Quando chegou em casa viu Ivan dormindo profundamente no sofá. Sentia um aperto no coração só de vê-lo de olhos fechados, mas respirou fundo e repetiu pra si mesmo que estava tudo bem, que o médico tinha mesmo lhe avisado de que Ivan sentiria uma necessidade maior de dormir nas primeiras semanas: uma média de dez a doze horas por dia, uma espécie de inércia deixada pelo coma.
Encostou o sobretudo e a panna cotta na mesinha de centro, se abaixando à frente do sofá e passando os dedos nos cabelos grisalhos da franja, expondo a testa pra que deitasse os lábios ali por um instante.
— Amor... — Chamou num sussurro. — Cheguei...
— Uhm... — Ele piscou os olhos estreitos. — Oi, Vini!... —
Segurou nos cabelos vermelhos quando Vinícius passou o short pelos seus pés e voltou escorregando a palma da mão pela parte interna da sua coxa. — Vi- Vini... — Bom garoto... — Sabia que não fazia sentido pra Ivan agora, assim como não faria se ele tivesse voltado sete anos no tempo e ido avisá-lo, naquele quarto da moradia universitária, de que não se esquecesse que o amava, mas ainda assim talvez valesse a pena, porque talvez fizesse diferença. — Hm...!...— Para ele, tanta coisa não estava fazendo sentido também, por exemplo, estar completamente apaixonado e conhecendo tantos detalhes do antigo Ivan só agora, e descobrindo que as raízes de tantas coisas já estavam ali... — Você achou o lubrificante no seu lado do armário, foi? — Sem roupa íntima por baixo do short e já todo molhadinho lá embaixo... Não à toa acabou dormindo enquanto o esperava voltar. — Ao
Ivan acordou triste aquela manhã, bem triste, triste mesmo, porque cada dia que passava fazia aquele primeiro beijo com Vinícius mais distante e cada vez mais se dava conta de que fora algo que significou muito pra si, mas muito pouco ou nada pro roommate, já que este nunca mais sequer mencionou o fato ou nada relacionado; e ele… bem, Ivan não tinha coragem de perguntar, era embaraçoso demais.— O que você acha que deu nele, Jean? — Conversava com o mais velho, aos sussurros, porque estavam na biblioteca. — Tipo, pra ele me pedir um beijo pra ver se curtia e depois não falar nada?— De duas, uma... — Ele esticou as pernas longas por baixo da mesa. — Ou ele não curtiu, e não quer te dizer pra não te chatear, ou ele curtiu, e não quer te di
O mais velho foi embora assim que terminou de o arrumar; ele foi pra sala e ficou esperando Vinícius, este que chegou mais ou menos uma hora depois.Tão lindo... Os cabelos vermelhos sempre muito lisos, a camisa e a calça social vermelha, o paletó dobrado num braço, um buquê de rosas brancas na outra mão.— Amor, você já está...?... Uau!...— Sim, já tô pronto — Sorriu ao ver a cara de perplexo do mais velho. Mais novo, só que agora mais velho. — Isso é pra mim?— A- ah, é, é sim. — Estendeu-lhe as flores, desconcertado. Não sabia quando ia se acostumar com Vinícius agindo sempre tão fofo c
Ivan entrou no quarto de Haroldo aos prantos. Ele também morava na moradia universitária, só que em outro prédio, junto com Marcus, que deitado na cama estava, deitado na cama ficou, lendo uma revista enquanto Ivan desaguava lágrimas e mais lágrimas no ombro do mais velho.— Calma, calma... — Haroldo lhe dava batidinhas nas costas. — Tá tudo bem...— Não, não tá... — Falava aos soluços, a voz embargada. — Meus dois melhores amigos se gostam e eu não estou feliz por eles, eu sou um lixo!...— Sim, você é um lixo por ter me deixado de fora da sua lista de melhores amigos, agora pára de chorar, vai... Eu tô ficando com muita dó.
O quê, pelo amor de Deus, o quê se passou pela sua cabeça pra aceitar ter sua primeira vez com um hetero?? O quê???Ivan se faria essa pergunta muitas e muitas vezes depois, mas não se fez aquele questionamento nem uma única vez naquela noite, porque Yuri tinha um beijo tão bom... E o puxou pro seu colo tão bem... E quando apertava suas coxas...Ah!...era tão gostoso!Resolveu se perder naquilo, naqueles toques; já tinha tanto álcool no seu sangue, por que não ficar chapado também de hormônios? Cada chupão no seu pescoço uma dose mais forte, e puta que pariu, aquilo era uma delícia: não foi nem culpa sua quando começou a rebolar no seu colo.Voltaram pro quarto que dividia com J
— Y- Yuri... — seu celular estava tocando, insistentemente, já faziam uns cinco minutos. — Mh!... Yuri, espera... — Mesmo assim, o mais velho não largava sua boca nem às custas dos beliscões. Masoquista como era, deveria estar gostando. — Yuri!...mh... Deve ser o Vini... Mmmh...deixa eu atender...espera...— Ah...— Soltou-lhe os lábios finalmente. — O quê que ele quer dessa vez, hm?— Como eu vou saber se você não me deixa atender? — Pegou o celular encostado no canto da pia, aproveitando pra descer dali. Sua bunda já estava quadrada de tanto tempo sentado na pedra de mármore, e doendo também porque...bem, porque o Min exagerou daquela vez. — Alô?&mdash
— I- Ivan. — Sem opção pra objeção, pelo jeito sem opção pra fuga, também. — Aonde você...?— Só cala a boca! — Mandou, autoritário, e ele obedeceu. Incrivelmente, sem a menor contestação, ele simplesmente não falou mais nada até Ivan o empurrar consigo pra dentro do banheiro, o prensar na parede e segurar seu rosto numa única mão: os dedos espremendo suas bochechas. — "Você tá cagando pra mim"; "você ficou assim do nada", "você está frio comigo"; o que foi isso, hein, Vinícius?!? — Falou entre dentes. — Tá querendo me deixar puto ou sua intenção foi mesmo me deixar excitado?!— E- excitado?... — Corou fortemente; Ivan colando s
Olhar pra si pode ser perturbador às vezes; principalmente quando você se sente uma bagunça, olhar pras próprias pupilas contraídas dentro das íris no reflexo do espelho pode ser o mesmo que olhar para um infinito de escuridão e vazio: um verdadeiro inferno.— É porque são janelas muito pequenas. — Haroldo lhe explicava. — Sabe, os olhos são janelas muito pequenas, então parece que é tudo um grande vácuo, mas se você olhar pra dentro com o coração... Aí sim. — Ele sorriu-lhe, aquele sorriso que fazia seus lábios parecerem, sim, a fina silhueta de um coração. — Aí você vê um universo todinho, com as nebulosas mais brilhantes e coloridas que se possa imaginar.—