O silêncio da manhã era quase tão pesado quanto a tensão que rondava Kael e Lírica. A aparição de Selene deixara perguntas demais e poucas respostas, mas não havia tempo para hesitação. As palavras da emissária ecoavam na mente de Kael, enquanto o peso do Coração de Noctis parecia aumentar a cada minuto.— Você acha que podemos confiar em alguma coisa do que ela disse? — Lírica perguntou, quebrando o silêncio, enquanto ajustava sua mochila com suprimentos.Kael hesitou antes de responder.— Confiança não é a palavra certa. Mas acho que devemos levar o aviso dela a sério. Algo grande está se movendo, e não podemos ignorar isso.Lírica assentiu, seu olhar firme como sempre. No entanto, algo em seus olhos mostrava preocupação. Ela sabia que, enquanto Kael carregasse o Coração, ele estaria no centro de tudo — e isso significava que ela também estaria.— Então seguimos para o leste, para a ruína que ela mencionou? — Perguntou ela.Kael concordou.— Se há respostas sobre o Coração, elas est
A ruína era mais do que Kael esperava. Assim que atravessaram o arco de pedra, uma energia opressiva os envolveu. O ar estava pesado, carregado com um zumbido baixo que parecia vir das próprias paredes. Símbolos antigos pulsavam com uma luz avermelhada, iluminando o caminho à frente. O lugar tinha um cheiro estranho, uma mistura de terra úmida e algo metálico, como sangue.— Bem-vindos ao Labirinto da Verdade. — Darius anunciou, sua voz ecoando pelas paredes. — Aqui, o Coração vai testá-los. Ele quer ver do que vocês são feitos.Lírica estreitou os olhos, mantendo-se perto de Kael.— Você parece saber muito sobre isso. Quantas pessoas já vieram aqui antes de nós?Darius deu de ombros, mas seu sorriso desapareceu.— Muitas. E nenhuma delas saiu. Vocês dois podem ser os primeiros... ou apenas mais um fracasso.Kael sentiu o Coração pulsar contra seu peito, como se estivesse respondendo à provocação. Ele sabia que não havia como recuar. De mãos dadas com Lírica, ele deu o primeiro passo
O peso do Labirinto começava a se fazer sentir em Kael e Lírica. Cada passo parecia exigir mais energia, como se o próprio ar ao redor estivesse drenando suas forças. O brilho do Coração de Noctis oscilava no peito de Kael, acompanhando os batimentos frenéticos de seu coração. Apesar do cansaço, eles continuaram avançando, determinados a enfrentar o que viesse.— O que você acha que vem agora? — Perguntou Lírica, sua voz um pouco trêmula, mas sua postura firme.Kael lançou um olhar para Darius, que seguia a poucos passos atrás deles, com aquele sorriso enigmático que já se tornara irritante.— Com ele por perto, espero qualquer coisa. — Respondeu Kael.— Oh, não me dê tanto crédito. — Darius disse, rindo. — O Labirinto tem sua própria vontade. Ele escolhe os testes. Eu sou apenas... um guia.Lírica revirou os olhos, claramente irritada.— Guia ou espião? Ainda não decidi.Antes que Darius pudesse responder, uma nova sala se abriu diante deles. O ambiente era completamente diferente da
A nova passagem levou Kael, Lírica e Darius a uma caverna ampla e iluminada por cristais brilhantes que pulsavam em tons de azul e violeta. O ambiente era deslumbrante, mas havia algo sinistro no ar. O som de gotas d'água ecoava pelas paredes, mas parecia haver mais do que isso — um sussurro baixo, quase imperceptível, que fazia Kael estremecer.— Sinto que estamos sendo observados. — Disse Kael, os olhos vasculhando as sombras ao redor.Lírica assentiu, seus sentidos de alfa alertas.— Não gosto disso. Este lugar parece... vivo.— Porque está. — Disse Darius, seu tom sério pela primeira vez desde que entraram no Labirinto. — A próxima parte do teste é diferente. Aqui, vocês enfrentarão algo muito mais perigoso: as sombras do passado.Kael franziu a testa, seu instinto gritando para atacar.— E você, Darius? Está dizendo que está fora disso?— Não sou eu quem o Coração escolheu. Este é o seu destino, não o meu. — Ele respondeu com um sorriso enigmático.O som dos sussurros tornou-se m
O ar ao redor parecia mais pesado enquanto Kael, Lírica e Darius avançavam para a próxima etapa do Labirinto. Após a batalha com as sombras do passado, o silêncio que os envolvia era opressor, carregado de uma tensão quase palpável. As paredes da nova câmara que se abriu diante deles eram compostas por espelhos fragmentados, refletindo múltiplas versões de cada um, como se o espaço estivesse testando sua sanidade.— Isso está começando a ficar repetitivo, não acha? — Disse Lírica, sua voz sarcástica tentando aliviar a tensão.— Prefiro repetitivo a mortal. — Respondeu Kael, estudando os espelhos com cautela. — Mas algo me diz que isso é pior do que parece.Darius aproximou-se de um dos fragmentos, tocando-o com a ponta dos dedos. O reflexo ondulou como água.— O Labirinto está ficando impaciente. Vocês o intrigaram, mas também o desafiaram. E ele não gosta de ser desafiado.Kael estreitou os olhos para o homem.— Por que você sempre fala como se fosse uma entidade à parte disso tudo?
Capítulo 1: O Uivo na EscuridãoA lua cheia pairava no céu, uma esfera prateada que iluminava a floresta com um brilho fantasmagórico. O vento soprava entre as árvores antigas, carregando o cheiro de terra molhada e madeira queimada. Para Kael, era apenas mais uma noite solitária — o tipo de noite que havia se tornado tão familiar quanto o som de seu próprio batimento cardíaco.Ele caminhava entre as sombras, sua forma lupina quase indistinguível do ambiente ao redor. O pelo negro como carvão o tornava invisível à luz da lua, mas seus olhos brilhavam em um tom dourado que denunciava sua presença para qualquer um que olhasse de perto. Não que houvesse alguém por perto. A essa altura, Kael já sabia que ninguém ousava se aventurar tão profundamente na floresta proibida, um território que até mesmo as alcateias evitavam.Ele não tinha escolha. Como renegado, o exílio era sua única opção. E essa floresta — perigosa e imprevisível — era o único lugar onde ele podia existir sem medo constant
A floresta parecia respirar ao redor deles, viva com sons sutis que apenas os lobos podiam captar. Galhos se curvavam com o peso do vento, folhas dançavam no ar, e, ao longe, o uivo de uma coruja cortava o silêncio. Kael mantinha a postura rígida enquanto Lírica se apoiava em seu braço, os passos dela hesitantes, mas teimosos.O cheiro de sangue ainda pairava no ar, um lembrete de que a batalha havia sido vencida, mas não a guerra.— Você está desacelerando — Kael comentou, sem olhar para ela.Lírica soltou um suspiro exasperado, erguendo o queixo.— Eu estou ferida, não morta.Ele lançou um olhar de canto de olho, o brilho dourado de seus olhos visível mesmo sob as sombras.— Por enquanto.Ela ignorou o comentário. Lírica não era do tipo que demonstrava fraqueza, mesmo quando cada passo fazia sua visão escurecer por um instante.— Quanto tempo até chegarmos ao vale? — perguntou ela, tentando soar firme.Kael não respondeu imediatamente. Ele conhecia bem a floresta e sabia que o camin
A manhã chegou silenciosa, trazendo consigo uma névoa densa que se espalhava pelo vale como um manto. A luz pálida do sol mal atravessava as árvores altas, e o abrigo de pedra parecia ainda mais isolado.Kael observava a pequena fogueira que haviam acendido dentro da cabana, os olhos fixos nas chamas dançantes. Ele não confiava naqueles novos lobos, especialmente em um deles — um jovem chamado Eryon, cuja postura rígida e olhar evasivo o deixavam desconfortável.Lírica, por outro lado, parecia mais serena. Apesar de suas feridas ainda não estarem totalmente curadas, ela já havia começado a traçar um plano.— Precisamos nos mover antes que a noite caia — disse ela, sua voz firme, mas baixa o suficiente para não despertar suspeitas.Kael inclinou-se contra a parede da cabana, cruzando os braços.— Ótimo. Vamos direto para a boca do lobo.Lírica lançou-lhe um olhar impaciente.— Se não recuperarmos o artefato, Darius vai nos encontrar de qualquer forma. Ele já está nos caçando, Kael. Não