Todos os capítulos do Legado Sombrio I Criaturas Noturnas: Capítulo 21 - Capítulo 30
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20 I NA PONTA DO ICEBERG I
O TRIO ESTAVA estacionado em uma pequena clareira fora do campo de visão do galpão, que se erguia à frente deles. Diferente do que esperavam, o lugar estava em ótimas condições. O portão principal, de ferro preto, era alto e sem sinais de ferrugem. Havia câmeras instaladas nos cantos do muro, e o gramado ao redor estava bem aparado, evidenciando que o local era regularmente mantido. Apesar disso, não havia qualquer sinal de movimento visível ou barulho vindo de dentro. O fim de tarde lançava uma luz difusa sobre o cenário, dando ao ambiente uma aparência quase surreal. As nuvens pesadas no céu criavam sombras longas no chão, aumentando a sensação de tensão.Karyn estava agachada perto de Lester, conferindo o conteúdo de uma pequena mochila com equipamentos enquanto Clarke mantinha o olhar fixo no galpão, seus olhos analisando cada detalhe com um binóculo.— Não parece abandonado, isso é certo. — comentou ela, abaixando o binóculo, as mãos firmes cobertas com luvas táticas. — Mas també
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21 I PINTE DE VERMELHO I
EVE MOVEU SUA última peça no tabuleiro de xadrez com um sorriso triunfante.— Xeque-mate, de novo! — ela exclamou, erguendo os braços em comemoração, vencendo Nate pela segunda vez.Nate deixou escapar um suspiro exagerado, encostando-se no sofá com um ar dramático.— Isso tem que ser sorte...Ela riu, inclinando-se para frente enquanto apoiava o queixo nas mãos.— Não é sorte. É puro talento. — disse com um sorriso triunfante. — Talvez você devesse considerar umas aulas comigo. Cobro caro, mas prometo resultados.Liam, sentado ao meu lado, deu uma risada curta.— Talvez você só precise aceitar que ela é melhor, Nate. Faz parte do jogo.Eu não consegui segurar o riso ao ver Nate balançar a cabeça, fingindo indignação.— Dizem que a terceira vez é a da sorte. Por que não tenta?— Ah, não, obrigado. Duas humilhações em uma noite já são suficientes. — ele respondeu e apontou para o tabuleiro. — Mas da próxima vez, vou virar o jogo. Você vai ver. — Estarei esperando ansiosamente. — Eve d
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22 I CANÇÕES DE EXPERIÊNCIA I
EU ME SENTIA submersa em um lago escuro e congelado. Incapaz de respirar, como se cada molécula de ar tivesse sido sugada para longe. Era uma sensação esmagadora, como se o peso do mundo estivesse sobre mim. Esperava, quase ansiava, que meu fim estivesse próximo. Que esse buraco no meu peito, aberto pela dor de perder Nate, fosse finalmente preenchido, mesmo que fosse por algo ainda mais insuportável.Meus olhos estavam fixos no corpo dele, caído de forma desajeitada na poça de sangue que só crescia. O líquido vermelho parecia se espalhar com uma calma cruel, enquanto os olhos opacos de Nate encaravam o vazio, sem vida, sem alma. Era como se o mundo inteiro tivesse parado naquele momento, preso em um silêncio aterrador.Eu o chamei até perder o fôlego, até que minha garganta queimasse e o som morresse nos meus lábios. As lágrimas vieram sem controle, cada uma carregando um pedaço de mim, até que restasse apenas o vazio.― O que fazemos com outra garota? ― a voz de Dwayne cortou o silê
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23 I VERDADES E CONSEQUÊNCIAS I
EU NÃO CONSEGUIA reagir naquele momento. As palavras simplesmente não vinham, nem os sentimentos. Estava entorpecida, incapaz de processar o que estava acontecendo, como se estivesse em um redemoinho onde a lógica não fazia mais sentido. Cada segundo parecia me afundar ainda mais em um mundo distorcido, onde as pessoas que eu conhecia por toda minha vida agora eram completas estranhas.Descrença, desespero e raiva tornavam-se meus companheiros silenciosos.― A filha da Agnes... ― disse tio Lester, lentamente, como se apreciasse as palavras. Um sorriso discreto ameaçou curvar o canto de seus lábios pela descoberta. ― Então isso quer dizer que você não foi transferida para Londres.― Provavelmente esse seria o meu destino. ― Eve respondeu sombriamente, sua voz quase inaudível. ― Mas houve uma mudança de planos.Minha irmã e tio Lester trocaram olhares carregados de significado, como se um entendimento silencioso passasse entre eles. E eu estava ali, dividida, sem saber se deveria ficar
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24 I TODOS OS OLHOS ESTÃO SOBRE NÓS I
A PEDRA VERMELHA cintilava através do reflexo no espelho engordurado acima da pia, que há muito deixara de ser branca. Meus olhos estavam presos no pequeno pingente hexagonal pendurado em meu pescoço. O tom rubro e brilhante me lembrava de cada sangue derramado, de todas as vidas ceifadas por minha causa.Foi tudo o que me restou de uma vida que ficou para trás.Uma vida que, no fundo, nunca pertencera à verdadeira Angeline Collins, destinada a transformar tudo de bom em cinzas e destruição por causa dessa marca em seu braço. Agora, mais do que nunca eu a carregaria como se tivesse gravada em minha própria alma. Em um lembrete cruel de que havia sangue em minhas mãos.Eu os faria pagar.Não choraria mais, não agiria mais como uma garotinha amedrontada, escondida nas sombras da culpa e da fragilidade. Mas, para que isso acontecesse, eu precisava me recompor primeiro. Recuperar minha energia física e minha saúde mental era indispensável se eu quisesse enfrentar o que ainda estava por vi
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25 I NO COVIL DO LOBO I
☪PARTE III - ABISMO CHAMA ABISMO Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você." ― Friedrich Nietzsche ☪ RECOBREI A CONSCIÊNCIA com uma pontada afiada que disparou no canto da minha testa. Um chiado escapou da minha garganta seca, e eu forcei meus olhos a se abrirem. O primeiro detalhe que meus olhos captaram foi o teto de pedra acima de mim, gelado e áspero. Uma sensação de pavor se espalhou por meu peito, como se algo horrível estivesse prestes a acontecer. O medo se instalou em mim com uma intensidade aterradora, como se uma premonição sombria tivesse se apoderado do meu ser. Eu não sabia onde estava, mas sabia que não era bom. Tentei me apoiar em algo para me levantar, mas meu corpo foi recusado com um grito silencioso de dor, e eu caí de volta, sentindo o chão frio e liso contra a minha pele. Meu corpo protestou em cada movimento, como se cada fibra estivesse a
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26 I A MORTE E A DONZELA I
KATHRYN JÁ HAVIA perdido a noção do tempo desde que fora trancafiada naquela cela. Não sabia quantas vezes despertara sobressaltada, assombrada por pesadelos que invadiam sua mente sem piedade, torturando-a de maneiras cruéis e inimagináveis. Mas o pior nunca era encarar a própria morte — e sim a de Angeline. As formas estranhas e brutais em que a irmã morria em seus sonhos escancaravam seu sentimento de fracasso como uma lâmina afiada rasgando-lhe a carne, cortando de dentro para fora. Doía, sangrava e a despedaçava por completo. A sensação de impotência a consumia, corroendo-a pouco a pouco. Ela sentia-se um fracasso consigo mesma, com Angeline, com os próprios pais.Você falhou.Seu subconsciente sussurrava impiedosamente sempre que a dor começava a se dissipar — apenas para ressurgir logo depois, sufocando-a de todas as formas possíveis.Você falhou, Kathryn.Desde o instante em que despertara desorientada, com uma dor latejante na lateral da cabeça, soubera que a situação havia se
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27 I CATIVOS I
DEFINITIVAMENTE, EU NÃO estava ficando louca. Havia alguém ali comigo, na escuridão, e não podia ser uma ilusão. O som daquela voz ecoava na minha mente como um sussurro dissonante, me lembrando de que eu não estava sozinha — e isso estava longe de ser um alívio. Quem mais estaria preso nesse lugar? Outro prisioneiro como eu? Ou, pior, um dos vampiros de Henry, rondando como uma sombra, esperando o momento certo para atacar?O pavor rastejou pela minha espinha como dedos frios e invisíveis. A escuridão absoluta tornava tudo ainda mais aterrorizante. Eu podia sentir minha respiração acelerada, meus sentidos aguçados, cada nervo do meu corpo em alerta máximo. O que quer que estivesse ali, parecia interessado na minha marca. Mas por quê? Qual era o verdadeiro propósito dessa presença oculta?O silêncio ao meu redor era insuportável, como se o próprio ar estivesse suspenso, aguardando um desfecho que eu não queria enfrentar. A qualquer momento, um ataque poderia vir — de qualquer direção.
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28 I OS LAÇOS QUE UNEM I
DEPOIS DE REPASSAR pela terceira vez o que precisava fazer para escapar daquela prisão e despertar o poder selado, a insegurança começou a se arrastar sobre mim como uma sombra sufocante. E se eu falhasse? E se, ao invés de libertação, eu trouxesse apenas ruína? O peso da responsabilidade se transformava em um fardo insuportável, pressionando-me até os ossos. Eu nunca quis uma vida grandiosa, apenas um clichê confortável: uma casa simples cercada por um gramado verdejante, pais admiráveis e um futuro acadêmico repleto de promessas. Mas essa não era a realidade traçada para mim. Por mais que eu desejasse, tentasse ou fingisse pertencer a esse ideal, ele nunca me pertenceria. Meu destino já estava escrito, e nele, eu não passava de uma peça num tabuleiro de xadrez, onde as regras não eram minhas. O destino movia as peças, guiava os passos, e quando o xeque-mate chegasse, eu teria que estar preparada.Independentemente de quem caísse pelo caminho.Desafiar Henry pela segunda vez não era
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29 I DEZ SÓIS I
O DESESPERO RUGIU dentro de mim, ensurdecedor como um alarme disparado diretamente em meus tímpanos. Dor, raiva e frustração se retorciam dentro do meu peito, serpenteando pelos meus nervos, sobrecarregando cada fibra do meu corpo até que o esgotamento físico e mental se tornasse inevitável. Era como lutar contra a correnteza de um mar revolto, nadar com todas as forças apenas para ser arrastada para as profundezas. O esforço era inútil.Eu estava afundando.E olhar para Karyn naquele estado fazia cada gota de resistência se esvair.A dor era lancinante. Uma dor que não vinha de ferimentos visíveis, mas que dilacerava por dentro, uma dor que me desmanchava pouco a pouco. Como se a mulher forte, astuta e inabalável que ela costumava ser tivesse desmoronado, reduzida a nada diante da cena diante de mim. Eu não sabia se a dor que sentia era a minha própria, ou a dela, mas era impossível ignorar.Há quanto tempo estávamos presas? Dois dias? Três? Não havia como saber. Mas, ao ver Karyn naq
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