Roman Ostrov Eu saí do galpão com o gosto metálico da raiva ainda preso à minha língua, cada passo pesado, como se o chão estivesse tentando me puxar para baixo, para longe da realidade. O silêncio do armazém parecia ecoar dentro de mim, mas por fora, o mundo continuava. Dmitry estava encostado no carro, esperando, sua postura rígida, sempre atento. Quando entrei no carro, o cheiro de sangue fresco e pólvora ainda impregnava minhas roupas. Ele percebeu imediatamente, mas não fez perguntas. Dmitry sabia. Ele sempre sabia. Donatella estava no banco traseiro, dormindo profundamente, os fones de ouvido cobrindo suas orelhas delicadas. Ela parecia tão tranquila, alheia ao caos que me consumia por dentro, tão distante de tudo o que acabara de acontecer. — Dei o aparelho pra ela ouvir música — Dmitry disse, com um tom cuidadoso. — Por causa do barulho no galpão. Achei melhor não arriscar. Olhei para Donatella, seus olhos fechados, o rosto relaxado, e apenas dei de ombros. Não havi
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