Na noite anterior a escolhida para o embate decisivo, o coração da adolescente está descompassado. Apreensiva, mesmo correndo um sério risco de ser humilhada novamente, ela conserva um certo otimismo. Sem conseguir disfarçar o nervosismo, a garota ansiosa prefere evitar contato com os demais e decide poupar as forças para a noite seguinte. Uma doce ilusão. Achar que poderia se jogar na cama e, imediatamente, ingressar no mundo dos sonhos. A verdade é que a adolescente, inquieta, passa horas se debatendo no leito, trocando de posição a todo momento. Vencida pela insônia, Lívia recorre a leitura que, para ela, é um poderoso sonífero. Folheia livros e revistas, revira fotos antigas, muitas em família. Liga a televisão, sintoniza o rádio. Tudo em vão. A garota sabe que a melhor forma de fazer passar o tempo, a mais rápida, é dorm
Da posição privilegiada em que se encontra, o deleite fica evidente na expressão da mentora e espectadora do evento que se desenvolve de maneira dramática, para os demais envolvidos.O arroubo da agente, involuntariamente, coloca o pai, justamente, na pior posição possível para ele, no momento. Impotente. Diante da delatora, até então, anônima.A expressão, orgulhosa e debochada, na face da filha, denunciam, anunciam, revelam. O condenado enfim percebe que está frente a frente com o carrasco. Um dia da caça...O acusado não tem a intenção de negar sua culpa, não seria capaz. Mesmo assim ele se mostra, indignado.Quando os olhares se cruzam, o pai não consegue mais conter a fúria. Movido pelo ódio, ele assume uma postura agressiva e, mesmo na presença de três agentes de segu
Capítulo 2A esposa O rebuliço no andar inferior interrompe os trabalhos no exato momento da consumação. O Cliente e a dama se recompõem rapidamente. Ela, mais ligeira, sobre a lingerie faz cair uma camisola, com a destreza de uma heroína. A mulher demonstra ansiedade enquanto veste o seu uniforme característico, sem demora, calça qualquer coisa e se lança pela porta, corredor afora, abandonando o sujeito atrapalhado, menos hábil, que ainda peleja com as próprias vestes. Um disparo de arma de fogo faz o homem abandonar o penoso ritual, ignorar as formalidades e colocar de lado o pudor. Mesmo sem vestir a camisa, carregando o par de sapatos em uma das mãos e o cinto na outra, o homem perde o equilíbrio, justamente, porque ignora o frágil atrito, natural, entre as meias de seda e o assoalh
Meses depois.Os atrasos nas noites de quarta-feira persistem e se tornam ainda maiores, a ponto de o marido passar a chegar em casa já no decorrer da madrugada. Intrigada, a jovem esposa atinge o limite de sua paciência quando, em uma manhã de quinta-feira, feriado santo, amanhece solitária na cama do casal. Clara desperta com o ruído da porta se abrindo na sala e com o sol que, à essa altura, invade o quarto pela janela, irritando seus olhos. Havia esperado pelo marido, lutando contra o sono e a ansiedade, mas adormecera logo após a primeira hora da madrugada. Profundamente magoada, pensa em confrontar o homem, exigir dele todas as explicações necessárias, pôr os pingos nos is, panos limpos etc. No entanto, ela avalia melhor a situação considerando as prováveis e, inevitáveis, consequências de uma primeira briga entre o casal. Clara opta pela paz, pelo
A campainha toca novamente, um sinal luminoso, na verdade. Lucille abandona a função de guia e delega essa função ao gerente do estabelecimento, um rapaz franzino, de traços delicados, que atende pelo nome de “Praidi”. — Meu bem, se alguma coisa te agradar, você pode falar com ele..., mas se alguma coisa te desagradar, aí, você fala direto comigo. A casa é sua! Clara observa enquanto um casal, uma dama e um cliente, sobe a escadaria. Falantes, risonhos, abraçados. A cena prende a atenção da jovem visitante e aguça sua curiosidade. O desejo de segui-los, à certa distância, estampado no olhar da moça provoca o instinto de agenciador do gerente.&n
É certo que o diabo mora mesmo nos detalhes. Lucille se aproxima do escolhido, diligente, como quem entrega o troféu ao grande campeão. No entanto, por alguma razão misteriosa, contrariando o habitual, João se levanta da mesa e, afoito, segue rumo à saída. Lucille consegue alcançá-lo junto à porta. — Eu reservei uma surpresa especial pra você! Novidade na casa! — Fico honrado. Mas eu não posso... Não posso mais... Não pretendo voltar aqui. — Duvido muito! Toda semana, algum cliente me diz a mesma coisa. Abortar a missão ou executar uma pequena alteraç&
Capítulo 3 "Praidi" Seis anos de relações cortadas com o mundo exterior. O jovem, já há algum tempo encontrou neste lugar a segurança de um verdadeiro refúgio, além de todo o amparo, o carinho e a compreensão que o mundo lá fora teimava, e ainda insiste, em lhe negar. Por isso mesmo ele valoriza, verd
Sinopse: Um ato egoísta, fruto de um intelecto vingativo, provoca um trágico incidente. Subitamente, o ambiente burlesco se torna caótico. Esse evento dramático reúne, sob o mesmo teto, um diverso grupo de indivíduos desafortunados. Agora, já não há culpados, cúmplices ou inocentes. Todos se tornarão vítimas de escolhas feitas num passado, recente ou remoto. Sempre sádico, o destino faz com que os caminhos tortuosos desses sujeitos se cruzem em um ponto que, para alguns será o de partida, rumo a redenção e, para outros, será o instan
Humilhada, ferida no orgulho. Lívia marcha firme escada acima. Se sente injustiçada, preterida. Ao bater, com toda a força, a porta do quarto atrás de si, tomada por um turbilhão de emoções, a jovem converte tudo o que sente naquele momento em um ódio mortal, pela irmã e pela mãe. No primeiro momento, claro, ela também sente raiva do pai. Com o tempo, a garota decide perdoá-lo pela omissão diante da atitude repressiva da mãe. Por ele, a menina mantém o carinho pelo pai e o desejo de “reconquistá-lo”. A partir desse episódio, toda a família muda seu comportamento em relação à Lívia. A mãe se esforça para evitar o contato visual. A irmã, cada vez mais distante, prefere a companhia de suas bonecas. O carinho do pai limita-se a um “boa noite” e um aceno displicente feito à dist