Helida
Meu pai fala de um jeito que eu quase acredito que seja fácil.
— Precisa voltar àquela casa, já se passaram quase seis anos, tem que voltar lá e se livrar das lembranças, deixá-las no lugar a que pertencem, o passado. Fazendo jus a tudo de bom que viveram juntos, não deixando, por exemplo, a tristeza por sua perda, ser a lembrança mais forte que tem do Caio.
— Eu, naquela casa? Não posso, talvez em um futuro bem, mas bem distante, inda não estou pronta para isso. Ainda mais com aquele metido morando lá. —Meu pai muda sua expressão, para o olhar que diz: você-esta-encrencada-mocinha.
— Que bom que tocou no assunto, não gostei nada de saber que destratou o pobre rapaz, você precisa pedir desculpas ao Ethan e isso é coisa para ontem, Lim!
— Como é, que é? &md
HelidaA forma como eles me olham, me deixa um pouco desconfortável, como se eles acabassem de presenciar um milagre aguardado há tempos, talvez seja mesmo o caso.— Hã, obrigada, filha. É maravilhoso tê-la no jantar! — Ela limpa a garganta antes de responder.“Por que será essa cara de espanto? Eu costumo elogiar sua comida, não elogio?”Pelo jeito não.Faço uma nota mental de elogiar mais a comida da minha mãe, porque é realmente uma delícia.Uma batida na porta me traz de volta dos meus devaneios.Levanto os olhos em direção a entrada da frente e me, pergunto quem pode ser, pois, sim, as pessoas da cidade são fofoqueiras, porém, evitam visitas inadequadas.— Aposto que é o Ethan! — Minha mãe responde minha pergunta silenciosa.Pelo modo c
Helida— Ok, vamos? — Na verdade, eu gostaria que o chão abrisse nesse momento, o que me deu para encarar o cara assim, como se meus olhos, não pudessem desgrudar do seu rosto e corpo?No mínimo, ele pensará que sou uma atirada, que está louca por um algo a mais. Preciso sair dessa encrenca o mais rápido possível.— Claro! — Sorri divertido, no entanto, parece igualmente constrangido por ter ficado me encarando também.“É Dr. Cretino, Ops! Certinho, você também me encarou, queridinho!”— Bem, o que posso dizer? Divirtam-se e cuide bem da minha menina, Ethan! — Fuzilo meu pai com meus olhos, não acredito que estou passando por isso.— Pode deixar, Jorge, prometo trazê-la para casa cedo. — Eles riem, como se alguma piada interna estivesse rolando.<
Helida— É melhor eu entrar, já está tarde. Bom, tarde para mim. — Digo quebrando o nosso contato.— Tudo bem, a gente se vê por ai, então! — Ele olha para meu rosto, porém, logo desvia o olhar.— Isso é bem provável. Afinal, somos vizinhos. — Brinco tentando voltar ao clima leve de antes.— É isso aí, por duas vezes! — Seu sorriso acolhedor está de volta. Acho que é a hora de ser um pouco mais grata a ele.— Por falar nisso, foi muito gentil da sua parte, você ter o cuidado..., isto é constrangedor! — Abaixo a cabeça, no entanto, ele segura o meu queixo, com um gesto simples, fazendo com que eu volte a olhar nos seus olhos.— Continue, por favor? — Seu olhar tem um efeito hipnótico, o escuro da íris transformando
HelidaMesmo Ethan não sendo mais “obrigado” a planejar os seus horários, porque nos acertamos e decidimos ser amigos, não o tenho visto há algum tempo, duas semanas para ser mais exata.O tão bom humor que esteve comigo nos dois primeiros dias depois que saímos, evaporou completamente, toda minha empolgação e as perspectivas de que seríamos amigos foram frustradas e comecei a me perguntar se fiz algo para ele ficar com uma impressão equivocada de mim.“Ou será que ele tenha percebeu que sou uma aposta falha para amigos? Talvez o tenha espantado com minha forma rápida de deixar claro que nada além de amizade aconteceria entre nós. Se bem que, ele falou que queria sersómeu amigo, talvez eu só o tenha o assustado com minha loucura.”E cá estou
HelidaComo combinado, ao meio-dia Ethan estava lá, como sempre pontual, lindo, em uma roupa informal estilo mochileiro de Hollywood, bermuda cargo bege, camiseta azul marinho, que aderiu ao seu corpo como uma extensão da sua pele, seguindo minha dica, um tênis preto, visivelmente confortável.Estava também, segurando uma cesta de piquenique na mão e a chave do seu carro na outra, sorri para ele na hora, na verdade um hábito que estou começando a me acostumar. Nos despedimos dos meus pais e seguimos rumo ao morro, segundo Álvaro, Romeu & Julieta, para nosso primeiro passeio de verdade como amigos.— Você sabe como preparar um piquenique! — Fiquei surpresa com tantas coisas gostosas que ele trouxe, o que agradeci internamente, depois de quase duas horas de caminhada, estou faminta.— Quando falou meio-dia, imaginei que ficaríamos
Ethan— Como todos que têm o coração partido a primeira vez, queria morrer, acordei três dias depois em um hospital, numa cidade chamada Lages, no Rio Grande do Norte, minha mãe a essa altura, já estava comigo. Fiquei internado por mais de uma semana até me reidratar, quando voltei a ser quase eu, decidi vender tudo e começar de novo, deixei tudo nas mãos dos meus pais, não queria ter que lidar com a parte burocrática nem nada, apenas fiz as malas e parti, passei um ano e meio como voluntário na África, outro viajando por países assistidos pela cruz vermelha, voltei decidido a começar a viver novamente.— Como veio parar em Bom Sossego? — Essa curiosidade toda em encanta.— Encontrei a sua antiga casa e o consultório à venda, através de uma amiga dos meus pais que conhecia os proprietários. El
HelidaApós guardarmos tudo, começamos a caminhar de volta ao mundo real, uma olhada no céu e percebo que não demorará muito a chover, é questão de segundos para ela nos atingir!Supreendentemente, sou eu quem pega na mão dele e saímos correndo enquanto as primeiras gotas de chuva começam a cair. O engraçado é que não sinto vontade de soltá-la, pelo contrário, é boa a sensação do calor da mão dele na minha.Ficamos totalmente molhados e sujos de lama, a camisa dele está tão encharcada, que ele precisa despi-la assim que entramos no carro. Sem querer, me pego olhando, sem parar, para aquela pele levemente bronzeada e absurdamente linda, ele tem um corpo muito bonito, forte, não com músculos enormes, nada disso, apenas definida nos lugares certos, ombros largos, barriga lisinha, com
EthanÉ possível que eu esteja me tornando um paranoico, obsessivo e um tanto irracionalmente protetor, pelo bem-estar da minha amiga? Sim, com toda a certeza.O que penso sobre isso? Dane-se, quero saber como ela passou a noite, principalmente depois da chuva que pegamos no caminho de volta até o carro, por esse motivo, estou parado em frente a porta da sua casa, segurando um recipiente de alumínio com sopa, que está acabando com as pontas dos meus dedos.Na minha pressa em vê-la, acabei esquecendo de pegar algo para me proteger da temperatura, a demora em abrirem a porta, também não ajuda muito. Ouço passos vindo em minha direção e respiro aliviado, meus dedos agradecem. — Ethan? Bom dia, o que o traz aqui a essa hora? — Laura sorri, meio confusa, não posso culp&a