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05. Pobre não tem paz, parte 1

Therasia

— Você está indo muito bem — fala o homem e gostaria que não houvesse esse sorriso na sua face. Faz com que o veja de um modo ainda pior. Com muitos anos, você se acostuma a entender o que os homens querem quando têm você em vista.

— Obrigada — respondo, porque acredito que não dizer nada pode dar a ele a impressão de que quero que continue a me elogiar e tudo o que desejo é sair daqui ligeiro para correr até o meu trabalho.

Se não fosse esse trabalho em grupo poderia conseguir algumas horas extras.

Descarto a ideia. Iliana me mataria. Já vive falando sem parar que estou trabalhando demais e que em algum momento o meu corpo cobrará o preço por todo esse exagero.

Mas o que posso fazer?

Meu pai se encheu de dívidas na tentativa de abrir um negócio e depois sumiu no mundo, deixando para os agiotas somente o meu número. Com eles não tem negociação. Querem o que devo no dia certo e, se eu não tiver como pagar, bom, eles têm muitas ideias sobre o que querem fazer comigo caso eu não possa pagar com dinheiro.

Tenho sorte de todos os meus anos de estudo terem me rendido uma bolsa de cinquenta por cento de desconto na minha matrícula e também nas parcelas mensais, senão eu teria que viver de pão e água até terminar a graduação.

Com todas as complicações das aulas sequer posso procurar por um emprego diferente dos quais estou, porque com eles não poderia me organizar para não perder as aulas. Já sacrifico muitas das minhas horas de sono no momento.

— Se estiver com dificuldade devido ao seu trabalho não hesite em falar comigo — pede, e apesar de ver o meu recuo para evitar qualquer contato ainda avança com sua mão, ri como alguém que gosta de ser destratado após ver que evitei seu toque. — Uma aluna como você seria muito bem-vinda em grandes locais com uma boa recomendação.

Essas são as palavras que ele manipula continuamente para não soarem como o que ele quer de verdade. Sei ler muito bem nas entrelinhas. Também compreendo o que ele anseia ganhar para me dar a dita recomendação.

Claro, é alguém com renome, certamente tem contatos, contudo, apesar de estar desesperada para conseguir dinheiro e saldar as minhas dívidas, não farei quaisquer que sejam as fantasias em sua mente pervertida.

Prefiro tomar no cu por mais um tempo a descer meu nível dessa maneira.

— Já encontrou um lugar onde estagiar? — Me pergunta e esta seria uma pergunta completamente normal se não estivesse saindo por seus lábios.

Todos os professores sabem como encontrar um bom lugar para estagiar acaba definindo muito do nosso futuro no ramo, entretanto, ele é somente alguém querendo se aproveitar de nossas preocupações.

— Ainda estou procurando — digo, contudo, assim como mudar de emprego é difícil por ainda estar tendo aulas, é pior ainda encontrar um local que aceite uma estagiária com tantas ressalvas em seu tempo.

— Eu poderia ajudar, basta você pedir — atesta.

— Como disse, estou procurando, também tenho que ir — aviso, garantindo que pegou o meu trabalho e colocou junto dos outros, porque às vezes temo que aja ainda pior, me prejudicando para que eu tenha que solicitar a sua ajuda.

— Não trabalhe muito Therasia, uma mente saudável é muito importante para conseguir chegar no fim da graduação bem — comenta, e em outra circunstância anunciaria que parte da minha saúde mental é prejudicada por suas ações, entretanto, preciso me conter, pelo menos por enquanto.

***

— Amiga, você está com cara de alguém que precisa dormir por pelo menos três dias — avisa Iliana.

— Eu sei — digo, e bom, não me arrependo de não ter dormido muito na noite da festa a fantasia, mas ficando em casa teria garantido horas a mais de sono que me beneficiariam agora. — Gostou da foda que encontrou? Sabe que me mandar aquela foto foi um pouco demais.

Ainda não consigo esquecer a imagem do homem seminu que chegou no meu telefone. Ela podia me dizer que estava bem de um modo mais tranquilo, contudo, não seria a Iliana se não fossem ações um tanto quanto esquisitas.

— Queria te mostrar como eu passaria a noite em braços perfeitos, você podia ter me dando uma visão do seu romeu — reclama, girando o copo com o uso do indicador circulando-o por dentro.

Consegui o emprego nessa balada por causa dela. O chefe foi alguém com quem fodeu algumas vezes e ficou tão gamado nela que faria qualquer coisa que pedisse. Foi um sufoco para ela convencê-lo de que não queria nenhum compromisso com ele, por sorte, o homem desencanou e agora namora uma garota bem legal.

Não é qualquer homem que consegue chamar a atenção de Iliana. Conseguir convencê-la a repetir a dose é ainda mais complicado. Pegar o seu coração é tipo uma missão impossível. É muito bem resolvida com a sua vida e como a leva.

— Duvido que o romeu foda daquele jeito — comento, porque meus quadris ainda se lembram de todo o choque recebido, e do aperto de seus dedos em minha carne. — Me lembre de não transar de quatro.

— Ainda não consegue transar olhando para pessoa? — Pergunta sem ligar para o que quero ou não dizer. — Você sabe que isso não impede você de se apaixonar, certo?

— Não custa tentar — pondero e a bastarda somente sorri. — Tudo bem estar bebendo de novo? Não fará aquele ensaio para a revista?

— Foi um único copo, pode continuar me servindo água até você terminar o seu turno — fala Iliana. Nos conhecemos desde o ensino médio, já perdi as contas de quantos anos de amizade temos, mas creio que as coisas mudaram mais drasticamente depois dela se tornar uma modelo requisitada.

Nós duas vivíamos de bolsos vazios, mas agora sou a única que continua sofrendo desse mal. Claro, eu desejo que ela tenha ainda mais dinheiro, pois merece muito, contudo, não vejo a hora de encontrar o meu pote de ouro para poder finalmente ter dias mais tranquilos.

Entretanto, qual pessoa pobre tem paz?

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