Sebastian não poderia dizer que tudo estava bem com a saída da antiga babá. Benjamin, não abandonou os costumes antigos, dormia e acordava sempre no horário certinho, mas agora Sebastian tinha trabalho em dobro. Claro que sempre esteve presente na vida do filho e fazia todo o possível para participar do dia a dia de Benjamin, porém coisas como almoço, banho depois da escola, brincadeiras, passeios nos parques e até ajuda nas lições de casa era Ana quem tomava conta. Sebastian ficava com a tarefa de levar o filho a escola, ajudar nas aulas de inglês, piano, jantar, banho noturno e colocá-lo para dormir, isso continuava o mesmo, porém agora tudo tinha aumentado.
Nas vezes que precisava sair cedo para uma reunião, ele não precisava se preocupar, pois Ana chegava mais cedo e levava Ben para a escola, mas hoje não tinha mais a garota para lhe ajudar. E o dia estava cheio de reuniões.
— Filho, vai rápido, por favor. O papai está atrasado.
— Papai, o senhor viu o meu tênis de dinossauro? - Ben apareceu na sala sendo seguido pelo seu fiel companheiro, Dino.
— Não vi.
— A Ana teria visto - o garotinho retrucou. Sebastian sabia que o filho sentia falta da babá — Arrumou a minha lancheira?
— Sim.
— Vou poder levar o Dino hoje? - o filhote da raça pastor malinois belga deitou a cabeça de lado e latiu. Benjamin havia ganhado aquele cachorro do avô no início desse mês — Ele quer ir.
— Mas ele não pode - Sebastian pegou o tênis branco do filho e tratou de colocá-lo rapidamente nele, enquanto ouvia outro resmungou — Eu sei que você queria o seu tênis do dinossauro, mas o papai não sabe onde está e nesse momento não tenho tempo para procurar. Se não sairmos agora você se atrasará e eu também. Pode compreender isso, por favor?
Benjamin confirmou com a cabeça, mas não desmanchou o bico.
— Papai, a Ana vai voltar? Sinto saudades dela.
— Acredite, eu também - foi tudo o que Sebastian disse antes de sair de casa, colocar o filho na cadeirinha dele e partir em direção a escolinha, que para ajudar, não ficava perto — Acho que hoje a vovó vem te buscar, tá bom?
— Ela vai me levar no parquinho hoje? - o garoto se animou. Ele adorava os avós paternos.
— Vai sim, eu irei pedir à ela para te levar.
Depois de alguns minutos dentro do carro ouvindo músicas infantis, Sebastian deu um beijo no cabelo do filho e viu ele acenar para um coleguinha de classe. Esperou Benjamin dar bom dia para a professora e seguir a fila de crianças da sala, para só então sair dali e ir para a empresa.
Sebastian Peterson era o tipo de chefe que dava bom dia até para as plantas daquela empresa. Não importava se estava em um péssimo dia, ele sempre sorria.
— Bom dia, Gabi - Ele cumprimentou a moça sorridente que ficava na recepção do andar da sua sala — Como está a minha agenda hoje? - se apoiou no balcão de madeira escura.
— Bom dia, senhor Peterson - ela sorriu e pegou um tablet que Sebastian conhecia bem — Tem uma reunião às dez horas e às quatorze uma vídeo conferência com o pessoal de Nova York.
— Certo.
— Às dezesseis tem outra reunião com o gerente de marketing e encerra o dia às vinte horas com uma reunião com os acionistas.
— Um dia cheio - ele bufou.
— Sim, e...Ah, sua mãe está na sua sala.
Sebastian agradeceu e seguiu em direção ao escritório que havia herdado do pai há alguns anos atrás.
— Ah, você chegou - Selena sorriu e colocou a xícara de chá em cima da bandeja branca — Deixou o Ben na escolinha?
— Sim.
— Avisou que eu irei pegá-lo hoje?
— Sim, mãe.
— Certo - Selena esperou o filho retirar o terno, o deixando em um cabide e logo o assumir a cadeira que, por muito tempo, foi de seu marido — Ah, você fica tão bem aí - Sebastian sorriu.
— O que faz aqui tão cedo? - perguntou enquanto separava algumas pastas de projetos novos para ler.
— Ana saiu há pouco menos de duas semanas e você já está todo enrolado. Não pensa em contratar outra babá?
— Não sei, mãe. Não acha que vai ser difícil para o Ben se acostumar com outra pessoa agora?
— No começo pode ser difícil sim, mas é normal. Você está em uma nova posição agora, e seu pai e eu não temos mais tanta disposição para aquele garoto - Selena sorriu — Se ao menos você tivesse uma companheira...
— Mãe, já falamos sobre isso - Sebastian a encarou — Relacionamento não é a minha prioridade agora. Benjamin e essa empresa já ocupam todo o tempo que tenho.
— Eu sei, você já me disse isso - ela ocupou uma das cadeiras que ficava à frente da mesa da presidência daquele empresa — E é por isso que eu digo que você precisa de uma babá. Você não, o Ben.
Sebastian largou a caneta em cima da mesa e cruzou os braços. Sabia que precisava de uma babá o mais rápido possível, mas eram tantas coisas para fazer que não tinha tempo para isso.
— Faça isso por mim então, por favor.
— O que?
— Procure uma babá para o Ben. E se possível, veja se ela pode começar na próxima semana já.
— Devo fazer isso?
— Sim, por favor.
— E procuro onde? Você tem preferência por algum site ou aplicativo? Ou prefere que seja por recomendação?
— Não sei, mãe. Tenho certeza de que a senhora pode cuidar disso. Trouxe Ana para a minha vida e a vida do seu neto, e ela foi um anjo. Então vou deixar isso com a senhora, de novo. Veremos qual o próximo anjo que irá selecionar para cuidar do seu neto dessa vez - Selena riu.
— Tudo bem, eu irei cuidar dessa parte - ela balançou a cabeça e sorriu. Iria ter cuidado ao selecionar uma babá para o seu neto — Bom, eu vou indo então - ela pegou a bolsa e se levantou — Bom trabalho, querido.
— Obrigado, mãe - ele jogou um beijo no ar na direção da mais velha — Pode levar o Ben ao parquinho hoje?
— Claro! Deixe comigo.
— Mas só se ele não se cansar com a natação.
— Hoje é dia de natação?
— Sim.
— Nossa, ainda bem que você me avisou, eu nem me lembrava. Tchau, tchau, querido.
Sebastian sorriu e esperou a mãe sair para dar continuidade no que estava fazendo.
Quando faltavam quinze minutos para às duas da tarde, Selena pegou o neto na escolinha e o levou para a aula de natação. Aproveitou o tempinho que tinha livre, e resolveu ligar para a pessoa que poderia lhe ajudar com uma ótima recomendação de babá.
— E como eles estão? - Ana perguntou do outro lado da linha.
— Benjamin está bem, agora está na aula de natação. Já Sebastian, esse conseguiu se enrolou no primeiro dia - as duas riram — Mas e você, querida? Sua mãe me disse que conseguiu o emprego com o casal.
— Sim. O parto está previsto para amanhã e a previsão é que eu fique apenas cinco meses com eles.
— Entendi. Espero que dê tudo certo para você, querida. Somos gratos por tudo que você fez por nós. Sebastian está certo, você e sua mãe foram anjos nas nossas vidas.
— Obrigada, senhora. Ben me conquistou desde o primeiro dia que eu o vi, e sem contar que foi a primeira criança que eu acompanhei por muito tempo. Sinto saudades dele já.
— Acredite, ele também está morrendo de saudades de você. Aproveito a ligação para perguntar sobre o sapato de dinossauro dele, Sebastian não está achando.
— Ah, eu o coloquei na caixa de doação, já não servia mais no Ben.
— Ah, certo. Sebastian deve ter levado a caixa no começo da semana, por isso não achou o sapato.
— Eu deveria ter avisado a ele que coloquei o sapatinho lá. Mas não achei que Ben o queria ainda.
— Está tudo bem, irei levá-lo depois daqui para comprar outro para ele. Mas agora preciso muito da sua ajuda.
— Pode falar.
— Precisamos de uma pessoa para ficar com o Ben, tem alguém para recomendar? De preferência que tenha experiência com crianças da idade dele.
— Hum…talvez eu tenha alguém para recomendar sim.
— Sério?
— Uhum. Só preciso ver se ela não está cuidando de outra criança no momento, mas o nome dela é Elisa, ela tem vinte e seis anos, estudou pedagogia comigo e, até o ponto que eu saiba, ela cuida de crianças a partir de cinco anos de idade.
— Oh, perfeito! Poderia me passar o contato dessa moça? Sendo indicação sua, eu já sei que posso confiar.
— Passo sim. Pode ser por mensagem?
— Claro, querida.
— Vovó, terminei, vamos? - Benjamin estava todo molhado ao lado da avó, a touca azul já havia sido retirada da cabeça, junto com o óculos — Está conversando com o papai?
— Não - ela entregou o celular para o neto — É a Ana - sussurrou e viu o neto arregalar os olhos.
— Ana! - Benjamin gritou eufórico. Estava com saudades da babá — Volta, por favooor! Estou morrendo de saudades de você. Por que me abandonou? Eu fiz algo de errado? Não fui bonzinho? Prometo melhorar em matemáticaaaa.
Ben ficou quietinho, ouvindo a antiga babá enquanto a avó observava a cena. Esperava encontrar alguém tão maravilhosa quanto Ana foi para o seu neto e o seu filho.