- É uma jacutinga. – Zaud identificou.
David olhou para a ave já sem vida que segurava:
- Eu sinto muito... Não sabia.
- E é justo por este motivo que pessoas como você não deveriam participar desta expedição. – Eliardo vociferou.
- Então da próxima vez avise antes de receber o dinheiro das pessoas qual sua preferência de público para trazer para o seu passeio. – David respondeu à altura, encarando Eliardo e pondo o tal frango que não era frango ao lado da fogueira.
- David tem razão... Não havia restrições para participar da expedição – falei em sua defesa – Você inclusive trouxe uma mulher “grávida”. – Olhei para TumbaLinda, que me fuzilou com o olhar.
- Ela não estava grávida. – Adriana tentou me explicar.
- Eliardo
Virei para frente, tentando desfocar dele, já sentindo meu coração acelerar violentamente.- Não tenho um hábito em especial para dormir. Eu nunca tive um animal de estimação porque meu avô não deixava. Se pudesse escolher um animal eu escolheria um peixe.- Por que um peixe?- Quando imagino um animal de estimação para mim vejo um peixe colorido sozinho num daqueles aquários redondos. Um peixe beta... Tão solitário quanto eu.- Mas você era casada há pouco tempo atrás. Ainda assim se sentia solitária?- Hoje percebo que sim. E a resposta da última pergunta...- Qual era mesmo a pergunta? – Ele franziu a testa, talvez tentando lembrar.- Eu penso em você algumas vezes ao dia, desde que o conheci – confessei, sentindo minhas bochechas parecerem pegar fogo – E juro que tentei muitas delas apagar o pensamento... Porque tive e tenho medo.- Medo de sofrer e ser enganada, como Andress fez com você. E... Eu fiz o mesmo que ele. – Dav
- Como você está, David? – Élida apareceu junto de Verbena, ambas subindo pelas rochas para chegarem até nós.- Estou legal! – ele sorriu, tentando tranquilizar a irmã.Élida sentou-se ao lado dele e Verbena ao meu lado.- Você não teve culpa de ter pego aquela ave. – Verbena disse.- Eu sei. Mas realmente acho que Eliardo cobra muito de mim. Se o desejo dele é fazer esta expedição com pessoas que entendam desta floresta e saibam tudo sobre a fauna e flora local, deve ser bem claro quando disponibilizar os pacotes turísticos para compra.- Concordo – Élida o abraçou – Estou pensando em avaliar esta empresa de turismo com apenas uma estrela ao final da expedição.David riu e meneou a cabeça:- Vamos ver como ele se comporta até o final.Élida deu um beijo no rosto
- Talvez isto mude agora que ele passou a ter mais responsabilidades sobre você. – Tentei.- E você não tem uma parente mulher, alguém como referência feminina? – Verbena quis saber.- Ah, eu tenho – ela abriu um sorriso – Dodô! Ela é minha babá.- Você tem uma babá? – Eu ri, afinal, era uma garota de 14 anos com uma babá.- Dodô é muito importante para mim. Na verdade, ela é o que eu poderia ter mais próximo de mãe.- Está escrito na sua cara que você a estima muito. – Verbena observou.- Ela praticamente me criou, já que a minha mãe nunca se importou muito comigo e David.- Sinto muito – Falei – David comentou comigo sobre ela ter ido embora quando você ainda era pequena.- Eu não gosto dela – a garota deixou claro – Nunca
À noite, pela primeira vez desde que começamos a expedição, nos reunimos todos ao redor da fogueira, enquanto Eliardo contava lendas que existiam sobre algumas florestas, até chegar nas da Ilha do Portal.- E a lenda do lago dos desejos? – Adriana quis saber – O que sabe sobre ela?- Esta lenda vem do povo da própria praia do Portal. Alegam que o tal lago protege os habitantes da ilha. Como eu já expliquei, este lago não existe no mapa da ilha.- Diz a lenda que ele é “mágico” – Élida rebateu – Se realmente é “mágico”, poderia não estar nos mapas.- Acha que ele aparece só quando quer? – Eliardo riu, debochando da menina.- Lendas são lendas... E muitas vezes são baseadas em fatos reais, que ao serem contados de geração em geração, acabam se adaptando
- Pois saiba que seria bem caro, devido à qualidade do produto oferecido. – Me ouvi dizendo, sem conseguir desviar os olhos do meu David dentro da água, impedido de sair por sua nudez.Verbena não se conteve e começou a gargalhar.- Você não tem vergonha! – Andress disse com tom de desprezo.O olhei seriamente:- Sou uma mulher livre.- Ainda não assinou o divórcio.- Porque você não me mandou os documentos. Como pode falar isso? Está aí, com a sua amante, e ainda tem coragem de me criticar?- Se Ashley é “minha amante”, como você diz, significa que ainda se considera uma mulher casada. – Debochou.- Estamos mesmo discutindo isto em público? – olhei para Andress e depois para todos nos observando, constrangidos – Quem sabe sentamos todos, comemos uma pipoca e o pessoal aqui decide quem
- Quer se enganar para não lamentar o que perdeu. – Ele riu.Suspirei e puxei meus braços com força do domínio dele. Orgulho ferido! Era só aquilo que Andress tinha. Ele não era um homem capaz de ter sentimentos, tampouco valores. Faria tudo para me perturbar ou seduzir, a fim de que eu inflasse seu ego.Fiquei em dúvida do que fazer, já que meus planos de vingança contra ele ficaram vivos de tal forma que cheguei a me assustar. Lembrei do que eu havia falado no bar do Hotel Imperatriz na noite que conheci David e bebi o tal Batom de Cereja, quando comentei que comeria o coração de Andress Montez Deocca. Naquele momento, não só levada pelo meu ódio, mas também pela fome, eu lamberia os dedos após a refeição.Precisava arquitetar meu plano contra Andress. E para isso não poderia me afastar. Ele gostava de se sentir importante,
- Cansei do seu medo de não se entregar aos sentimentos, aos desejos, à vida. E eu que achei que tinha tantas fobias – riu – Sim, elas me limitam... Mas não a ponto de viver o que eu realmente quero. Mas talvez eu esteja errado sobre tudo e medo não seja a palavra certa para suas fugas... Quem sabe é só amor... Neste caso, por Andress.Respirei fundo e falei de forma clara:- Eu não amo mais Andress. E este sentimento deixou de existir porque conheci você, David.- Estou cansado de meias palavras também...- Eu te amo.Ele gargalhou:- Quer que eu acredite nisto enquanto a vejo beijando outro?Limpei as lágrimas:- Eu sei sobre as cláusulas do seu contrato com a família Maxim.- A que se refere?- Acha que eu me sentiria como se você abrisse mão de metade de tudo que tem por minha causa?- O que
Encontrar Zaud sozinho cortando alguns galhos para melhorar seu espaço de descanso foi sorte demais.Parei ao lado dele e comecei a baixar os galhos, a fim de ajudá-lo.- Obrigado! – Sorriu ao me ver fazendo o favor sem que pedisse.Começamos a conversar sobre alguns assuntos sem importância até que puxei o que realmente me interessava:- Eu... Observei seus olhares para Élida Dulevsky.- Eu? Olhando... Para Élida? – ficou preocupado – Não...Por que garotos naquela idade tinham aquele péssimo hábito de fingirem não sentir nada?- Achei que tivesse interessado nela. – Fingi estar enganada.- Não... Eu a acho bonita e tal... Mas... Nada a ver.Tentei assimilar o que ele tinha tentado dizer com aquilo:- Que pena! Vocês formam um belo casal, na minha opinião.- O irmão dela me jogaria de um penhasco, como fez com a barraca. – Pareceu amedrontado.Não contive o riso:- David não faria isto. Ele só quer o bem da irmã.- Élida... É só uma menina.- Ela fará 15 anos dentro de dias. Se for a