Capítulo 199 Yuri Caminhamos até o escritório em silêncio. Alexei estava à frente, com passos rápidos, enquanto eu o seguia de perto. Ele não precisava dizer nada para demonstrar sua frustração. A maneira como os ombros estavam tensos e como sua mão pairava próxima ao coldre já deixava tudo muito claro. Assim que entramos, ele fechou a porta com força, fazendo-a ecoar pelo espaço silencioso. — Você tem dois minutos, Yuri. — Ele se virou para mim, cruzando os braços, impaciente. — Fale logo. O que você tem a dizer que não podia esperar? Respirei fundo, tentando manter a calma diante da intensidade de Alexei. — Não acho que devamos descartar Dora tão rápido, Alexei. Ele arqueou uma sobrancelha, surpreso e irritado com a minha afirmação. — E por que não? — Ele se aproximou, sua voz rude. — Porque você acha que ela merece alguma misericórdia? Ela mentiu para mim, para todos nós. Não quero perder mais um segundo olhando para aquela mulher. Fitei seus olhos, segur
Capítulo 200 Yuri Deixei o escritório de Alexei determinado. Já estava tudo esquematizado na minha cabeça. Caminhei até o local onde todos estavam reunidos. Nazar, Maicon, Marco, Fred e alguns soldados aguardavam em silêncio. Mas eu mantive meu rosto impassível. — Vamos para fora. — Minha voz foi firme, sem deixar espaço para questionamentos. Os homens se levantaram, seguindo-me até a área externa da sala. Assim que todos estavam em posição, parei e me virei para encará-los, fechando a porta pesada. — Temos um novo plano. — Comecei, olhando para cada um deles. — Não vamos descartar Dora tão cedo. Nazar bufou, cruzando os braços com expressão irritada. — E por que diabos, isso? — Ele perguntou com desdém. Ignorei o tom dele e continuei. — Ela será a nossa isca. Vamos usar Dora e deixá-la se entregar sozinha. Ela vai pensar que é esperta, mas isso será apenas uma ilusão. Fred... — Me virei para ele. — Preciso de um dos seus dispositivos de chip. Fre
Capítulo 201 Yuri Fui praticamente arrastado por Maicon até a central de câmeras. A sala estava apertada, cheia de gente, e todos tinham os olhos grudados nos monitores. Alexei estava em pé, com os braços cruzados, sua expressão dura como pedra. Nazar encostado na parede ao lado de Fred, Maicon do meu lado. O ar era tenso, mas eu mantive a postura impassível. Alexei nem se virou para me olhar, mas sua voz cortou o silêncio: — Ela já viu o celular. Provavelmente vai pegar. Minhas mãos se fecharam em punhos, mas continuei observando. Na tela, Dora estava caída na cadeira de rodas, ofegante. Seus dedos hesitaram por um segundo antes de finalmente se estenderem para o chão, pegando o celular. Eu podia sentir os olhares em mim, mas não me importei. Dora segurou o aparelho, e seus olhos se arregalaram ao ver o número anotado. O celular estava desbloqueado — propositalmente. Ela olhou para os lados como se temesse que alguém entrasse de repente, mas não pensou duas vezes
Capítulo 202Maria Luíza Assim que Alexei saiu do jardim, a gargalhada começou. Primeiro, veio de Duda, minha irmã, e depois de mim. Ivete, com sua presença única e jeito exagerado, dominava o ambiente com sua energia, usando um uniforme impecável e sua touca de cozinheira que parecia ter sido colocada apressadamente. Ela gesticulava tanto que quase derrubava a bandeja com suco que trazia.— Ah, mas a senhora vai ficar tão orgulhosa de mim! — começou ela, se dirigindo a Duda com o entusiasmo de quem tinha uma grande história para contar. — Tenho tanto para contar! E vou começar pela minha auxiliar de cozinha, senhora!Minha irmã, Duda, já ria antes mesmo de Ivete terminar a frase. Eu a acompanhei com um sorriso. Era impossível não se contagiar com a presença dela. Até dona Olga não conseguiu se conter, e trazia um sorriso no rosto.— Ninguém bota fé em mim como a senhora, mas, ó, eu peguei! Peguei a safada da auxiliar e dei umas bifas! — Ivete bateu as mãos no ar, dramatizando cada p
Capítulo 1 Maria Luíza Duarte Desci as escadas de casa correndo, com um sorriso no rosto e um envelope na mão. Eu queria surpreender o Marco, contar sobre o laudo médico e como os resultados foram bons. A porta de Marco estava apenas encostada. Coloquei a mão na maçaneta e a abri devagar. Meu coração acelerou imediatamente. — Marco? — Uma dor aguda atravessou meu peito. Marco estava ali... completamente nu, sobre outra mulher, que gemia enquanto se agarrava ao pescoço dele. No mesmo sofá onde eu estive ontem, onde ele tentou me tocar, mesmo sabendo que era um dos soldados do meu pai, e eu poderia ser exilada por isso. A cena ficou gravada em minha mente. Ele parecia tão satisfeito com ela. Ouvi seus gemidos de prazer quando ele se afundou entre suas pernas, e aquilo queimou dentro de mim. Amassei o envelope na mão e joguei com força em Marco, e ele se levantou num salto, surpreso. — MALU? CO... COMO VEIO PARAR AQUI? — gritou, ainda nu, enquanto avançava na minha dire
Capítulo 2 Maria Luíza Duarte — Vou enviar a passagem de avião amanhã pra você mais tarde, porque preciso voltar hoje pra Rússia. A frase de Alexei apareceu na minha mente. — Amanhã? — sussurrei, tremendo inteira, e caminhei em direção ao meu destino. Fui para os fundos da propriedade do meu pai e tirei apenas os sapatos, antes de pular no lago, que de acordo com meu tratamento, era uma das coisas que poderia aplacar um pouco da minha agonia, agora. Me sinto confortável, me sinto calma. De repente, mãos fortes me puxaram com tudo da água assim que atravessei o lago, e senti meu corpo arranhar na terra. — Que porra, mulher! Eu nem havia ido embora e você se jogou na água como uma qualquer? Saia daqui imediatamente! Se um dos meus homens te ver com essa roupa grudada no corpo, arcará com as consequências! — era Alexei, estava furioso. “Ele não foi embora?“ Minha respiração começou a falhar, rápida e curta. O coração descompassado batia tão forte que parecia querer ra
CAPÍTULO 3 Maria Luíza Duarte Ao chegar no quarto, fui amparada pela minha mãe e levada até o chuveiro do banheiro. Esse é o lugar que normalmente passo horas. A água escorria pelo meu corpo. O calor do abraço da minha mãe misturado com a textura da água, era o único conforto naquele momento, amenizando a minha angústia e o meu desespero. Muitas coisas aconteceram de uma vez só, estava difícil de assimilar. Ela sabia que palavras não trariam solução, e isso que nem imagina que também fui enganada por Marco, mas sua presença sempre conseguiu amenizar as tempestades dentro de mim. Ficamos ali, abraçadas e vestidas, até que as lágrimas secaram e meu coração encontrou um ritmo mais calmo. — Você é forte, filha — minha mãe disse suavemente, passando a mão pelos meus cabelos. — Só quero que saiba disso. Eu sabia que precisava ser forte. A vida inteira fui preparada para os acordos que moldavam nossa família, e embora soubesse que não teria como escapar do des
CAPÍTULO 4 Maria Luíza Duarte Meu coração batia descompassado, como se fosse saltar do peito. O avião balançava cada vez mais, os gritos ecoavam por todos os lados, e a minha visão começou a embaçar. As luzes piscavam descontroladas, e a única coisa que conseguia sentir era o medo crescendo dentro de mim. “Eu não posso morrer aqui... Não agora.” — DROGA, ALEXEI! EU MENTI, NÃO QUERO MORRER, EU ME CASO COM VOCÊ! — Gritei com o choque, segurando firme na poltrona. Tentei respirar fundo, mas meus pulmões pareciam não obedecer. O pânico subiu à minha garganta, as mãos tremiam, e eu me vi sem controle sobre o que acontecia ao meu redor. As paredes da cabine pareciam se fechar, e minha visão começou a escurecer. A crise de ansiedade estava voltando a dar sinais... senti a dor no peito, a falta de ar, o pânico, aquela sensação de que estou infartando, uma angústia muito forte... caramba! Um homem alto, de jaleco branco, se aproximou rapidamente de mim. Ele se ajoelhou ao