o que estava fazendo. Ela cortou diversos corações espalhando-os pelo quarto, fotos nossas na parede, pétalas de rosas na cama, na banheira, velas, eu ri quando vi tudo pronto. — Você transformou meu quarto num motel? — Perguntei gargalhando. — Motéis são assim? Engoli a seco, não era o tipo de conversa que eu d
Notei que Jhenny jamais dizia que me amava ou chamava de amor, somente eu me referia a ela de tal forma, e ela dizia sentir o mesmo, porém nunca espontaneamente, nunca sem antes que eu dissesse. O sexo nunca deixou de ser algo incrível, porém em dados momentos minha perdição parecia estar em outro mundo quando chegávamos ao fim. Um dia Jhenny chamou o nome do meu primo enquanto dormia, eu não poderia culpá-la por um sonho, que ela jurou não se lembrar, mas me perguntei até que ponto o sentimento que um dia teve por ele era algo passado. Entramos no mês de julho, a faculdade logo estaria de férias e eu sabia que o Cristiano estava com viagem marcada para Brasília, seria a primeira vez que nos encontraríamos desde o dia que ele se mudou, e eu já não tinha tanta segurança no que dizia respeito a Jhenny, se seria algo insignificante para ela, então decidi q
Passei a noite me sentindo péssimo, mal consegui pregar os olhos, mais uma vez tudo que eu queria era ir correndo atrás dela e pagar com a língua, creio que nunca engoli tanto o meu orgulho como durante o nosso namoro, mas eu estava decidido a resolver de uma vez por todas a situação. Sem pensar muito segui para a casa da tia Clarisse para encontrá-la, eu já havia mandado mensagens, mas ela ainda sequer tinha visto, provavelmente ainda estava dormindo e eu já não suportava esperar. Rafael me recepcionou com uma expressão preocupada, da mesma forma que eu, ele não era do tipo que levava desentendimentos tolos adiante, e me tratou normalmente mesmo depois do meu chilique no dia anterior. — Como ela está? — Perguntei meio sem jeito. — Passou a noite mal. — Ele disse sem me olhar diretamente n
Durante tantos anos reneguei esse sentimento maldito, tinha jurado para mim mesmo que jamais me submeteria a isso e no entanto não fui capaz de proteger a mim mesmo, eu estava padecendo. Passei a noite em claro, eu tinha umas cervejas na geladeira, mesmo tendo ciência de que precisava de algo muito mais forte para sanar a minha dor, decidi beber, e estava disposto a beber até cair. Fui até a cozinha e de cara me deparei com uma garrafa de vinho, geralmente a Jhenny e eu bebíamos juntos. Quantas lembranças aquela simples garrafa foi capaz de me trazer. Não pensei muito e bebi no gargalo mesmo, todo o conteúdo da garrafa que ainda estava cheia, arremessando-a na parede logo em seguida. Todos aqueles cacos de vidro no chão, com certeza estavam mais intactos que o meu coração naquele momento. Abri a geladeira pegando uma cerveja e me escorei no balcão, come
Me apressei em me vestir e desci correndo, na esperança de encontrá-la, mas Jhenny já havia sumido, subi frustrado, sem saber ao certo o que estava sentindo naquele momento, eu não estava errado, mas mesmo assim me senti mal, fiquei me perguntando o que ela queria, se estava arrependida e descobriu que me amava, que era comigo que queria estar. — Jéssica, preciso dar uma saída, se arruma, vou te deixar em casa. — Disse segurando o choro. — Quem era ela? Sua ex? — Não importa! Faça o que estou te pedindo, por favor! — Você me disse que não tinha mais namorada, por que ela ficou tão chateada? Era mentira? Você estava traindo a sua namorada comigo? — Não, Jéssica, não traí ninguém, depois conversamos, tudo
Já era de se esperar que o Rafael ficaria revoltado ao saber da decisão da vovó, e ela fez questão de avisar para ele que não queria mais a Jhenny na casa dela, e obviamente meu primo a defenderia com unhas e dentes, porém sobrou para mim. Nossa família estava reunida na mesa da área da churrasqueira, eu estava um pouco mais distante com a Fernanda quando ele veio furioso na minha direção. — Veio trazer recado da Jhen? Ela ainda não teve coragem de dirigir a palavra ao meu irmão? — Fernanda disparou assim que ele chegou. — Fernanda! — A repreendi. Minha irmã estava revoltada, da mesma forma que a vovó, ela havia tomado minhas dores e culpava a Jhenny. — Posso falar com você Felipe? A sós! — Rafael disse ignorando-a.
Quando abri meus olhos, estava num local absolutamente desconhecido, eu não conseguia me mover e sentia uma dor terrível em cada parte do meu corpo sempre que tentava. Um aparelho apitava ritmicamente, e movendo apenas os olhos analisei o local, me dando conta de que se tratava de um hospital. Minha perna estava erguida, presa a um ferro que a mantinha para cima, com uma série de pinos fincados em meu osso. Um dos meus braços estava igualmente imobilizado, e meu peito doía de forma aguda pelo simples fato de eu respirar. — Como está se sentindo, rapaz? — Um senhor que acredito ser um médico se aproximou. — Mal. — Respondi com dificuldade. — Tudo dói. — Natural, você sofreu múltiplas fraturas ao sofrer uma acidente de moto, se lembra disso? Acordei mais uma vez confuso, havia um tubo enfiado em minha boca, e uma série de aparelhos conectados em meu corpo, eu não conseguia falar, mas ao menos o ar circulava em meus pulmões. Meu peito ainda doía, porém bem menos do que antes, eu estava relaxado e ainda meio sonolento, provavelmente devido às medicações. — Vocês está bem, meu amor? Estou aqui! Olhei lentamente para o lado, encontrando o olhar preocupado da tia Anelise. Eu queria saber o que estava acontecendo, só lembrava de sentir muita dor e falta de ar, e agora aparentemente haviam aparelhos me oxigenando. — Você passou por uma cirurgia no pulmão, mas logo vão tirar esses tubos de você e tudo vai ficar bem, não se preocupe. Eu só conseguia imaginar que a minha situação estava se 37. Lágrimas de crocodilo