04. Desenhar um limite

Joseph

Quando Elsie me apressou não pensei que teria que ficar esperando na frente do quarto do meu irmão por ele não ter conseguido se desprender da sua foda da noite. Claro, o conheço bem, contudo, ainda tive um estalo de surpresa por ver a loira saindo antes dele do cômodo com a máscara idêntica à da sua amiga nas mãos.

— Ah! Olá — cumprimenta ligeiro, com um sorriso grande. — Ele está saindo — avisa e vira-se para ir embora balançando a mão para dar tchau.

Ao que parece as duas amigas não são problemáticas quando se trata de fodas casuais, entretanto, ela ainda espera para uma despedida no começo do dia, diferente da coelha fujona.

— A Iliana já saiu? — Pergunta meu irmão ajustando o terno. Deve ter pedido que alguém o trouxesse. — Eu disse que a levaria em casa — comenta. — Nem vestiu algo diferente.

— Ela é uma mulher adulta que sabe o que faz — pontuo, contudo, noto que eu não cheguei a perguntar em momento nenhum qual era o nome da coelhinha. Ela se foi sem me dizer ou perguntar qual era o meu.

— Ela sabe fazer muitas coisas, por isso peguei o número dela — garante Peyton. — Vamos lá antes que Elsie coma a gente vivos.

Apoia uma mão em minhas costas e começa a me empurrar para irmos até o elevador.

— Foi tão bom para querer o número dela?

— Não creio que deveria te dizer coisas assim — zomba meu irmão. — Não sou como você, sabe disso. Não tem mulheres com as quais gostaria de foder de novo? Mas com essa sua regra de não repetir as coisas você perde a oportunidade.

— Você é aquele que diz que estou perdendo alguma coisa — pontuo.

— Sim, claro, você continua com a chave do seu coração no rabo — brinca. — De toda forma, ela é legal, interessante, para dizer o mínimo.

— Pelo visto fez mais do que foder — pondero.

— Um pouco mais — conta sem rodeios.

Peyton tem razão. Estamos em momentos da vida em que procuramos coisas distintas. Por mais que não esteja em um relacionamento ele não foge dele, já eu não tenho o interesse de começar um depois de o meu ter fracassado tão incrivelmente.

Achava que os problemas que existiam se resumiam a meu desejo de ter uma família, mas depois de escavar todos os porquês, percebi ser muito pior e assim escolhi manter meu coração bem longe do jogo.

Por mais que tenha se passado um bom tempo não tenho a intenção de colocá-lo em campo de novo, pois não quero correr riscos que podem vir a me foder de novo. Talvez seja covardia, contudo, não me importo.

É como escolhi viver.

***

Therasia

— Isto está passando um pouco da conta — fala minha colega de grupo.

O homem que deveria estar nos observando somente para saber se estamos ou não cumprindo com nossas tarefas tem em seus olhos desejos que deveria conter, contudo, o fato de não fazer isso é o que nos põe nessa situação complicada de agora.

— Devemos continuar ignorando, não temos como denunciar nada — digo a ela.

Porque, por mais que nos olhe dessa maneira, não agiu de outra maneira, ou seja, não temos provas de nada. Tudo o que temos são seus olhares nojentos e constantes em cima de nós. Até mesmo suas palavras, ele sabe medir para não serem tão explícitas quanto a seu interesse.

— Com certeza não queria enfrentar algo assim no fim do curso — reclama outra, mas não tem muito o que fazer. Somos estudantes e ele um professor pelo qual temos que passar se quisermos nos formar.

— Therasia está certa, não tem como fazer nada — pontua. — Mas creio que você aproveitou bem o seu fim de semana — brinca, não consigo compreender o que diz, então ela leva uma mão até o pescoço apontando para uma área dele.

Como continuo sem entender, ela me entrega um espelho dobrável e solto um suspiro vendo a marca avermelhada não somente onde ela disse, mas em outros dois pontos do meu pescoço. Que merda.

Acordei tão cansada que depois de fazer minhas higienes nem olhei no espelho. Não tinha tempo, tinha que correr para faculdade para terminar esse trabalho antes de ir até o meu primeiro trabalho.

Tudo que fiz foi passar apressadamente protetor solar no rosto durante o tempo que fiquei no metrô, mas o fiz somente pelo conhecimento que tenho da minha face. Não tinha um espelho onde verificar.

— Aquele bastardo não pensou que ficaria marcas — murmuro fazendo círculos com o indicador em cima delas esperando que sumam um pouco mais rápido.

— Quer usar um pouco de maquiagem?

— Não, vai ser um problema quando eu for para o trabalho — digo esfregando um pouco mais. —, mas obrigada pelo aviso, pelo menos saberei o que estão olhando em mim.

— Como se fossem te olhar somente por isso — brinca a que me entregou o espelho. — Deve ter sido muito bom — pondera ela.

— Ele sabia como usar o seu pau — conto e elas riem um pouco alto, levando o professor a se aproximar, está sempre procurando por um motivo para chegar mais perto.

— Vocês não podem ser muito barulhentas, vão acabar atrapalhando os seus amigos — articula, fica perto demais do meu braço, move a sua mão e sei bem o que ele faria, assim, me inclino para o lado para o homem não pensar em colocar sua mão em meu ombro.

Não caio no mesmo truque duas vezes.

— Essa pode ser uma aula livre para terminar seus trabalhos, mas ainda é necessário manter a disciplina — profere, e com um tom desse, com um conselho tão claro, quem diria que quer muito mais do que ensinar suas alunas.

Por sorte, conseguimos cortar a maioria das interações desnecessárias dele antes que se tornassem mais explícitas, por esse motivo não temos como fazer uma denúncia. Se há alguém que não pôde, não fez uma, nem falou conosco.

— Nós iremos — respondo. Não tenho medo de usar um tom mais duro, porque se ele não sabe que existe limite, o desenharei bem no meio da sua cara para não esquecer jamais.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo