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Capítulo 3 - O Prostíbulo

Depois daquela densa floresta havia um pequeno vilarejo, onde habitavam pessoas de má índole que sua mãe sempre advertida para que se mantivesse distante. Eram prostíbulos, onde viviam homens e mulheres escravizados pelo álcool e na prostituição. Mas não tinha outra solução que não fosse a de ir lá e tentar conseguir alguma ajuda, afinal, estava faminta, suja e precisando descansar da longa jornada.

A casa vista ao longe era diferente das que costumava ver nas vezes que esteve na cidade, totalmente feita de madeira, com um salão amplo cheio de mesas e cadeiras, além de um enorme balcão. Por detrás a prateleira cheia de muitas garrafas de bebidas fortes. A casa estava estranhamente vazia e sem nenhuma pessoa por perto.

A porta era bem larga e estava aberta, a passos lentos e cautelosos entrou no lugar bem iluminado por lampiões, um tipo de lâmpadas caseiras, que funcionava a base de gás, geralmente usado nos locais onde não há energia elétrica. Destemida passou a andar no recinto, observando cada detalhe e a procura de alguém que pudesse recebê-la.

Uma música dos tempos antigos era ouvida ao fundo, um perfume de rosas pairava no ambiente, parecia ter sido derramado ali em grande quantidade. Aquela grande casa parecia ter sido construída para receber muitas pessoas, porém, estava deserta.

 De repente ouviu passos, escondeu-se detrás do balcão. Uma mulher, aparentando uns cinquenta anos andava pelo salão, colocando toalhas floridas sobre as mesas e cantarolando aquela música horrível. Sem querer portou-se desastrosamente e bateu em algo, causando forte barulho que foi ouvido pela senhora de cabelos embranquecidos que logo procurou descobrir a origem do acontecido.

 — Quem está aí?

O silêncio foi sua resposta.

— Apareça, vamos, seja quem for!

A menina, assustada e cheia de desconfiança decidiu mostrar-se. Ao ver aquela bela moça, de longos cabelos e olhar inocente, Maria dos Anjos teve a certeza de que estava diante de uma grande fonte de renda e que poderia ganhar muito dinheiro, explorando a pureza daquela pobre menina. Após alguns segundos de surpresa, ordenou que ela se aproximasse e lhe fez indagações a respeito da sua inesperada presença ali, naquele bordel.

— Quem é você, menina, o que faz aqui em minha casa? Depois de dá alguns passos na direção ao centro da ampla sala e fitando com um olhar firme de quem precisava proteger a si mesma, encontrou palavras para dar a resposta certa.

 — Meu nome é Walquíria, senhora, desculpe pela invasão. Estava vindo da cidade pela floresta, me deparei com este lugar e entrei.

 A mulher aproxima-se um pouco mais e observa melhor a visitante, prosseguindo com suas indagações.

: ― E o que uma menina linda como você faz perdida por estas bandas, andando sozinha por esta floresta? Onde estão seus pais?

— É uma longa história, senhora  

  — Pois acho bom começar a se explicar mocinha, pois não é todo dia que uma criança surge de repente na minha casa!

 E, dando ordens a uma de suas meretrizes, determinou que cuidassem da visitante. Vânia, uma negra de bela aparência, bastante cobiçada pelos frequentadores do lugar segurou firme numa das mãos da menina e a conduziu para o interior do bordel, seguindo por um espaçoso corredor que levava até os amplos quartos, onde as prostitutas deitavam-se com seus amantes durante a noite.  Todos estavam fechados à chave, as mulheres encontravam-se dormindo, recuperando-se para logo mais voltarem a circular pelo salão e satisfazerem o apetite sexual dos homens que ali iam à procura de saciar seus desejos.

Vânia levou a assustada adolescente para os fundos da casa, onde localizava-se o banheiro e ali providenciou-lhe um banho completo. Em pouco tempo estava limpa e usando roupas novas. Devido ter um corpo escultural e uma estatura maior do que seria normal para seus quinze anos foi fácil encontrar um vestido que lhe servisse entre as muitas peças disponíveis no vestuário de Vânia.

 Enquanto jantava numa pequena sala, distante do salão, Maria dos anjos deixava Vânia ciente de suas pretensões para a garota recém-chegada ao cabaré.  Pretendia negociar sua virgindade com seus clientes, de preferência os mais ricos. Como os fazendeiros da região que frequentavam aquele antro de prostituição a procura de novas fantasias a cúmplice deu-lhe a ideia de comunicar a novidade ao Coronel Santiago, o maior e mais poderoso criador de gado daquela região e seu principal cliente:

  — O coronel precisa ser avisado sobre a menina, caso contrário vai ficar bravo com a senhora

  — Sei disso, vou enviar Cesário lá na fazenda para dar a notícia, além do que somente ele vai poder pagar o que essa pirralha vale

  — Mas, como ter certeza de que ela ainda está pura, Dona Maria?

 — Por Deus, mulher, é só uma menina!

         — Grandes coisas, eu me perdi aos treze anos!

  — Não queira se comparar a uma menina como está, Vânia, ela parece ter sido criada com decência, já você era filha de uma vadia qualquer!

Após dizer estas coisas, retirou-se para o salão e ordenou o empregado que fosse levar a novidade ao Coronel, para que viesse ter com ela o mais breve possível. Enquanto isso a inocente menina, que acabara de sair de uma situação terrível na vida, estava prestes a entrar noutro labirinto de dor e sofrimentos. Ela tranquilizou-se com por ser acolhida pela dona da casa, acreditando que fosse um lugar de pessoas descentes.

  Que poderia ficar ali alguns dias e depois partir.  Tinha em mente conseguir dinheiro para pagar uma passagem até Bragança, onde morava Dona Brigite, amiga de sua mãe. Para lhe deixar ciente dos últimos acontecidos e pedir que ela a acolhesse. Mas, o destino lhe tinha traçado outra história e naquela mesma noite pôde ver de perto o que antes somente ouvia falar.

As mulheres se enfeitaram como se fossem a uma festa, o largo corredor que dividia os quartos da esquerda e da direita ficou estreito demais para o trafegar de tanta gente.  Os perfumes de jasmim e rosas tomaram conta dali e ficou impossível não sentir o odor, podiam ser percebidos a longa distância. As vestimentas enfeitadas e extravagantes das meretrizes chamava atenção, deixavam seus corpos expostos e ao adentrarem no salão os homens as agarravam de forma violenta e faziam carícias ousadas.

Outros dançavam, bebiam e faziam todo tipo de atos indecentes, o ambiente ficou tomado pela devassidão. Ela observava tudo ao longe, escondida por detrás da parede que dividia os cômodos, mal podia ser notada, olhando na fresta da porta feita de angelim. Aos poucos os casais seguiam para os quartos no corredor, ela teve que retornar de imediato para seus aposentos para evitar que fosse notada.

Mesmo assim observava o vai e vem das meretrizes com seus parceiros, entrando e saindo nos quartos, e se perguntava o que tanto faziam. Como foi criada longe da cidade e distante de certas verdades da vida, desconhecia o pecado da prostituição. Sabia apenas que existiam as pessoas boas e as más. Que as mulheres mundanas praticavam muitas indecências e que moravam nos bordeis.

 Onde recebiam seus amantes e dormiam com eles. Mas sua mãe nunca entrou em detalhes sobre o que realmente era o sexo nem como tudo acontecia. Era pura demais para entender o que estava acontecendo ao seu redor, estava bastante assustada. Aquilo era novo para ela que cresceu numa rotineira ida de casa para a escola.  dividindo-se entre os estudos, o trabalho doméstico e a convivência harmoniosa com seus bichinhos de estimação, como a jiboia estrela, com quem as vezes dividia seus segredos. Por várias vezes também conheceu a violência ao ser testemunha das inúmeras ocasiões em que Damásio agrediu sua mãe e descobriu, da pior forma possível, o efeito negativo que as drogas podem causar naqueles que fazem uso delas.

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