Therasia
“Isso não pode estar acontecendo”.
As palavras pesam em minha cabeça como um tijolo.
A porta escancarada é indicada por minha vizinha. Parece um pouco preocupada, talvez por ter medo de que seja a próxima vítima, contudo, não consigo pensar nela agora.
Olho para as coisas reviradas ainda da porta e mordo o lábio com força.
Ando apressadamente e nem mesmo escuto as informações dadas por minha vizinha, porque eu não tenho nada de valor a ser roubado, quer dizer, há somente uma coisa e é o que procuro agora, já que o notebook velho que demora três horas para ligar pesa em minha mochila.
Agacho-me no meio das roupas jogadas no chão do pequeno quarto que mal cabe a cama e a cômoda e procuro em todos os locais pela caixinha vermelha que deixei escondida no meio das minhas calcinhas.
A carne de meu lábio se rompe quando concluo que não poderei encontrá-la.
Eles a acharam. O único pertence que ainda tinha da minha mãe foi levado.
O colar que minha mãe mais amava e me presenteou quando fiz dezesseis se foi.
Eu não devia ter deixado a caixa em casa. Manter na minha bolsa como o notebook seria mais seguro, entretanto, tinha medo de ser assaltada na rua também, mas acabou que a opção escolhida não serviu de nada.
Eu não tomei a melhor das decisões.
— Que merda — xingo e soco a madeira caindo aos pedaços.
Até mesmo um soco faz com que parte dela vá para o chão.
Sabia desde o início que o prédio não era o melhor se tratando de segurança, mas pensei que pelo menos seria um teto sobre a minha cabeça e que uma hora eu poderia deixá-lo para trás. Estava errada de pensar que o futuro brilhará.
Ergo-me deixando a bagunça para trás e me assusto quando a presença masculina fica diante dos meus olhos. Quem é esse sujeito usando um terno tão caro? Não preciso saber como entrou. A porta está escancarada por conta do ladrão.
— Senhorita Foxwolt, se puder me acompanhar — fala usando um tom agradável.
— Está louco? Por que entrou na minha casa? — Pergunto para o estranho, vasculhando o cômodo atrás de alguma coisa que possa usar para me defender.
Posso estar desesperada por dinheiro, mas ainda não enlouqueci a ponto de fazer atos ilegais. Também quero manter todos os meus órgãos intactos até o fim da vida se possível.
— Estava procurando você a pedido do senhor Armvtz — explica, o que não me diz nada, somente de que não está atrás de mim por conta da minha dívida. — Não havia uma porta onde eu pudesse bater — declara.
— Está debochando de mim? — Pergunto a ele. — Se não estou te devendo nada, e não há mais o que dizer, saia da minha casa. Não conheço ninguém com esse nome e não quero conhecer — declaro dando passos para frente.
Quero ver a sua reação a meu avanço, dependendo dela posso mensurar quão fodida estou, no entanto, ele apenas recua como se quisesse mostrar que não está aqui com intenções ruins. Não piores do que invadir.
— Da próxima vez, ainda que não haja uma porta, lembre-se de aguardar do lado de fora — peço indicando a porta arreganhada para ele sair antes que eu fique furiosa e decida tacar tudo que tiver em meu caminho na sua cara.
Aceitando o que lhe indiquei, vai embora e fico encarando os curiosos que não perdem tempo em averiguar o que ainda há na casa. Acham que pode ter algo mais que roubar? Se houvesse o ladrão, não seria burro de deixar para trás.
— Ei, você pode comprar uma tranca nova para mim? — O filho adolescente de uma das minhas vizinhas parece muito ansioso pelo serviço, sabe que será recompensado com dinheiro.
Às vezes, pago-o para aguar minhas plantas. Sinto que é melhor que ganhe dinheiro assim do que se juntando a uma gangue. Não sei se estou fazendo muito por ele de verdade, mas é o que dá para fazer sendo pobre.
— É claro — anuncia sorridente e tiro a mochila das costas procurando por minha carteira. Solto um suspiro irritado quando noto que não há muito dinheiro e que terei que sacrificar uma ou duas refeições para trocar a m*****a tranca.
Por que alguém invadiria a minha casa?
Com certeza não me pareço com alguém que tenho dinheiro.
Todas as minhas roupas são de segunda mão.
Evito ficar com as roupas que Iliana e Reese me dão exatamente por saber que acabariam atraindo a atenção aqui, por conta disso as uso somente quando saímos juntas. Não teria como saberem que aquele colar estava aqui, apesar de seu preço exorbitante.
Nunca o vendi apesar de saber o seu valor porque não queria perder a última coisa que restava da minha mãe. Vendi todas as ouras joias e fiquei somente com ela. Ainda assim não foi suficiente para lidar com a quantidade de juros que continuava a crescer fazendo com que a dívida logo triplicasse de valor.
Entrego o dinheiro a ele que se apressa para comprar a fechadura depois de tirar uma foto daquela que foi estragada. Não terei dinheiro para mandar trocar, por isso o jeito será resolver com minhas próprias mãos. Com tantos anos tendo que resolver o que desse com elas trocar uma fechadura não é um problema.
Mando uma mensagem para meu chefe dizendo que provavelmente terei um pequeno atraso na minha conta, já que levara um tempo para colocar a nova fechadura. O homem responde rápido. Em outra situação, diria estar esperando por uma mensagem minha, mas nesse caso é impossível.
Como poderia saber que estou afundando na merda?
Apesar da mensagem breve, diz que tudo bem, desde que compense saindo mais tarde. Nem fala de descontar minhas horas, já que sabe que preciso do dinheiro de todo modo. Calculo quantas horas a menos terei que dormir hoje e prendo o breve desejo de chorar.
Eu não posso perder tempo desse modo.
Tenho muito o que fazer e não há uma maneira fácil de solucionar meu problema.
JosephO homem continua mantendo a cabeça baixa.Sabe que não cumpriu com sua tarefa, por esse motivo não consegue me encarar como deveria. Não é uma missão impossível, tudo o que tinha que fazer era trazer a mulher para podermos conversar.— O que ela disse? — Pergunto. Não foi difícil encontrar informações sobre ela.Iliana, a amiga que está fazendo com que meu irmão sorria mais, é uma modelo agenciada por um conhecido meu. É a galinha de ovos de ouro dele, e mesmo que não tenha visto interações delas naquela noite.Reese Cobb, uma das atrizes favoritas da minha irmã, é amiga delas, aquela que disponibilizou o convite para que pudessem entrar, por ser um evento fechado.— Senti que ela me bateria se continuasse falando — articula o sujeito e não parece estar brincando. — Aconteceu um incidente, por isso entendo a irritação dela.— Que tipo de incidente? — Questiona o meu irmão, que estava contendo a sua risadinha o máximo que podia.Se não fosse aquela notícia absurda chegando a nos
Therasia— Cara, é a segunda vez que você aparece na minha frente, na terceira vou jogar óleo quente na sua bela face — aviso, o encurralando no beco do lado do prédio. — Não fui clara?— Está trabalhando e eu sinto muito te incomodar, mas eu também estou trabalhando e o meu chefe quer se encontrar com você — fala, e talvez por saber como chefes podem ser pés no saco, que podem demitir quem quiserem somente por estarem irritados, me compadeço um pouco do que diz.— Quem diabos é o seu chefe? — Inquiro. Tenho certeza de que não ouvi falar sobre alguém que usaria um segurança que demonstra educação para se aproximar de mim.Os agiotas preferem xingamentos e puxões.Tudo que mostre o quanto podem passar dos limites se o dinheiro não cair em suas contas.— Joseph Armvtz, CEO da Arms entertainement — diz e puxa um cartão de visitas de seu bolso. O entrega a mim mantendo uma distância, quem sabe por ter medo de que eu aja grosseiramente depois da minha ameaça.— Eu realmente não o conheço —
Therasia— Você está suspirando mais do que o normal hoje — me fala o homem com quem trabalho há algum tempo. Temos uma boa sincronia, pois consegue fazer toda a sua parte sem incomodar ninguém.— Nem sei como tenho tempo para isso, Josh — digo, ele sorri, como se não pudesse acreditar que consigo soltar piadas como essa. Sabe um pouco da minha situação.— Pode tirar a sua pausa daqui a dez minutos — me avisa, e o movimento está bem tranquilo para que não me sinta incomodada em deixá-lo sozinho. — Tente tirar um cochilo, te fará bem.— Se eu dormir agora, talvez só acorde de manhã — brinco, reparando em como a sua expressão muda quando olha para frente. Se estivéssemos em outro lugar, diria que ele vê um fantasma e pondera sobre correr ou não.Decidida a verificar o que incomoda Josh, observo a pessoa na frente do balcão e sinto que talvez devesse procurar por alguém que leia a minha sorte. O sujeito diante de mim é alguém reconhecível, dado que não faz tanto tempo assim que nos encont
Therasia— Estou aproveitando a minha pausa para conversar com você — pontuo rapidamente, já que o breve descanso que teria é jogado para longe devido a seu interesse estranho em mim. — Comece antes que eu pense que é melhor te dar uma surra.— Parece que você fica mais engraçada quando está cansada — profere Joseph, se sentando na cadeira.Tem algumas delas na área de descanso dos funcionários, assim como uma cama e é nela que me sento, já que é o que me coloca mais longe dele.Pelo sorriso em seu rosto, deve ter considerado que esse é o motivo para ter escolhido onde ficaria. Tenho sorte de o meu chefe nesse trabalho ser melhor do que o outro, mas não posso abusar.Se criar uma confusão aqui, serei tratada como qualquer outro funcionário.— Se sabe que estou esgotada, fale logo — peço movendo uma mão para frente, como se oferecesse a ele o dom de falar antes que fique mais irritada. Independente do que diga, nada vai me fazer entender as suas escolhas.— Primeiro preciso dizer que o
JosephMinha intenção, vindo até aqui, era mostrar que não sou tão estranho quanto ela pode considerar e que minhas intenções não são ruins. Não nego que também me senti meio curioso por quem Therasia é costumeiramente depois daquela ligação, o que foi motivo de risadas para o meu irmão.No entanto, estar diante dela me fez perceber um pouco de por que ela reage a tudo com mais intensidade do que as pessoas normalmente fazem, porque é como se algo a perseguisse continuamente.Quem manteria a sua personalidade suave depois de algo assim?Contudo, levei um pouco mais de tempo tentando compreender como seria a melhor abordagem e talvez deva agradecer por ela me ouvir, apesar de todas as críticas preenchendo os seus olhos.Fiquei receoso dela achar que sou um tipo de pervertido.Foi bom me preparar para todas as possibilidades, contudo, não pensei que acabaria a convencendo liberando algum dinheiro. Após toda a investigação feita acerca da vida dela, descobri o quanto precisa dele, todavia
TherasiaSinto uma dor de cabeça irritante quando finalmente consigo impedir que as lágrimas rolem pelo meu rosto. Preciso de um grande esforço para me afastar do corpo de Joseph, pois ele me segurava como se quisesse garantir que não fugiria.No entanto, se eu colocar as minhas ideias no lugar, qual seria o motivo para ele querer algo do tipo? Aquele positivo… ainda que seja verdadeiro, não tem nada a ver com Joseph.Sinto um susto momentâneo quando ele ergue o meu rosto ligeiro, encarando os meus olhos e ainda experimento uma leve ardência neles, contudo, as poucas lágrimas que existiam dentro de mim já foram usadas.Pensei que nunca mais choraria, uma vez que me habituei às minhas desgraças, mas essa noite mostrou que pobre sempre pode se foder um pouco mais, basta ter algo que possa acontecer que ocorrerá, como uma praga.— Se sente um pouco mais calma? — me pergunta, com o seu tom de voz mais baixo, parece usá-lo dessa maneira para não me assustar, mas o que poderia ser mais assu
TherasiaPor que entrei em um carro com um estranho? Claro, ele não é tão estranho assim, até o meu chefe o conhece, mas, porque depois de me derreter em lágrimas na sua frente, estou deixando que ele me leve, sabe Deus, para onde?Solto um suspiro sentindo que a minha cabeça quer girar. Tenho sorte de estar sentada, melhor ainda, esse é um carro superconfortável, até mesmo cheira como algo bom.O que estou pensando agora?Perdi grande parte dos meus neurônios depois de perceber que não teria como lidar com o problema que acabou de se jogar de paraquedas na minha frente? Muitas vezes nos últimos anos imaginei que poderia enlouquecer.Nem preciso ponderar muito acerca das minhas circunstâncias para saber que houve momentos em que queria de fato ter ficado louca, porque quem sabe, não necessitaria lidar com as consequências do que jogaram em cima de mim.Meu novo suspiro lamentoso faz com que Joseph coloque uma mão em minha perna, olha para mim por breves segundos, uma vez que é necessá
TherasiaEu não corri e me acho louca por conta disso.Seguir os meus instintos para me manter segura seria o mais adequado no momento. É a única forma de ficar protegida. Entretanto, não posso lidar com toda a disposição dele para esperar que eu o siga com minhas próprias pernas.Tenho a sensação de que quer que eu faça as escolhas que vão me manter algemada a esse lugar, quem sabe, a ele, entretanto, não me fez qualquer proposta, apenas me ajuda.Começou a dar algumas ordens para seus funcionários assim que eles vieram até ele. O lugar é tão grande que ele tem um mordomo que cuida de tudo na residência. Foi bem claro que o homem mais velho me olhou com muita perspicácia, quase como se quisesse me ler.Até tenho em mente o tipo de pensamentos que passou pela cabeça dele.Uma mulher estranha, de repente perseguindo o seu chefe rico… qualquer um sabe qual será o primeiro pensamento de quem vê a situação de fora. Contudo, tive a oportunidade de recusar a bondade de Joseph?— Esse é meu