Helida
— É melhor eu entrar, já está tarde. Bom, tarde para mim. — Digo quebrando o nosso contato.
— Tudo bem, a gente se vê por ai, então! — Ele olha para meu rosto, porém, logo desvia o olhar.
— Isso é bem provável. Afinal, somos vizinhos. — Brinco tentando voltar ao clima leve de antes.
— É isso aí, por duas vezes! — Seu sorriso acolhedor está de volta. Acho que é a hora de ser um pouco mais grata a ele.
— Por falar nisso, foi muito gentil da sua parte, você ter o cuidado..., isto é constrangedor! — Abaixo a cabeça, no entanto, ele segura o meu queixo, com um gesto simples, fazendo com que eu volte a olhar nos seus olhos.
— Continue, por favor? — Seu olhar tem um efeito hipnótico, o escuro da íris transformando
HelidaMesmo Ethan não sendo mais “obrigado” a planejar os seus horários, porque nos acertamos e decidimos ser amigos, não o tenho visto há algum tempo, duas semanas para ser mais exata.O tão bom humor que esteve comigo nos dois primeiros dias depois que saímos, evaporou completamente, toda minha empolgação e as perspectivas de que seríamos amigos foram frustradas e comecei a me perguntar se fiz algo para ele ficar com uma impressão equivocada de mim.“Ou será que ele tenha percebeu que sou uma aposta falha para amigos? Talvez o tenha espantado com minha forma rápida de deixar claro que nada além de amizade aconteceria entre nós. Se bem que, ele falou que queria sersómeu amigo, talvez eu só o tenha o assustado com minha loucura.”E cá estou
HelidaComo combinado, ao meio-dia Ethan estava lá, como sempre pontual, lindo, em uma roupa informal estilo mochileiro de Hollywood, bermuda cargo bege, camiseta azul marinho, que aderiu ao seu corpo como uma extensão da sua pele, seguindo minha dica, um tênis preto, visivelmente confortável.Estava também, segurando uma cesta de piquenique na mão e a chave do seu carro na outra, sorri para ele na hora, na verdade um hábito que estou começando a me acostumar. Nos despedimos dos meus pais e seguimos rumo ao morro, segundo Álvaro, Romeu & Julieta, para nosso primeiro passeio de verdade como amigos.— Você sabe como preparar um piquenique! — Fiquei surpresa com tantas coisas gostosas que ele trouxe, o que agradeci internamente, depois de quase duas horas de caminhada, estou faminta.— Quando falou meio-dia, imaginei que ficaríamos
Ethan— Como todos que têm o coração partido a primeira vez, queria morrer, acordei três dias depois em um hospital, numa cidade chamada Lages, no Rio Grande do Norte, minha mãe a essa altura, já estava comigo. Fiquei internado por mais de uma semana até me reidratar, quando voltei a ser quase eu, decidi vender tudo e começar de novo, deixei tudo nas mãos dos meus pais, não queria ter que lidar com a parte burocrática nem nada, apenas fiz as malas e parti, passei um ano e meio como voluntário na África, outro viajando por países assistidos pela cruz vermelha, voltei decidido a começar a viver novamente.— Como veio parar em Bom Sossego? — Essa curiosidade toda em encanta.— Encontrei a sua antiga casa e o consultório à venda, através de uma amiga dos meus pais que conhecia os proprietários. El
HelidaApós guardarmos tudo, começamos a caminhar de volta ao mundo real, uma olhada no céu e percebo que não demorará muito a chover, é questão de segundos para ela nos atingir!Supreendentemente, sou eu quem pega na mão dele e saímos correndo enquanto as primeiras gotas de chuva começam a cair. O engraçado é que não sinto vontade de soltá-la, pelo contrário, é boa a sensação do calor da mão dele na minha.Ficamos totalmente molhados e sujos de lama, a camisa dele está tão encharcada, que ele precisa despi-la assim que entramos no carro. Sem querer, me pego olhando, sem parar, para aquela pele levemente bronzeada e absurdamente linda, ele tem um corpo muito bonito, forte, não com músculos enormes, nada disso, apenas definida nos lugares certos, ombros largos, barriga lisinha, com
EthanÉ possível que eu esteja me tornando um paranoico, obsessivo e um tanto irracionalmente protetor, pelo bem-estar da minha amiga? Sim, com toda a certeza.O que penso sobre isso? Dane-se, quero saber como ela passou a noite, principalmente depois da chuva que pegamos no caminho de volta até o carro, por esse motivo, estou parado em frente a porta da sua casa, segurando um recipiente de alumínio com sopa, que está acabando com as pontas dos meus dedos.Na minha pressa em vê-la, acabei esquecendo de pegar algo para me proteger da temperatura, a demora em abrirem a porta, também não ajuda muito. Ouço passos vindo em minha direção e respiro aliviado, meus dedos agradecem. — Ethan? Bom dia, o que o traz aqui a essa hora? — Laura sorri, meio confusa, não posso culp&a
HelidaNão quero fazer ninguém passar pelo que passei, até mesmo Ethan que mal conheço, mas já teve sua cota de sofrimento por uma vida. Uma discreta lágrima desce pelo canto do meu olho e ele levanta a mão para secá-la com o polegar, enquanto acaricia meu rosto com os outros dedos e nesse momento sei que não foi sonho, o anjo era real e aqui está ele novamente, me acalmando.Essa simples certeza faz meu coração disparar enchendo o quarto com o bip enlouquecido do monitor cardíaco.— Está tudo bem, Lim, você está bem agora, graças à Deus, não precisa ficar assustada, posso ser seu amigo super-herói, sempre quiser um! — Ele ri e me abraça, aceito sem protestar, preciso desse contato.— Lim? — Pergunta junto ao seu peito, essa forma dele falar comigo é novidade
HelidaEla está quase explodindo, com o rosto vermelho de irritação e eu me preparo para os estragos que a sua explosão trará.— Já chega, Lim. Não vou deixar você ficar aí, parada, enquanto um cara maravilhoso como o Ethan passa por sua vida e vai embora sem você ao menos tentar. Não faça isso com você, também não seria justo com ele, porque qualquer imbecil vê como o cara está louco, perdido de amores por ti.“Será possível mesmo que ele me ame?”A resposta não me vem, lembro dos sonhos que tive enquanto ainda estava inconsciente, de como me olhou com tanto carinho quando acordei, como ficou comigo quase todo tempo nessa semana, mesmo assim.— Gia, você sabe porque não posso, não vou voltar atrás no juramento qu
Helida— Hã, gente, sei que está tudo ótimo, muito divertido e tal, porém, prometi visitar minha mãe essa noite e você a conhece, Lim! Se eu não comparecer ela vai pirar e ninguém quer ver minha mãe pirada, tenho certeza disso, poderiam me dar uma carona?Olho para ela tentando ver se está planejando algo, aparentemente não. Conheço bem Adélia Hales, ela enlouquece por tudo, certa vez mandou a polícia procurar por Gia, sendo que ela estava na minha casa e não tinha ligado para avisar que faltaria ao jantar de sei lá o quê, que a mãe tinha inventado.— Tudo bem, a gente já está mesmo terminando! — Ethan responde por mim.Pouco minutos depois, terminamos e seguimos para o estacionamento, perto do calçadão, a casa da mãe da Gia fica um pouco afastada da cidade, na ver