CAPÍTULO 07
Fabiana Prass Don Antony não veio no mesmo carro. Embora isso não tenha mudado o fato de que o meu coração esteja quase saindo pela boca. Eu não queria chorar, precisava ser forte, até porque a vida não me fez uma mulher fraca, tenho disposição e nunca deixo as circunstâncias me derrubarem, ao invés disso eu mesma as mudo ao meu favor. Por mais que agora eu não encontre uma saída, eu logo encontrarei, pois fugir não é uma solução pra mim, exceto se o jardineiro viesse me roubar, então aí, sim, eu teria um bom motivo para fuga, e ela valeria a pena. . Deslizo os dedos suados pelo vidro daquele carro que nem sei qual é, mas deve valer uma fortuna. Vejo que outro carro nos acompanha, pelo visto o Don não poupou esforços, veio mesmo disposto a causar uma guerra se eu me negasse a ir com ele, e sei muito bem que não posso recusar. Infelizmente não tenho dinheiro e condições para voltar para o Brasil. Mal tenho roupas, espero não ser humilhada naquela casa por isso, e se puder farei algum afazer da casa, não quero nada de graça daquela gente. Pensando aqui com os meus botões... talvez seja isso que ele quer. Me fazer de funcionária e me humilhar para algum motivo torpe, coitado... mal sabe ele que trabalhar numa casa seria uma alegria pra mim. Quem me dera ter uma cozinha como aquela para cozinhar e ter os ingredientes para fazer coisas gostosas como a dele tem, se é que já a olhou algum dia para saber..., e o meu tio nunca compra nada daquilo para a gente, já me acostumei a comer pães... — Senhora, Prass! — despertei da minha mente que parecia ter vida, quando um dos soldados me chamou. — Chegamos. Ele segurou na minha mão quando desci, e agora com a mente vazia, o medo e a vontade de chorar voltaram, mas eu não poderia correr o risco daquele homem malvado me ver em tais condições, pois já me apresentei fraca demais na última vez que nos vimos, não vou lhe dar esse gostinho. Para minha sorte, a Laura apareceu vindo na minha direção, e senti que teria um pequeno mimo se pudesse ficar ao lado dela, numa noite tão triste. Me sinto como um gado que vai para o matadouro. — Cunhada! Vem comigo, que hoje serei a responsável por você! — eu não sei por que, mas a abracei. Laura me transmite paz, assim como o jardineiro também traria. — Obrigada... O Don, ele... — Não se preocupe com o Don! Ele está proibido de te incomodar, foram ordens do meu pai, e ele deixou bem claro que voltaria amanhã, quer participar do casamento, mas acho que a minha mãe deve tê-lo ameaçado! — brincou enquanto andávamos abraçadas por um corredor. — Eu não os conheço... — Ele foi o último Don, o famoso Don Pablo Strondda, e a minha mãe ficou conhecida como a doce Camila, nunca quis se envolver nos assuntos da máfia, mas eu tenho uma tia que está bem envolvida. — Você sempre fala bastante? — brinquei. — Não. Apenas quando fico nervosa, e quando o meu irmão avisou que te buscaria comecei a ficar, mas daí o meu pai ligou e eu fiquei ainda mais. — Por eles voltarem para o casamento? — entramos em um quarto. — Também... é que mesmo que eles não tenham a intenção de fazer nenhum acordo comigo, sempre tenho medo que em alguma viagem apareça alguma proposta. — Puxa... pensei que apenas a classe baixa passasse por tal humilhação. — Infelizmente é assim que funciona na máfia, e os homens é quem mandam. — Caramba... — Fabiana, olha... eu sei que trouxe as suas coisas, mas o Don me pediu que comprasse tudo novo. Eu peguei um pijama no seu quarto, mas amanhã tratarei de escolher uma delas, o casamento é próximo ao horário do almoço... — Esse não é o meu quarto? — perguntei olhando em volta. — Ah, não! O seu quarto será o do meu irmão, e não é aqui... — Não? — Amanhã bem cedo eu te mostro, mas fica do outro lado, dá pra ver daqui. O jardim é maravilhoso, ele mesmo ajudou o jardineiro, fez questão de colocar as mãos na terra, acho que isso o acalma mais do que eu imaginava... — Por acaso não está falando daquele jardim lindo, aonde tem muitos beija-flores? — Sim, a casa fica lá! — fiquei pasma em saber que é o jardim que o Hélio disse que fez, imagino o risco que corremos de o Don ter nos visto lá... — Caramba... tenho medo do seu irmão. Ele é agressivo e acho que vai me humilhar... — sentei na cama e ela se juntou a mim. — Cunhada, eu acho que você pode ajudá-lo. O Tony tem dupla personalidade, e o seu lado ruim só aparece conforme as circunstâncias que ele enfrenta, ou o seu estado de espírito. Se você for esperta, irá ter apenas o que é bom, dele. Agora, enquanto bater de frente, sofrerá. — Eu ainda não conheço esse lado bom, infelizmente. Ele me trata como um objeto que ele comprou, apenas isso. — Ele é o homem mais amoroso que eu já conheci! E, olha que o papai é muito... te digo com convicção que você pode ajudá-lo, apenas não bata de frente. — Terei que dizer sim, para tudo? — De forma alguma, apenas evite gritar, ou pressioná-lo, ele não funciona sobre pressão ou gritos... — fiquei olhando pra ela e vi que a conversa ia longe, e até que me acalmei um pouco com as suas palavras, Laura é muito sábia. Uma hora depois... Entrei no banheiro e fiquei até perdida com o luxo do lugar. Só havia um chuveiro bem grande, e dois registros, não entendi o motivo, seria pelo tamanho? O fato de ser grande? Resolvi ligar um e vi que estava muito gelado. — Merda! Um chuveiro tão caro e gelado? — falei alto demais e ouvi uma gargalhada. — Quem está aí? — Sou eu, o Antony! Eu só vim ver se está tudo bem, mas não resisti a gargalhar com a sua frase! Esse chuveiro é para que você controle a temperatura, se afasta da água e agora ligue o outro! — A voz do Don era muito estranha. Ele parecia tentar falar mais grosso, mas era claramente parecida com a voz do jardineiro, eu devo estar alucinando, fiquei o dia todo o ouvindo e agora a minha mente quer me pregar peças. — Está bem... — respondi ressabiada, ele deve estar com algum joguinho comigo, alguma coisa está armando. — Eu vou sair hoje, não estarei na casa. Mas pode ficar tranquila que terão homens vigiando tudo, e amanhã de manhã virei te buscar para conversarmos antes da cerimônia. Embora, seja tradição aqui na Itália que não nos vejamos, seremos discretos. — Ok... — respondi a ele. E, assim como se dirigiu a mim, me dirigi a ele, fui educada. — O chuveiro esquentou? Se quiser posso arrumar pra você! — me apressei em ligar, do que dependesse de mim, ele não entraria ali de jeito nenhum. — Não precisa, está ótimo! — Então eu já vou. Até amanhã ragazza! Eu não o respondi, apenas prossegui com o banho, enquanto a minha mente viajava por inúmeras coisas que poderiam acontecer comigo, amanhã...CAPÍTULO 8 Don Antony Strondda Precisei me controlar muito para não matar aquele figlio de puttana do tio da minha noiva. Mas eu vou investigar exatamente como ele a tratava, e se tiver tocado nela, não será poupado. A sorte foi que desconfiei e fui buscá-la, assim está segura na minha casa, e a partir de amanhã teremos muito o que tratar. Depois que saí de casa, fui para a minha despedida de solteiro na boate. Tem um show especial hoje, preparado pelo meu primo Enzo, e vou aproveitar a relaxar a minha cabeça, já que a minha ragazza só me atiçou com aqueles beijos, mais cedo. Hoje fugi da área VIP, não é segredo para ninguém que hoje é o meu dia de aproveitar a última noite como solteiro, e fui no meio de quem estava ali para curtir, irei beber e esquecer os problemas. Enzo trouxe puttanas de fora, elas estão entrando uma de cada vez no salão, cada uma fazendo um show diferente, com lingeries sexy e saltos altos. Todas tentam chamar
CAPÍTULO 9 Fabiana Prass Ouço vozes chamando pelo meu nome, mas estou num sono profundo e não consigo acordar. Sinto um cheiro forte de álcool e de repente tenho a impressão de ter aberto os olhos, mas estranhamente pareço estar sonhando. — Se sente melhor, cunhada? — Laura me perguntou e agora sinto que estou voltando a ter consciência, mas... — Estou meio confusa, acho que vi o jardineiro... — Virgem santíssima! Ela está delirando, meu irmão! — Ouço ela falar, mas nego. — Eu estou um pouco tonta, apenas isso. O que foi que aconteceu? — questionei tentando me levantar. — Laura, me deixe conversar com ela, em breve voltaremos para a sala, não se preocupe. — parei para ouvir melhor, aquela voz... será que estou ficando maluca? Percorri os meus olhos para encontrá-lo. — Não toque nela, Tony! Sabe das regras! — Que regras? O que está acontecendo, aqui? Estou tão perdida... — Sei muito bem, Laura... fique tranquila! — Santo Deus, é o jardineiro... ele se aproximou e sentou na cam
CAPÍTULO 10 Fabiana Prass Eu não queria ir... na minha cabeça estavam aparecendo imagens, vozes... os rostos da minha família no Brasil, o do meu tio me agredindo, e quando apareceu o jardineiro, com ele veio o Don e tudo parecia sem vida na minha mente. — Vem, querida! — Camila me tirou dos meus pensamentos, estendendo a sua mão, e eu fui. — É o seu buquê... O Tony que fez, colheu essa manhã! — me entregou rosas lindas, pareciam que estavam sendo regadas e cuidadas especialmente para isso, e me lembrou o jardineiro, mas eu precisaria esquecer isso, ele não existe. Haviam outras pessoas perto de mim, mas nem olhei. Entrei diretamente no carro e logo ergui o vidro até o final. Eu estava muito nervosa e as minhas mãos estavam trêmulas e geladas, segurando com força, naquele vestido tão bonito. O silêncio me deixava ainda mais apreensiva, mas agora não tinha volta, eu seria a dama da máfia italiana, e o pior... seria dele, pertenceria a ele, e isso eu entendo muito bem. Qualquer pe
CAPÍTULO 11 Fabiana Prass Eu até esqueci dos problemas, comendo aquelas coisas tão deliciosas. Havia muitas massas, com diferentes queijos e acompanhamentos. — Gostou da comida? — Don me pergunta, ao colocar a taça de vinho vazia na mesa. — Fazia muito tempo que eu não comia carne, e pratos quentes. — me olhou profundamente e desceu os olhos até o meu colo, observando. Fiquei um pouco inquieta, mas tentei não demonstrar, peguei a minha taça de vinho e percebi que era a melhor que eu já havia bebido, na verdade, nunca como tão bem. — Ok... — voltou a encher a sua taça, e percebi que ele bebe bastante, talvez esteja irritado com a festa. Eu terminei de almoçar e ignorei o restante. Não tinha docinhos de casamento na festa, mastinha mini tiramissu, mini panna cotta, mini torta de mousse de chocolate com framboesa, mini Apfelstrudel, cerejas, morangos, entre outras coisas, não achei que os docinhos tenham feito falta… O bolo era diferente, cobria a
CAPÍTULO 12 Fabiana Prass Era tarde para pensar em fugir, eu já estava casada. E, pior que isso, é o fato dele ter me comprado e agora querer estabelecer o seu domínio sobre mim. A casa era maravilhosa, embora ele tenha praticamente dito que posso ser a empregada, mas está tudo bem. O problema é o meu medo que a cada segundo se tornava maior, e aquele homem frio que me olhava tão profundamente. — Aqui estão os vinhos! Desse lado estão os que tem um nível mais baixo de álcool, e desse outro lado, os que têm um teor alcoólico mais alto. — falava sério. Don Antony pegou uma taça e pegou um vinho do lado com baixo teor, tomou um gole e me ofereceu a taça. O nosso olhar se encontrou e não vi a escuridão neles. — Será que um dia me olhará como olhava para ele? — perguntou com a voz mais baixa. — Não existe “ele”, aquilo foi uma mentira! Eu só vejo o homem que me comprou, agora! — falei tentando parecer forte, e ele tomou o restante do vinho d
CAPÍTULO 13 Don Antony Strondda Essa é a nossa noite de núpcias, e não entendo por que ela dificulta as coisas assim... os casamentos na máfia são todos nesses termos, ou pelo menos, deveriam ser. O máximo que acontece são acordos, como o meu pai, e eu estamos procurando para a Laura, nada muito longe disso. Tantas chatas querendo o seu lugar, e ela me rejeitando, ainda mais quando eu tenho certeza que desperto desejos dentro dela, e ela nega até o fim, isso me revolta, pois sei que os meus beijos mexem com ela. Eu jamais havia sentido isso antes, essa necessidade louca de possuir alguém, de sentir uma mulher em meus braços. Quero Fabiana com ímpeto, e uma tempestade parece seformar dentro de mim, capaz de devastar tudo que está à minha frente, caso eu não apossua. Eu deixei-lhe os lábios e beijei o seu pescoço macio, sentindo o perfume de floresdele. Nenhuma mulher tinha aquele aroma tão embriagador quanto o dela, mas ela rejeitou o meu beijo, nem m
CAPÍTULO 14 Fabiana Prass Strondda Fiquei parada feito uma boba, porque embora eu quisesse matar aquele Don sem vergonha, eu acabei me perdendo e o deixando me envolver com seu beijo. E o pior é que por alguns minutos, quem eu beijei não foi o jardineiro e sim o homem que me comprou, porque não visualizei nada, simplesmente gostei da maneira como se apoderou do meu corpo. Não vi nada do Jardineiro nele, pelo contrário... só que aquela prepotência toda mexeu com algo dentro de mim, e quando eu vi já estava gostando do beijo dele. Ainda bem que alguém chegou e eu pude voltar a respirar, porque vejamos e convenhamos, o maldito beija muito bem. Quando fui levar os utensílios de limpeza para dispensa, vi um carro de mulher que se aproximou do portão e logo estranhei as rodas dele serem na cor rosa. Eu não acreditei quando vi aquela descolorida descendo do carro, toda pomposa. Era só o que me faltava, aquela vadia vindo até aqui para me provocar. Ela desceu com
CAPÍTULO 15 Aquela ragazza está mesmo provando a minha paciência, me chamar de senhor, usar uniforme da área de serviço, cozinhar... — Caramba, onde aprendeu a cozinhar assim? — me surpreendeu a sua comida. — No Brasil. Sei fazer muitas coisas, se eu puder continuar... — Realmente é ótima, mas não precisa cozinhar, a cozinheira pode voltar quando eu pedir. — Mas, eu posso? — insistiu. — Tudo bem, mas não quero te ver o dia todo na cozinha! — decidi. — Claro... já posso vestir a camisa? — terminei a refeição e a olhei provocativo. — Pra quê? Está bem melhor assim! — Então posso ir ao jardim de sutiã? — levantou da cadeira, e fiquei louco, levantando no mesmo instante. Peguei a sua camisa e joguei em cima dela. — Não ouse me desafiar, ragazza! Se algum soldado te olhar assim, morre! Quer matar homens de bem? — estávamos frente a frente, e ela me encarou parecendo chateada. — Você é louco! — comecei a vestir a camisa nela e não parei até fechar o último botão, mas o leve contat