LíviaOlho para a tela apagada do celular ainda sentindo as bochechas queimando, o tom de voz firme como se conseguisse ler todas as minhas inseguranças apenas pela ligação.Talvez Bruno realmente consiga fazer isso, coloco o aparelho em cima da mesinha e deito suspirando ao afofar o travesseiro. Ele é bem mais velho que eu, enquanto acabei de completar dezessete anos, ele vai completar trinta no próximo mês.E como sei disso? Costumava acompanhar todas as notícias com seu nome, comprando várias revistas e admirando o seu perfil. Um homem que apesar de toda a riqueza dos pais, construiu o próprio império. Seu legado como um dos maiores empresários do ramo de Hotelaria é incrível. Admito ser fã dele, mas aquela conversa que escutei sobre vender o orfanato para fazer algo lucrativo destruiu cada um dos sonhos que tive com ele e principalmente o pedestal em que o colocava. Agora, dou passos inseguros na direção dele, assinamos um contrato no qual sou sua esposa, logo eu!Uma garota po
BrunoManter o brilho no olhar de Lívia é tão singelo quanto regar uma rosa, talvez seja por isso que todos estranham o meu bom humor durante o dia na empresa. Nem mesmo consigo ficar irritado quando Yago aparece com cara de poucos amigos e uma lista interminável de reclamações sobre os contratos que mantemos nas ruas do lado leste da cidade.Giovanna apareceu duas horas depois com uma lista de eventos em nome do meu pai, é claro, futuro prefeito da cidade de Denver. A mais importante do Estado.O nome dele sendo cotado como um dos principais para a organização na Sicília e nas subdivisões aqui nos Estados Unidos. As três principais famílias são compostas por Bianchi, Rizzo e Lafaiete.Meu pai é o filho mais novo, por isso não ocupa a cadeira de chefe, mas como Gianni, meu tio jamais quis se casar, a herança caiu em cima de mim. Desde o nascimento, fui quase enviado de fraldas para ser o pupilo de Don Gianni Lafaiete.Por isso, não faço a menor questão em manter a interação com a minh
LíviaNão encontrei Miguel ao entrar na sala, estranho a ausência do meu amigo. Ao mesmo tempo, ainda estou extasiada pela maneira como Bruno foi tão prestativo. O seu cuidado comigo tem sido tão bom de sentir, é como se não estivesse mais sozinha no mundo. Claro, os cuidados da Madre e das outras freiras, além da amizade com Lívia e o amor das crianças, sempre foram bastante. Só que como toda criança órfã, o sonho de ser adotada sempre existiu, ter uma família, um lar. Acabei criando raízes no orfanato passando da idade como tantas outras crianças que não são adotadas após os três anos de idade. Ver os amigos sendo escolhidos, é de uma alegria enorme e de um vazio infeliz. A dúvida de quem são os meus pais, porque me abandonaram ou o motivo de ninguém querer ficar comigo em um lar. Suspiro, sem conseguir prestar atenção na aula de matemática, noto os olhares do professor Diego ao perceber que não estou interagindo ou fazendo perguntas. Abaixo a cabeça voltando a anotar algumas co
LíviaEscuto as batidas na porta, quero poder ignorar mas não sei a quanto tempo estou aqui dentro chorando como uma criança."Lívia" A voz de Alice soa calma."Já estou voltando para a aula, desculpe." Declaro ajeitando o amassado da saia.Puxo o papel higiênico passando nas bochechas querendo esconder qualquer rastro de choro. Mas ao olhar para a mochila e notar o pequeno rasgo feito pelo salto mordo a parte interna das bochechas. "Querida, o que aconteceu?" Dessa vez a voz dela parece mais preocupada."Nada Alice só precisei vir ao banheiro antes de ir para a aula." Declaro."Lívia as aulas acabaram já faz vinte minutos." Mordo os lábios nervosa retorcendo os dedos, sem saber como agir. Na verdade não quero sair daqui de dentro, quantas vezes sofri com atitudes piores do que a de hoje? Acredito ter ficado tão impactada por uma pequena parte dentro de mim acreditar, que sim, é verdade. Vendi a minha vida durante um ano para poder manter o único lugar que chamo de lar, os gestos ca
LíviaOs fios sedosos entre os meus dedos se misturam com as palavras amorosas e o calor no baixo ventre deixando todo corpo em chamas. Nossas línguas se entrelaçam enquanto suas mãos firmes descem para a minha cintura, entre beijos fortes roubando o fôlego e beijos leves deixando o desejo ainda maior. Suspiro ao tentar continuar, mas não encontro a sua boca, abro os olhos e vejo o sorriso charmoso estampado nos lábios avermelhados. As sobrancelhas grossas franzidas em meio ao brilho azulado, Bruno parece estar buscando controle enquanto seu peito sobe e desce com a respiração acelerada. Ele balança a cabeça em uma negativa."Precisamos parar, não tenho um autocontrole de ferro." Fala determinado com a voz um pouco rouca.Desvio o olhar sentindo o calor do sangue nas bochechas, sinto o desejo enlouquecendo os meus pensamentos. A ideia de ter ele é tão insana quanto a felicidade de saber que estamos nutrindo sentimentos um pelo outro. "Eu quero continuar." Murmuro.Escuto a sua risad
BrunoQuando chegamos no orfanato, admito com certo desgosto o quanto estou apreensivo imaginando as respostas da Madre em relação ao nosso casamento. De uma forma estranha, respeito a mulher e sei o quanto sua opinião é importante para Lívia.Me questiono se uma negativa faria com que ela abrisse mão do relacionamento, do que conversamos.Ela parece entender o nervosismo que percorre cada pedaço do meu corpo, apertando minha mão a todo instante. Suspiro enfeitiçado pelo cuidado dela, acho que jamais tive algo assim, mesmo meu tio cumprindo o papel de pai a sujeira da máfia sempre fala mais alto. Não existe inocência nos homens nascidos para herdar cargos na organização, é como se a maldade nascesse no momento em que somos gerados. A calmaria no pátio acaba fazendo a aflição subir um pouco mais pela minha espinha.Percebo a maneira como ela também parece estranhar a falta de movimentação, é quando damos a volta no pátio que duas irmãs parecem estar aflitas."Graças ao meu bom, Deus, me
Lívia Suspiro sentada no banco de cimento embaixo de uma pequena árvore do outro lado do orfanato, gosto de passar alguns momentos pensativos aqui, o vento frio e a pequena visão das estrelas pelo céu acalentam os meus medos. Uma semana atrás, sentei no sofá com minha mãe, Magnolia, confessei os sentimentos que tenho por Bruno e a necessidade que sinto em entregar-me para ele de corpo, alma e coração. Nosso encontro nesse mesmo orfanato, foi como um reencontro de almas, pelo menos é o que quero acreditar, afinal, um sentimento tão forte assim parece ter sido destinado. Não senti vontade de ir para o colégio nessa última semana pré-férias. O medo de encarar Barbara é enorme. Conversei com Miguel por mensagens em alguns dias e ele fez questão de acalmar os meus nervos falando que está bem com a irmã e mãe, mesmo após o pai dele ter sido encontrado morto há quatro dias. Talvez seja a pressão em pensar em um casamento tão jovem, o medo de que Bruno desista de mim ou as palavras da minh
Bruno Passar a semana inteira sem ver Livia foi como uma provação, para manter a sanidade no lugar acabei pegando mais pesado no treino em busca de alcançar um sono que a todo momento parece fugir pelos meus dedos. Organizando cada um dos contratos dentro da empresa, comparecendo a alguns jantares beneficentes e intimos, apenas para a escória que deseja apoiar Afonso como futuro prefeito. Marcando os meus pontos com o velho, pelo outro lado negociar e subfinanciando o concorrente tem se mostrado de grande benefício. O que coloca o homem em uma posição na qual não pode negar nenhum dos meus futuros pedidos, conferi as boates, os pontos de drogas, as vendas das armas certificando a segurança do território para a chegada do meu tio programada para amanhã. Diante de todas as negativas da minha garota, já sabia que algo estava errado, preferi colocar esse ponto como uma dúvida dela em relação aos preparativos do que imaginar que ainda estaria tendo alguma insegurança sobre nós. O que