Positivo.
Meses atrás, Sebastian não tinha nada. Não existia nenhuma preocupação em sua cabeça. Entretanto, aquele papel em suas mãos, com apenas uma única palavra que se destacava mais que as outras, lhe dizia que agora sua vida iria mudar. E que iria mudar para melhor.
— E aí? - a mulher de meia idade se levantou e ficou ao lado do filho, ainda sem coragem de olhar para o papel — Me diz, querido? Conseguimos? Você conseguiu?
— Eu consegui, mãe! Eu vou ser pai - o homem se permitiu chorar. Foi um choro alto, porém cheio de alívio. Não se importou em estar na empresa e muito menos em quem escutaria aquele choro alto. Ele seria pai. Estava realizando seu maior sonho.
Era isso! Sua vida iria mudar. E para melhor.
— E a moça, filho? Já sabe que deu certo? - Selena perguntou, enquanto o abraçava pelos ombros. Estava tão emocionada quanto seu menino.
— N-Não sei, mãe - ele se levantou, mas não saiu do abraço da mãe — Eu tenho que ligar para ela. Tenho que ter a certeza de que ela não irá desistir disso.
— Desistir? Como assim? - a senhora o encarou e franziu o cenho — Você já deu cinquenta por cento do dinheiro prometido a ela, não? E ela já disse sim.
— Eu sei, mãe. Mas uma gravidez não é algo fácil. Eu pesquisei e vi que ela precisará se cuidar muito, principalmente nos três primeiros meses. Vi que ela precisará tomar muitas vitaminas também, e que terá que mudar a alimentação. A barriga irá crescer, tem mulher que se preocupa com esses negócios de estrias e, além do mais, ela terá uma outra rotina. Quero mostrar a ela que irei cuidar de tudo. Irei dar tudo o que ela precisar - Selena percebeu que quanto mais Sebastian falava, mais o sorriso aumentava em seu rosto — Mesmo não sendo nada um do outro, quero que ela me ligue quando tiver vontade de comer algo. Quero que ela me acorde de madrugada e me diga que sente desejo de comer algo. Eu não irei me importar, mãe. Eu só quero cuidar do meu filho e garantir que, depois de tudo isso, ela terá uma vida normal, porque ela pode se apaixonar e querer ter filhos no futuro. Então quero que tudo seja perfeito. Quero garantir que meu filho venha saudável ao mundo, assim como quero que a Hana fique bem, também.
Selena, no primeiro momento, não disse nada. Ela apenas sorriu, em meio a algumas lágrimas e levou uma das mãos até o rosto do filho, fazendo carinho naquela região, recolhendo as lágrimas do seu menino, como sempre fez.
— Eu tenho orgulho de você, filho - Sebastian sorriu mais ainda, com as palavras da mãe — Você será um ótimo pai, disso eu não tenho dúvidas.
— Eu tive um bom exemplo disso, mamãe. Espero ser tão bom quanto a senhora e o papai.
— Você vai ser melhor, meu amor.
— E a senhora será uma avó babona, não?
— Oh, claro que sim! Disso não tenha dúvidas - os dois riram. Estavam tão felizes e presos na grande novidade, que não escutaram a única batida que deram na porta do escritório, antes de ser aberta.
— Vocês estão chorando. E sorrindo - o senhor de sessenta e nove anos encarou a esposa e o filho. Ele apenas continuou andando até a metade da sala, que antes era sua. A decoração havia mudado, claro, ficou tudo com a cara do filho. Ele não se importou em fechar a porta pesada do escritório — Conseguimos? O nosso herdeiro Peterson está a caminho? Serei avô?
— Sim, sim e sim - Selena gritou e pulou no colo do marido — O herdeiro Peterson está a caminho, querido.
— Ou herdeira - Sebastian falou sorrindo e abrindo os braços para receber o pai.
— Parabéns, campeão! Acertou a mira de primeira, igual ao seu velho aqui, não? - Selena bateu no braço do marido e ganhou um beijo. Já Sebastian, ainda não conseguia acreditar naquilo tudo.
Ele seria pai.
Estavam tão felizes, tão presos naquela bolha de felicidade, que não ligaram para a porta aberta. Todos conheciam a secretária que o atual herdeiro Peterson tinha, então não demorou muito para toda a empresa saber que Sebastian Peterson seria pai solteiro.
[ Seis meses depois ]
Estava frio. Muito frio. Sebastian estava com uma blusa fina, visto que a mais grossa estava bem enrolada na sacola rosa, protegendo-a.
Ele tocou a campainha pequena a sua frente e não demorou muito para ser puxado para dentro da residência.
— Trouxe?
— S-Sim - ele retirou a blusa de frio, agora encharcada de água, e entregou a sacola da confeitaria para a mulher à sua frente - Trouxe de morango e chocolate, assim como você pediu.
— Você enrolou a sua blusa de frio na sacola para não deixar os bolinhos molharem? - Hana mal terminou a pergunta e já estava chorando.
— Ei, não chora! Por que está chorando?
— Eu não sei - ela abriu a sacola e mordeu um dos bolinhos de chocolate, sem parar de chorar — Ele tem me deixado sensível demais - Sebastian riu da cena que se fazia em sua frente. Hana, a mulher que aceitou gerar o seu filho e que agora tinha se tornado uma grande amiga, chorava enquanto ia para o segundo bolinho. Apesar do frio que sentia, o empresário estava feliz por ter realizado mais um desejo da estudante de odontologia.
Ele não se importava se estava chovendo, ou fazendo muito calor. Muito menos se era dia ou noite. Aquele era o quinto desejo, somente naquele mês, que Hana sentia. A mulher ligou para ele, às duas da manhã com vontade de comer bolinhos de morango da cafeteria que ficava ao lado da empresa que Sebastian havia herdado dos pais. No meio do caminho ela ligou, novamente, e disse que também queria bolinhos de chocolate. Diante de todos os pedidos que Hana já fez, aquele era o mais fácil e mais “normal”. Pelo menos, dessa vez, ele não precisou atravessar a cidade.
— Você quer tomar um banho quente e trocar de roupa antes de ir?
— Não precisa - ele sorriu e limpou o canto da boca da mulher — Quer mais alguma coisa?
— Sim, que você fique quentinho - ela largou a sacola com os bolinhos em cima do sofá e correu para um cômodo, que Sebastian sabia que era o quarto dela.
— Hana, não corre - ele fez uma careta de preocupação e até tentou ir atrás da mulher, mas desistiu assim que viu a poça de água que estava se formando abaixo de si — Droga!
— Aqui, voltei. Coloca essa coberta nos seus ombros - Hana se aproximou com uma coberta verde, bem quentinha e colocou em volta do corpo do Sebastian — Assim que chegar em casa tome um banho quente e se agasalhe. Não pode ficar doente, temos uma ultrassom amanhã.
— Obrigado! - ele sorriu — Como anda a faculdade?
— Bem. Conversei com a minha tutora hoje - ela puxou a sacola e enfiou um bolinho inteiro na boca. Sebastian riu — Assim que eu entrar no oitavo mês de gestação, semana que vem, irei dar um tempo.
— E como fica depois?
— Bom, eu expliquei a minha situação e não vou precisar me afastar tanto. Apenas um mês.
— Certo. Eu acho que vou indo, então! Se precisar de mais alguma coisa, é só me ligar.
— Obrigada, de novo, Sebastian. Cara, é muito estranho.
— O que?
— Ficar grávida - ela riu — Eu estava dormindo e do nada acordei com vontade de comer isso - ela levantou um outro bolinho de morango e mordeu - Eu não queria...Aí!
— Hana? O que foi? - Sebastian deixou o cobertor cair e se atentou a mulher, que levou uma das mãos até a barriga.
— Eu acho que os desejos são apenas vontade de ver você.
— Como?
— Ele chutou, de novo - Hana sorriu e pegou a mão do Sebastian, logo levando-a para a barriga dela — Sentiu? - ela perguntou assim que sentiu outro chute ser dado.
— Senti - Sebastian confirmou, já com os olhos cheios de lágrimas.
— Oh, ele está louco para sair daqui e te conhecer, Sebastian! Tenho certeza de que você vai ser um ótimo pai! E que essa criança será mimada pra caralho - eles dois riram.
— Obrigado, Hana. Obrigado por me ajudar a tornar o meu sonho realidade.
— Me agradeça cuidando muito bem desse rapazinho, cara - ela levou a mão até a própria barriga e fez carinho ali. Falar que ela havia se apegado ao bebê não era mentira, mas ela só tinha carinho. Afinal, quem é que gera um bebê e não se apega a algo?
Claro que ela não iria dar uma de mãe e pedir guarda pela criança. Ela não era a mãe daquele bebê, seria apenas a mulher que o colocou no mundo. A mulher que ajudou ele a nascer e ter um pai incrível.
Depois de se despedir do filho e da Hana, Sebastian voltou para o carro e dirigiu até a sua casa. A primeira coisa que fez, assim que chegou, foi tomar um banho quente e se agasalhar muito bem. Porém, antes de voltar para a cama e dormir, ele abriu a porta do quarto ao lado do seu e se encostou no batente.
Benjamin ainda não havia chego, mais seu pai já podia vê-lo em todos os lugares dali. O quartinho azul, muito bem planejado, estava pronto, apenas esperando o seu dono. Sebastian não via a hora de entrar naquele quartinho e sentir o cheirinho de bebê por todos os lados.
— Falta pouco, filho. Falta bem pouquinho pra gente se conhecer - ele sorriu — Talvez seja apenas nós dois por um longo tempo. Mas o papai promete que darei o melhor de mim, ok?
Naquela noite, Sebastian dormiu sorrindo, outra vez. Isso havia virado rotina desde que recebeu aquele resultado com o “Positivo” que tanto sonhava.
Sebastian seria pai solteiro sim, mas não deixaria faltar nada para o seu filho.
[ Dois meses depois ] — Já escolheu? Ou ainda está enrolando? - Francisco entrou no escritório com duas xícaras de café e entregou uma ao filho. — Não é enrolação, pai! Eu preciso escolher a pessoa certa, a pessoa ideal. Não posso vacilar nisso. — Ele tem razão - Selena, tirou os olhos de um dos currículos e encarou o marido — Não podemos deixar uma pessoa sem experiência cuidar do nosso neto, Francisco. — Ela tem que ser perfeita, pai. — Eu sei, campeão. Mas você está há três dias olhando esses papéis. Meu neto pode nascer a qualquer momento e você ainda não se decidiu - Francisco levou a xícara até os lábios e depois encarou os olhos assustados do filho — Seja lá quem for, você não vai conhecê-la inteira através de um papel. Você precisa dar chance a uma delas, a que parecer mais confiável para você agora. Depois você pode mudar, claro, mas precisa saber que a escolhida precisa se preparar. Não dá pra você esperar o Ben nascer para ligar para qualquer uma e dizer que ela está co
[ Seis dias depois ] Foi no dia treze de outubro, de dois mil e dezesseis, em plena sexta-feira, exatamente às duas e quarenta e cinco da manhã, que Sebastian ouviu aquele chorinho pela primeira vez. Foram quase seis horas de parto. E isso enlouqueceu o papai do ano. Ele não sabia o motivo daquilo demorar tanto e sequer saiu do lado da Hana. Mesmo não tento nada, romanticamente, com a mulher, ela havia aceitado passar por tudo aquilo só para ajudá-lo a ser pai. Sebastian, com a permissão da mulher, ficou ao lado dela, fez massagem, a alimentou e até a ajudou a andar pelo hospital. Hana, em certos momentos gritava de dor e isso fazia o coração do Sebastian agitar. Ele não sabia o que fazer para ajudá-la e isso, às vezes, causava algumas risadinhas fofas das enfermeiras. O hospital, desde o começo, havia sido informado da situação da gravidez. Então, para algumas enfermeiras “soltinhas”, ver Sebastian sendo tão fofo assim, deixavam elas mais atiradas. Isso causava algumas caretas des
Sebastian não poderia dizer que tudo estava bem com a saída da antiga babá. Benjamin, não abandonou os costumes antigos, dormia e acordava sempre no horário certinho, mas agora Sebastian tinha trabalho em dobro. Claro que sempre esteve presente na vida do filho e fazia todo o possível para participar do dia a dia de Benjamin, porém coisas como almoço, banho depois da escola, brincadeiras, passeios nos parques e até ajuda nas lições de casa era Ana quem tomava conta. Sebastian ficava com a tarefa de levar o filho a escola, ajudar nas aulas de inglês, piano, jantar, banho noturno e colocá-lo para dormir, isso continuava o mesmo, porém agora tudo tinha aumentado. Nas vezes que precisava sair cedo para uma reunião, ele não precisava se preocupar, pois Ana chegava mais cedo e levava Ben para a escola, mas hoje não tinha mais a garota para lhe ajudar. E o dia estava cheio de reuniões. — Filho, vai rápido, por favor. O papai está atrasado. — Papai, o senhor viu o meu tênis de dinossauro?
Eram quase sete horas da manhã quando Elisa acordou. Normalmente acordava às nove horas, mas hoje ela tinha uma entrevista às dez, então acordou cedo. — Bom dia, gatinha! — Bom dia, gatinho! - Elisa deu um beijo na bochecha do irmão e se sentou ao lado dele — Vai trabalhar hoje? — Sim, e você? Qual é a programação para hoje? - Guilherme passou um pouco de geleia de morango em uma torrada e ofereceu a irmã, reparou bem no sorriso dela — Tá sorrindo. O que você sabe que eu ainda não sei? — Acho que consegui um emprego, Gui! — Sério? Onde? — Foi por indicação da Ana. Ela me recomendou para cuidar do menino que ela cuidava, lembra? — Ah, sim. Ana - Guilherme forçou um sorriso para a irmã — Legal que...ela te recomendou. — Ah, qual é? Primeiro você rouba a minha amiga, e depois termina o namoro com ela? — Quem terminou foi ela, só pra deixar claro - o pediatra deu de ombros — Preferiu mudar de cida