Capítulo 4

Laura

Estou saindo da delegacia que fiz a denúncia contra Guilherme. Roger pediu uma medida protetiva que já foi assinada por um juiz. Não gostei disso. Ele agilizou tudo pois trabalho na polícia.

Estaciono na delegacia onde trabalho. 

Entro na minha sala.

— O delegado quer conversar com você na sala dele. — Larissa diz. 

Me levanto trêmula, e vou até a sala. 

— Senta Laura! — Ele diz sorrindo.  

Que nojo desse cara. 

— Não obrigada. Diz logo, pois tenho que ler muitos documentos e montar alguns inquéritos.

Ele joga uma caixa cheia de apostilas encima da mesa. 

— Fabiano não vem hoje. O baitola tá dodói. — Ele diz sorrindo pegando a primeira por cima das outras. 

— Era isso!? — Me chamou aqui para cuspir sua homofobia?

— Não. — Ele diz se levantando. 

Se aproxima. 

Ele me entrega a apostila.

Minha denúncia contra ele.

— Achou mesmo que iria conseguir!? Você não é a primeira que tenta. — Ele diz tocando meu cabelo. 

Acerto um tapa na sua mão. 

— Quem vai acreditar em você Laura?! Ninguém. Sua sorte é que um amigo de muita confiança confiscou essa sua denúncia fútil.

Puxo minha mão. 

— Sua irmãzinha também é um espetáculo.

Cuspo na cara dele. 

— Toca na minha irmã que eu mato você. — Digo saindo da sala rapidamente. 

Entro na minha sala. 

Respiro fundo. 

As lágrimas descem dos meus olhos. 

— Laura? — Paulo diz entrando com apostilas nas mãos. 

Limpo meu rosto. 

— O que aconteceu? Você está chorando?

— Não estou chorando, não aconteceu nada.

Ele senta do meu lado.  

— É o delegado!? 

— O que é isso!? — Mudo de assunto. 

— O laudo que a perícia fez no carro Mercedes.  Ângelo pediu para te entregar.

— Obrigada. 

— Me diz o que aconteceu. Eu posso te ajudar! Não é a primeira vez que isso acontece. Até com a Rosália. Eu já vi ele molestar ela.

— Eu denunciei ele pro ministério público.

Ele sorri.

— Não adiantou de nada Paulo, ele acabou de me mostrar uma caixa cheia de inquéritos contra ele. Ninguém vai conseguir parar esse nojento.

— Se ele tentar uma gracinha novamente, eu sei o que fazer.

—  Não precisa arriscar seu emprego por minha causa, ou até mesmo sua vida, esse velho não tem piedade de ninguém. Depois que eu vi ele fazendo aquilo com aquele menino, eu acredito que ele seja capaz de tudo para conseguir o que quer.

— Ele é bem pior do que você imagina Laura.

Meu coração acelera. 

Gabriela...

Pego meu celular. 

— Eu vou voltar para meu posto. Qualquer coisa me chama.

Sorrio mandando uma piscadela. 

— Alô?! 

Como é bom escutar essa voz.

— Gabriela?! 

— Oi...

— Aonde você está?

— Na faculdade. Irei sair mais cedo hoje.

— Fica em lugar público ou na casa de alguém, não fica sozinha Gabriela. 

— Você tá me assustando. É o Guilherme!?

— Não. Depois eu te explico melhor, mas não fica sozinha. Te amo, quando eu chegar em casa te ligo.

— Meu Deus Laura! Você me deixou assustada. Eu vou pra casa da Vitória, tá Laura!?

— Tá meu amor, qualquer coisa me liga.

— Também te amo Laura.

Desligo. 

Leio o laudo.  

Não encontraram as digitais no banco de dados.

O telefone da mesa toca. 

— Alô? 

— Laura, encontraram o carro que a filha do governador foi vista entrando pela última vez.

Ele diz o endereço. 

— Estou indo. — Digo pegando minhas chaves. 

— Quer uma carona. — O delegado diz sorrindo parado na porta. 

Passo rapidamente por ele. Ando para o estacionamento. Meia horinha depois chego em uma fazendinha. 

— Laura. — Ângelo diz.  

— Oi Ângelo. Encontraram alguma coisa?

— Alguns pertences, uma lata de refrigerante, um canudo de plastico, garrafas de cerveja, documentos pessoais de Natália. Vamos analisar tudo agora mesmo.

— Alguém mora na casa?

— Sim, um casal de idosos. Maria e Olavo. Estávamos esperando você chegar para conversar com eles. Eles também não quiseram abrir a porta.

— Não conheço ninguém que arranque informações dos outros como você Laura, tem uma perspicacia fora do comum. Só acho que você usa algum tipo de truque. Sua beleza talvez hipnotiza eles também.

Estou corada.

— Vou conversar com eles. — Digo andando pra casinha. 

Bato na porta. 

Ninguém fala nada. 

Vejo uma senhora olhar na janela. 

— Oi?! 

Ela se esconde atrás da cortina. 

— Meu nome é Laura Goulart, só quero conversar com vocês.

— A gente não sabe de nada. Ela diz. 

— Eu não bebi café hoje, estou louca por uma xícara. — Digo vendo uma enorme plantação de café. 

Sorrio com meu cinismo.

— Eu senti cheiro de café, sei que vem daí de dentro e daqui de fora.

A porta se abre. 

Ela me entrega uma xícara com um pires e fecha a porta. 

— Obrigada. 

Ela me dá biscoitos também.

— Ta muito saboroso. Acho que é o melhor café que já provei. — Digo mordendo no biscoito. 

É de queijo...

Nossa que delícia é isso.

—  Isso daqui é o famoso pão de queijo?

—  Sim. 

— Tá muito bom. — Digo com a boca um pouco cheia. 

— Você não vai embora né!? — Olavo pergunta. 

— Não.

—  A gente não sabe de nada. — Ela diz. 

Se ela repetir isso mais uma vez. Terei a certeza que ela sabe.

— A polícia não vai embora enquanto eu não conversar com vocês. Mas vocês não precisam dizer nada se não quiserem.

O delegado arrombou a porta com um chute. 

Que cara infeliz. 

Maria grita. 

— Podem revistar tudo.Ele diz me entregando um papel. 

É uma ordem de busca e apreensão do juiz Moura.

— Você não pode entrar assim na minha casa. — Olavo diz bravo. 

— Posso. — O delegado diz puxando o papel da minha mão. 

Ele entrega o papel pra eles dois. 

— Você sabe ler né!?

Respiro fundo...

Olavo nega com a cabeça. 

O asqueroso da uma risadinha. 

— Isso daqui é uma ordem judicial, então eu posso entrar na sua casa e revirar tudo sem você pestanejar.

Eles dois se sentam. 

Me aproximo. 

— Eles vão encontrar algo lá dentro?

— A gente não fez nada. Quando acordamos esse carro já tava aí, eu quem pedi Carlos pra ligar pra polícia. Não sei quem deixou esse carro aí.Nem disse meu nome quando liguei lá.

— Quem é Carlos?

— Filho do vizinho aqui do lado. ele é o doutor das plantas aqui da região, agrônomo como dizem. — Maria diz. 

— Vocês tem algum tipo de arma aqui?

— Sim, mas nunca matei ninguém. — Olavo diz. 

— Você comprou ela de alguém?

— Sim. De um rapaz que trabalhou aqui um tempo.

— Ele te entregou os documentos dela? Cupom fiscal, registros?  Você tem uma permissão na justiça que te permite ter essa arma aqui?

Eu sei que não...

— Só á arma e alguns cartuchos que recebi. E não tenho essa permissão.

— O senhor tem o número do Carlos?

— Tenho sim, fica na porta da geladeira.

Ando até a cozinha. 

Pego o número rapidamente. 

— Liga para ele, pede para ele conseguir um advogado pro senhor. — Digo entregando meu celular. 

Ele arregala os olhos. 

— O senhor vai precisar. Meu colega, aquele que quebrou a porta, vai encontrar a arma. Melhor o senhor ficar preparado.

— Liga logo Olavo. — Maria diz. 

Ele liga. 

Horas depois...

— Encontramos isso aqui delegado. — Jean diz entregando uma arma para ele. 

— Humm, um 38. Encontraram documentação, registros, documentos de porte?

— Não senhor. Ela ta com a numeração raspada.

— Confisca ela Jean.

— Sim senhor.

— O senhor está preso por porte ilegal de arma.

Olavo se levanta. 

O delegado me olha com as algemas na mão.  

— Não precisa o algemar. Ele não está resistindo. — Digo. 

— Você faz parte do grupo de investigadores do caso Natália, isso daqui não tem nada a ver com sua especialização, se você já fez seu interrogatório com eles, então fica caladinha. — Ele diz algemando Olavo. 

Ele sorri apertando mais. 

— Não precisa apertar. — Maria diz. 

Eles saiem da casa e os vejo entrando na viatura. 

— Encontraram mais alguma coisa?

— Encontramos isso! — Ângelo diz me mostrando uma bituca de cigarro dentro de um saco plástico.  

Coloco luvas. 

— Isso é cigarro de "erva" pura. — Digo analisando. 

— Exatamente. Encontramos no assoalho dos bancos traseiros. As digitais encontradas são da própria Natália. As outras que encontramos na lata de refrigerante não batem com as de Natália. Vamos encaminhar para o banco de dados e comparar com as demais arquivadas no sistema.

— Eu preciso ir. — Digo tirando as luvas. 

— Acha que ela foi obrigada a fumar isso?

— Estou achando. Não posso dizer. Até mais.

— Já tem uma resposta para o meu convite?

— Eu não costumo envolver trabalho com vida pessoal Ângelo. Não me relaciono com colegas de profissão.

Ele arregala os olhos. 

— Era só um barzinho Laura.

— Sei... Depois do barzinho, você iria me convidar pra jantar em um restaurante, depois um filme na sua casa, depois tentaria me roubar um beijo, e depois você sabe. Eu não misturo as coisas, trabalho é trabalho e eu não me interesso por você. "Você não faz meu tipo". — Digo entrando no meu carro. 

Ele me olha fixamente com os lábios entreabertos. 

— Tchau.

— Tchau Laura.

— Desculpa Ângelo, mas eu não sinto nada por você, você é bonito, educado, inteligente, só amizade e admiração profissional.

Ele sorri sem graça. 

Tadinho.  

Acelero.  

Chego na delegacia. 

— Paulo. Preciso que você consiga uma ordem judicial de busca dos pertences pessoais de Natália Albuquerque Dutra. Tudo, celular, computador, diário, aparelho dentário, casca de machucados, fotos recentes, tudo que você conseguir.

Ele arregala os olhos.  

— Ela é a filha do governador.

— Sim. Eu preciso analisar esses pertences, pode colocar o pedido no meu nome. Já deveria ter feito isso a muito tempo.

— Na verdade, Fabiano já tinha pedido, mas o delegado cancelou.

— Como assim ele cancelou?

— Ele disse que não tinha necessidade, pois já tinham encontrado aquele rapaz que era o principal suspeito do desaparecimento de Natália. Ele rasgou o pedido na nossa frente. Fabiano morre de medo dele, não disse nada, ficou calado.

Por quê?

— Não deixa ele ficar sabendo, se possível peça a juíza Vivian para assinar esse pedido.

— Sim senhorita.

— Qualquer coisa tô na minha sala.

Pego o telefone.

— Ângelo? 

— Pois não!?

— Compara as digitais encontradas no carro que Natália foi vista entrando com as do carro Mercedes que Allan entrou.

— Ok. Vai demorar uns dois a três dias...

— Não tem problema. Quando ficar pronto me avisa.

— Aviso sim.

— Obrigada. Tchau.

— Tchau, Tchau.

Desligo. 

— Paulo?! 

— Chama àquele hacker que trabalha no outro pavilhão. Estou precisando de um favorzinho dele. Preciso desbloquear o notebook e o celular do Allan sem apagar nada. Se ele não estiver ocupado, diz pra ele vir na minha sala.

— Só um segundo. 

Um minuto depois. 

— Ele está a caminho.

— Obrigada Paulo.

Coloco luvas.  

Digito a senha do cofre.

Pego o celular e o notebook.  

— Olá!? 

— Oi, entra fica a vontade? 

— Com licença. — Diz colocando uma mochila sobre a mesa. 

— Aqui os eletrônicos.

Ele coloca luvas também. 

— Eu admiro muito seu trabalho. — Ele pega os aparelhos. 

Ele está trêmulo. 

— Obrigada, e eu sempre tentei ser uma nerd geek muito evoluída que sabe desbloquear e invadir qualquer aparelho usando técnicas e internet.

— Acho interessante isso de investigação criminalista. — Ele diz ligando um aparelho que lembra uma calculadora. 

— Invista ue, é uma combinação perfeita, usar suas habilidades de hacker com uma mistura de inspeção criminalista.

— Eu estou estudando. Daqui alguns dias posso ser seu colega de profissão.

— Parabéns, te desejo sorte e muita paciência. Qualquer coisa que precisar posso te ajudar.

Ele sorri.

— O celular está desbloqueado. — Ele diz me entregando. 

Já...?

— Tão rápido assim?

— Celulares são mais fáceis. Ainda mais quando utilizado essa senha padrão, que se tem que desenhar na tela utilizando nove pontos, eu induzi o sistema do celular. Notebook e computadores são mais complicados, pois preciso fazer cálculos e verificar um banco de dados cheios de senhas e fazer uma espécie de eliminatórias. — Ele diz ligando um outro notebook e colocando muitos fios no notebook do Allan. 

— É muito interessante isso. — Digo apoiando minhas mãos na mesa observando cada passo dele. 

Ele olha meu decote e pigarreio. Ele fica sem graça.

Me sento. 

— Esqueci de falar do pendrive...

Ele ta codificado. Consegue decodificar?

Ele sorri com o canto dos lábios. 

— Com certeza.

Pego o pendrive no cofre. 

Tenho certeza que ele olhou meu bumbum. 

— Quantos anos você tem Filipe? —Pergunto entregando para ele. 

Ele sorri.  

— Eu tenho dezenove.

Meu celular toca.  

Gabriela.  

Tiro as luvas. 

— Alô?! — Digo me levantando.  

— Cheguei na casa da Vitória.

Sorrio.  

— Só vocês duas?

— Aham maliciosa.

— Eu não disse nada.

— Mas pensou Laura.

— Você ainda não disse para ela?

— Nunca irei dizer Laura.

Nego com a cabeça. 

— Eu tenho muita vergonha disso Laura. Vitória nunca vai saber. 

— Essa é uma boa oportunidade para dialogar. Ela pensa o que quiser Gabriela, se liberta disso de uma vez, tenho certeza que você vai se sentir melhor. Beijo meu amor, qualquer coisa me liga.

— Beijo Laura. Te amo.

Vejo o delegado me olhar fixamente. 

— Está precisando de alguma coisa delegado?

— O que esse garoto está fazendo aqui?

— Filipe ta me ajudando com meu notebook de trabalho, eu coloquei uma senha que acabei esquecendo. Tenho inquéritos importantes nele. Mas isso não interessa a você. — Digo sem olhar para ele. 

Ele sai fechando porta. 

— Não quero problemas com ele.

— Lógico que não vai ter, se ele te perguntar alguma coisa você não diz nada, ou só confirma o que eu disse.

— Prontinho. Computador desbloqueado. — Ele diz tirando as luvas.  

— Obrigada Filipe. Meu futuro colega. — Digo apertando sua mão. 

— Quando precisar estou a disposição. — Ele diz organizando suas coisas. 

— Provavelmente irei precisar outras vezes. Obrigada Filipe!? 

Guardo rapidamente os aparelhos no cofre.  

[...]

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