Stephen parou o carro próximo ao prédio em que Serena morava. Ajudou-a a abrir o cinto, debruçando-se sobre ela. A proximidade dos corpos trouxe um súbito calor em seu rosto. Tocou-lhe a barriga, cuidadosamente.Quando a mão de Serena colocou-se sobre a dele, sentiu uma emoção indefinida. Sorriu para ela, com ternura, e mal percebeu que seus lábios se aproximavam.O roçar suave de lábios durou pouco. Stephen afastou-se, parecendo embaraçado:— Desculpe, Serena. Acho que é a força do hábito.Serena sentiu o peito enregelar. Se Stephen pedia desculpas por um beijo, eles não estavam juntos. Não eram um casal.Não havia sido desculpada.Provavelmente ele nem a amava mais.Antes que pudesse explodir em lágrimas novamente, saiu do carro correndo e entrou no prédio, sem olhar para trás.Não ia mais pedir desculpas, implorar pelo perdão. Podia ter errado, mas não iria rastejar por um homem, mesmo que o amasse.****Serena estava enroscada na cama, alheia ao barulho que os amigos faziam na sal
Serena tentou sair de cima de Stie, mas ele a segurou com força.— Eu não a odeio, Serena. Mas não posso negar a decepção, a raiva que senti. Você pode me culpar por estar ressentido?— Não poderia — ela respondeu-lhe, triste.Ele continuou: — Apesar disso não vou deixá-la só, nem desampará-la novamente. Esteja certa disso. Não vou me afastar, mesmo que você insista. Entendeu?Ela assentiu, lentamente.Forçou seu corpo contra o de Serena, atraindo mais sua atenção, e ela sacudiu a cabeça. — E você ainda me afeta. Em muitos sentidos. Percebe?Sim, ela percebia. Mas ainda estava em estado de choque por tudo que estava acontecendo, e não conseguia entender o que aquilo podia realmente significar, se era algo bom ou mau.Largou-a, enfim, e ambos levantaram.— Vamos tentar manter a paz, baby. Não pode ser tão difícil. E e desculpe por... por ter partido para cima de você, daquele jeito.Ela assentiu.E esteve a ponto de perguntar se eram ou não um casal, mas se calou.Foram para s
Stephen mal conseguira cochilar após o desfile que varara a madrugada e lá estava ele, pronto para sair novamente. Contendo um bocejo, olhou o grupo animado a sua volta. Lúcio nem parecia ter ingerido bebida alcoólica em demasia, várias noites seguidas, e passado a última em claro.Sua filhinha, Bia, fantasiada de havaiana, era o símbolo da empolgação infantil. Ana, usando um arco com antenas e camisa com uma fada desenhada, estava risonha como Stephen jamais vira, e por fim, Serena, com uma blusa florida e soltinha que ocultava a barriguinha que já despontava, resplandecia de animação. O empresário esfregou o rosto mais uma vez, procurando ocultar o mal humor e a preocupação. Não pretendia ser estraga prazer, mas perguntou:— Lúcio, tem certeza que esse bloco que você quer seguir é adequado para uma criança pequena como a Bia? E para uma gestante? Vi na televisão ontem que no Centro da cidade estava muito cheio, as pessoas se empurravam e a polícia estava tomando conta de várias cria
Stephen havia despertado àquela manhã admitindo que casar-se com Serena era o que devia fazer. A decisão correta e ética. E ter a gata de novo em sua cama era um bônus extra. Ótimo bônus.Tinham que recomeçar.Do zero.Quando um folião mais animado pegou Serena pela cintura e cochichou algo em seu ouvido, Stephen teve a certeza que sua decisão atual era a acertada, e que sua raiva estava se esvaindo mais rápido do que esperava. Fingindo um bom humor que nem de longe sentia, aproximou-se e repousou a mão de forma possessiva no ombros de Serena, afastando-a do homem sorridente ao seu lado.— Acompanhada, amigo. — O pateta não via que estava tentando paquerar uma mulher grávida?O homem assustou-se e pediu desculpas, afastando-se rapidamente para o mais longe possível. Não se deixou enganar pelo sorriso de Stie, nem por seu tom de voz tranquilo. Seu olhar deve tê-lo alertado. Bom.E Serena não pareceu se incomodar com a intromissão, o que era excelente sinal. Talvez aceitasse o fato que
Eles encontraram Lúcio, Ana e Bia apenas para se despedirem rapidamente e entrarem no carro, rumo ao apartamento no Leblon. Foi difícil para Stephen manter as duas mãos no volante. A esquerda queria seguir a direita e acariciar também a parte interna da coxa exposta de Serena, no banco ao lado, e passear perigosamente na área de sua virilha.Na garagem do prédio a febre do desejo que o casal sentia começou a alcançar a altos picos de temperatura, apimentada por apalpadelas mútuas e provocantes. No elevador, ignoraram a pequena câmara de circuito interno e continuaram envolvidos em preliminares que os estavam incendiando, até enfim verem-se deitados no sofá da sala de Stie, fazendo malabarismos para livrarem-se urgentemente de suas roupas.Stephen só voltou à razão quando ouviu o gemido de Serena, por baixo dele. Apoiando-se nas mãos, ergueu o corpo com presteza, mantendo suficiente distância para encará-la.— My God, eu a machuquei! — Stephen estava com os olhos arregalados, horroriza
Foram duas semanas estranhas e difíceis. Falar com o padre João sobre o casamento apressado e a razão deste, havia sido mais fácil do que Serena esperava.O pároco era um homem amigável, e sua paróquia possuía muitos jovens. Estava habituado a ouvir muitas confissões sobre pecados da carne, e não julgava mal seu rebanho, embora isso não significasse aprovar suas escolhas, se elas quebravam as normas bíblicas estabelecidas. Com bondade ouviu Stephen e Serena, não condenou seus atos, e ainda deixou o casal bem à vontade para escolher a data e horário para seu enlace, segundo a disponibilidade da igreja. E felicitou-os calorosamente pelo bebê, convidando-os a voltar a frequentar as missas, imediatamente. Com os pais de Serena não foi tão simples. O pai teve uma reação áspera à notícia da gravidez, e à mãe se encheram de lágrimas os olhos, embora, Serena suspeitasse, fosse mais pela emoção de saber que seria avó em poucos meses do que pela perda da suposta virgindade da filha. Porque do
Ele sabia que algo estava errado. Havia conseguido superar a frustração que sentira quando Serena negou-se a mudar-se para o apartamento do Leblon antes do casamento, dando a desculpa de que ficaria sozinha durante o dia todo lá, enquanto que em Vila Isabel teria a companhia das amigas. Tudo bem. Stephen relevou. Como não poderia? Pressentiu uma discussão se insistisse. E já haviam discutido o suficiente antes, o que definitivamente não podia ser saudável para seu filho.Gui havia lhe avisado que as mulheres grávidas ficavam mais sensíveis. Felizmente Serena não ficara agressiva. Mas estava muito calada e era impossível ignorar seus olhos tristes. No entanto, quando ele perguntava sobre como ela estava se sentindo, Serena se esquivava, evitando conversar, alegando não existir qualquer problema.Stephen não podia negar que era muito cômodo acreditar no que ela dizia, e deixar o assunto de lado, quando já tinha tantas preocupações com seu trabalho, e com a correria para os últimos ajust
Enquanto ele observava Serena, sua paixão, sua vida, ouvia agora a voz de Lipe, cantando uma canção brasileira sobre a necessidade de amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Era isto mesmo. E admirar aquela mulher, a “sua” mulher, com seu filho no ventre que já se destacava, “seu” menino, como o médico informara no dia mágico em que acompanhara Serena para fazer as ultrassonografias de praxe, dava-lhe um orgulho de macho, absolutamente ancestral.Sentira o coração transbordar naquele momento, certamente como sentiria se ao invés de avisar “É um cavalheiro”, o doutor houvesse informado “É uma dama!”. Não era o sexo da criança o mais importante, mas sim o fato de ver o bebê se mexendo pela tela, de ter a verdadeira e real noção de que afinal de contas, ele e Serena haviam gerado um outro ser vivo! Era fantástico! Um milagre!E a moça sentada na cadeira era um milagre à parte, também. Ela o havia amado, o aceitado, e gerava seu bebê mesmo achando que havia sido traída e abandonada.