Capítulo 3

     

Certa noite, Livia se encontra recolhida em seu quarto. Hoje, ela se ente realmente indisposta e, mesmo com ausência da mãe, não pretende realizar o seu espetáculo costumeiro. Sua mudanças físicas, comportamentais e na maneira de se vestir, naturalmente, despertaram o interesse de alguns rapazes. Agora, enquanto folheia algumas revistas desinteressantes, ela pensa seriamente sobre o assunto. O desejo de ter uma experiencia completa, a dois, é crescente. É claro que ela já tem eleito um candidato. Escolheu, justamente, o que aparenta ser, a julgar pelo físico e pela conduta, o mais experiente entre todos os pretendentes. Os pensamentos sórdidos da garota são interrompidos quando, no início da madrugada ela ouve ruídos que, imediatamente, reconhece. Parecia inacreditável, mas ao que tudo indicava o pai estava de volta à ativa.

Revoltada, não com os atos insanos do pai, e sim com o fato de continuar sendo preterida por ele, Lívia, pensando estar promovendo assim uma vingança contra o homem que a despreza, estimula a sua imaginação para iniciar o processo de onanismo, mesmo tendo pouca inspiração no momento. Como o objeto do seu desejo a poucos passos dela, e conhecendo muito bem cada detalhe do que ele faz nesse instante, ela não tarda a encontrar toda a motivação de que necessita para atingir o auge do auto prazer. Em vão, Lívia conserva a esperança de atrair a atenção e despertar o desejo daquele homem. Por isso seus gritos e gemidos soam ainda mais incitantes essa noite. Traída pela empolgação, ao fim do ato, por muito pouco ela não deixa escapar o nome do sujeito em um berro.

O êxtase, dessa vez, é breve. A satisfação momentânea dá lugar a melancolia. Desolada, Lívia percebe que chega a ser patética. Então, como forma de superar esse novo sentimento, ela o transforma em ódio. talvez essa seja a sua maneira de lidar com a dor.

Inconformada, a garota passa horas tentando entender a predileção do pai pela outra. Oscilando entre a razão e a insensatez, ela busca os motivos, uma explicação qualquer. Mesmo sendo muito jovem, Lívia sabe que precisa compreender a fundo o que realmente acontece ali, para então ser capaz de reverter a situação, já que aceitação ou comodismo não estão em pauta. A adolescente dedica boa parte da madrugada a encontrar respostas satisfatórias. Dispersa, ela desenvolve, consigo mesma, um curioso “diálogo”.

— Seria a idade dela?

— Mas eu já tive essa mesma idade.

   ­- Será que é por causa das tranças?

— Mas... mamãe trançava os meus assim também. Quando eu era pequena... quando ela ainda me via como sua filha, e não como uma inimiga.

-  Talvez, as roupas que a danada usa... talvez, o cheiro que ela tem ou a cor dos olhos... a risadinha boba?

- Não.

- As sardas! 

— Isso sim, eu não tenho!

Uma reação inesperada, mesmo para ela, um impulso, um ato impensado. Decidida a confrontar o homem que a rejeita, de várias maneiras, Lívia marcha até o quarto onde se encontram o pai e a caçula. Sua determinação é inútil. Mordido de cobra... Dessa vez o algoz, prudente, havia bloqueado a entrada da toca, e agora, devorava sua presa livre de qualquer ameaça.

-  Então... Ele sabe, que eu sei.

Depois de dar com a cara na porta, literalmente, antes de cair no sono, sem conseguir as respostas que tanto desejava, Lívia permite que o sentimento de ódio a invada novamente. O ódio conduz ao desejo de vingança, a vingança exige planejamento.

Somente alguns anos mais tarde ela viria a entender a infantilidade em suas ações. Acreditando que poderia atingir, de alguma forma, o objeto do seu desejo, provocar ira, ciúmes e por fim, despertar nele um interesse repentino por ela, a garota decide se valer da mesma estratégia da qual se utilizam tantas mulheres, já adultas, quando desejam vingar uma traição sofrida, retribuir o menosprezo recebido ou mesmo provocar ciúmes. “Se entregar ao primeiro que encontrar pelo caminho”.

Apenas dois dias depois, Lívia sai de casa pela manhã para ir à escola. No entanto, duas horas depois ela já está de volta, e não está sozinha. Uma amiga do colégio, que estava ali para dar cobertura, segurança e auxiliar na caracterização da casta, e um garoto, um pouco mais velho e mais experiente que as meninas, entram na casa a convite da moradora. Após uma minuciosa inspeção, certa de que ninguém mais está dentro do imóvel, Lívia exige que o rapaz permaneça na sala enquanto ela e a amiga sobem até o quarto.

“A menina, instintivamente, procura se casar com o pai”.

Alguns minutos se passam. A amiga desce escadas, sozinha, e com um sorriso malicioso no rosto.

- Agora você pode subir!

Uma vocação genuína?

A porta entreaberta é um convite, duvidoso. Estirada sobre a cama, Lívia repete o vestido, o penteado, imita a voz de menina, simula ingenuidade e assume a mesma postura provocante de suas fantasias mais sórdidas... agora, o convite é, simplesmente irrecusável.

Nervosismo, insegurança, inexperiência. Nada disso abala a performance, inacreditavelmente, natural da jovem, até então moça. O rapaz é surpreendido pela prodigiosa desenvoltura da garota, mas isso não é suficiente para abalar a sua confiança. Deitado ao lado dela, ofegante, ele se recupera. Mas ela é impaciente, e solicita, exige uma repetição.

- Agora, vamos fazer do meu jeito!

Inspirada em suas “pesquisas”, Livia reproduz uma cena marcante.

Ágil, auto confiante, sabedora do que faz. Livia gira o corpo e se lança sobre o tronco do rapaz. Agora, a ninfa se transforma em amazona. Dominado, submisso, ele se torna a montaria da gaiata. O que lhe resta é, obedecer e cumprir o seu papel, com vigor. No instante em que os corpos encontram o encaixe perfeito, Lívia apoia as mãos no tórax do parceiro. A parte do homem que a invade, os movimentos suaves, alternando entre subidas e decidas, a mescla de odores. Os olhos fechados, a mente que vaga entre dimensões, o prazer que sente. Dentro daquele quarto, atmosfera etérea é inebriante. No auge da conjunção... o peso da matéria desaparece... Lívia flutua.

Naquele dia, Lívia descobre que há uma diferença considerável entre, o que julga ser amor, e o que é apenas prazer. Logo após o ato, mesmo depois de toda a satisfação que havia lhe proporcionado, o parceiro escolhido voltou a ser apenas um garoto da escola, sem importância alguma na vida dela. Quando se cruzam no colégio, pela primeira vez depois da relação, ela até exibe um sorriso, apenas por consideração, e segue adiante, deixando o rapaz, totalmente confuso.

A experiencia, apesar de muito agradável, cria grandes dúvidas, certas questões que não podem ser ignoradas. Será que tudo seria completamente diferente com aquele homem que continua sendo objeto do seu desejo? A sensação de bem estar, de acolhimento, de paz e segurança seria duradoura? Após o clímax, ele ainda seria tão desejado? Buscando, supostamente, uma maneira de esclarecer essas dúvidas, Lívia repete o experimento outras tantas vezes, num período curto. Mas não importa onde, como, por quanto tempo ou com quem faça, o resultado é sempre o mesmo. A indiferença em relação aos parceiros se mantém, e tem início logo após o orgasmo. Agora, só lhe resta uma maneira de descobrir. Um parceiro, específico, a ser “testado”.

Lívia desperdiça várias noites tentando, em vão, atrair a atenção do pai. Além das exibições, que continua a realizar, vez ou outra, ela mantém a porta do seu quarto entreaberta durante toda a noite, e passa a circular pela casa, caracterizada. Apesar de todos os esforços, o homem continua a ignorar seus apelos.

Uma solução drástica.

Certa noite, Lívia se apronta, espreita, e antecipa os movimentos previsíveis do pai. A garota arma uma emboscada para o homem que sobe as escadas, aparentemente, despreocupado com o que se passa ao seu redor. Ela o cerca. Quando põe nos pés no último degrau, o sujeito fica sem escapatória. A ninfa, caracterizada, o encara de maneira insinuante e, quando ele tenta se esquivar, o olhar dela se torna ameaçador. Sem alternativa, o homem se vê obrigado a reparar na pequena mulher diante dele. O silêncio é tétrico, entre eles, a atmosfera se torna elétrica. Subitamente, o pai tem um lampejo de autoridade.

- Eu preciso passar. Me dá licença?

A filha, diante dele, permanece impassível.

Salvo pelo gongo.

Do quarto mais ao fundo no corredor, um choro de criança livra o homem feito do tormento. Motivado pelo chamado da filha caçula o sujeito encurralado encontra forças, e se liberta das amarras psicológicas que o mantinham estagnado.

- Chega de tanta insanidade! Eu sou o seu pai!

Sem perder tempo, o homem usa a habilidade das mãos e a força dos braços para se livrar daquilo que está travando o seu caminho... e corre para a caçula. Lívia amaldiçoa o dia em que aquela pirralha veio ao mundo. Amaldiçoa o dia em que ela foi concebida.

O tempo cura as feridas superficiais, as mais profundas, não. Ignorada, desprezada como um brinquedo velho na presença de um novo. Cada vez mais inconformada, inquieta e carente. Tomada pelo ódio, Lívia, aos poucos, transforma a irmã em uma rival desprezível e, para evitar um desfecho trágico decide que é o momento de agir. Sendo assim, ela planeja uma investida derradeira.

Às vezes, a esperança se torna um instrumento de castigo.

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