A família dele!

CAPÍTULO 9

Fabiana Prass

Ouço vozes chamando pelo meu nome, mas estou num sono profundo e não consigo acordar. Sinto um cheiro forte de álcool e de repente tenho a impressão de ter aberto os olhos, mas estranhamente pareço estar sonhando.

— Se sente melhor, cunhada? — Laura me perguntou e agora sinto que estou voltando a ter consciência, mas...

— Estou meio confusa, acho que vi o jardineiro...

— Virgem santíssima! Ela está delirando, meu irmão! — Ouço ela falar, mas nego.

— Eu estou um pouco tonta, apenas isso. O que foi que aconteceu? — questionei tentando me levantar.

— Laura, me deixe conversar com ela, em breve voltaremos para a sala, não se preocupe. — parei para ouvir melhor, aquela voz... será que estou ficando maluca? Percorri os meus olhos para encontrá-lo.

— Não toque nela, Tony! Sabe das regras! — Que regras? O que está acontecendo, aqui? Estou tão perdida...

— Sei muito bem, Laura... fique tranquila! — Santo Deus, é o jardineiro... ele se aproximou e sentou na cama, e a Laura não falou nada, nos deixou sozinhos, mas como? Se o Don Antony nos vir, ficará furioso!

— Fabiana, você está bem? — ele parecia sério, talvez nervoso de estar ali, estava diferente, mas fiquei imensamente feliz em vê-lo.

— Hélio? — o abracei rapidamente e com força, sem pensar duas vezes. Nele eu poderia confiar, será que Deus ouviu as minhas orações e súplicas? — Como conseguiu entrar nessa casa? E...

— Calma, calma... — segurou na minha mão e senti o meu coração batendo forte, havia esperanças pra mim, esse homem faz o meu coração bater mais forte.

— Como vou me acalmar? Me tira daqui desse inferno, e desse homem que eu odeio, eu te imploro! Não suporto ficar aqui, tenho medo, repulsa, me leva com você, Hélio! — segurei forte na sua mão, desesperada, o olhando com bravura, ele era o meu salvador.

— Pare, Fabiana! Eu não sou o Hélio! — ele falou bem alto e eu conhecia aquela voz, era exatamente a mesma que o Don tinha quando se dirigia a mim, como sempre, rude ou aos gritos. O jardineiro ficou de costas, logo depois que soltou das minhas mãos e senti um desespero ainda maior... do que ele estava falando! Eu agora o olhei por trás.

— Quem é você? Não era apenas um jardineiro? — Questionei, engolindo seco, com a garganta dolorida.

— Posso ser o que você quiser, ragazza! — o meu corpo gelou na mesma hora. Seria possível existir o caminho para aonde a minha mente estava me levando?

— Não... isso não pode ser verdade! — me encolhi na cama, imaginando coisas.

— Mas, é... minha noiva! Não precisa ter medo. Por mais que eu tenha te dado um nome que não é verdadeiro, ainda sou o teu noivo, e serei o teu marido!

— Eu não quero! Não vou me casar com você! — abracei as pernas. — Não te suporto, a nossa vida será um inferno!

— Não comece a me desafiar, que o meu humor vai embora e daí só fica o meu lado sombrio, então colabora! — enquanto ele falava o seu rosto foi ficando estranho pra mim. As imagens do jardineiro se mesclaram com as imagens do Don, e agora tudo se tornou escuro e sem vida como ele.

— Eu quero o jardineiro de volta, por favor... chama o jardineiro... — falei num sussurro, e fui uma fraca, deixando as lágrimas me encontrarem e levarem com elas. Mas, eu já não via saídas, e a minha última esperança havia acabado de ser destruída.

— Eu ainda estou aqui! É só colaborar e ser boazinha, que eu sempre serei o jardineiro pra você! É isso que quer, não é? — ele colocou a mão sobre a minha e eu a puxei, porque tive medo.

— Mas, que porra! Eu não sou jardineiro, deveria ter contado desde o início! — segurou um jarro e o atacou na parede, me fazendo estremecer. Agora eu não tinha dúvidas, ele era o Don.

— SAIA DAQUI! SAIA DAQUI! ME DEIXE SOZINHA, POR FAVOR! — comecei a gritar e vi algumas pessoas entrando no quarto, e uma senhora por volta dos quarenta e cinco, muito bonita, me abraçou, enquanto eu escondia o meu rosto nela, não querendo ver mais nada.

— Shiii, calma querida! Eu estou aqui, está bem? O Tony não vai te machucar, eu prometo. O criei a vida toda com amor e ensinando inúmeras vezes como uma mulher, deve ser tratada, e se ele me decepcionar, perderá o cargo, porque eu o internarei.

— Camila, calma! — um homem abraçou a mulher bonita ao lado da cama. — Eu vou conversar com o Antony e vamos plantar umas rosas que estão faltando no jardim, não se preocupe que ficará tudo bem, não fique nervosa!

— Está bem, Pablo... vou ajudar a noiva... — a mulher que se chama Camila, comunicou. O meu noivo saiu, ou sei lá quem ele é, já não sei de mais nada, e a minha única esperança de fuga morreu com ele, e vejo que estou realmente destinada a sofrer muito.

— Fabiana, olha pra mim. — a Camila segurou o meu rosto gentilmente me chamando a atenção. — Eu juro que o Tony é um homem bom! O problema é que ele tem dupla personalidade e não sabe lidar ao ser contrariado, mas eu tenho fé que você nos ajude com isso, ainda mais quando a Laura me contou um pouco sobre você...

— Por eu ser pobre? Não ter dinheiro nem para fugir do país?

— Não querida... somos mulheres e somos fortes por natureza! Eu também já estive no seu lugar e consegui fugir desse país nas mesmas circunstâncias... O problema é que ninguém escapa muito tempo da máfia quando um Don a escolhe, e também voltei por escolha própria, porquê vi que era o melhor, e aos poucos fiquei completamente apaixonada pelo Pablo, o pai do Antony...

— Vocês parecem bons... porque ele é tão diferente? Ele me dá medo...

— O Don Pablo diz que o Tony puxou o avô, que era completamente ruim se o intimidassem, mas eu tenho as minhas dúvidas, já o levei em especialistas, e todos relatam o seu transtorno, mas o pai dele se nega, ele não acredita no laudo dos médicos, e diz que o Tony puxou o pai dele.

Fiquei em silêncio ouvindo a mãe dele, que me ajudou a me acalmar. Ela começou a delicadamente pentear os meus cabelos, enquanto contava todas as coisas boas que o seu filho fazia, começou a colocar grampos, provavelmente para o meu casamento.

— Elisabeth fez isso por mim, e sou muito grata a ela. Enquanto eu chorava ela me deixava linda... infelizmente ela não está mais entre nós para ver isso, hoje...

— Infelizmente não posso ficar feliz com tudo isso, senhora...

— Minha querida, escute o conselho dessa senhora que já passou por tantas coisas... Não entre em conflito o Tony, conversem! O mantenha calmo e verá que ele te fará feliz, te dará tudo o que quiser! — ela tinha um olhar terno e me lembrei da minha mãe.

— Entendi, senhora! — ela me abraçou forte e retribuí.

— A sua família virá?

— Só tenho o meu tio, aqui... acho que o Don não o deixará entrar!

— É da sua vontade tê-lo aqui? — me olhou nos olhos.

— Não. — sussurrei.

— Então, o Tony não deixará! Agora vamos parar de chorar e fazer uma maquiagem, tá bem?

— Obrigada, senhora!

— Pode me chamar de sogra, ou de Camila...

— Certo...

Ela tem um sorriso cativante e me trouxe paz. Consegui me acalmar e deixar que me arrumasse. Ainda sentia um vazio dentro de mim, mas doía menos.

Depois entrou uma mulher no quarto e trazia um vestido branco muito bonito, acho que nem trabalhando a minha vida toda não conseguiria comprar um daqueles.

Estranhei a lingerie que a minha sogra entregou, tive dificuldades em vesti-la. Era toda branca e tinha uma fitinha azul clara, amarrada na calcinha.

— Não deve tirar a fita azul, ok? É uma tradição italiana. — ela disse.— Eu usei no meu casamento e nem percebi, mas como vi que ficou olhando, achei melhor avisar...

— Tudo bem...

Quando me vestiram quase não acreditei que estava tão linda, tive vontade de rodopiar com ele naquele quarto, mas quando me lembrei porque o usava, o meu sorriso morreu.

— Posso me olhar no espelho?

— Se tirar os sapatos ou o véu, sim... dá azar olhar o figurino completo...

— Tudo bem... — tirei os sapatos e me emocionei, nem eu sabia que poderia ficar tão linda... Camila percebeu e me chamou.

— Vamos querida! O noivo a aguarda...

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