Meu contato com o Brasil se resume as ligações rápidas que faço para César. Em todas elas, meu irmão toma o devido cuidado para não mencionar nada que possa ser relacionado a seu melhor amigo. Admiro sua tentativa de me proteger. Contudo, quando estou na solidão de meu quarto, de forma quase inconsciente, acabo trazendo Gabriel para mais perto.
Acabo revivendo o primeiro dia em que vi seus olhos atentos recaindo sobre mim. Da nossa primeira discussão e em como eu costumava a alimentar minha raiva por ele. Quando viajo para a noite do nosso primeiro beijo, sinto as lágrimas transbordarem dos meus olhos. Consigo lembrar-me claramente da música ecoando e de como os lábios dele chegaram até os meus. Depois, veio à aposta. A maldita aposta que me trouxe até Londres e me fez perdê-lo.Fecho os olhos e ouço a voz de Gabriel ecoando em minha mente. <Procuro pela minha chave na bolsa. Não imaginava que me sentiria tão aliviada em estar de volta. A viagem foi realmente cansativa e tudo o que mais quero é o aconchego de minha cama.Chego à sala de estar e vejo uma cena que faz com que as palavras de Bela ganhem total sentido.Gabriel está, literalmente, tentando me esquecer.César e Luiza me encaram com um misto de alegria e apreensão. A expressão deGabriel revela uma mistura de sentimentos que simplesmente não consigo decifrar. Já sua ex-namorada, ou melhor, atual namorada, tem um sorriso debochado nos lábios.— Acho que não cheguei em boa hora. — comento, satisfeita por conseguir manter minha voz plana.— Chegou sim! — meu irmão afirma, vindo até mim para me abraçar.— Como você está? — Luiza indaga, se aproximando também.—
Eu realmente deveria ter conversado com César sobre esse grande detalhe. Solto um longo suspiro ao perceber que preciso encarar a realidade. Cedo ou tarde irei encontrar comGabriel novamente e consequentemente, com sua nova namorada. Preciso me acostumar com a ideia.Decido manter o assunto somente para mim porque não quero que meu irmão pense que sou fraca. Mas no fundo, acredito que sou, já que assim que estaciono meu carro e minha atenção se volta para o lugar que está localizado aEstação 296as únicas lembranças que meu inconsciente é capaz de resgatar são aquelas que envolveram meu ex-namorado.Reprimo o passado e sigo para dentro da casa de shows na companhia de Luiza e César. No entanto, logo na primeira meia hora eu começo a me arrepender de ter saído de casa. Minha companhia decidiu ir para a pista de dança, deixando-me c
Apenas assinto e prossigo.— Acho que nunca me esquecerei do dia que tudo aconteceu. Nós tínhamos recebido um convite para um almoço em uma cidade vizinha. Minha mãe insistiu para que eu fosse junto, mas na época eu estava fazendo um curso e tinha um trabalho para terminar, por isso acabei ficando em casa. Já estava anoitecendo e eu não havia recebido qualquer notícia deles. Já estava desesperada quando recebi uma ligação."Ouvi apenas algumas palavras, mas elas foram suficientes para destruírem com tudo o que eu acreditava. A pessoa do outro lado da linha era um socorrista e me comunicou sobre o acidente envolvendo meus pais. Como você deve ter visto, o carro em que eles estavam pegou fogo depois de uma grave batida e ninguém sobreviveu.""Sem saber direito o que estava fazendo, sai de casa e fui parar em um barzinho. Eu nunca tinha bebido, mas naquela noite, eu mis
Nossas bocas estão apenas a centímetros uma da outra. Nossos olhares estão grudados. Nossas respirações entram em sincronia em questões de segundos. É como se cada pequena parte de nós estivesse implorando pelo toque das peles.Percebo que o que sentíamos um pelo outro ainda continua presente, mas de uma forma mais intensa e devastadora.— Preciso fazer o jantar. — balbucio, não querendo me deixar levar pelo momento.Já fiz muita besteira em minha vida, não pretendo fazer mais uma.Caminho em direção à cozinha e percebo queGabriel me segue.— Já decidiu o que vai fazer? — ele pergunta curioso.— Ainda não.— Que tal bife acebolado e arroz?— Algo me diz que essa é sua comida preferida.— Exatamente. — ele sorri, empolgado. — Posso lhe ajudar se voc&e
Sou recebida de forma calorosa. Em meio às crianças o tempo torna-se apenas um detalhe insignificante e todos, absolutamente, todos meus problemas parecem desaparecer.Gabriel tem razão em chamá-los de anjos, porque é exatamente isso que eles são.Depois de participar de algumas brincadeiras, sento-me no chão e aproveito o momento para observar as crianças em minha volta com atenção.— Posso sentar no seu colo? — um pequeno, cujo nome é Gabriel pergunta, um pouco sem jeito.— É claro que sim. — sorrio estendendo meus braços em sua direção.— Você e tioGabriel não são apenas amigos. — ele afirma convicto, depois de se acomodar em meu colo.— Somos sim, Gabi. — respondo, sentindo-me um pouco constrangida com a situação.Agradeço mentalmente porGabr
Eu estou tentando lutar contra o passado, mas ás vezes tenho a impressão que é impossível. Se durante o dia consigo esquecê-lo, a noite ele volta ainda mais intenso e real.Mais uma vez desperto aos gritos e com os olhos cheios de lágrimas.— Hey. — vejo uma silhueta conhecida se aproximar de mim e agradeço quando sinto seus braços envolverem meu corpo.— Não suporto mais. — sussurro, mal conseguindo respirar.— Foi só um pesadelo, pequena.— Foimais umpesadelo. Eles vêm todas as noites. Um carro, fogo, minha mãe gritando por ajuda e mais fogo. — aperto os olhos tentando afastar as malditas imagens que se formam em minha mente. — Só queria que isso parasse.— Quando namorávamos você dificilmente tinha pesadelos. — ele observa, fitando-me. — Se você quis
— Agora que já conversamos, você pode ir embora?— Ainda não terminei.— Que inferno! — aperto os olhos, começando a me cansar disso tudo. — Me deixe em paz.— Tem certeza que é isso que você quer?Para cada passo queGabriel dá em minha direção, eu recuo um para trás. No entanto, ele continua a avançar e já sinto a parede gelada tocando minhas costas. Agora, já não tenho mais para onde fugir.A grande questão é que eu eGabriel estamos finalmente discutindo. Desde o dia que voltei de Londres estou esperando por esse momento, já que sei exatamente qual é o desfecho que nossas brigas costumam ter.— Você ainda não respondeu minha pergunta. — ele observa e só agora tomo consciência de que há apenas uma pequena faixa de ar separando meu corpo do
— Ele não é meu amigo. — respondo, mas pela maneira com que o rosto deGabriel se contorce, sei que fiz besteira.— Não?! — ele diz, empregando uma nota de surpresa em sua voz. — Então o que é?— Ela não precisa ficar lhe dando satisfações. — o homem ao meu lado se pronuncia pela primeira vez.— Ah sim! Parece que ele é seu defensor. —Gabriel retruca e vejo um vinco se firmar em sua testa quando o moreno intrometido se levanta, parecendo disposto a resolver as coisas de uma forma pouco civilizada.Por uma questão de segurança, levanto-me também e me coloco entre os dois. EncaroGabriel em um pedido silencioso para que ele não haja de forma impulsiva. Tenho uma explicação para isso, só preciso de uma oportunidade para fazê-la.Gabriel solta um longo suspiro e percebo aliviad