Daniel
Depois de cair na estrada e de passar por tantos lugares incríveis, Daniel sentia-se cansado, mas feliz. Não cansado dos amigos que fizera, nem dos amores de uma noite que tivera. Sentia-se cansado de não ter um lugar que pudesse chamar de seu. Pensou que havia encontrado esse lugar próximo a uma fazenda de gado no Pantanal, onde morou e trabalhou por quase um ano. Como ele adorava aquele lugar. Aprendeu a montar, laçar novilho, tocar o gado e até mesmo tocar berrante. Porém, do que mais gostava era das noites enluaradas onde, ao redor da fogueira, sentia-se um trovador, despejando seus versos de amor. Falava de moças a sonhar, de amores roubados, sempre co
CarolCarol e Brian estavam na cozinha preparando o almoço, quando Priscila desceu sonolenta, abriu a geladeira e se serviu de um copo de água. Enquanto bebia, percebeu os olhares furtivos que eles trocavam. É claro que ela havia sacado o lance entre os dois. Conhecia muito bem o irmão. Só não queria que a amiga sofresse, caso Brian resolvesse aprontar com Carol. Não queria perder a amizade dela.- Brian – levou o copo mais uma vez a boca, analisando-o.- Sim – respondeu ele , com meio sorriso no rosto.- Sua namorada estava na festa do Rafa. Ela parecia bem à vontade nos braços do seu amigo Beto
DanielDaniel ainda fugia. Fugia de si mesmo. Às vezes sentia que toda essa andança, todo esse caminho sem pouso, que tanto desejou um dia, não lhe era mais suficiente. Principalmente depois que quase fora obrigado a se tornar o que não queria, por um sogro maquiavélico. Andar sem destino tinha suas vantagens; fugir de tudo o que o magoava ou exigia uma atitude, era uma delas. Mas um dia as pessoas têm que encarar seus problemas de frente. Pegar o touro a unha, como diziam. Ele havia deixado algumas coisas para trás, coisas que precisavam ser finalizadas. Deixou o amigo Renan, que sempre esteve com ele nas horas em que tudo parecia perdido; e de certa forma, deixou que a
CarolDepois de passarem algum tempo namorando no quarto de Priscila, Brian ouviu um carro estacionar na garagem da casa. Vestiu a camisa depressa, fazendo Carol erguer a sobrancelha, apreensiva.- O que foi? - perguntou diante de seu comportamento desconfortável.- Acho que os meus pais chegaram.- Óh! Esqueci-me deles - disse, erguendo-se da cama e ajeitando-se da melhor forma possível.- Talvez seja melhor que eles me vejam na sala, do que aqui no quarto da Pri, roubando beijos ousados da amiga dela – sorriu, ao estender a mão para ela, beijando-a novamente.- Se fosse em minha casa, meus pais te esfolariam vivo.- Lembre-me de
Carol encarava Renan, estupefata. Algo em suas palavras deixou-a em estado de alerta. Aquele homem parecia deixá-la em transe com sua explanação.- Mas como conseguirá sintetizar a Fosfoetanolamina, se nosso organismo não consegue fazer isso sozinho? – perguntou Carol aflita – vendo Renan sorrir de forma cansada.- Apesar da Fosfo, como carinhosamente a chamamos, estar presente no nosso organismo; quando eu, ainda bolsista na USP...- Brian me disse que o senhor foi aluno da USP. Em que ano foi isso?- interrompeu Carol, sentindo um arrepio percorrer seu corpo.- Saí de lá em 1992, depois de ter feito mestrado e doutorado. Voltando ao assunto, quando eu ainda fazia a graduação, nosso orientador conseguiu sintetizar a Fosfoetanolamina – olhou com olhos luzidios para Carol, enquanto ela se lembrava da foto que vira no Google, dos jovens segurando cartazes com a palavra FOS
DanielPor mais que Daniel quisesse retomar a vida que havia deixado para trás, aquele lugar, embora o fizesse se lembrar do entrevero ocorrido com o Dr. Schiavon anos atrás, também o fazia sentir-se em casa, principalmente por causa dos amigos que fizera no bar da Mo, sem dizer, a própria Mo. Todas as noites, durante o mês que passou ali, ele tocou naquele bar. Já não via mais aqueles olhares cansados e desanimados que presenciara da primeira vez em que pusera os pés naquele lugar abandonado. Até mesmo o olhar de Mo mudara. Podia ver a alegria estampada nos rostos dos homens que chegavam, já pedindo suas cervejas geladas, ao invés da pinga sol
CarolApequenina gargalhava com as cócegas que recebia das mãos da mãe, enquanto a tirava do banho e a enxugava:- Eu te amo, sabia? – disse a mãe para a menina de cabelos castanhos avermelhados.- Você me amou antes? - perguntou a menina com o patinho de borracha na mão.- Como assim, antes? Quando ainda estava em minha barriga?- Não. Antes.- É claro que sim – respondeu, sem entender o que a pequena perguntava.- Marina? – a pequena chamou, fazendo a mãe olhar assustada para ela.- Do que me chamou?-
DanielAlgumas semanas se passaram desde a última conversa de Daniel com Mo sobre sua doença. Ela estava se arrastando durante o dia, deixando o bar praticamente aos seus cuidados. Sentia-se dividido e arrasado, principalmente ao ver a dor estampada em seu rosto, sem se queixar e sem querer tocar no assunto. Aquela olheiras arroxeadas o incomodava sobremaneira. Seus clientes já haviam notado que algo estava errado com ela. Tinha tantas perguntas para lhe fazer, mas ela o evitava quando percebia para qual rumo se encaminharia a conversa. Aquela angústia que sentia acabou suplantando todas as suas dúvidas. Já estava mais do que na hora de fazer algo. Deixou Mo sozinha no ba
CarolCarol e Brian saíram naquela manhã ensolarada, cada qual perdido em pensamentos. Porém, as cores refletidas pelo raio do sol através do para-brisa do carro, não conseguiam clarear a imensidão negra que tomava conta de Carol.- Tá tudo bem? – perguntou Brian, pegando em sua mão, enquanto dirigia.- Tá. - respondeu apreensiva.- Já estamos chegando. Acha que ela vai estar em casa?- Sim.Entraram na cidade, pela Avenida São Carlos, e em poucos minutos, Brian estacionava em frente à casa de Carol.- Quer que eu vá com você? – perguntou