CAPITULO I
- Doutora! Precisamos conversar - Disse Richard Kammer
- Tudo bem, mas eu não sou doutora, não tenho doutorado, sou psicóloga - Fez o favor de responder a Psicóloga Michele.
- Sente se em meu divã - Disse a Psicóloga Michele
- Agradeço - Disse Richard Kammer com gesto positivo com a cabeça
- Agora são nove horas da manhã, o dia está bonito, não está? - Pergunta a Psicóloga Michele
- Sim, está bonito, eu até dei uma volta no quarteirão antes de entrar. - Respondeu Richard Kammer sentado no divã confortável em frente a poltrona de couro da Psicóloga Michele
- Por que decidiu caminhar? Ficou em dúvida de vir? - Perguntou a Psicóloga Michele
- Não...quer dizer, sim, como eu havia lhe falado por telefone noite passada, eu não sei como reagir, então fiquei nervoso - Respondeu Richard Kammer meio atrapalhado
- Entendo perfeitamente, isso é mais normal do que se imagina, as vezes coisas tão bobas nos fazem sentir se estranho, o que de fato não é verdade pois é isso que nos torna únicos, e em nossa cultura, vemos que raridades tem muito mais valor - Explica a Psicóloga Michele, mexendo as mãos
- Sim, você tem razão! - Afirma Richard Kammer, nervoso
- Mas você me disse por telefone, em um tom até meio perturbador, sobre coisas estranhas que tem acontecido, estou certa? - Pergunta com convicção a Psicóloga Michele
- Sim...quer dizer, não, são coisas estranhas que eu faço, queria saber se é normal, tenho medo de perder o controle da minha mente - Como um fanático em filmes de psicopatas responde Richard Kammer
- O que por exemplo seria de tão estranho? - Pergunta curiosa a Psicóloga Michele
Em silencio Richard Kammer, com receio em responder à Psicóloga Michele
- Richard? Tudo bem? - Pergunta a Psicóloga Michele
- Sim está tudo bem, mas não sei se sou capaz de conversar sobre isso com alguém que acabo de conhecer - Lamenta Richard Kammer
- Mas ontem à noite pareceu muito sério Richard - Disse a Psicóloga Michele
- Eu sei, na hora parecia fácil, vejo que me enganei - Respondeu Richard Kammer
- Então já que está aqui, que tal deixar para lá, tudo que existe fora desse pequeno quarto cinco por cinco, te garanto que é a única sala que de fato você pode contar seus segredos e sair sem julgamento algum - Disse a sábia Psicóloga Michele
- Então - Disse Richard Kammer interrompido pela Psicóloga Michele que diz – Michele, me chame apenas de Michele -
- Está bem - Disse Richard Kammer
- Você dizia? - Perguntou a Psicóloga Michele
- Eu vou te dizer a verdade Michele, eu uso um balde na cabeça sempre que toco meu teclado - Nervoso respondeu Richard Kammer
Nervoso Richard Kammer, não consegue manter olhar fixo com a Psicóloga Michele, que fica em silencio por dez segundos observando a reação de Richard Kammer
- Richard, por qual motivo faz isso? - Pergunta delicadamente a Psicóloga Michele
- Bom, além de usar um balde, eu uso uma máscara também, é como se fosse um personagem real criado por um simples homem - Respondeu Richard Kammer em um tom calmo
A Psicóloga Michele levanta para pegar um copo de água, logo oferece para o Richard, que aceita. Se aproximando da janela do segundo andar, onde se encontra o escritório da Psicóloga Michele, onde atende os clientes, olha rapidamente para fora e logo se senta na poltrona em frente a Richard.
- Você usa uma máscara e um balde na cabeça? - Pergunta Michele
- Não acha ridículo ou até mesmo falta de criatividade? - Perguntou Richard Kammer, de certa forma aliviado
- Pois bem Richard, o que temos aqui, você está preocupado com opiniões alheias? - Perguntou a Psicóloga Michele
Em silencio, por aproximadamente longos 5 segundos, Richard Kammer responde – Sim...quer dizer, não, eu apenas preciso saber como sou visto -
- Por que é preciso? - Perguntou curiosa a Psicóloga Michele
- Assim poderei me enxergar em outra pessoa - Respondeu Richard Kammer, em um tom onde suas esperanças estão no fim.
Michele então olha para seu relógio, ainda resta cinquenta minutos, fica em silencio, e Richard nervoso, pensa para si “Será que ela quer que acabe logo? Quando ver não existe nada de estranho mesmo”
Então Michele pergunta sobre a família de Richard Kammer, que respondeu ser só
- Meus familiares se perderam em um acidente cósmico, assim digamos - Disse Richard Kammer
- Eu moro só em uma casinha, cerca de vinte minutos daqui do centro - Continuou Richard
- Como se sente com a solidão? - Perguntou a Psicóloga Michele
Em silencio por longos cinco segundos, Richard responde com lamento e gloria, mas atrapalhado como sempre – Sim...quer dizer, não, sabe, muitas vezes eu gosto e acabo fugindo das pessoas e de possíveis relacionamentos, tudo para não perder a solidão, mas eu sempre sinto falta de alguém, mesmo eu sendo demisexual
- Quando você descobriu que era demisexual? - Perguntou intrigada a Psicóloga Michele
- Acho que eu sempre soube, só não sabia que existia uma palavra - Respondeu Richard Kammer em tom baixo
- Richard, sua diferença sexual não é estranha, você tem princípios, você tem desejos e não apenas vontades.
Eu diria que você está muito longe de ser um animal, o que a maior parte da população é, no sentido irracional - Disse a Psicóloga Michele, explicando e continuou a dizer...
- Por esse motivo, você acha certo se afastar das pessoas, viver isolado, pois é difícil achar uma combinação perfeita como um balde e uma mascará – Tentando encaixar as peças em um tom explicativo, e até em certo ponto, confortável aos ouvidos de Richard.
- Sim você tem razão, mas do que adianta eu saber essas coisas se ainda assim continuarei a fazer? - Questionou Richard Kammer deitado no divã
- Bom, você tem razão Richard - Disse a Psicóloga Michele, meio misteriosa
- Vamos fazer uma pausa, que tal jogarmos um joguinho para quebrar o gelo - Acrescentou a Psicóloga Michele
- Pode ser - Respondeu Richard Kammer
Em uma mesa pequena que fica entre a poltrona e o divã, Michele pegou um tabuleiro de dama e desafiou Richard Kammer para uma partida.
- Escolha entre as brancas ou pretas? - Disse a Psicóloga Michele
- Pretas - Escolheu Richard
Ambos organizam as peças e montam no tabuleiro, o jogo está preste a iniciar, a uma cruzada de olhares, certa rivalidade, como Richard havia escolhido a cor das peças, a Psicóloga Michele decidiu iniciar a partida.
O jogo se desenvolve rápido, Richard não demora muito e consegue fazer jogadas rápidas e precisas, e após alguns instantes, vence a partida contra a Psicóloga Michele
- Bom jogo, vamos mais uma? - Disse Michele, querendo revanche.
O tabuleiro é organizado novamente, o jogo inicia com a Michele, que muda sua tática, claramente é visível que surpreendeu a Rich
- Então Richard, como é sua experiência amorosa? - Perguntou a Psicóloga Michele durante o jogo
- Sim, já estive em um relacionamento sério por mais de três anos, e antes, um namoro rápido de duas semanas.
Então minha experiência está bem próxima do zero - Com lamento respondeu Richard Kammer, concentrado no jogo de damas.
- É algo fascinante Richard, não há do que se envergonhar, não há do que se proteger, o fato de ser demisexual te deixou mais ligado com cada pessoa em si, você está no controle de escolher, com uma sabedoria que vai além da escolha por beleza, é preciso uma conexão, essas duas garotas que passaram por mais de um dia na sua vida, como você vê a experiência com elas comparado a ser demisexual? - Em um tom explicativo respondeu a Psicóloga Michele que logo questiona Rich
- Uma eternidade! - Afirma Rich com risada e um sorriso no rosto
- Então você acha que precisaria de mais “eternidades”? - Perguntou Michele, sorrindo
- Você tem razão! - Disse Richard Kammer
- Tenho e acabei de ganhar a partida! - Respondeu Michele, com risadas
Então Michele recolhe o tabuleiro e guarda novamente, sentada a poltrona, pergunta a Richard por que do jogo de damas?
- Uma pausa? - Respondeu Rich- Richard, na primeira partida você ganhou após eu usar uma tática que sempre usei em minha vida, o que claramente muitas pessoas fazem igual, porém na segunda rodada, você usou uma tática parecida a qual tinha usado na primeira partida, mas eu mudei, eu usei a tática do momento.
Analisei sua jogada e possibilidades, mesmo arriscando de certa forma, uma das possibilidades vista, deu certo - Explicou Michele
- E o que isso quer dizer? - Questiona Richard
- Suas peças eram as pretas, você não poderia muda-las, mas podia faze-las escolherem um caminho diferente, como se você fosse o gigante o Deus das damas, e as damas seu exército - Disse a Psicóloga Michele, em um tom explicativo continuou...
- Sua escolha de relacionamento mesmo tendo uma cor usando o exemplo da dama, pode pegar um caminho diferente.
Analisa como as possibilidades de jogadas e como linhas do tempo, onde você possa ver o que irá acontecer tantos movimentos a frente, siga um, e não tenha medo, isso é viver - Afirma a Psicóloga Michele, em um tom feliz e explicativo
- Mas para mim isso se chama de o mundo subatômico - Disse Richard, louco
Após, Michele e Richard ficam em silencio, por longos trinta segundos, quando Rich questiona
- Como saber qual possibilidade arriscar? -
- Jogue com o momento Richard, táticas antigas, deixe apenas para lembranças, inove, seja o novo para alguém e busque o novo para si.
Mas sempre mantenha firme quem de fato você é, e o que gosta de ser - Respondeu a Psicóloga Michele, muito sábia
- Então troque de máscara e balde - Acrescentou a Psicóloga Michele depois de alguns segundos em silencio
- Mas Michele, não é só isso - Disse Richard
- O que mais Richard? - Perguntou Michele
Após alguns segundos em silencio Richard finalmente responde
- Eu também gravo vídeos onde estou tocando teclado, e pior, tudo ao vivo na plataforma - Disse Richard Kammer em um tom de alivio
- Mas Richard isso é legal, o que tem de errado ou estranho? - Questionou a Psicóloga Michele que já não entendia mais nada
- O estranho é que eu me assisto depois, diversas vezes ao dia - Acrescentou então Richard Kammer
E após o fim da fala, Michele com leves expressões de surpresa, fica em silencio, enquanto Richard nervoso, não sabe o que fazer.
- Richard, o que você acha sobre essa revelação? - Pergunta a Psicóloga Michele
- Eu não sei - Responde Richard em tom de lamento
- Richard, tem alguma coisa a mais que você queira me contar?
Às vezes temos que fazer a hora certa e não depender apenas do tempo. - Disse Michele questionando Richard
- Você tem razão - Respondeu Rich
- Eu também gosto de filmar sexo, e me ver atuar - Acrescentou Richard, destemido
- Com o personagem Richard? - Perguntou curiosa a Psicóloga Michele
Rich fica então em silencio, não respondendo à pergunta que lhe foi feita, e após aquele silencio interminável de quase trinta segundos, Rich inicia em tom baixo, mas sábio, cauteloso e com firmeza.
- Michele, entendendo essas três coisas que faço e da maneira que sou em relação as pessoas, mesmo não sendo algo tão horrível.
Quais são minhas possibilidades? Quais peças devo jogar? - Continua Richard Kammer ao sentar no divã
- Como devo guiar meu exército de damas? - Acrescentou Richard Kammer ao deitar no divã
Acostumado com o silencio, Richard pensa em sua noite anterior, que estava praticando o que, e como falar hoje com sua psicóloga, mas chegando no local, não conseguiu se expressar corretamente.
Deixando as conversas meias confusas e filosóficas.
- Richard, sempre há uma possibilidade a mais da qual a que vivemos, ou seja duas escolhas - Disse Michele que continuou...
– Então mesmo apreciando a vida de forma diferente, você tem esse próprio caminho que escolheu quando ainda ia para escola com a mãe ou pai - Acrescentou a Psicóloga Michele em um tom explicativo
- Então eu fiz escolhas erradas quando ainda era criança? - Questiona Richard
- Não escolhas erradas, você seguiu cada vez mais para um caminho diferente, ou simplesmente esse caminho surgiu em sua vida? - Responde, se explica e questiona ainda mais, a Psicóloga Michele
- Sim você tem razão, eu me lembro de começar somente com a máscara, e isso foi a alguns anos atrás.
Como posso parar a evolução dessa diferença? - Espantado, se retorceu no divã e respondeu Richard.
Em silencio Michele, ao pensar na resposta de Richard, lembra de sua própria vida e então após aqueles dez segundos responde – Não trate diferente a diferença de algo único e diferente que de fato não faz mal a ninguém, trate como uma peça de teatro, um show de música, onde você é o personagem principal e precisa atuar - Disse Michele em um tom de filme de Hollywood
- Richard, atue! Se divirta! Você tem um dom que muitos queriam ter!
Sabemos que todos temos um personagem escondido, mas a maioria de nós não consegue dar essa vida que você deu ao seu, além de se expressar de uma forma admirável, isso é magnifico ao meu ver como psicóloga, então vejo muitas possibilidades, e na sua visita semanal posso clarear essas possibilidades para você - Acrescentou Michele em um tom admirável
O tempo logo está se acabando, Richard ainda não sabe como mudar sua linha do tempo tendo tanto em incomum com o resto da sociedade.
- Eu sei que posso ser uma pessoa melhor e entender as coisas estranhas que faço na privacidade da minha vida, há possibilidades, e eu as vejo Michele!
Porém nós dois sabemos que não existe em nossas vidas uma linha do tempo diferente a qual nos foi dado, eu realmente posso mudar as possibilidades da minha vida, mas o momento que eu envolver outras vidas, eu já não tenho mais visão de possibilidades ou o controle da situação. - Respondeu Richard Kammer, sem esperança e em um tom triste
Em silencio Michele, pensa sobre a própria analise de Richard Kammer
- O que te preocupa Richard? - Pergunta a Psicóloga Michele
Em silencio aproximadamente por dez segundos, Richard Kammer responde em um tom baixo e triste;
– A solidão Michele, a solidão. –
- Você tem medo? - Questiona Michele
- Eu não sei, acho que tenho medo de envelhecer, a vida parece ficar mais difícil cada ano, a solidão aumenta cada ano, então o que me resta no futuro? Seguindo as estatísticas que minha vida tem, o futuro é assombroso - Responde, questiona Richard Kammer
- Você havia dito antes gostar da solidão, o que significa gostar da solidão para você? Se ela lhe dá medo - Pergunta a Psicóloga Michele
- Eu vou te contar uma história real Michele, rápida e curta. - Disse Richard Kammer
- Está bem - Respondeu Michele
- Quando eu tinha apenas um dia de idade, eu fui um bebê bem recebido e amado, não há dúvidas, um bebê inocente e fofo!
A qual havia padrinhos para todos os lados - Disse Richard Kammer em um tom misterioso
- Seis anos depois, foi quando eu senti a primeira vez de verdade a solidão comigo, em forma física totalmente escura - Acrescenta Richard Kammer
- Uma entidade? - Pergunta Michele
- Talvez - Responde Richard Kammer
- Assim, como um bebê, eu acolhi a solidão, as pessoas a minha volta sem saber, me ajudaram, a acolheram também, um bebê saudável e amado por todos.
Desde então meus dias começaram a ficar mais solitários e vazios, não por escolha própria, as coisas na volta, foram acontecendo como que já programadas, para me prender nos braços da solidão, de certa forma eu gostava, eu brincava sozinho, e com qualquer coisa, como por exemplo de luta com moedas, onde o chefão era a moeda de um real, mas o tempo passava, e o tempo me obrigava a crescer, eu não estava preparado, então brincava escondido - Com risadas termina Richard Kammer
- Entendo sua história Richard, mas não entendo o que você quer dizer - Disse a Psicóloga Michele em tom de duvida
- Michele, a solidão cresceu, ganhou força, ficar sozinho sem ter alguém para m****r um simples bom dia por mensagem ou ao menos receber um simples bom dia de uma pessoa amada, é algo que assusta se o sentido da vida for viver em sociedade - Disse Richard Kammer em um tom teatral e triste
- Entendo - Disse Michele ao ouvir atentamente Rich
- Além de você julgar algo desconhecido - Acusa Richard Kammer
- Como assim Richard? - Questionou Michele
- Ser um demisexual não é fácil, ter sentimentos profundos por uma pessoa que não sentira o mesmo.
E de certa forma eu tenho uma habilidade especial - Responde Richard Kammer aliviado
- Desculpa Richard, eu agora posso entender o que é de fato ser demisexual, ouvindo suas palavras, mas que habilidade especial você tem? - Se desculpa e pergunta Michele e em tom de curiosa mesmo
- Não sei afirmar se é um dom ou uma maldição, mas minha sensibilidade é extremamente aguçada, como os ouvidos de um cachorro - Responde Richard Kammer
Michele então pensa para si “Não seria essa a palavra, mas é algo interessante” e então pergunta – Poderia me explicar? -
- Eu sinto tudo mais rápido que qualquer outra pessoa normal, eu sinto tudo dez vezes mais que qualquer pessoa normal - Responde filosófico Richard Kammer
- Simplifica mais um pouco - Pede a Psicóloga Michele
- Eu posso conhecer uma garota hoje, e posso ama-la profundamente amanhã, e esse amor pode ser maior que o infinito - Disse simplificado e direto Richard Kammer
- Realmente é algo para se pensar se é bom ou ruim, você me parece gostar - Disse a Psicóloga Michele
- Há muitas coisas boas na vida, no mundo e na natureza, que é incrível sentir dez vezes mais.
Mas quando chego na sociedade, quando atravesso os muros que nos impede de sair, sempre sinto o lado ruim dessa habilidade, seja ao conhecer uma pessoa, ou simplesmente vê-la, as emoções são muito fortes, e dolorosas - Com lamento encerra Richard Kammer
A psicóloga Michele fica em silencio e pensa sobre o argumento de Richard, sua visão das inúmeras possibilidades de Richard diminuem drasticamente conforme o tempo vai passando e melhor Michele vai conhecendo Richard.
- Eu vejo que há muitas dores em você Richard, e me parece também que você as conhece bem - Disse Michele em tom de lamento
- Entendo como ser diferente possa ser difícil e tudo que façamos é só aumentar o ego nos tornando soberbas, por que de fato nunca faremos parte daquele grupo de pessoas a quais queremos estar perto - Acrescentou a Psicóloga Michele em um tom explicativo, pausadamente, mas com muitas expressões faciais
- Entender tudo de fato é importante, mas ainda não vejo possibilidades, tudo que eu preciso é ser visto, mas por alguma razão as pessoas não me enxergam - Respondeu Richard Kammer em um tom triste, mas com dúvida sobre seu destino
Michele fica em silencio, observa Richard, suas expressões e gestos, e pergunta – Mas o que você quer de fato Richard? –
- O que de fato eu queira? Apenas alguém que queira me ver, alguém que goste de ver o que de fato eu tenho a oferecer ao mundo, que esteja presente em cada momento especial que acredito que eu possa ter - Disse Richard em um tom triste, mas esperançoso
- Quero poder ir em uma festa e me divertir igual todas as pessoas da minha idade, quero poder chamar amigos para passar junto meu aniversário, quero poder tocar para meus amigos e dedicar canções a eles, e marca-los nas redes sociais - Acrescentou Richard, animado
- Quero poder dividir a visão do pôr do sol com meus amigos, quero poder abraçar nas noites frias a minha bela namorada, assim como você faz em sua vida Michele.
O que de fato eu nunca tive - Termina Richard Kammer em um tom triste
- Certamente por sermos de sexo oposto temos diferenças, em relacionamentos as mulheres têm mais facilidade e poder de escolha.
Mas o homem por outro lado tem mais sucesso na vida profissional do que uma mulher - Disse a Psicóloga Michele, que logo é interrompida por Richard Kammer que levanta do divã dizendo – Sexo oposto! Não raças diferentes! Tudo que o Homem fez foi entreter a solidão, por isso se esforçou tanto ao ponto de ir para lua, um feito incrível a uma civilização comparado ao tamanho Deus cosmo. –
- Mas Richard nesse ponto de vista você estaria acusando uma raça consciente inteira, você está sendo de fato opressor, eu não estou lhe entendendo - Disse Michele sem muita paciência
Richard então senta se novamente, e pensa para si “Então achei o paciente zero” e entendendo que seria impossível mudar o rumo da infelicidade da sua vida, Richard pensa em se desculpar, mas antes que possa falar, Michele, paciente e em um tom explicativo diz – Se a causa do mal que te rodeia desde criança, é de fato essa, se você crê em uma realidade onde o motivo do homem conquistar o mundo é por causa de uma mulher, realmente é necessário mais sessões para entendermos como podemos trabalhar em cima dessa visão e traze-la a esse momento, a essa realidade, mesmo que a forma como detalhou um problema, seja incrível e tanto discutível nos estudos do comportamento humano. -
Richard fica em silencio, deita se novamente no divã e pensa – Não é isso que eu queria ter dito, me expressei errado novamente, eu apenas queria poder não ter um destino selado, e poder viver como um homem normal da época. - Michele olha para seu relógio no pulso direito
- Infelizmente nosso tempo está acabando Richard, antes eu preciso entender uma última coisa sobre esses três pontos cruciais em sua vida - Disse Michele curiosa sobre seu possível paciente
- O que seria? - Desanimado disse Richard Kammer
- Por que você gosta da solidão? - Direta, pergunta a Psicóloga Michele
Em silencio, Richard senta se ao divã, e responde para Michele...
- Desde sempre Michele, a solidão esteve comigo, de fato me viu crescer, quero dizer, esteve lá quando eu passei pelo primeiro ano do ensino fundamental, esteve comigo em minhas tardes só em casa na minha pré adolescência, dias que eram intermináveis, e por mais tempo que possa ter passado eu não esqueço de como eu me sentia ao acordar sem vontade de continuar vivendo em um mundo onde eu tenha que criar um mundo paralelo para poder sonhar em viver as coisas básicas da vida - Com muito lamento termina Richard Kammer
- É confuso, mas eu acho que entendo suas palavras - Disse a Psicóloga Michele em tom de consolo
- Eu sei muito bem que não foi a solidão que me afastou das pessoas, e sim as pessoas se afastaram de mim, ao mesmo tempo que eu me afastava delas, então eu tive que criar um refúgio, e talvez a aparição na minha infância, fosse uma consequência do futuro, levando em conta que o tempo não existe - Disse Richard Kammer, em um tom totalmente sem esperança, como alguém que jogou a toalha e ao caos se rendeu.
Chegando no fim, marca dez e quinze da manhã, o dia está nublado, com pouco movimentos nas ruas, algumas lojas recém abrindo.
- Entre em contato comigo Richard, não podemos mudar o passado, mas de alguma forma e com uma orientação profissional adequada, podemos mudar e ao menos lhe dar um futuro estável - Disse a Psicóloga Michele, em um tom esperançoso
- Certamente eu irei pensar, espero não precisar te ligar Michele, pois sabemos que seus serviços só são procurados quando a pessoa do outro lado, está em conflito com si próprio e com a sociedade, e por mais admirável que você possa ser, eu ficaria feliz de nunca mais vê-la, aqui nessa sala.
Mas sinto que logo estarei aqui, e já deixo adiantado, eu sinto muito pelas loucuras do meu cérebro. – Termina Richard Kammer.
CAPITULO II - Então estou aqui novamente – Comentou Richard Kammer - Tudo bem Richard, vamos do princípio, me conte novamente o que o trouxe aqui – Solicita a Psicóloga Michele - No princípio tudo era escuro...- Diz Richard, mas é interrompido pela Psicóloga Michele que diz – Richard, vamos do princípio da sua última sessão, em diante, o que fez nesse tempo, desde o momento em que saiu daqui semana passada. – Simpática - Ah, sim, claro! – Diz Richard atrapalhado e continua... – Quando sai daqui aquele dia, eu só conseguia pensar, o quanto eu não consegui me expressar doutora – - Por favor Richard, pode me chamar de Michele, quando eu tirar meu doutorado, farei questão de que me chame de doutora, mas até lá, apenas Michele, está bem?! – Solicita Michele, educada e gentil, com algumas risada
CAPITULO III Muitas pessoas para evitar a real solidão, decidem adotar algum animal de estimação. Richard também havia tentado, mas os seres vivos não pareciam gostar dele. Richard tentou ter um gato, mas o gato se enfurecia toda vez que seu dono se aproximava. Richard tentou ter um cachorro, e acabou levando três injeções por causa da mordida de seu cão. Richard tentou ter um passarinho, mas o mesmo o bicava toda vez que tentava colocar comida e água. Todas as tentativas de Richard de evitar a total solidão, se esgotaram. No fim Richard teve que confrontar e aceitar sua real situação. Vivendo sozinho, Richard limpa, cozinha, lava, ocupando seu dia, e sua mente. Mas as tarefas domesticas, Richard termina no máximo em duas horas, o deixando livre o resto do dia, com a cabeça desocupada, pensando e refletindo. Assim foram passando os di
CAPITULO IV - Bom dia! Michele, estou aqui novamente – Disse Richard, entrando no consultório da psicóloga Michele, um pouco abatido, com olheiras, e o cabelo um pouco bagunçado. - Bom dia! Richard, enfim mais uma semana passou, e você está aqui, eu estava um pouco ansiosa para conversar com você Richard – Saúda Michele, e diz em um tom gentil. - Mesmo? Porque? – Pergunta Richard, um pouco espantado - Gosto de você Richard, você é meu paciente, me parece ser uma boa pessoa, mas me diga como foi sua semana? – Respondeu Michele, naturalmente, se sentando em sua poltrona. Richard já havia sentado, e disse ter sido uma semana igual as outras. Sem prolongar muito. - Estou um pouco nervoso? Mas por que eu estou um pouco nervoso? Eu já á conheço, já estive aqui outras duas vezes, não era
CAPITULO V Chegando no seu consultório, estacionou seu carro, e subiu até o segundo andar, pelas escadas pensava nos seus afazeres ao longo do dia. E para sua surpresa, Richard não estava. - Pois bem, assim terei tempo de dar uma organizada no consultório – Positiva Pensava Michele, porem desapontada. Mas o jeito seria esperar até as oito horas, que bateria em exatos 41 minutos. Michele organizou alguns documentos, papeis para lá, papeis para cá, tirou o pó de alguns objetos, arrumou as almofadas, sacudi-las, afofa-las e as colocaste de volta. Ajeitou a posição da sua poltrona, da sua escrivaninha, e do divã, e então olhou ao seu relógio, e apontava 07:23, havia se passado apenas quatro longos minutos. Michele sentou-se, respirou, levantou e decidiu tomar uma xicara de café, ao adoçar com açúcar, pensou – Não
CAPITULO VI Havia muitas coisas na cabeça de Richard Kammer, tentou dizer, sobre a descoberta que a comida faz ao cérebro humano, sobre o que o sono faz, e dizia não ter dormido. Pois assim despertaria sua esperança, assim como comer. E o atrapalharia hoje, o dificultaria a se expressar. - Eu quero estar no controle Michele, quero ver a realidade como ela é, e gostaria que todos vissem, pois veriam o quão animais irracionais estávamos sendo, agindo como verdadeiros animais irracionais. – Explicou Richard Kammer, em um tom de lamento, mas com toda certeza. Michele ficou em silencio, tentou juntar os pontos, e montar o quebra cabeça que Richard dizia, mas estava muito confuso, e depois de trinta segundos, Michele decidiu. - Richard, você não comeu? Não do
CAPITULO VII - Você trouxe assuntos muito complexos Richard, acredito que finalmente conseguiu se expressar da forma a qual gostaria de ter se expressado desde o começo de nossas sessões. Mas tudo que você me disse não se aplica no mundo moderno que vivemos hoje. Mesmo que você tenha ido tão longe nos seus pensamentos, ainda há tempo de voltar e fazer as coisas certas para poder ter uma vida estável e tranquila no futuro. Você precisa começar de um ponto, terminar o que não terminou, como o colégio, dessa forma poderá estudar e ingressar em uma faculdade ou curso superior, para conseguir um emprego melhor a qual não exija tanto do seu tempo, já que o preza muito. O caminho pode ser longo, mas com um passo de cada vez você terá a certeza que chegará do modo correto sem dar chance ao regresso. Suba um degrau por vez, dessa forma não irá cair, pensa como se sua vida fosse uma enorme escadaria, você chegará ao topo no seu devido t
CAPITULO VIII O tempo pode ser muito generoso, mas ao mesmo momento, o tempo lhe cobra algo que todo ser vivo tem em comum, a vida. A vida passa diante de nossos olhos como que em diversas repetições, rotinas e afazeres, muitas vezes nem nos damos conta que o dia passou, que a noite chegou, ou que o sol nasceu no Leste mais uma vez. E por mais generoso que o tempo possa ser, ele jamais deixará de passar, e de cobrar a vida plena que você vive, que nós todos temos. Um dia nascemos enrugados, e conforme nosso crescimento, a pele estica nos dando aspecto de jovens, corpos cheios de energia, órgãos em pleno vigor, como se esse momento fosse durar para sempre, porém conforme o tempo passa, e nosso crescimento aumenta, envelhecemos sem parar, e nossa energia e vigor, já não é a mesma. Por alguns anos, sentíamos que poderíamos tocar as estrelas e nada poderia nos parar, mas isso mu
CAPITULO IX Por fim a vida de Richard Kammer nunca tomará o rumo que desejasse, mas a compreensão dos fatos, foi o principal aprendizado para seguir sua vida louca, da melhor maneira possível. Os dias passaram, e o dia de se consultar com a psicóloga Michele chegou, o relógio marcava nove horas da manhã, quando Richard bateste na porta. Gentilmente Michele o atende, com um sorriso no rosto ao ver Richard Kammer. - Como está Richard? Vejo que seu cabelo está molhado, isso é um sinal que voltaste para casa, isso é bom! – Diz Michele se sentando em sua poltrona - Sim, acho que estou melhorando de certa forma, eu entendi muitas coisas desde nossa ultima sessão, voltei a visitar minha mãe, acho que isso é uma coisa boa – Respondeu Richard, se sentando ao divã - Isso é muito bom Richard, fico f