Capítulo 193 Don Alexei Kim A manhã nasceu fria, com o céu ainda tingido de cinza enquanto eu descia as escadas da casa em silêncio. A inquietação que me dominava desde a conversa com Dora não me deixou dormir direito. Precisava de respostas, e precisava delas agora. O médico já estava lá quando cheguei à sala. Era um homem discreto, de fala baixa e passos rápidos. Preferi que tudo fosse feito em casa mesmo. Não podia correr o risco de expor essa situação ou dar espaço para rumores desnecessários. Sentei-me na poltrona, observando o médico preparar os instrumentos. Dora estava sentada na cadeira de rodas, ao lado, com a postura tensa, mas o rosto calmo. Seus olhos me encararam por um momento, mas desviei. Não queria ver nada ali que pudesse confundir ainda mais meus pensamentos. — Vai doer? — ela perguntou, tentando soar despreocupada. — Não mais do que as mentiras que você pode estar escondendo — retruquei, a voz fria. O médico apenas ergueu uma sobrancelha, m
Capítulo 194 Don Alexei Kim — A pressão dela está baixa, Don Alexei — ele disse, ajustando o estetoscópio no pescoço. — Isso pode ser comum na gravidez, mas é bom fazer uma ecografia para verificar se está tudo bem com os bebês. — Vamos levá-la ao hospital, então! — Segurei minha esposa no colo, praticamente empurrando o médico com os pés de Maria Luíza. Foi tudo muito rápido. Minha paciência estava por um fio. Mesmo com o médico garantindo que a pressão baixa era comum na gravidez, eu não conseguia confiar. Não com Malu. Não com os gêmeos. Ela parecia tão frágil em meus braços que me senti invadido de raiva e desespero. Desci as escadas rapidamente, ignorando Fred e Nazar, que tentaram oferecer ajuda. — Abram a porta! Agora! — gritei, saindo para o carro que já estava estacionado na entrada. Fred correu para abrir a porta do passageiro enquanto eu a colocava cuidadosamente no banco traseiro. Subi ao lado dela, segurando sua mão. — Vamos Nazar. Dirija, para o hospital mais pr
Capítulo 195 Maria Luíza Kim A luz suave da manhã atravessava as cortinas do quarto do hospital. Eu me sentia exausta, mas aliviada por estar indo para casa. Alexei havia sido um verdadeiro alicerce desde o momento em que desmaiei, mas, mesmo com toda a atenção dele, havia algo que me incomodava. Ele sabia o sexo dos nossos gêmeos e estava escondendo de mim. Chegamos em casa no início da tarde. Alexei segurava minha mão, conduzindo-me com cuidado, como se eu fosse de porcelana. Assim que passamos pela entrada, senti que ele estava agindo diferente, quase ansioso. — Você está muito calado — comentei, lançando-lhe um olhar curioso. — Só estou pensando em como você vai reagir — ele disse, com um sorriso malicioso no rosto. Fiz uma careta, já desconfiada. Ele parou no meio do corredor, me puxando para mais perto. — Tenho uma surpresa para você — anunciou. — Surpresa? — repeti, franzindo a testa. — Que tipo de surpresa? Ele apenas sorriu, se afastando e gesticu
Capítulo 1 Maria Luíza Duarte Desci as escadas de casa correndo, com um sorriso no rosto e um envelope na mão. Eu queria surpreender o Marco, contar sobre o laudo médico e como os resultados foram bons. A porta de Marco estava apenas encostada. Coloquei a mão na maçaneta e a abri devagar. Meu coração acelerou imediatamente. — Marco? — Uma dor aguda atravessou meu peito. Marco estava ali... completamente nu, sobre outra mulher, que gemia enquanto se agarrava ao pescoço dele. No mesmo sofá onde eu estive ontem, onde ele tentou me tocar, mesmo sabendo que era um dos soldados do meu pai, e eu poderia ser exilada por isso. A cena ficou gravada em minha mente. Ele parecia tão satisfeito com ela. Ouvi seus gemidos de prazer quando ele se afundou entre suas pernas, e aquilo queimou dentro de mim. Amassei o envelope na mão e joguei com força em Marco, e ele se levantou num salto, surpreso. — MALU? CO... COMO VEIO PARAR AQUI? — gritou, ainda nu, enquanto avançava na minha dire
Capítulo 2 Maria Luíza Duarte — Vou enviar a passagem de avião amanhã pra você mais tarde, porque preciso voltar hoje pra Rússia. A frase de Alexei apareceu na minha mente. — Amanhã? — sussurrei, tremendo inteira, e caminhei em direção ao meu destino. Fui para os fundos da propriedade do meu pai e tirei apenas os sapatos, antes de pular no lago, que de acordo com meu tratamento, era uma das coisas que poderia aplacar um pouco da minha agonia, agora. Me sinto confortável, me sinto calma. De repente, mãos fortes me puxaram com tudo da água assim que atravessei o lago, e senti meu corpo arranhar na terra. — Que porra, mulher! Eu nem havia ido embora e você se jogou na água como uma qualquer? Saia daqui imediatamente! Se um dos meus homens te ver com essa roupa grudada no corpo, arcará com as consequências! — era Alexei, estava furioso. “Ele não foi embora?“ Minha respiração começou a falhar, rápida e curta. O coração descompassado batia tão forte que parecia querer ra
CAPÍTULO 3 Maria Luíza Duarte Ao chegar no quarto, fui amparada pela minha mãe e levada até o chuveiro do banheiro. Esse é o lugar que normalmente passo horas. A água escorria pelo meu corpo. O calor do abraço da minha mãe misturado com a textura da água, era o único conforto naquele momento, amenizando a minha angústia e o meu desespero. Muitas coisas aconteceram de uma vez só, estava difícil de assimilar. Ela sabia que palavras não trariam solução, e isso que nem imagina que também fui enganada por Marco, mas sua presença sempre conseguiu amenizar as tempestades dentro de mim. Ficamos ali, abraçadas e vestidas, até que as lágrimas secaram e meu coração encontrou um ritmo mais calmo. — Você é forte, filha — minha mãe disse suavemente, passando a mão pelos meus cabelos. — Só quero que saiba disso. Eu sabia que precisava ser forte. A vida inteira fui preparada para os acordos que moldavam nossa família, e embora soubesse que não teria como escapar do des
CAPÍTULO 4 Maria Luíza Duarte Meu coração batia descompassado, como se fosse saltar do peito. O avião balançava cada vez mais, os gritos ecoavam por todos os lados, e a minha visão começou a embaçar. As luzes piscavam descontroladas, e a única coisa que conseguia sentir era o medo crescendo dentro de mim. “Eu não posso morrer aqui... Não agora.” — DROGA, ALEXEI! EU MENTI, NÃO QUERO MORRER, EU ME CASO COM VOCÊ! — Gritei com o choque, segurando firme na poltrona. Tentei respirar fundo, mas meus pulmões pareciam não obedecer. O pânico subiu à minha garganta, as mãos tremiam, e eu me vi sem controle sobre o que acontecia ao meu redor. As paredes da cabine pareciam se fechar, e minha visão começou a escurecer. A crise de ansiedade estava voltando a dar sinais... senti a dor no peito, a falta de ar, o pânico, aquela sensação de que estou infartando, uma angústia muito forte... caramba! Um homem alto, de jaleco branco, se aproximou rapidamente de mim. Ele se ajoelhou ao
CAPÍTULO 5 Don Alexei Kim — Don Alexei... desculpe interromper, mas perdemos o sinal do avião que traria sua noiva — paro de contar as armas no mesmo instante, olhando para meu soldado parado na porta. — Porra! Por que diabos perdemos o sinal do avião? Você não disse que estava tudo certo? Acabei de falar com Maria Luíza, merda! — joguei a última pistola na caixa, fechando com raiva. Em seguida, peguei meu celular para ligar pra ela. — Nenhum dos nossos homens estão atendendo, Don. Eu estou tentando ligar, mas não estou conseguindo, nem mesmo o médico atende — olhei com raiva para o soldado com vontade de explodir sua cabeça, e comecei a xingar no telefone: — Atende, porra! Pra perturbar me ligou agora mesmo, caralho! — a ligação nem chamava, estava desligado. “Você não vai escapar de mim, Maria Luíza, não vai!“ — Devemos mandar uma equipe pra Roma, Don? — respiro fundo. — Já localizaram o avião? — Deu algum problema no localizador, não fazemos ideia de onde