Claire Os ombros de Jean-Luc tensionaram. O olhar desceu até mim, duro, frio. — Acha que ele está seguindo você? Dei de ombros. O olhar gélido fez um pequeno calafrio percorrer meus braços. — Vamos ficar aqui por um tempo. Se ele realmente estiver nos seguindo, vamos perceber. Assenti, voltando a me concentrar nas obras de arte. Eu precisava me acalmar, e talvez elas me dessem isso. Mas então uma nova sensação atiçou minha ansiedade. Dei um passo para trás, comprimindo mais minhas costas contra ele. O braço se apertou em minha cintura. Respirei fundo e tentei observar e me conectar com as cores à minha frente, mas não conseguia evitar a sensação de estar sendo observada. Senti a respiração de Jean-Luc acelerar levemente em minhas costas. Ele permaneceu vigilante, sua postura protetora me envolvendo como um escudo. Senti gratidão por tê-lo ao meu lado naquele momento. Sendo supostamente seguida por um vizinho estranho, se isso acontecesse enquanto eu estava sozinha, entraria em

Claire Depois de mais de uma hora naquela mesma posição, parada como uma múmia, quase pegando no sono, ouvi um barulho no apartamento, vindo do corredor. O mesmo que tinha ouvido na noite anterior. Meus olhos se abriram rapidamente e meu coração saltou acelerando, batendo freneticamente na garganta. Ouvi o barulho novamente. Sentei-me assustada, o coração ainda mais disparado. Parecia que eu podia desmaiar. No corredor, um vulto se movia lentamente contra a parede. Prendi a respiração, o medo me paralisando por um momento. Peguei o celular na mesa de cabeceira e levantei-me, cada passo um desafio contra o pânico crescente. Caminhei até a porta do quarto, tentando não fazer barulho. Quando cheguei à porta, ouvi algo cair na sala. O som era alto, reverberando pelo apartamento silencioso. Meu coração batia tão forte que parecia que iria explodir do peito. Há anos não sentia tamanho medo. Apavorada, aproximei-me mais da porta para fechá-la, mas, antes que pudesse fazer qualquer coisa

Claire Jean-Luc caminhou até mim, segurando-me pelos ombros. Olhei para ele, que me encarava com um olhar preocupado, mas com a face firme e séria. Meu coração estava descompassado, meu corpo suava de nervoso e tremia levemente. O espanto me preenchia por inteiro. Uma leve confusão me atordoava, causando uma leve tontura. Eu não entendia nada do que estava acontecendo. Apenas entendia que, em minha casa, eu não estava segura, ao menos não naquele momento. — Me escute com atenção. Você está segura comigo. Não precisa se apavorar. — Acariciou minha face. Sua expressão suavizou um pouco. — Eu cuido de você, está bem? Assenti lentamente. — René vai ajudá-la a preparar uma mala. Deixou um beijo casto em minha testa. René se aproximou. Com um pequeno curvar de lábios, apoiou a mão em minhas costas e guiou-me até o quarto. Sentei-me na cama e respirei fundo, tentando me acalmar. Eu busquei paz por anos e, quando finalmente a tinha, parecia que estava se esvaindo. Uma lágrima escorreu

Claire Acordei assustada às quatro da manhã, com os passos de Jean-Luc abafados no assoalho de madeira. Meus olhos se abriram lentamente, secos e areosos, ajustando-se à penumbra do quarto. Ele ainda usava as mesmas roupas pretas de antes, um conjunto que parecia tático e funcional, com um suéter de gola rolê. René e o grandalhão careca também estavam com roupas semelhantes, um detalhe que me fez questionar internamente a natureza do que eles estavam fazendo antes de irem ao meu socorro. Já era tarde. Onde estavam? E por que vestidos assim? Pensei em perguntar a Jean-Luc sobre as roupas e sobre o que havia acontecido naquela noite, mas ele entrou no banheiro antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. O som da água corrente começou pouco depois, e eu fiquei deitada na cama, tentando juntar as peças de um quebra-cabeça que parecia complicado demais. Enquanto esperava, minha mente vagava, pensando nas inúmeras possibilidades e na estranha sensação de estar sendo envolvida em algo mui

Claire A passos apressados, Jean-Luc caminhou em direção à porta. — Vai aonde? — perguntei, deixando a cama. Ele parou e virou-se para mim. — Você precisa confiar em mim. Confiar quando digo que vou resolver isso e que está segura comigo! — Seu tom soou um tanto rude e impaciente. Franzi o cenho para ele, brava e confusa, chegando mais perto. — Jean-Luc... O que aconteceu comigo precisa ser investigado. — E quem disse que não estou investigando? — Seu tom soou mais alto. Minha coluna empertigou e meus pés deram dois passos para trás. Rapidamente ele suavizou o olhar e a postura. — Isso é uma conversa, não uma briga — falei firmemente. — Não levante o tom de voz para mim. Ele suspirou, frustrado consigo mesmo, e se aproximou. — Me desculpe. Não precisa ir até a polícia. Eu resolvo. — Mas como é que pretende resolver? — Minha mente dava um nó. E um pequeno desespero estava surgindo. — Claire... — Segurou meus braços com cuidado, chegando mais perto. — Eu tenho meios de man

Claire Quando subi o último degrau, encarei a porta do meu apartamento. Ela não estava mais quebrada. Uma nova fora colocada em seu lugar. Benoît entregou um molho de chaves novas. Ao entrar em casa, tudo estava perfeitamente em ordem, como deixei ao partir às pressas. Na lavanderia, o buraco na parede atrás da máquina de lavar havia sido fechado e pintado. Nem mesmo parecia que aquilo havia existido. Voltei para a sala e parei no meio do cômodo. Eu tinha medo até mesmo de respirar ali dentro, de coçar o rosto. A sensação era que eu estava sendo observada, mesmo que eu soubesse que não. Sentei-me no estofado e encarei a TV de 42” à minha frente. Analisei meu reflexo nela, observando minha leve palidez. Eu não conseguiria ficar ali. Engoli em seco, sentindo o meu corpo pinicar. Levantei-me de pressa, apanhando a mala que me acompanhou o dia no trabalho, e saí de casa. Ao deixar o prédio, Benoît saiu de seu carro, o mesmo que me levara ao trabalho e depois me trouxera para casa, vind