Carol encarava Renan, estupefata. Algo em suas palavras deixou-a em estado de alerta. Aquele homem parecia deixá-la em transe com sua explanação.
- Mas como conseguirá sintetizar a Fosfoetanolamina, se nosso organismo não consegue fazer isso sozinho? – perguntou Carol aflita – vendo Renan sorrir de forma cansada.
- Apesar da Fosfo, como carinhosamente a chamamos, estar presente no nosso organismo; quando eu, ainda bolsista na USP...
- Brian me disse que o senhor foi aluno da USP. Em que ano foi isso?- interrompeu Carol, sentindo um arrepio percorrer seu corpo.
- Saí de lá em 1992, depois de ter feito mestrado e doutorado. Voltando ao assunto, quando eu ainda fazia a graduação, nosso orientador conseguiu sintetizar a Fosfoetanolamina – olhou com olhos luzidios para Carol, enquanto ela se lembrava da foto que vira no Google, dos jovens segurando cartazes com a palavra FOS
DanielPor mais que Daniel quisesse retomar a vida que havia deixado para trás, aquele lugar, embora o fizesse se lembrar do entrevero ocorrido com o Dr. Schiavon anos atrás, também o fazia sentir-se em casa, principalmente por causa dos amigos que fizera no bar da Mo, sem dizer, a própria Mo. Todas as noites, durante o mês que passou ali, ele tocou naquele bar. Já não via mais aqueles olhares cansados e desanimados que presenciara da primeira vez em que pusera os pés naquele lugar abandonado. Até mesmo o olhar de Mo mudara. Podia ver a alegria estampada nos rostos dos homens que chegavam, já pedindo suas cervejas geladas, ao invés da pinga sol
CarolApequenina gargalhava com as cócegas que recebia das mãos da mãe, enquanto a tirava do banho e a enxugava:- Eu te amo, sabia? – disse a mãe para a menina de cabelos castanhos avermelhados.- Você me amou antes? - perguntou a menina com o patinho de borracha na mão.- Como assim, antes? Quando ainda estava em minha barriga?- Não. Antes.- É claro que sim – respondeu, sem entender o que a pequena perguntava.- Marina? – a pequena chamou, fazendo a mãe olhar assustada para ela.- Do que me chamou?-
DanielAlgumas semanas se passaram desde a última conversa de Daniel com Mo sobre sua doença. Ela estava se arrastando durante o dia, deixando o bar praticamente aos seus cuidados. Sentia-se dividido e arrasado, principalmente ao ver a dor estampada em seu rosto, sem se queixar e sem querer tocar no assunto. Aquela olheiras arroxeadas o incomodava sobremaneira. Seus clientes já haviam notado que algo estava errado com ela. Tinha tantas perguntas para lhe fazer, mas ela o evitava quando percebia para qual rumo se encaminharia a conversa. Aquela angústia que sentia acabou suplantando todas as suas dúvidas. Já estava mais do que na hora de fazer algo. Deixou Mo sozinha no ba
CarolCarol e Brian saíram naquela manhã ensolarada, cada qual perdido em pensamentos. Porém, as cores refletidas pelo raio do sol através do para-brisa do carro, não conseguiam clarear a imensidão negra que tomava conta de Carol.- Tá tudo bem? – perguntou Brian, pegando em sua mão, enquanto dirigia.- Tá. - respondeu apreensiva.- Já estamos chegando. Acha que ela vai estar em casa?- Sim.Entraram na cidade, pela Avenida São Carlos, e em poucos minutos, Brian estacionava em frente à casa de Carol.- Quer que eu vá com você? – perguntou
DanielTarde da noite, depois de se sentir angustiado durante o dia todo após sua visita na ESAS, Daniel fechar o bar para Mo. Antes de se deitar recebe o tão aguardado telefonema de Renan:- Ei Dan?- E aí cara. Diga que vai me ajudar. - disse, sem preâmbulos.- Não foi fácil. Tive que inventar uma história, mas sim, consegui. Vou te ajudar, mas terá que trabalhar durante à noite.- Quando? - pergountou ansioso.- Venha depois que o bar fechar. Quanto mais tarde, melhor.- E o segurança do Campus? Vamos ter problema com ele?- Não. Já resolvi tudo.- Valeu, cara. Quando posso
CarolVocê está bem? – perguntou Brian, assim que Carol entrou no carro, visivelmente pálida.- Estou – respondeu a um Brian desconfiado.- Não parece estar. Como foi?- Horrível, mas eu tinha que tentar – fez silêncio, olhando o nada que se descortinava à sua frente, enquanto Brian dirigia – E antes que me pergunte, ele não é meu pai.- Entendo – disse, virando a rua e entrando na Avenida São Carlos – O que vai fazer agora?- Vou tentar descobrir onde ele está.Brian dirigia em silêncio, perdido em seus próprios pensamentos, quando Carol deixou a po
Carol entrou no laboratório após Brian ter saído para um lanche. Estava próxima do entendimento, tinha certeza de que em mais algumas horas, conseguiria fazer a coisa funcionar. Foi quando viu Renan parado na bancada em que ela trabalhava, olhando seu caderno de anotações. Sentiu-se traída e irritada. Que direito ele tinha de mexer em suas coisas? Não sabia que aquilo era particular? Caminhou decidida até ele:- O que está fazendo? – perguntou visivelmente furiosa.- Nada. Pensei que pudesse ter anotado algo sobre a pesquisa. – disse, fechando o caderno, mantendo o semblante impassível, enquanto colocava as mãos no bolso do jaleco.- Isso não lhe dá o direito de mexer nas minhas coisas.Renan balbuciava alguma desculpa, mas ela já não o enxergava mais. Sua mente fora atacada por diversas cenas que corriam velozes, se misturando &agra
CarolCarol ainda estava calada, com a garganta doendo; porém, agora estava segura naquele carro que a levava de volta para casa. Seu pai dirigia atento à estrada, enquanto sua cabeça descansava no colo da mãe, que acariciava seus cabelos.Tudo acontecera muito rápido. Renan caído no chão e depois, sendo agarrado pelo segurança da Universidade e levado para longe dela. Brian a olhava petrificado. Acabara de salvar sua vida. Ela tentou agradecer, mas ele a impediu com um gesto das mãos.- Eu ouvi tudo. Sinto muito – disse pesaroso.- Eu me lembrei – Carol disse num fio de voz, encarando-o, aflita.<