Como aquilo era possível?
- Ele gosta de você. – Élida observou, sem me olhar, seguindo com a cabeça na direção do irmão, que ainda nadava.
- Eu gosto dele – confessei – E isto é tão estranho que me assusta.
- David e eu também somos estranhos. Não no sentido de mal nos conhecermos, mas de hábitos e atitudes, entende? Tivemos tudo que o dinheiro pode comprar... E também boa parte do que ele faz a gente perder, por questão de ambição.
Respirei fundo e peguei a mão dela, enquanto ambas olhávamos na direção do homem que amávamos e nadava no lago tentando dissipar todos os seus medos:
- O que sinto por ele é forte e tenho medo. Já sofri muito e é como se meu cérebro implorasse para que eu não me jogasse de cabeça de novo. E sei muito bem sobre a ambi
Élida levantou e despediu-se do irmão com um beijo e acenou para TumbaLinda, indo para a barraca emprestada por Zaud. TumbaLinda, por sua vez, não fez menção de sair de onde estava, sentada ao lado de David, onde pareciam manter uma conversa bem amigável.Senti o vento aumentar a intensidade e desisti de ficar ali stalkeando o casal perfeito que havia se formado “do nada”. Não era segredo para ninguém que eu morria de medo de tempestades e só de o vento ficar mais forte meu coração já acelerava.Deitei e fiquei rolando de um lado para o outro, sem conseguir dormir. Não levou mais de cinco minutos e minha bexiga estava estourando, sendo que eu havia feito xixi não fazia muito tempo.David acharia que eu estava espionando os dois, o que não era verdade. Então saí da barraca e disfarçadamente apertei os ganchos ainda mais no ch&a
Eu faria pior: tiraria a Montez Deocca de suas mãos. E seria a CEO, passando a transformar a empresa numa grande desenvolvedora de perfumes, que seriam importados para todo o mundo. Eu marcaria o meu nome na história dos perfumes. E por fim, faria Andress não ter mais ninguém com quem contar... Nem a própria mãe. Aquele homem ficaria sem nada. E sofreria tudo que sofri... Porém em dobro.A vida voltava a sorrir para mim... E mais cedo do que eu imaginava!- Sim... Você foi uma filha da puta comigo! – suspirei, fingindo sentir imensamente – E sim, embora não devesse, eu sou uma boa pessoa, mesmo com aqueles que me ofenderam e me roubaram... Confesso que não queria, mas é da minha natureza. Eu não contarei a Andress... Em nome do que tenho de mais sagrado na minha vida... Que é...Eu ri. Eu não tinha nada de mais sagrado na vida. Eu era uma pessoa sem nada
- É uma jacutinga. – Zaud identificou.David olhou para a ave já sem vida que segurava:- Eu sinto muito... Não sabia.- E é justo por este motivo que pessoas como você não deveriam participar desta expedição. – Eliardo vociferou.- Então da próxima vez avise antes de receber o dinheiro das pessoas qual sua preferência de público para trazer para o seu passeio. – David respondeu à altura, encarando Eliardo e pondo o tal frango que não era frango ao lado da fogueira.- David tem razão... Não havia restrições para participar da expedição – falei em sua defesa – Você inclusive trouxe uma mulher “grávida”. – Olhei para TumbaLinda, que me fuzilou com o olhar.- Ela não estava grávida. – Adriana tentou me explicar.- Eliardo
Virei para frente, tentando desfocar dele, já sentindo meu coração acelerar violentamente.- Não tenho um hábito em especial para dormir. Eu nunca tive um animal de estimação porque meu avô não deixava. Se pudesse escolher um animal eu escolheria um peixe.- Por que um peixe?- Quando imagino um animal de estimação para mim vejo um peixe colorido sozinho num daqueles aquários redondos. Um peixe beta... Tão solitário quanto eu.- Mas você era casada há pouco tempo atrás. Ainda assim se sentia solitária?- Hoje percebo que sim. E a resposta da última pergunta...- Qual era mesmo a pergunta? – Ele franziu a testa, talvez tentando lembrar.- Eu penso em você algumas vezes ao dia, desde que o conheci – confessei, sentindo minhas bochechas parecerem pegar fogo – E juro que tentei muitas delas apagar o pensamento... Porque tive e tenho medo.- Medo de sofrer e ser enganada, como Andress fez com você. E... Eu fiz o mesmo que ele. – Dav
- Como você está, David? – Élida apareceu junto de Verbena, ambas subindo pelas rochas para chegarem até nós.- Estou legal! – ele sorriu, tentando tranquilizar a irmã.Élida sentou-se ao lado dele e Verbena ao meu lado.- Você não teve culpa de ter pego aquela ave. – Verbena disse.- Eu sei. Mas realmente acho que Eliardo cobra muito de mim. Se o desejo dele é fazer esta expedição com pessoas que entendam desta floresta e saibam tudo sobre a fauna e flora local, deve ser bem claro quando disponibilizar os pacotes turísticos para compra.- Concordo – Élida o abraçou – Estou pensando em avaliar esta empresa de turismo com apenas uma estrela ao final da expedição.David riu e meneou a cabeça:- Vamos ver como ele se comporta até o final.Élida deu um beijo no rosto
- Talvez isto mude agora que ele passou a ter mais responsabilidades sobre você. – Tentei.- E você não tem uma parente mulher, alguém como referência feminina? – Verbena quis saber.- Ah, eu tenho – ela abriu um sorriso – Dodô! Ela é minha babá.- Você tem uma babá? – Eu ri, afinal, era uma garota de 14 anos com uma babá.- Dodô é muito importante para mim. Na verdade, ela é o que eu poderia ter mais próximo de mãe.- Está escrito na sua cara que você a estima muito. – Verbena observou.- Ela praticamente me criou, já que a minha mãe nunca se importou muito comigo e David.- Sinto muito – Falei – David comentou comigo sobre ela ter ido embora quando você ainda era pequena.- Eu não gosto dela – a garota deixou claro – Nunca
À noite, pela primeira vez desde que começamos a expedição, nos reunimos todos ao redor da fogueira, enquanto Eliardo contava lendas que existiam sobre algumas florestas, até chegar nas da Ilha do Portal.- E a lenda do lago dos desejos? – Adriana quis saber – O que sabe sobre ela?- Esta lenda vem do povo da própria praia do Portal. Alegam que o tal lago protege os habitantes da ilha. Como eu já expliquei, este lago não existe no mapa da ilha.- Diz a lenda que ele é “mágico” – Élida rebateu – Se realmente é “mágico”, poderia não estar nos mapas.- Acha que ele aparece só quando quer? – Eliardo riu, debochando da menina.- Lendas são lendas... E muitas vezes são baseadas em fatos reais, que ao serem contados de geração em geração, acabam se adaptando
- Pois saiba que seria bem caro, devido à qualidade do produto oferecido. – Me ouvi dizendo, sem conseguir desviar os olhos do meu David dentro da água, impedido de sair por sua nudez.Verbena não se conteve e começou a gargalhar.- Você não tem vergonha! – Andress disse com tom de desprezo.O olhei seriamente:- Sou uma mulher livre.- Ainda não assinou o divórcio.- Porque você não me mandou os documentos. Como pode falar isso? Está aí, com a sua amante, e ainda tem coragem de me criticar?- Se Ashley é “minha amante”, como você diz, significa que ainda se considera uma mulher casada. – Debochou.- Estamos mesmo discutindo isto em público? – olhei para Andress e depois para todos nos observando, constrangidos – Quem sabe sentamos todos, comemos uma pipoca e o pessoal aqui decide quem