O que guarda um anjo? Um homem, um ser, uma vida? Uma consciência?
O robô acionou o cursor da arma e disparou. Uma rajada de chumbo arrasou com os humanos e inutilizou as armaduras dos robôs inimigos. Uma bala perfurante atravessou a carapaça do seu cérebro e, após se alojar na cabeça, explodiu.
O robô avançou aos saltos, pulando por sobre pequenas colunas e obstáculos. Parou de súbito em frente a uma casinha de paredes de barro e telhado de caibros grosseiros feitos de galhos de eucalipto, recobertos de folhas de palmeiras amarradas. Um movimento, apenas sentido, o alertara. Ligou os sensores em potência e viu: quatro humanos estavam deitados atrás da parede, de emboscada. Drenou o sistema de energia de reserva e, com toda a rapidez, a desviou para as armas, uma em cada mão. Os tiros saíram em sequência de milésimos de segundos, pulve
Pode um versátil coração humano bater num corpo de metal? Talvez sim... Afinal, não há corpos humanos que abrigam obtusos e saudáveis corações de pedra?O carro estabilizou e desceu suavemente ao solo. A psicóloga, Dra. Schanny, ainda sonolenta pela longa viagem, coçou os olhos e desceu no extenso e vazio pátio batido pelo sol frio e impessoal. Um vento gelado e rápido corria pelo ar, o que a fez acertar seu vestido e puxar mais para si a blusa. Por um bom tempo ficou parada com os olhos perdidos no céu azul onde não se via nem mesmo um fiapo de nuvem. Então os desviou e pousou-os no ajuntamento de pessoas que observavam a cena do crime, quase à frente da entrada do shopping.Deitado no chão identificou uma massa desmanchada e imóvel de um homem. Ao seu lado, em pé, tão imóvel quanto ele, um vistoso e
Deus, ao criar o homem, o animou com seu espírito. Com que espírito o homem animará sua criação?- Eu vi muitas coisas... - falou o robô com ar sonhador. - Pisei terras onde os homens seriam esmagados ou derretidos, voei onde seus corpos explodiriam, vi coisas em frequências que fariam com que os homens criassem novas religiões... Eu estive em muitos lugares e vi muitas coisas de muitas formas... - a voz falhou e se aquietou, o semblante triste e pensativo, o olhar distante, procurando enxergar algo da alma dos homens, que sempre acreditou ser imensa.Yanna Schanny baixou os olhos, incapaz de sustentar o olhar do robô.- Eu sinto muito, Mateus – se desculpou pela terceira vez. - Não há o que eu possa fazer - tentou se justificar novamente.- Eu também sinto, minha amiga. Tudo o que vi, tudo o que pensei, irá se perder? Por que assinaram o p
A noite chegou após o crepúsculo ter sido sobrepujado pelo cinza chumbo e pelo frio; a noite se foi para ser novamente vencida pela alvorada; a esfera amarela se levantou gloriosamente de trás dos montes e foi acordando o mundo. A estrada estreita, poeirenta com cheiro de terra seca, estendia-se numa longa curva, descendo para o sinuoso vale, cozendo-se aos lados dos barrancos. Nenhuma vivalma podia ser avistada. Os sons chocos traziam e falavam de solidão... Qual a medida de solidão que o homem permitiria que chegasse ao seu coração?- Por que não o deixa em paz? Ele já está traumatizado demais, e não precisa de você para transtorná-lo ainda mais. Badhul era só um robô - vociferou o pai em defesa do filho. - Eu não entendo... Ao invés de enviarem um psicólogo para o meu filho, enviam você? Como uma psicóloga de rob&oc
Não há força maior que o amor. Foi ele que fez com que Deus criasse os universos e a vida, e dar uma alma ao homem. E esse poder, no qual o homem está imerso e do qual se alimenta, de tão imenso, pode enlouquecer e ser a perdição, ou iluminar e ser a redenção.As redes jornalísticas estavam em polvorosa. Câmeras teleguiadas e satélites mostravam em tempo real tudo o que estava acontecendo, desde que aquele maluco invadira a empresa de peças de reposição de robôs e pegara um dos encarregados como refém, procurando por uma mulher, que ainda não fora identificada. Um caso passional, um relacionamento desmanchado. Mas, o que deixava tudo muito interessante, era a natureza do homem descontrolado.Todo o local da fábrica estava cercado, e os policiais robôs estavam posicionados a uma distância segura. Havi
Foi-se o tempo em que as possibilidades encontraram seu fim; a temporada de sonhar está aberta.Yanna Schanny olhou com apreensão para as montanhas muito lá embaixo. Entorpecida, subiu os olhos dos vales fracamente delineados para a nave de escolta que ia um pouco à frente. As duas rapidamente ganhavam o espaço, o que era denunciado pelo negror que ia se descolando do azul, que se tornava lentamente uma bolha pincelada de várias cores.Yanna mandou o piloto emparelhar com a outra. Seu coração disparou enquanto ficava observando a distância ir diminuindo sensivelmente, enquanto a outra nave ia se agigantando, até tomar todo o seu visor. Firmou um pouco mais a mão no braço da poltrona, seu corpo tenso, os músculos retesados. Girou a cabeça e ficou observando o distante firmamento onde a longa faixa da cidade orbital, que cortava toda a extensão d
Tenho mãos, mas não me importo com elas, afinal, me servem, e sempre estão comigo. Tenho liberdade, mas...Yanna entrou na sala de holo, em silêncio, a mente em branco.Respirou fundo uma, duas vezes. Suspirou aliviada, sentindo que estava preparada. Seu coração e sua respiração estavam normais. O vazio do espaço, sua mente iria conseguir vencer com tranquilidade, conferiu.Fora uma solução aceitável, tinha que concordar. No conforto de uma sala holo, sem qualquer risco, sem precisar trajar as roupas que julgava tão frágeis e sem ter que enfrentar tudo o que lhe dava medo. Logo tudo estaria resolvido.Com um gesto de cabeça pediu para que transmitissem.A sala sumiu e deu lugar a uma paisagem morta. Sob a luz de um planeta vermelho viu um robô imenso, poderoso, sentado sobre uma grande rocha. Seu corpo de metal pareci
Um pequeno animal evoluiu e, milhões de anos após, construiu máquinas e foi para o espaço. Quais seres estão evoluindo agora?O brilhante robô se calou, o olhar parado voltado para o céu estrelado através da cúpula transparente, pequenas peças de metal rodando com graça em sua mão esquerda. Yanna o sondou, e sorriu mais para si mesma. Afinal, era impossível ler o que ele pensava apenas pela sua linguagem corporal, apesar de pressentir o que ele estava pensando. Havia saudade naqueles circuitos, saudade do espaço, ainda mais por saber que nunca mais o veria, e isso porque, a pedido seu, lhe fora revelado que logo seria desativado. Afinal, era um robô experimental que, após a companhia ter julgado que fora perdido ou destruído, milagrosamente fora encontrado, e agora temia que caísse nas mãos da concorrência.<
Qual o maior vazio que existe, o do espaço ou daquele que o homem cultiva?Yanna ficou observando a grande nave, pintada nas cores da Mulan, a companhia líder em voos para Marte, estacionada no pátio. No brilho do sol a nave ficara ainda mais bonita, com o casco pintado na cor de cobre, parecendo um brilhante metal enferrujado. Tinha que confessar que o efeito era bonito, talvez um esforço da companhia para que todos vissem marte de uma outra forma, o que poderia ser verdade, ao menos para ela. E não era por causa do planeta, que ela já vira muitas vezes. Sempre tivera vontade de ir até lá, como qualquer ser normal fazia, mas havia algo terrível entre ela e o planeta que admirava: havia um terrível abismo. Já fizera muitas missões no espaço, mas todos bem sabiam o quanto ele a apavorava. Por toda a volta, por onde quer que olhasse, havia só o vazio, e dentr