Depois daquele dia nunca mais vi o Arthur. Poderíamos ter sido bons amigos, visto que não tinha contato com crianças da minha idade, mas.nem tudo o que desejamos podemos conseguir de imediato. Principalmente quando dependemos do auxílio de outros.
Saímos do parque e viemos no carro praticamente mudos. Olhava para minha mãe e sentia que ela estava preocupada com o possível fato do papai descobrir o que havia acontecido. Eu era muito pequena, mas conseguia perceber que tinha algo de muito ruim nisso tudo. Mas, afinal, o que existia de errado entre nossas famílias? Aquela dúvida me corroía por dentro, mas como eu havia prometido segredo a mamãe tinha que cumprir, e por isso permaneci em silêncio.Ao chegar em casa papai estava no escritório a portas fechadas conversando com alguns homens como sempre fazia. Mamãe olhou pra mim e disse para eu ir direto para o meu quarto, e foi assim que fiz. O mesmo disse à Pietro que não deu ouvidos. Correu e ficou escondido atrás da coluna próxima ao escritório. Assim que o papai abriu a porta ele correu em sua direção para contar tudo o que havia acontecido no parque. No mesmo instante ele pegou a mamãe pelo braço e a levou pra dentro do escritório trancando a porta. Começaram uma discussão terrível como de costume. Era possível ouvir o choro da minha mãe por toda a casa e constantemente o sobrenome D'Angelis.Quem seriam essas pessoas?Odiava ver o sofrimento da mamãe, mas tudo aconteceu por culpa do Pietro. Ele sempre foi assim. Tudo o que acontecia ia correndo contar para o nosso pai, achando que ele iria ama-lo de uma maneira diferente, mas não imaginava que o nosso pai não tinha amor por ninguém e tudo o que interessava eram seus negócios e o poder.(...)Depois daquele dia fomos proibidos de sair para qualquer lugar sem a presença do nosso querido papai. Como ele nunca tinha tempo para nós logo vocês podem imaginar que vivemos longos anos em cárcere privado. Ele sempre teve a primeira e última palavra em tudo. Tudo o que ele dizia se tornava lei na nossa família. E minha mãe era uma mulher submissa e tinha muito medo de enfrenta-lo. Havia se casado muito jovem, eu não entendia ao certo como foi realizado o casamento deles, mas desconfiava que tinha sido um casamento por conveniências. Ela vivia sempre triste e com um olhar vazio até mesmo melancólico por todo o tempo. Sempre quando me aproximava ela tentava disfarçar suas lágrimas ao olhar algumas recordações dentro de uma linda caixa de madeira toda decorada com duas iniciais C e M. Ao perguntar o que havia dentro ela somente me olhava com seus lindos par de olhos cor de mel e acariciava o meu rosto dizendo:— Um dia você compreenderá muitas coisas que hoje não posso lhe explicar. Tudo o que você precisa saber está aqui dentro dessa caixa. Ela será sua no tempo certo.Ao dizer essa palavras ela guardou a linda caixa dentro do cofre que ficava atrás de um quadro de Monet e veio em minha direção me abraçando.— Posso fazer uma pergunta mamãe?— Claro meu amor. — ela responde docemente como sempre— Você ama o papai?Ela titubeia, mas entre linhas responde.— Amor é um sentimento único minha querida, por isso, só sentimos uma vez em toda vida. — ela fala de uma maneira singela, por entre linhas, porém sem responder de fato a minha pergunta— Não respondeu a minha pergunta mamãe.— Claro que respondi meu anjo. Mas você é muito jovem para compreender que a minha resposta estão nas entrelinhas.— Ai mamãe, a única coisa que entendo é que nunca vou me apaixonar e muito menos casar com alguém. — falo sentando ao seu lado na cama— Ai meu amor, por mais que lutemos contra, isso é inevitável de acontecer. Mas vamos parar com essa conversa se não alguém nos ouve e já viu os problemas que teremos, não é mesmo? Vai brincar um pouco meu amor. — ela me deu um beijo no rosto e sai correndo para o jardim"Um dia você descobrirá todos os meus segredos meu amor. Mas, espero que você não seja tão infeliz como eu fui desde que fui obrigada a casar com seu pai.(...)'Eliza aos treze anos...Quando completei treze anos mamãe me levou até o seu quarto e conversou comigo por um longo tempo. Dizendo que brevemente eu iria fazer uma viagem para estudar em outro país. Mas nunca imaginaria que seria justamente hoje e principalmente de uma forma tão traumatizante. Eu não aceitei e comecei a chorar desesperadamente. Morreria se tivesse que me afastar dela. Mas, de nada adiantou, pois meu destino já estava mais do que traçado.— Não mamãe, por favor, eu não quero ir. — eu chorava agarrada à sua cintura— Você precisa ser forte minha filha. Isso será para o seu próprio bem. — ela tentava ser forte, mas sentia sua voz embargada— Mas como seria para o meu próprio bem se vou precisar me afastar de você? — falo soluçando e ela senta na beirada da cama, me coloca em seu colo e com seus olhos brilhantes, porém tristes diz:— Hoje você pode não entender, mas quando for mais velha, tudo será mais fácil minha querida. Nunca esqueça o quanto eu te amo e que estarei aqui esperando você voltar. — ela fala beijando a minha testa e secando minhas lágrimas com as pontas dos dedos— E pra onde eu vou?— Você vai para... — mamãe pensa em responder, mas um estrondo a faz se calar na mesma horaNaquele momento a porta é aberta e surgem dois homens para me levar embora. Tentei me prender na minha mãe, mas foi inútil. Eles me arrancaram dos braços dela e me colocaram dentro do carro preto com vidros escuros, que estava parado na porta da frente da casa. E em seguida travaram todas as portas do carro me impedindo de fugir.Gritei implorando para que não fizessem aquilo comigo, mas foi inútil. Todos os empregados da casa olhavam aquela cena sem nada poderem fazer. Olhei para a parte de cima, onde ficava o meu quarto e vejo minha mãe chorando inconsolavelmente agarrada a uma das minhas bonecas favoritas. Uma lágrima involuntária cai no meu rosto, e ao olhar para o lado vejo o meu pai sentado na sua poltrona segurando um charuto e bebendo seu whisky como se nada estivesse acontecendo. E atrás dele, o Pietro, muito contente por tudo aquilo.Logo percebi que tudo o que poderia fazer naquele momento era aguardar para onde aqueles homens estariam me levando e qual seria o meu destino. Chegamos ao aeroporto e havia uma mulher muito bem vestida, trajando um distinto conjunto social nos aguardando. Pegou na minha mão sem dizer nenhuma palavra e me levou até um avião particular que estava no aeroporto.Retiro forças de onde não tinha, viro meu olhar para aquela mulher e falo:— Senhora?— Sim querida. — ela responde sem sequer me olhar— Qual é o seu nome?— Me chamo Rose. E você se chama Eliza, a filha da Catarine, não é mesmo? — ela fala friamente— Sim. Como sabe tudo isso? — questiono confusa— Podemos dizer que sou irmã da sua mãe, minha querida. — ela responde e me assusto— Como? Nunca soube que minha mãe tinha uma irmã.— É porque fomos criadas distantes uma da outra. — ela responde ainda caminhando em direção a aeronave— Hum... E posso saber pra onde está me levando tia Rose? — pergunto curiosa e me assusto com sua resposta— Para um colégio interno. Lá você aprenderá tudo o que precisa saber para se tornar uma verdadeira senhorita, digna da família Delfine.— Família Delfine? E esses quem são? — pergunto com o coração acelerado— Eles serão sua nova família, após o seu casamento com o primogênito Enrico. — naquele momento ela me encarou com um semblante neutro e digo até um pouco satisfeito— Não tenho outra escolha, não é mesmo? — pergunto com pesar na voz— Infelizmente não querida. — ela responde e me olha com um meio sorrisoEm seguida coloca seus óculos escuros, me entrega para uma outra mulher que me leva pela mão até subir os degraus da escada de acesso e entrarmos na aeronave.Naquele momento pude perceber que já haviam traçado o meu destino. Bom, assim eles imaginavam. Mas, o que eles não poderiam cogitar, é que eu não sou tão inocente quanto parecia. Tinha meus sonhos, minhas ambições e podem ter certeza que um casamento arranjado não seria um deles. Por motivo algum permitiria que nada e ninguém tentasse me impedir de conquista-los. Muito menos o senhor Victorio Grecco. Pois é, de hoje em diante o meu próprio babo (pai), passaria a ser o meu maior inimigo.(...)Eu só era um menino alegre e cheio de vida, mas tive o meu destino cruelmente traçado desde a minha infância. Cresci com a dor da perda dos meus queridos avós paternos, que foram covardemente assassinados pelos membros da família Grecco. Eu vi quando o meu pai jurou vingança em cima dos caixões fechados dos meus avós na frente de todos. Desde então, fui crescendo e sendo ensinado que os Grecco eram nossos maiores inimigos. Portanto deveria extermina-los como vermes, um a um, até que desaparecessem definitivamente desta Terra. Mas, eu sabia que existia algo muito maior do que uma simples rivalidade. Porém, isso meu pai nunca revelaria. E se eu desejasse descobrir precisaria ser muito astuto, ou caso contrário, viveria eternamente rodeado por mentiras. (...)Desde então tudo o que aprendi foi como lidar com as emoções, ou melhor como não demonstra-las. E isso foi me tornando a cada dia mais seco e frio. Por mais que eu tentasse ser um homem diferente era praticamente impossível. A mald
AndréDurante o caminho permaneci em total silêncio e pensativo com a discussão que tive a pouco. Ariel já percebendo que meu humor estava abaixo de zero, permanece em silêncio. Em tempo hábil chegamos a empresa, e como sempre, ao nos ver todos sorriem e nos cumprimentam. Odiava aquelas pessoas hipócritas, que esperavam somente darmos as costas, para começar a nos criticar. Mas isso não me importava nem um pouco, pois se dependesse da opinião das pessoas não me tornaria o homem que sou. Logo Carlotta, minha secretaria, veio a nossa frente para me informar das pendências do dia. Mas, pelo visto, teria era outro problema logo cedo.— Tem uma pessoa aguardando pelo senhor. — Carlotta fala e sinalizo com a cabeça tentando descobrir de quem se tratava— Como deixou um desconhecido entrar na minha sala sem que eu tivesse chegado? Ficou louca? Sabe bem que detesto surpresinhas fora de hora. — falo firme a encarando e vejo o pavor no seu olhar— Não fiquei louca senhor, mas é que a pessoa n
ElizaPassei cinco longos anos reclusa naquele maldito hospício, assim eu chamava o internato onde fui gentilmente obrigada a permanecer durante todo esse tempo. Recebendo somente a visita da "tia" Rose e da minha mãe uma vez por ano. Pois, para o restante da família, eu já havia deixado de existir.No início tudo foi muito difícil para mim, éramos separadas por pequenos grupos nos inumeráveis alojamentos, que chamavam de struttura. Meninos de um lado e meninas do outro. Mas eu sempre dava um jeito de escapar para o lado B, por assim dizer, e foi assim que acabei conhecendo o Enzo o meu companheiro de inúmeras aventuras e o meu único amor. (...)Fui colocada na sala do castigo tantas vezes que até perdi as contas. Acabei até fazendo amizade com o Fred. Querem saber quem é ele? É um ratinho cinza muito simpático por sinal. Adorava comer as migalhas de pão que eu jogava pra ele todas às vezes que aparecia por ali. E isso eram no mínimo umas três vezes por semana durante um ano. Então,
ElizaMe chamo Eliza Grecco, hoje tenho exatamente vinte e cinco anos. Sou formada em jornalismo, mas tenho uma segunda profissão, que tem se tornado um escape para todas as minhas frustrações. A Dança Contemporânea! Mas hoje realizo outro tipo de dança que também não deixa de ser uma arte e muito em breve apresentarei à vocês.Meu sonho era me tornar uma dançarina mundialmente conhecida. E de uma certa forma acabei conseguindo, por assim dizer. (...)Porém, também amo o jornalismo, pois através dele pude conhecer diversas histórias, lugares, culturas e além é claro de pessoas maravilhosas. Uma delas é a Sophie, uma mulher exuberante, forte e de uma beleza inigualável. Ela foi minha chefe e hoje se tornou a minha melhor amiga. Foi através dela e por ela que o maledetto Hyago Venturini entrou na minha vida. E foi a partir desse dia que minha história começou a mudar completamente. E por incrível que pareça, mudou para muito pior. (...)Horas antes de chegar à Palermo...Dias atuais..
Dias atuais... Palermo... Mansão dos GrecoCatarine Grecco (Mãe de Eliza)Já faziam muitos anos que não via a minha doce Eliza. Para ser precisa, desde o dia em que Rose foi encontrada morta dentro daquela casa. Tudo indicava que ela havia sido sequestrada pela máfia. Bem, foi isso que Victorio tentou me fazer acreditar. Afinal, não suportava mais todas as minhas perguntas e indagações, logo foi para o modo mais prático como era do seu costume. E insistia que os D'Angelis tinham algo haver com tudo isso, principalmente com o desaparecimento da Eliza. Mas, eu tinha certeza absoluta que o único culpado por todas as nossas desgraças seria o meu próprio marido.Desde que nos casamos consegui comprovar inúmeras vezes tudo o que ele seria capaz de fazer para alcançar seus objetivos. (...)Nosso casamento foi arranjado pelos nossos pais. Meu pai era um fazendeiro muito rico, dono dos melhores vinhedos de toda Toscana, mas foi perdendo tudo e ficando na mais completa mísera. O vício do jogo,
Catarine Quando dei por mim já havia amanhecido. Acordei Marco e ele despertou rapidamente. Ouvimos alguns passos se aproximando. Nos vestimos e ficamos escondidos atrás de alguns barris de vinho. Olhamos e vimos o meu pai passar em frente ao galpão caindo de bêbado como sempre, depois de mais uma noite inteira jogando. Eu já começava a sentir o meu corpo tremer, pois já sabia que iria levar uma nova surra. Marco segurou meu rosto e olhou dentro dos olhos dizendo:— Arruma algumas mudas de roupas e me aguarda aqui exatamente à 1h da madrugada. Virei te buscar para fugirmos juntos. Nunca mais esse homem tocará em você. Porque se isso acontecer novamente eu juro que o mato. Nem que seja a última coisa que eu faça nessa vida.— Tudo bem meu amor, mas para onde vamos?— O lugar não importa meu amor. O que realmente importa é ficarmos juntos. Eu não vou permitir que nos separem e muito menos que você continue sofrendo abusos desse maledetto. — nos abraçamos forte, nos beijamos e ele foi e
Eliza GreccoMedo... recordações... e a maldita crise de ansiedade tentavam invadir meus pensamentos à todo custo.Tudo voltou com força total. Sentia que tudo em minha volta escurecia. Novamente esse desgraçado tentava a todo custo destruir a minha vida mas, estava muito enganado ao pensar que me tinha em suas mãos. Após ouvir que aquele maledetto do Hyago havia capturado Sophie e Anna senti o desespero e a dor se apossarem do meu corpo me fazendo perder o chão. Mas eu precisava mais do que nunca me manter forte para mantê-las em segurança. Enxuguei as lágrimas que insistiam em rolar dos meus olhos deixando meu rosto completamente inchado. Olhei para aqueles homens que estavam me acompanhando e percebia que me analisavam como se eu fosse um pedaço de carne prestes a ser vendida. E de algum modo não estavam errados. Realmente era assim que mais uma vez eu me sentia. Um puro e valioso objeto.Eles estenderam a mão para me ajudar a levantar do chão, após eu desabar com o telefonema da
Eliza GreccoEsse nome Arthur D'Angelis, não me era estranho. Será o mesmo Arthur que conheci h mais de quinze anos atrás no orquidario? Bem, infelizmente serei obrigada a conviver com essa dúvida, pois ao que tudo indica eu não tenho como sana-la jamais. Meu caminho e o destino que me aguardam são bastante indecifráveis. Logo não terei tempo para investigar ou procurar por tal resposta. Meu único objetivo nesse momento é o bem estar da minha família, que consistia na Anna e na Sophie, e por elas sou capaz de tudo.Aqueles desgraçados me colocaram num jatinho e fomos direto para Palermo. Dentro de poucas horas, enfim retornarei ao lugar onde só conheci sofrimento e dor. Mas dessa vez a minha história seria muito diferente, pois já deixei de ser aquela menina ingênua e hoje me tornei uma mulher forte capaz de tudo por aqueles que amo.(...)Olhava em volta e como sempre Hyago era cercado de luxos. Gostava de ostentar seu poder a todo custo. O jatinho era impecável, tinha a cor branca p