A consciência voltou lentamente.

Sarah estava caída contra a parede, o sangue escorria pelo canto dos lábios.

Aquele rosto inocente agora mostrava um medo real enquanto minha forma de loba pairava sobre ela.

Eu não consegui conter a risada.

— O que foi, Sarah? — Me agachei ao lado dela. — Não era isso que você queria? Prova do meu ‘bullying’?

Minha voz se tornava mais afiada a cada palavra.

— Então vá em frente! — Agarrei-lhe o queixo. — Corra pra todo mundo com essas marcas de garra. Conta pra eles como a filha do Alfa te atacou!

Minha voz aumentava, carregada de veneno.

As memórias da água prateada derretendo minha carne faziam minhas garras tremerem.

Eu deslizei as garras pelo rosto dela mais uma vez antes de me afastar.

O choque nos olhos dela era delicioso. Ninguém deveria conseguir se transformar aos dezesseis anos.

Mas ali estava eu, minha loba negra, imponente, dois anos antes do tempo.

Deixei-a ali, tremendo e sangrando.

Emma me esperava perto do campo de treinamento:

— Você perdeu metade da prática de combate. O que estava fazendo lá em cima?

Voltei à forma humana sem esforço, ajeitando as roupas.

— Ah, só ensinando à novata como funciona a hierarquia da alcateia.

Ela se virou, os olhos arregalados:

— O quê?!

Dei de ombros.

— Quando todo mundo já acha que você é um monstro, o melhor é tornar-se um mesmo.

— Isso… não é assim que esse ditado funciona...

— Importa?

Caminhávamos em direção aos ringues de treino quando Daniel apareceu.

Todos nos conheciam como o par destinado, a filha do Alfa e seu companheiro de infância.

Uma mentira bonita.

Os olhos dele vasculharam o espaço atrás de mim, procurando.

— Vivian, você está atrasada. Ouvi dizer que agrediu uma aluna transferida?

Eu até lembrava o que ele diria a seguir, porque havia dito na minha vida passada — Ela não fez nada de errado, só peça desculpas para ela.

Na minha vida anterior, sempre que Sarah me acusava de alguma coisa...

Ele sempre me pedia para pedir desculpas, para deixar para lá.

Fingia me apoiar enquanto confirmava as mentiras dela.

A raiva queimou em mim ao lembrar.

Sem aviso, me transformei e deslizei as garras pelo rosto dele.

— Vivian! — Emma arfou.

Mas Daniel não recuou. Os olhos dele brilharam em vermelho, mas ele se controlou.

Em vez de reagir, estendeu a mão e acariciou meu pelo com gentileza:

— O que houve, amor? Está passando por uma transformação precoce? Por que não me contou?

— A mudança precoce está te machucando?

Na minha vida passada, descobri a verdade tarde demais.

O pai de Daniel, Alfa da alcateia vizinha, era um homem cruel.

Ele espancava o filho todos os dias até os ossos se partirem, deixando feridas que iam além da carne.

Apenas uma pessoa mostrava bondade naquela época.

A garotinha da casa ao lado, que escondia ervas medicinais pela janela dele todas as noites.

Ela se tornou a salvação dele, sua luz na escuridão.

Essa luz era Sarah.

No momento em que ela foi transferida para o nosso colégio, Daniel a reconheceu.

Acreditou em cada palavra dela sobre o meu suposto bullying, e passou a me odiar com toda a alma.

Mas precisou me cortejar, a filha do Alfa, a curandeira prodigiosa.

Porque só minhas habilidades poderiam curar suas antigas feridas por completo.

Sem a minha ajuda, ele jamais conseguiria se transformar direito.

Ficaria preso como um Ômega, o posto mais baixo, para sempre.

Pensando na manipulação dele, falei friamente:

— Vamos acabar com isso.

Os olhos vermelhos dele se arregalaram, um medo genuíno surgindo ali.

— Por quê? Me dê um motivo, Vivian.

Limpei meu pelo onde ele havia me tocado, cada movimento carregado de desprezo:

— Eu não me uno a Ômegas. — Sorri docemente. — Você é fraco demais para o meu sangue. Serve como justificativa?