A floresta parecia mais viva do que nunca, mas não de forma acolhedora. As árvores sussurravam como se carregassem segredos antigos, enquanto o chão vibrava levemente com uma energia que emanava do templo. Kael e Lírica saíram da entrada desgastada, ainda absorvendo o impacto das visões de Fenrir.O medalhão estava quente na mão de Lírica, como se pulsasse com vida própria. Kael, ao lado dela, observava com atenção, tentando interpretar o que tudo aquilo significava.— Estamos presos em uma guerra que começou muito antes de nós. — Kael murmurou, quebrando o silêncio.Lírica virou-se para ele, seus olhos dourados fixando-se nos dele.— Mas talvez sejamos a única chance de terminá-la. O que vimos lá dentro... Fenrir não parecia apenas uma força destrutiva. Parecia... desesperado.— Ou manipulado. — A voz grave de Malthus soou atrás deles. Ele emergiu das sombras, o capuz de sua capa agora abaixado, revelando um rosto marcado pelo tempo e por batalhas. — Não se deixe enganar pelas palavr
As ilusões desvaneceram como névoa ao sol, mas o peso que deixaram para trás ainda pairava sobre os corações de Kael, Lírica e Malthus. O grupo permaneceu em silêncio por um longo momento, cada um digerindo o que havia visto e sentido.Kael, com o peito arfando, encarou Nerya, que os observava com um olhar curioso e impassível. Seu coração ainda martelava contra as costelas ao lembrar da versão sombria de si mesmo. A criatura dentro dele – a sombra de Fenrir – não era um simples pesadelo. Era algo real, algo que ansiava por liberdade.Lírica tocou o ombro dele, seus olhos dourados buscando os dele.— Você está bem?Kael apertou os punhos e assentiu, mas sua mente fervilhava de perguntas.Malthus, por sua vez, respirou fundo e deu um passo à frente, mirando Nerya com uma expressão tensa.— Isso foi um teste? Ou uma ameaça?— Os dois. — Nerya sorriu levemente, cruzando os braços. — Vocês precisam entender o que enfrentam, e para isso, precisam encarar suas próprias verdades.Kael estrei
O uivo que ecoou pela floresta trouxe consigo uma tensão palpável. Kael sentiu seus instintos se aguçarem, e Lírica automaticamente se colocou em posição de combate. Malthus estreitou os olhos para o horizonte enevoado, sua expressão sombria.— Eles chegaram. — Murmurou.Kael olhou para ele, sentindo a inquietação crescer dentro de si.— Quem?Malthus apertou os punhos antes de responder.— Os Caçadores da Lua Sangrenta.Lírica arregalou os olhos.— Isso é impossível. Eles foram exterminados há séculos!Malthus negou com a cabeça.— Nem todos. Um grupo sobreviveu, esperando o momento certo para ressurgir. Eles são fanáticos que acreditam que apenas através da destruição de todos os descendentes de Fenrir a ordem pode ser restaurada. E agora que Kael foi revelado como seu receptáculo, ele se tornou seu alvo principal.Kael sentiu um arrepio subir por sua espinha. Desde que descobriu sua conexão com Fenrir, sabia que teria inimigos, mas não esperava que uma ordem secreta estivesse à esp
A batalha havia terminado, mas o peso da vitória recaía sobre os ombros de Kael. Ele podia sentir o resquício do poder de Fenrir pulsando dentro de si, como uma fera inquieta tentando romper suas correntes. A noite estava fria, e o silêncio da floresta era apenas um prenúncio da tempestade que se aproximava.Lírica ainda o segurava firme, como se temesse que ele desaparecesse se o soltasse. O calor de seu corpo contrastava com a brisa cortante da madrugada, e Kael se permitiu fechar os olhos por um momento, absorvendo aquela sensação.— Eu achei que te perderia. — Ela murmurou contra seu peito.Ele deslizou os dedos pelos cabelos dela, pousando a mão em sua nuca com delicadeza.— Eu também.Malthus limpava o ferimento no ombro, observando os dois com um olhar pensativo.— Se vamos sobreviver a isso, precisamos agir rápido. Gregor não voltará sozinho da próxima vez.Kael se afastou levemente de Lírica, assentindo.— Você mencionou um lugar onde eu poderia aprender a controlar isso... —
A escuridão pulsava ao redor de Kael como um monstro vivo, respirando sombras e sussurrando promessas tentadoras. Seu reflexo sombrio avançava, os olhos vermelhos brilhando como brasas, cada movimento impregnado de uma força esmagadora.Kael mal teve tempo de reagir antes de ser arremessado contra uma parede invisível. O impacto fez seu corpo estremecer, mas ele não cedeu.— Você luta contra mim como se houvesse escolha. — A voz de sua contraparte soou, ecoando pelo salão vermelho-sangue. — Mas eu sou inevitável. Você e eu somos um.Kael se ergueu, rangendo os dentes.— Eu sou mais do que apenas poder bruto.A sombra inclinou a cabeça, um sorriso predatório curvando seus lábios.— Então prove.Lírica: O Chamado da LuaDo lado de fora da caverna, Lírica sentia cada fibra do seu ser vibrando com um aviso: algo estava errado. Seu coração acelerado ecoava no mesmo ritmo da lua cheia, como se a própria noite tentasse alertá-la.Malthus, ao seu lado, observava a caverna com olhos carregados
A brisa fria da noite envolvia Kael e Lírica quando saíram da caverna. O silêncio era quase esmagador, interrompido apenas pelo farfalhar das árvores ao redor. Cada passo de Kael parecia mais firme, como se ele estivesse finalmente completo.Malthus os esperava do lado de fora, os olhos estreitados em avaliação.— Então? — O mago perguntou. — Você venceu?Kael expirou devagar.— Não era uma luta para ser vencida. Era para ser compreendida.Malthus arqueou uma sobrancelha, mas um brilho de aprovação surgiu em seus olhos.— Interessante. Então você finalmente aceitou a fera dentro de si?Kael olhou para suas próprias mãos, sentindo o poder fluir através de sua pele, mas dessa vez, não como uma ameaça incontrolável.— Eu sou Kael, e Fenrir é parte de mim. Mas eu sou o mestre desse poder, e não o contrário.Lírica apertou sua mão, os olhos brilhando com orgulho e alívio.— Então estamos prontos para o que vier.Malthus suspirou.— O que vier é exatamente o problema. Gregor não vai esperar
O mundo ao redor se dissolveu quando Kael e Gregor se chocaram. O impacto de seus golpes fez o chão estremecer, os ecos de suas forças reverberando pelo campo de batalha.Gregor rugiu, os olhos brilhando em vermelho intenso, sua forma lupina dominada por fúria e poder bruto. Ele atacava com garras afiadas, tentando despedaçar Kael com sua força avassaladora.Kael, porém, não era mais o mesmo lobo de antes. Seu corpo se movia com precisão, seus reflexos aguçados pela fusão com Fenrir. Ele bloqueava, esquivava e contra-atacava, cada golpe sendo calculado para enfraquecer Gregor.Ao redor deles, a guerra rugia. Lírica liderava os guerreiros da Alcatéia da Lua Sangrenta, enfrentando os soldados de Gregor com ferocidade. Malthus conjurava feitiços, criando barreiras e lançando explosões de energia para desequilibrar o inimigo.Mas, para Kael, só existia Gregor.— Você sempre fugiu do seu destino, irmão. — Gregor rosnou, investindo com um golpe feroz. — Mas não pode fugir de mim!Kael desvi
O vento gélido percorreu o campo de batalha, carregando consigo o cheiro de sangue, terra e fogo. O corpo inerte de Gregor jazia no chão, uma lembrança silenciosa do fim de uma era. Kael respirava com dificuldade, sentindo a exaustão pesar em seus músculos, mas sem permitir que a dor o dominasse. Lírica estava ao seu lado, os olhos dourados observando os lobos sobreviventes que agora os rodeavam, incertos do que viria a seguir.Os guerreiros da Alcatéia da Lua Sangrenta estavam feridos, mas vitoriosos. Os poucos seguidores leais de Gregor que haviam sobrevivido hesitavam, alguns recuando, outros aguardando um comando que nunca mais viria.Malthus se aproximou, seu rosto coberto de fuligem e suor. O mago havia usado seu poder até o limite, mas um leve sorriso surgiu em seus lábios ao olhar para Kael.— Então, o Alfa Renegado venceu.Kael expirou lentamente.— Não se trata de vencer. Se trata de reescrever o futuro.A Alcatéia Sem LíderO silêncio foi interrompido por um lobo de pelagem