Acordei com uma dor de cabeça terrível. Sempre acordava com enxaqueca; a médica disse que isso é normal na gravidez, então a única coisa que posso fazer é suportar.Olhei para o lado, Felipe ainda dormia. Pensei em acordá-lo, mas ele estava tão lindinho dormindo... E um dia atrasado naquele lugar onde ele "trabalha" não importa. Ele realmente precisa descansar.Às vezes, me dá tanto medo do que pode acontecer. Esse inimigo que quer destruí-lo a qualquer custo pode tentar algo contra ele. Eu não suportaria perder a única pessoa que já me amou de verdade na vida, não pelo que eu tinha, mas sim pelo que sou.Tomei minhas vitaminas, lavei o rosto e acariciei o rosto do meu amor. Sua barba roçando em minha mão, não havia sensação melhor. Às vezes, bate uma insegurança sobre como será meu futuro com Felipe. Não sei se sempre será flores, a única coisa que tenho de garantia é o amor que ele diz sentir.— Manu. - ele acordou. - Que horas são essas? Caramba, eu me atrasei.— Lipe... Você preci
FelipeCheguei na biqueira e já encontrei os moleques todos na porta, fumando e conversando.— Essa porra tá tudo desordenado! Eu pago quase uma fortuna pra vocês, e vocês ficam de bobeira na calçada fumando?— Foi mal, chefe, nós não fizemos por mal... - um deles falou.— "Nós não fizemos por mal." - imitei. - Um caralho, acho melhor vocês irem pra ativa.Eles voltaram ao trabalho. Eu estava uma pilha. Uns filhos da puta deram bandeira e foram pegos levando armamento. E eu me fodi, perdi dinheiro, e ainda vou ter que pagar advogado pros manés.— Vai dar tudo certo, parceiro! Fica assim não. Não é a primeira vez que dá esse problema. - PL falou.— É tanto estresse, vei. - suspirei. - E ainda tem o medo de a qualquer momento sermos atacados. O desgraçado do Galego sabe de tudo o que acontece nessa favela.— Nem acredito que aquele arrombado é nosso primo.— Moral. Se eu pego ele, eu mato! E ainda arrombo o cu dele com vassoura.PL começou a rir, e eu também. A gente é tão idiota que às
Manuela narrandoMas um dia lindo no RJ. Acordei morrendo de cólicas, se soubesse que engravidar era tão dolorido jamais tinha dado a piriquita.Embora, isso foi a melhor mudança que Deus poderia fazer na minha vida.Escovei os dentes e sai do quarto ontem dormi tão cansada que nem troquei de roupa.Sai do quarto e passei pelo corredor que dava pra escada.Flávia estava atordoada no quarto com dois vestidos em mãos quando me chamou para dentro do quarto dela.- Manu! Vem aqui rápido.- O que foi Flá? Bom dia. - sorri.- Eu não sei o que fazer. Qual vestido uso? Esse rosa, ou esse vermelho? Não gostei de nenhum sabe, mas meu irmão não me deu dinheiro pra comprar outro.- Eu até te daria, mas não gosto de contrariar seu irmão e nem posso, você sabe como é ele. - revirei os olhos. - Mas esses vestidos estão ótimos Flávia.- É estão bonitinhos. - respirou fundo. - Mas qual?- O vermelho. - sorri. - Sempre gostei dessa cor, mas no fundo prefiro preto.- Eu também gosto de pre
Felipe narrando:Depois de beber até não aguentar mais, percebi que Manuela não estava por perto. Um desespero tomou conta de mim, e saí em busca dela por toda a festa."Perguntei a Flávia: - Você viu Manuela?"Ela respondeu: "Não, a última vez que a vi, ela estava sentada conversando com Vt."Eu corri para encontrar Vt, que estava num canto bebendo e conversando com os outros rapazes."Perguntei a ele: - Vt, você viu Manuela?"Ele respondeu: "Não chefe, eu estava conversando com ela de boa, aí ela me perguntou onde era o banheiro, eu falei e vazei."Senti um misto de culpa e desespero: "Puta que pariu, cadê minha mulher!" - coloquei a mão no rosto.Vt tentou me acalmar: "O que aconteceu com ela, patrão?"Eu me senti culpado: "Eu não sei, vei. Eu a deixei sozinha, pensei que ela estava com alguém... É tudo culpa minha!"Vt tentou tranquilizar-me: "Não é sua culpa, parceiro."Logo, PL e Menor se juntaram a mim na busca por Manuela. Como pude deixá-la sozinha, especialmente quando sabem
ManuelaAcordei com a luz do sol no meu rosto. Eu estava morrendo de dor de cabeça, parecia que a qualquer momento iria explodir! Queria sair desse lugar, eu nunca imaginei em ser uma prisioneira, ainda mais grávida.Passaram- se alguns minutos, quando uma loira de cabelos cacheados adentrou no lugar que eu estava. Olhei direito e espera... Essa era Beatriz, a garota que infernizou minha vida quando cheguei lá no morro.- Ora, ora. - ela riu. - Finalmente a patricinha foi pega!Calada estava, calada permaneci. Não tinha nada pra falar com essa vagabunda.Ela me olhava com desdém, a barriga dela estava crescendo, dava pra reparar que ela estava mesmo grávida.- Não vai falar nada ô ridícula? - ela falou.- Tenho nada pra falar com você garota, se toca. - falei brava.- Ela está com raivinha.. - riu. - Você agora está em minhas mãos Manuela. Você vai pagar por tudo que me fez!- Mas eu não te fiz nada. - dei de ombros.- Roubar Felipe de mim foi pouco?- Você acha que eu
FelipeEu estava desesperado. Qualquer atitude precipitada eu seria capaz de tomar neste momento.Eu não podia deixar minha filha e minha loira nas mãos daquele merda!- É pelo visto ele não ligou e nem vai fazer contato. Ele está brincando com nossa cara. - PL falou.- Eu não vou esperar caralho nenhum. Vamo invadir aquela porra.- Mas vei... Nem sabemos se foi eles.- E foi quem? O meu pai? - falei irônico.- Pl se tu não quer me ajudar, beleza, eu recruto os caras e vou sozinho.- Não pô, eu tô contigo! - ele disse.- Só tô preocupado.- Beleza.Fiz todos procedimentos. Recarreguei as armas, chamei os caras, e ainda chamei aliados. Iria haver um confronto enorme entre as facções rivais.Eu não deixaria minha novinha lá nem a pau! Sou sujeito homem, e se eu fiz filho na mina, tirei ela lá do asfalto, agora eu vou deixar a mulher que eu amo morrer por um problema meu?Não mesmo.Eu já estava no carro. Vesti o colete e depois a camisa por cima, coloquei a Ak-47 no co
Voltamos para o morro, e eu ainda estava assustada com tudo o que havia acontecido, mas muito feliz por estar de volta. Eu pensava que sequestros com tiroteios e mortes só aconteciam em novelas. Claro, Manuela, você nunca saiu do seu "mundinho cor de bosta". Flávia veio correndo me abraçar quando me viu chegar na frente de casa. VT e os outros também me abraçaram, todos comemorando a vitória de Felipe contra Caveira.— Aquele merda já tinha passado da hora de morrer mesmo! — VT riu.— Como você está, minha cunhada linda? — Flávia disse.— Estou me recuperando de tudo... Foi um sofrimento da porra, pode crer!— Ialá. A patricinha tá aprendendo até a falar gírias. — Felipe brincou.— Haha, idiota. — revirei os olhos.Realmente, depois de tanto tempo convivendo com as pessoas daqui, eu aprendi a falar e me comportar como o pessoal daqui. Felipe me propôs um baile hoje para comemorar minha volta, mas eu recusei. Só queria um bom banho, uma cama e ele ao meu lado.Depois de tomar um banho
Manuela Dois meses se passaram, e minha barriga já estava enorme. Eu quase não aguentava andar, estava com sete meses de muito amor pela minha princesa.Ana Clara viria com muita saúde e, principalmente, amor dos pais. Eu e Felipe estávamos cada vez mais unidos. Nosso amor crescia a cada dia. A forma como ele me tratava era especial, e eu sentia tanto amor por esse homem. Era difícil explicar. Por diversas vezes, pensei que minha vida ia "virar de cabeça para baixo", mas Felipe provou o contrário. Ele demonstrou que mesmo um bandido pode amar, que os bandidos têm coração, e que as pessoas que vivem na favela também são gente boa.Hoje era meu aniversário, e eu estava completando vinte anos. Me sentia um pouco estranha, pois era o primeiro aniversário que passaria sem meus pais. Mas a vida é assim, cheia de reviravoltas.— Eu chegarei aí por volta das oito horas, prima. Estou morrendo de saudades! — Léo falava comigo ao telefone.— Tudo bem, eu também estou. Tenho que desligar, Léo, a