Humilhada, ferida no orgulho. Lívia marcha firme escada acima. Se sente injustiçada, preterida. Ao bater, com toda a força, a porta do quarto atrás de si, tomada por um turbilhão de emoções, a jovem converte tudo o que sente naquele momento em um ódio mortal, pela irmã e pela mãe. No primeiro momento, claro, ela também sente raiva do pai. Com o tempo, a garota decide perdoá-lo pela omissão diante da atitude repressiva da mãe. Por ele, a menina mantém o carinho pelo pai e o desejo de “reconquistá-lo”. A partir desse episódio, toda a família muda seu comportamento em relação à Lívia. A mãe se esforça para evitar o contato visual. A irmã, cada vez mais distante, prefere a companhia de suas bonecas. O carinho do pai limita-se a um “boa noite” e um aceno displicente feito à distância.
Dias depois. É noite de plantão no hospital, a mãe trabalha e o pai toma conta das filhas, como de costume. Após o jantar, as meninas se encontram recolhidas, cada uma em seu quarto, e aguardam ansiosas a visita do pai, por motivos distintos. Primeiro, o homem, aparentemente apressado, passa pelo quarto da mais velha. com Duas batidas na porta entreaberta seguidos de um displicente desejo de boa noite, que Lívia mal consegue ouvir, ele se despede, deixando-a profundamente frustrada. Minutos depois, a adolescente ainda está remoendo o desprezo do pai quando escuta, vindo do quarto da irmã, uma conversa bem animada, descontraída. Entre gargalhadas, brincadeiras, contos infantis, canção de ninar, a interação prossegue, sem pressa alguma. A animação se estende por longos minutos causando inquietação e revoltando a irmã preterida, sozinha em seu cômodo conjurado. Por fim, quando se dá, o silêncio no outro quarto é um verdadeiro alívio para os ouvidos e para o espírito da jovem, ambos castigados pelos arroubos de felicidade alheia. A calada também é um indicativo de que a pequena, provavelmente, já estava entregue ao sono profundo.
Intrigada. A adolescente, impelida por um sentimento de maturidade precoce, decide ir até o quarto da irmã. Planeja aproveitar a ausência da mãe para ter com seu pai uma conversa franca. Com a certeza de que ele estaria inclinado a lhe explicar as causas do distanciamento, cada vez maior, entre os dois, ela segue disposta a esclarecer os fatos. Se for o caso, Lívia está preparada para pedir, se necessário, e conceder, se solicitado, o perdão. Tudo para que a relação entre eles se torne mais próxima, mais calorosa. Para ela, a situação havia chegado num ponto decisivo e carecia de uma solução imediata. A ausência da mãe, sem dúvida alguma, é um fator determinante na decisão da jovem. Sem a presença dela, a conversa se daria num tom muito mais suave. Cinco passos curtos separam os quartos das irmãs. Sem hesitar, se valendo da pretensa permissão de filha, da intimidade de irmã, e da petulância de adolescente, a jovem escancara a porta, sem aviso, e com certa violência.
Perplexa, ela se depara com uma das maiores surpresas que tivera na vida, até então. O quarto está vazio, nem o pai e nem a irmã. O silêncio dentro do cômodo é absoluto. Os poucos ruídos que escuta tem origem no quarto em frente, o do casal. são gemidos e sussurros que compõem uma mescla de dor e prazer. Produzidos no ímpeto do desejo, mas contidos, em parte, pelo freio da razão, esses sons enigmáticos se espalham pelos ambientes vencendo a distância entre os cômodos. Quem os produz, ao mesmo tempo, se esforça para manter a discrição.
Seguindo o rastro sonoro, Lívia chega ao ponto de origem da comoção. Desta vez, ela abre a porta com a delicadeza de uma mãe que não deseja despertar o filhinho dodói. Agora sim. A jovem curiosa se depara com a maior surpresa de toda a sua vida. Atônita. Diante dela se descortina uma cena dantesca. A irmã caçula, aparentemente, se encontra dopada, perdida em uma espécie de limbo, entre o sono profundo e a rasa consciência. Indefesa, a menina recebe do pai o tipo de carícias que um homem realiza, em uma mulher, apenas em momentos de plena intimidade conjugal. O sujeito toca a menina, e a si mesmo. Próximo do clímax, ele não percebe a presença da outra filha ali, diante dele, estática, dentro do mesmo cômodo.
Tanto o homem quanto a adolescente apresentam comportamentos definitivamente bizarros. Em vez de se virar e correr pela casa, aos berros, em busca de ajuda ou do primeiro telefone disponível, a garota se mantém inabalável, e assiste a tudo, até o fim. Um episódio aterrador que, seguramente, causaria traumas irreparáveis em qualquer pessoa, seja homem, mulher ou criança. Lívia, no entanto, observa atentamente, como se fora uma espectadora especialmente convidada. Lentamente, a garota é possuída por sentimentos conflitantes... Inveja, ódio e, por fim, excitação. O desejo insólito de estar no lugar da irmã, naquele momento, é crescente. Confusa, ela se afasta lentamente, de costas para a saída. Por razões que ainda é incapaz de compreender totalmente, ela, deliberadamente, continua a testemunhar aquele ato desprezível e alimentando um desejo sórdido. As batidas do seu coração acelerado produzem ruídos mais audíveis do que seus passos, lentos e extremamente cautelosos. Mesmo tendo plena ciência do absurdo da situação, Lívia mantém os olhos vidrados, fixados no homem que jamais deveria ser objeto do seu desejo..., mas, ele é.
Na mesma noite. De volta ao seu quarto, ainda perturbada por tudo que presenciara, a adolescente, deitada em sua cama, não é capaz de se desfazer da calorosa sensação que a persegue, tomando todo o seu corpo. Ao fechar os olhos, imediatamente, as imagens piscam, como flashes de memorias, sempre frisando as cenas mais excitantes e explicitas. Usando o poder da imaginação, a garota dominada por uma febre vulcânica, incontrolável, se coloca no lugar da irmã em cada lembrança que vem à tona. Desvairada, entregue a volúpia, envolta por uma atmosfera etérea. Impetuosa, Lívia afaga o próprio corpo idealizando objeto do seu desejo, com tanta intensidade que homem se materializa diante dela, em pensamento, e se torna palpável. Nesta noite inusitada, a garota descobre, e se entrega, ao auto prazer.
Sem pudor algum. Os gemidos, a princípio tímidos, se tornam gritos de prazer no auge do clímax. A obscenidade da adolescente, apesar de ecoar pelos corredores e por todos os cômodos da casa, não passa de uma exibição performática, feita e direcionada a um único espectador, muito especial. Ao finalizar o ato, exausta, em êxtase, Livia exibe um sorrisinho malicioso. Suspira e sussurra.
- Eu quero mesmo que ele saiba!
Durante os meses seguintes o show da garota obscena é repetido, sistematicamente. Mas é executado apenas em noite especificas, aquelas em que a mãe não está presente na casa. Talvez por remorso, talvez por medo de uma denúncia que provocaria um tremendo escândalo e, certamente, destruiria a família, o pai deixa de fazer as visitas noturnas, rotineiras, ao quarto da filha caçula. A temida delação não acontece, também não há confronto e ne, mesmo indagações. De certa forma, o pai e a filha mais velha tornam-se cumplices. carregam segredos, um do outro. Uma incomoda relação que se arrasta, sempre na iminência de ruir. Nas poucas oportunidades em que se cruzam, de cabeças erguidas, Livia lança sobre o homem um olhar acusador, por vezes ameaçador. Ele, por sua vez, retribui com a expressão desolada de quem admite a própria culpa e, em silêncio, súplica por discrição, pois sabe que não há perdão possível para os atos que cometera. Verdadeiramente Inocentes, a mãe e a caçula seguem alheias ao pacto, tão secreto quanto frágil, firmado entre o pai e sua primogênita.
Aparentemente ilimitadas, já que são fruto da imaginação, mesmo as fantasias, de quando em quando, necessitam de novos estímulos. Involuntariamente, os delírios noturnos de Lívia passam a contar com algumas variações, muito bem vindas para ela. “No auge da sua loucura, ela imagina que o homem, objeto do seu desejo, escuta os gritos de uma menininha indefesa vindo de um dos cômodos da casa. Ele então corre até o local, mas se depara com um quarto trancado. Sem hesitar, o pai arrebenta a porta com um único ponta pé e invade o ambiente acreditando que a jovem corre grande perigo. Ao encontrar a moça estirada sobre a cama, com o ventre virado para cima, usando apenas um vestido indecente, tão curto e ajustado ao corpo que o pouco tecido é suficiente para cobrir apenas a parte superior das coxas. maliciosamente decotado, o caimento insinuante da peça salienta, intencionalmente, os atributos físicos da bela ninfa que, dissimulada, se mostra frágil e inocente. Incapaz de resistir aos encantos da gaiata, o homem se atira sobre ela, afoito, consumido pelo louco deseja de possuí-la”.
Naturalmente, a curiosidade sobre o assunto, erotismo, leva a garota a buscar maiores informações a respeito. Com facilidade, ela tem acesso a livros, revistas, fotos e vídeos. E passa a consumir grande quantidade desse tipo de material. Todo esse conhecimento adquirido é de grande valor para ela, pois impulsiona ainda mais o seu amadurecimento.
O comportamento da adolescente se altera rapidamente, dia a dia. Conforme amadurece, ela se torna cada vez mais distante da irmã menor, pois passa a considerá-la como sua rival, em vários sentidos. A garota passa a apresentar, constantemente, intensas alterações no humor. Agora, ela evita, como pode, as interações em família, inclusive se esquiva das refeições feitas em conjunto, normalmente se valendo de desculpas pouco elaboradas como falta de apetite, dores abdominais, indisposições, escassez de tempo etc. Mudanças assim, tão claras e evidentes, não passam desapercebidas no seio familiar, nem poderiam. No entanto, cada membro reage a elas de maneira distinta. A caçula, pobrezinha, durante muito tempo se humilha diante da irmã mais velha, implorando por atenção e desejando um pouco da companhia dela. Até que por fim, desiste e volata as suas atenções para os brinquedos e se dedica aos poucos amiguinhos que possui na escola. O pai, luta para convencer a si mesmo de que tudo isso é natural, apenas consequências do conturbado início da puberdade. Mas sabe que o seu próprio comportamento tem grande influência sobre a nova postura da adolescente. A mãe tenta se manter indiferente e prefere conceder algum espaço para a jovem, desde que ela não ultrapasse certos limites que, segundo ela, existem para manter o respeito que uma filha deve a sua mãe. Intimamente, ela considera a filha mais velha como um desses casos perdidos, mas prefere manter essa opinião, esse pressentimento, em sigilo.
O tempo passa... e velhos hábitos não mudam.
Certa noite, Livia se encontra recolhida em seu quarto. Hoje, ela se ente realmente indisposta e, mesmo com ausência da mãe, não pretende realizar o seu espetáculo costumeiro. Sua mudanças físicas, comportamentais e na maneira de se vestir, naturalmente, despertaram o interesse de alguns rapazes. Agora, enquanto folheia algumas revistas desinteressantes, ela pensa seriamente sobre o assunto. O desejo de ter uma experiencia completa, a dois, é crescente. É claro que ela já tem eleito um candidato. Escolheu, justamente, o que aparenta ser, a julgar pelo físico e pela conduta, o mais experiente entre todos os pretendentes. Os pensamentos sórdidos da garota são interrompidos quando, no início da madrugada ela ouve ruídos que, imediatamente, reconhece. Parecia inacreditável, mas ao que tudo indicava o pai estava de volta à ativa.Revoltada, n&a
Na noite anterior a escolhida para o embate decisivo, o coração da adolescente está descompassado. Apreensiva, mesmo correndo um sério risco de ser humilhada novamente, ela conserva um certo otimismo. Sem conseguir disfarçar o nervosismo, a garota ansiosa prefere evitar contato com os demais e decide poupar as forças para a noite seguinte. Uma doce ilusão. Achar que poderia se jogar na cama e, imediatamente, ingressar no mundo dos sonhos. A verdade é que a adolescente, inquieta, passa horas se debatendo no leito, trocando de posição a todo momento. Vencida pela insônia, Lívia recorre a leitura que, para ela, é um poderoso sonífero. Folheia livros e revistas, revira fotos antigas, muitas em família. Liga a televisão, sintoniza o rádio. Tudo em vão. A garota sabe que a melhor forma de fazer passar o tempo, a mais rápida, é dorm
Da posição privilegiada em que se encontra, o deleite fica evidente na expressão da mentora e espectadora do evento que se desenvolve de maneira dramática, para os demais envolvidos.O arroubo da agente, involuntariamente, coloca o pai, justamente, na pior posição possível para ele, no momento. Impotente. Diante da delatora, até então, anônima.A expressão, orgulhosa e debochada, na face da filha, denunciam, anunciam, revelam. O condenado enfim percebe que está frente a frente com o carrasco. Um dia da caça...O acusado não tem a intenção de negar sua culpa, não seria capaz. Mesmo assim ele se mostra, indignado.Quando os olhares se cruzam, o pai não consegue mais conter a fúria. Movido pelo ódio, ele assume uma postura agressiva e, mesmo na presença de três agentes de segu
Capítulo 2A esposa O rebuliço no andar inferior interrompe os trabalhos no exato momento da consumação. O Cliente e a dama se recompõem rapidamente. Ela, mais ligeira, sobre a lingerie faz cair uma camisola, com a destreza de uma heroína. A mulher demonstra ansiedade enquanto veste o seu uniforme característico, sem demora, calça qualquer coisa e se lança pela porta, corredor afora, abandonando o sujeito atrapalhado, menos hábil, que ainda peleja com as próprias vestes. Um disparo de arma de fogo faz o homem abandonar o penoso ritual, ignorar as formalidades e colocar de lado o pudor. Mesmo sem vestir a camisa, carregando o par de sapatos em uma das mãos e o cinto na outra, o homem perde o equilíbrio, justamente, porque ignora o frágil atrito, natural, entre as meias de seda e o assoalh
Meses depois.Os atrasos nas noites de quarta-feira persistem e se tornam ainda maiores, a ponto de o marido passar a chegar em casa já no decorrer da madrugada. Intrigada, a jovem esposa atinge o limite de sua paciência quando, em uma manhã de quinta-feira, feriado santo, amanhece solitária na cama do casal. Clara desperta com o ruído da porta se abrindo na sala e com o sol que, à essa altura, invade o quarto pela janela, irritando seus olhos. Havia esperado pelo marido, lutando contra o sono e a ansiedade, mas adormecera logo após a primeira hora da madrugada. Profundamente magoada, pensa em confrontar o homem, exigir dele todas as explicações necessárias, pôr os pingos nos is, panos limpos etc. No entanto, ela avalia melhor a situação considerando as prováveis e, inevitáveis, consequências de uma primeira briga entre o casal. Clara opta pela paz, pelo
A campainha toca novamente, um sinal luminoso, na verdade. Lucille abandona a função de guia e delega essa função ao gerente do estabelecimento, um rapaz franzino, de traços delicados, que atende pelo nome de “Praidi”. — Meu bem, se alguma coisa te agradar, você pode falar com ele..., mas se alguma coisa te desagradar, aí, você fala direto comigo. A casa é sua! Clara observa enquanto um casal, uma dama e um cliente, sobe a escadaria. Falantes, risonhos, abraçados. A cena prende a atenção da jovem visitante e aguça sua curiosidade. O desejo de segui-los, à certa distância, estampado no olhar da moça provoca o instinto de agenciador do gerente.&n
É certo que o diabo mora mesmo nos detalhes. Lucille se aproxima do escolhido, diligente, como quem entrega o troféu ao grande campeão. No entanto, por alguma razão misteriosa, contrariando o habitual, João se levanta da mesa e, afoito, segue rumo à saída. Lucille consegue alcançá-lo junto à porta. — Eu reservei uma surpresa especial pra você! Novidade na casa! — Fico honrado. Mas eu não posso... Não posso mais... Não pretendo voltar aqui. — Duvido muito! Toda semana, algum cliente me diz a mesma coisa. Abortar a missão ou executar uma pequena alteraç&
Capítulo 3 "Praidi" Seis anos de relações cortadas com o mundo exterior. O jovem, já há algum tempo encontrou neste lugar a segurança de um verdadeiro refúgio, além de todo o amparo, o carinho e a compreensão que o mundo lá fora teimava, e ainda insiste, em lhe negar. Por isso mesmo ele valoriza, verd