CAPÍTULO TRÊS

CAPÍTULO TRÊS

O acesso à ilha rochosa era no topo, e era necessário escalar com muita dificuldade. Mas perdia-se mais marujos escalando até o topo de Cratera do que em disputas no alto-mar. Um bom marujo, bêbado e incorrigível, criou uma escada de pedras, talhando-a com marteladas, dia após dia, durante um período de abstinência, sem beber. Quando conseguiu, morreu por exaustão.

Para alcançar o topo ou descer, passava-se por trilhas restritas, com atalhos frequentados por pássaros carnívoros. Conta-se também que alguns aproveitavam o período de chegada a Cratera para eliminar inimigos nas trilhas. Muitos morreram na subida, mas com as escadas entre arbustos e túneis secretos, já não se ouvia mais falar de mortes causadas por Cratera. Agora, a maior preocupação era manter os pássaros carnívoros afastados. Esses sim, eram um problema constante para eles. Muitas vezes, passavam-se horas lutando contra os pássaros carnívoros. Nem mesmo eles sabiam por que haviam escolhido um local tão ruim; talvez pelo fato de milhares de guardas já terem sido eliminados tentando tomar aquele lugar. Menos ele, aquele que muitos evitavam confrontar, submisso às ordens do governo de Desmond.

Ela caminhou com passos cuidadosos, sempre desconfiada. Não era capitã, mas era como se fosse. Flit e Flot, sempre distantes da realidade, fizeram-na respirar fundo. Mas não estava cansada, apenas recordou que fazia tempo que não via Hoope.

Ela sorriu. Hoope era um corsário dos Mondes, e ela lembrava claramente o momento em que ele se aproximou, sorrindo. No entanto, não compartilhavam os mesmos ideais. Ela valorizava sua liberdade e entendia que ser um corsário seria o mesmo que ser domesticada pelos senhores das terras. O verdadeiro prazer estava em navegar pelas águas além de Desmond, sem precisar pedir permissão.

Cambaleante, um de seus homens despencou bêbado, e ela concluiu. Seguiu pisando sobre ele, e os homens se entreolharam, gargalharam e fizeram o mesmo. A ilha estava muito abarrotada de piratas.

A ilha havia se tornado um refúgio, e os bêbados caídos no chão dificultavam a passagem. Um lugar que Jack Loud ainda não havia encontrado, muito trabalho para esconder o caminho de Cratera. A movimentação nas embarcações ao redor demonstrava perigo para todos, mas o perigo também era um dos luxos dos piratas.

Quando ela entrou na caverna, caminhou um pouco mais e percebeu que os líderes do Clã, conhecidos como as Sombras, estavam sentados em seus tronos, observando sua entrada.

— Vanesey de Hert — disse o homem enrugado, levantando-se com dificuldades.

— Brendam — disse calmante Nesey.

Ele é o pai dos antigos. Sua palavra era válida, mas mais que a dos outros.

— Você é suas lendas, histórias repassadas e alteradas de filho para filho. Não acredito em sombras — ela pulou em direção à luz, que projetou a sua — somente na minha, que faz exatamente o mesmo movimento.

— Não ouse, Vanesey! Já foi o dia em que uma espécie ousada como você permanecia viva diante de mim — falou Bredam.

Vanesey percebeu que Bredam estava fraco, com ferimentos e escoriações no braço. Não era o mesmo homem que ela estava acostumada a confrontar, mas havia passado muito tempo, e pelo que ouvia dizer, Jack Loud agora era um problema para todos.

Vanesey pediu para os homens depositarem na frente de Bredam baús de oferenda.

— Estou surpreso, ou na verdade já esperava que fosse nos doar baús, um para cada um de nós.

— Mas não pode continuar, Nesey. Foi por isso que a chamamos aqui — falou a idosa ao lado de Bredam.

— Não estão satisfeitos? — perguntou com audácia, com as mãos na cintura.

— Jack Loud — falou Bredam.

Quando o nome foi pronunciado por Sofia, a idosa ao lado de Bredam, todos desanimaram de forma tão ridícula que Vanesey gargalhou.

— Estão com medo, é isso? Ouvi falar sobre ele, mas estava há muito tempo afastada de Desmond, quando recebemos a convocação.

De súbito, o pirata Reese se aproximou e tomou a garganta de Vanesey em suas mãos. Houve murmúrios, e seus homens ameaçaram lutar.

— Solte-a agora, Reese! — alertou o homem que se aproximava.

Vanesey empurrou Reese, que se virou para confrontar quem falou.

— Não preciso de sua ajuda, Hoope — ela sorriu — Velho idiota! Quer morrer, Reese Hert?

— Maldita, devia tê-la matado há muitos anos, quando era criança — gritou o homem.

— Basta! — disse Brendam.

— Seus problemas não me interessam — falou Sofia.

Ela o encarou, e Hoope estava ao seu lado.

— Esse é o problema, Vanesey, é desobediente — disse Hoope.

— Não vejo como desobediência, eu os agrado e assim que me recebem. Sempre com os mesmos questionamentos, mas se agradam com as ofertas de minha tripulação. Cada um coloca no baú nossas ofertas. O que mais de obediência se pode pedir?

Houve murmúrios entre os homens.

— Não. Apenas não sabe quem é o Capitão Loud — disse Hoope. — Muitos de vocês ouvem falar dele, mas não sabem do que ele é capaz. Trabalhamos para ele, para manter esta área limpa.

Ela debochou.

— Acha mesmo que ele não tem Cratera em seus planos? Eu mesma o faria. Estamos desprotegidos.

Qualquer embarcação que passe percebe a movimentação das embarcações. Cratera é um erro para reuniões. Eles sabem deste lugar, rodeado de história, mentiras! Besteiras. A verdade é que ele não se importa, mas sabe onde encontrá-los. Está usando Cratera como forma de domesticá-los.

— Ele é capitão do Rei Richard Henke, dizem que já executaram muitos piratas e corsários também — um homem do mar gritou em meio aos murmúrios.

— Tem medo por isso, Hoope?

Reese mirou no homem, atirou na perna dele, fazendo-o tombar, e os outros entenderam o recado.

— Deixe-me dizer o que vi... Quase morri diversas vezes por tentar confrontá-lo. Desmond não é nada para mim, Cratera é nossa origem!

Vanesey respirou fundo e encostou a arma na cabeça dele e ele gargalhou.

— Medo não é a palavra correta. Eu tenho receio de que ele descubra quem somos, onde estamos. Cratera é nosso lar.

— Ele tem nos perseguido, Vanesey, sem saber quem somos, mas você chamou sua atenção. Só este mês, usurpou dezoito embarcações, causando conflitos para Desmond em outros reinos. O que nos preocupa é você. Ele decidiu caçá-la pessoalmente.

Houve murmúrios entre os homens de Nesey.

— Deixe que ele venha, vou cortá-lo e entregar a cabeça dele a vocês.

Vanesey sorriu para a mulher que vinha em sua direção.

— Velha bruxa, Sofia.

— Passou tempo fora de casa e não mudou. Eu a vi quase morrer diversas vezes, antes de nos causar problemas, mas concordo em voltar para casa.

— É importante para nós. Rápida e esperta. Não podemos perdê-la, nem sei o porquê, mas minha visão mostra que, se se aproximar de Desmond, estará presa. É o fim para você. Não consigo compreender por que não vejo sua morte, apenas prisão — falou Bredam.

O silêncio tomou o local, e os homens de Vanesey se sentiram ameaçados com os olhares enraivecidos.

— Vanesey, conheceu Jenear? — perguntou Brendam.

Todos pareciam amargurados e com expressão de extrema decepção.

— Excelente pirata e péssimo para contar histórias — ela sorriu — Mas infelizmente um pouco louco, com essas histórias que lhe encheram a cabeça sobre Gaia e Cales.

— Loud o encontrou e levou à masmorra. Vai executá-lo em 15 dias.

Com o choque, ela se arqueou para o lado.

— Impossível! — disse.

Jeaner era um dos homens do mar mais sábios, brilhante em rotas de fuga, e com ele tinha uma nova rota de fuga e uma nova morada dos piratas para suas reuniões.

— Como acha que pode matá-lo, Nesey? — perguntou Hoope, em relação a Loud.

Vanesey sentiu a ameaça, pois até mesmo ela podia perceber o perigo a cercando naquele lugar, e a promessa dos corsários era essencial para reunir-se naquele local em segurança.

— Jenear não conseguiu. É o fim para ele. O pior é que somente ele tem o mapa de Gaia. A ilha de Gaia é o lugar ideal para nós piratas.

Hoope olhou para Bredam e Sofia.

— Estamos tentando acesso para pegar com ele o mapa.

Brendam ergueu as mãos.

— Vanesey, devia ordenar sua morte, mas não o farei. Já perdemos muitos.

Vanesey olhou para eles, não era seguro, não havia firmeza em suas palavras de não a eliminar, e sim a certeza de que devia permanecer em Desmond.

— Vou partir amanhã pela manhã e trazer ele de volta — avisou Vanesey.

— Não — disse Hoope. — Deixe que morra, temos problemas demais para nos preocupar com o mapa.

Vanesey olhou para ele, com sua roupa limpa e alinhada de cima a baixo.

— Brendam, quero autorização para partir, como capitã. Não tenho outra opção, não é por isso que me quer nesta ilha?

Eles se olharam e apontaram para Sofia.

— Sofia, é possível?

— Não consigo ver nada quando olho para ela, apenas um homem de olhos verdes — disse Sofia.

Hoope pareceu corar e balançou a cabeça negativamente.

— Ela não sabe nada sobre Loud. — Berrou Hert. — Eu estou no caminho certo. Eu o farei.

Bredam olhou para Vanesey.

— Jack Loud é filho de um velho bucaneiro que renegou suas origens. — Cuspiu no chão. — Cresceu orientado por ele, que não citamos mais seu nome por voto de Gaia. Nem ao menos sabemos a que clã ele pertencia, mais antigo do que eu e Sofia. Lembrando a todos que, quando um pirata renega a vida que levava, deve pular no mar revolto, com ondas fortes, e nadar. Se sobreviver, pelo pacto de Gaia, será como se estivesse morto. — Disse Bredam.

— Jack Loud tornou-se forte entre os comandantes. Conta-se que ele é um dos homens da Trindade de Henke, Rei de Desmond, descendente dos filhos, dos filhos da linhagem de Henke.

Vanesey parou de rir.

— Você ri dos que cruzam com ele, mas ele comanda uma galera de três mastros que pesa trezentas toneladas, equipada com vinte e oito canhões e capaz de atingir até treze nós de velocidade. Ele passou a caçar embarcações e capturá-las, com toda a sua carga, para torná-las servas do Rei de Desmond. Quem não obedecer, morre. — Disse Reese.

— Tola! — Falou um pirata que a encarava com fúria.

Reese o ameaçou com um olhar severo.

Vanesey se levantou, encarando-o. Sabia que aquele homem havia confrontado Loud e também sabia que sua embarcação jamais permaneceria intacta ao enfrentar uma galera.

— Muito bem, posso salvá-lo. Parto pela manhã. Vou buscar Jeaner, e partiremos para Gaia.

Brendam e Sofia se sentaram no trono.

— Não sei se posso seguir, estou ferido. — Avisou Bredam.

Ela bufou, sabendo que ele tinha razão.

— Quero ser capitã.

— Ousadia. — Disse Bredam. — Nem ao menos precisa de nossa autorização.

Ela sentiu o corpo arrepiar; finalmente descobria o que Flit e Flot escondiam dela, a verdade: ela era a única capitã naquela embarcação. Virou-se, batendo o pé esquerdo no chão, e colocou a mão na cintura, olhando para eles, mordiscando os lábios. Os homens pareciam aliviados, por ter menos capitães a bordo.

Ela, mesmo sem receber o título, os fazia obedecê-la.

— Deixe-a partir. — Disse Sofia. — Deixe que faça o que tem que fazer. Vejo salvação para ele, prisão para ela.

— Faça o que tem que fazer. — Falou Bredam.

Vanesey virou-se.

— Hert tem uma rival agora.

— E o que veremos, minha bela filha? — Ele se virou, gargalhando, e mesmo de longe seu cheiro podre deixou clara a satisfação de disputar a cabeça de Jack Loud.

O plano dela era eliminar e resgatar Jeaner.

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