– Merda! - Puxo com força a tranca da porta e resmungo um palavrão quando ela nem se mexe – Vamos lá, abre logo.
Dou um último puxão e oscilo para trás, arfando com o movimento repentino, olho para minha mão e vejo o trinco de ferro na mão. Puta merda quebrei a porta do prédio. Olho para os lados e somente vejo o porteiro atrás do seu balcão muito mais interessado em seus vídeos de gatinho do que na inquilina que acabou de quebrar a porta da frente, me abaixo o suficiente para ver o estrago e vejo um pequeno cilindro no chão, pego-o e coloco no único lugar vazio que sobra.
Junto os dois e enfio de novo na porta, um clique meio estranho soa e eu movo para baixo, a porta abre com um puxão, mas o trinco se solta da porta de novo, insiro na porta para que pareça que não está quebrado e deslizo para fora, suspirando aliviada. Me encolho debaixo do sobretudo quando sinto o ar gélido atingir o meu corpo e começo a correr em direção ao ponto de ônibus, não consigo nem recuperar o meu folego quando o ônibus para a minha frente. Subo as escadas atrás de algumas pessoas e relaxo os músculos enquanto fico em pé segurando a barra de ferro.
Leva exatos trinta minutos, mais cinco minutos correndo pela rua para que eu chegue a estação de metrô, e já estou totalmente molhada da chuva que resolveu cair de repente, quando adentro o metrô faço uma careta quando não vejo nenhum acento livre mas sorrio quando vejo uma senhora me olhar com pena, ela estava sentadinha em seu banco.
Penso: Pois é, minha senhora, hoje não é meu dia.
Me encosto em um dos cantos e trago minha bolsa para frente, o metrô desliza pela plataforma e eu olho o relógio, vinte minutos para eu estar totalmente atrasada e como essa viagem é de quinze minutos já me considero uma derrotada. Droga.
- Não está tendo uma manhã boa querida? - A senhora pergunta e eu foco os meus olhos nela antes de responder
- Até agora não, mas tenho certeza que irá melhorar
Ela sorri gentil e eu mordo o meu lábio com força quando vejo o sorriso dela, me lembrando. Bloqueando esses pensamentos balanço a cabeça e suspiro baixinho olhando para o relógio de novo, pego a minha pulseira e giro ela em torno do pulso tentando acalmar minhas palpitações.
Quinze minutos depois minha respiração se controla e eu desço do metrô correndo e subindo as escadas tentando não empurrar ninguém no processo, o que é meio que impossível, mas peço desculpas, elas devem servir para algo.
Guarda-chuvas de cores diferentes aparecem e desaparecem da minha visão enquanto corro pelas ruas me molhando ainda mais. Estanco quando chego em frente ao prédio em cores preto obsidiana e abro as portas de vidro derrapando quando chego ao saguão, ignoro com um sorriso inocente o olhar emburrado de Oliver, um dos seguranças, e entro no elevador apertando o botão do terceiro andar.
Bato os pés impaciente vendo os números subirem e solto um suspiro quando um barulho do elevador parando soa e eu estou no meu andar. Bato o meu ponto com o cartão e vejo que meu atraso foi de dois minutos, nada mal para quem acordou atrasada…De novo.
– Bom dia Kallie – Coloco a bolsa em cima da minha mesa e aceno para Tori a minha frente.
- Bom dia
- Esqueceu o guarda-chuva de novo? - Ela pergunta e eu levanto um ombro, ela ri baixinho e me entrega uma caneca de café, o aroma vem até o meu olfato e eu inspiro feliz, mas aí lembro do gosto e faço uma careta – Ah vai, pelo menos vai te esquentar. - Uma sauna me esquentaria, isso? - Levanto a xícara – Só vai me fazer ter uma baita taxa de glicose no sangue.
Ela concorda bebendo um gole e eu faço o mesmo nos fazendo rir, me sento na cadeira desconfortável e aperto o botão de ligar do computador, minha mesa é o meu orgulho, odeio bagunça, então coloco a bolsa em uma das gavetas e somente tiro meu celular e meu bloco de anotações. Inspeciono o celular em busca de mensagens importantes, então ignoro algumas e relaxo o ombro quando não vejo mensagem de Bianca.
- Você viu que Campbell comprou as ações da empresa de tecnologia avançada? A Technological Structure.
- Eu vi – Vejo ela digitando e dou um sorriso quando sinto seu olhar desconfiado – O que? Acha que foi um péssimo investimento?
- Na verdade eu acho sim, aquela empresa estava falindo Kallie – Ela arqueia as sobrancelhas em descrença – Tipo, eu jurava que Campbell era um cara inteligente, mas aí ele foi lá e comprou uma empresa falida.
- Tori, você sabe muito bem que dependendo da pessoa, poderia transformar a empresa e colocar ela no eixo de novo
- Que problemático – ela resmunga e eu volto os olhos para a planilha, digito as informações que faltam e marco de vermelho quando não encontro o que estava procurando na outra pasta.
Empresas Campbell, uma das maiores empresas de construção do estado de Nova York, comandada por nada mais nada menos que o mais novo bilionário Declan Campbell, com apenas 30 anos, ele conseguiu chegar ao topo e permanecer. É um belo histórico, não é? Coisa de cinema.
Eu faço parte disso…. Mais ou menos. Trabalho em uma das muitas localizações, em um dos prédios mais bem construídos e mais bonitos também, a fachada com pedras pretas chama a atenção dos pedestres e me distraia também, mas isso foi há quatro anos. Comecei nessa empresa como secretária, basicamente eu atendia telefones e passava eles para o ramal correto, mas, há dois anos passei para assistente administrativo de Taylor Colton.
É um ótimo emprego, principalmente para mim que não conseguiu terminar a faculdade de contabilidade, mas isso não vem ao caso agora. Termino a planilha e envio rapidamente quando vejo Colton saindo do elevador, com sua pasta de couro super cara e seu terno comprado sobre encomenda.
- Bom dia
Sua voz estala no ar e vejo algumas cabeças se levantando, mas não ousando responder, ele não gosta que respondam o bom dia dele, ou qualquer pergunta que ele faça e seja retórica, como vamos adivinhar que são retóricas? Bem, não sabemos, então tomamos o cuidado de não responder, eu sei, é hilário.
Permaneço sentada, mas coloco o bloco de anotações e a caneta perto de mim enquanto começo uma lista de relatórios sobre os funcionários do prédio. Não demora muito para que Colton me chame ainda de dentro da sala.
- Jones!
Vejo Tori fazer uma careta antes de me levantar e dou um sorriso mais animada do que de fato estou. Estico a camisa de botões o máximo que posso para não parecer que está tão amassada e passo a mão no cabelo colocando-os para atrás das orelhas.
A porta está fechada então bato devagar e entro, basicamente aqui ninguém tem uma sala privada, somente Colton, e ele faz questão de ornamentar sua sala como se fosse o dono de tudo, a mesa de mogno, junto com uma cadeira reclinável e um quadro que ele jura ser um autêntico de Jackson Pollock.
- Me chamou senhor Colton?
- Sim, como está o problema com Celina? - ele levanta a cabeça dos seus papéis e eu o observo, um lado do seu bigode está mais para a esquerda dando um pequeno contraste estranho a sua falta de cabelo, seus olhos pretos impacientes fixam em mim e eu pigarreio focando de novo na pergunta.
- Celine ainda está em casa, o médico pediu mais uns dois meses de repouso absolutoColton bufa e seu bigode entorta ainda mais, finjo coçar o cantinho do olho para desviar a atenção e espero ele falar.
- Preciso dela e não tenho tempo para fazer entrevistas agora.
- Posso ajudar em alguma coisa? - Pergunto educadamente, mas me arrependo quando vejo seus olhos deslizarem por mim, me avaliando – Eu poderia fazer as entrevistas, ou requisitar alguém que já trabalha conosco... - Colton se reclina na cadeira e suas mãos se juntam, em pose pensativa – Você foi secretária não é mesmo Jones?
- Sim senhor – respondo e desloco o peso de um pé para outro, desconfortável com sua avaliação repentina.
- Como estão suas tarefas agora?
- Perdão?
- Suas tarefas Jones – ele espana com a mão impaciente – Os trabalhos que você faz poderia ser passado para outra pessoa por um tempo?
Fico desnorteada por alguns segundos, meus pensamentos vão de demitida para ocupar o cargo de Celine. Particularmente prefiro a segunda opção.
- Creio que sim
- Maravilha, quem você colocaria no seu lugar? - Jesus, isso estava muito estranho
- A Vitória ou a Jane
- Tudo bem – ele acena e pega o celular discando rapidamente antes de colocar no ouvido, fico parada sem saber se é para sair, mas como ele não faz nada que me diga o contrário, permaneço em pé no mesmo lugar – Sônia? Sou eu Colton – ele faz uma pausa e depois continua – Arranjei a pessoa perfeita para ficar no lugar de Adams – Mais uma pausa, dessa vez ele está olhando para mim com um sorriso satisfeito – Sim, seu nome é Jones, é meu assistente, muito organizado – Finjo tirar um fio imaginário da minha roupa, ocultando minha expressão de surpresa do rosto enquanto ele escuta o outro lado da linha – Sim, mandarei assim que possível. Até mais Sônia.
Ele desliga a ligação e eu coloco os ombros para trás esperando as ordens, porque depois disso sei com certeza que ele irá me colocar no lugar de Celine, como secretária do setor de contabilidade. Não me importo com isso, desde que seja temporário, não suportaria ficar o dia inteiro atendendo o telefone.
- Negócio feito Jones, você vai ser a nova secretária de Campbell – ele diz sorrindo, enquanto na minha cabeça a única palavra que vem é:
Cacete.
Saio da sala entorpecida e me sento jogando o bloquinho e a caneta na mesa, os dados da planilha a minha frente é um emaranhado de números e letras, piscando os olhos lentamente levanto a cabeça e encontro o olhar de Tori do outro lado.- O que foi?- Fui colocada em outro cargo – eu respondo e ela arregala os olhos fascinada- Sério? Ai meu deus, você conseguiu – Ela se levanta e vem para o meu lado, ficando de costas para a sala de Colton – Você vai para onde? Contabilidade?- Secretária- O que?? - ela grita na sala e eu belisco o seu braço, recebendo uma careta de volta – Como assim? Você saiu de lá, porque voltaria?- Secretária de Campbell – eu falo e coloco a mão sobre a cabeça sentindo um leve latejar nas têmporas – Puta merda, o que eu faço?- Aí caramba, sinto muitoFranzo a testa com
- Você deve saber como é, já trabalhou com isso. O senhor Campbell tem muitos compromissos e precisa ter uma pessoa que possa ajuda-lo quando ele mais precisa, você irá atender ligações, organizar a sua agenda, seguir ele em alguma reuniões, e acima de tudo atender as expectativas dele no que ele pedir – Sônia continuava falando com a voz rápida enquanto eu ia anotando tudo em meu bloco, ou fingindo que estava anotando, porque eu meio que me perdi no começo da conversa – Ele ainda não disse quando chegará, mas deve ser logo, há algumas coisas que requer sua atenção imediata, sabe como é né?- ClaroMinha resposta nem é escutada por ela, porque ela passou por minha resposta seguindo com suas instruções longas e detalhadas, suspiro irritada enquanto continuo olhando para ela fingindo prestar atenção. S&o
A semana passou e o dito cujo não apareceu, nem sinal de fumaça, nenhuma sombra, nenhuma ligação e as reuniões acabaram se acumulando na minha mesa, e tenho que dizer que lidar com empresários chateados e idiotas foi o ápice da minha carreira administrativa.Mas sábado chegou, e trouxe o aniversário de Tori, junto com uma sombra do que parecia ser o sol depois de dias de chuva. Tori não é muito de comemorar, principalmente sabendo que está completando 30 anos, então combinamos simplesmente de nos encontrar no pub Cavendish depois do trabalho, junto com Jasper é claro.Claramente eu não poderia deixar que ela passasse o aniversário sem um pouco de doce, então encomendei um bolo pequeno com bastante confeite colorido, e combinei de buscar aos meio dia. E é por esse motivo que estou parada a dez minutos na faixa de pedestre esperando que o sinal fi
- Eu ainda não acredito que você chamou o carro dele de lataria – Tori fala e começa a rir de novo, o que é um pequeno problema para mim, porque toda vez que ela volta a esse assunto eu entorno mais um shot.... eu já estava no quinto.A memória dos carros freando e eu caindo de bunda no chão só faz uma pequena cosquinha na minha dignidade, agora o fato de xingar o meu chefe no meio do estacionamento meio que dá um belo murro me colocando no chão de novo.Mas caramba, eu não tenho culpa sabe? Foi sem querer, e ele tinha que ter noção disso. Aquele babaca...Droga, xinguei ele de novo.- Eu vou ser demitida mais rápido que eu pensei – eu resmungo por sobre o som do pub.- Não vai nada, vai mostrar serviço e pronto – Jasper apoia o braço em meus ombros e eu apoio minha cabeça em seu peito – Ele vai esquecer isso
- Jones! – pulo cerca de dois centímetros na cadeira antes de me levantar e seguir em direção a sala de Campbell. Jesus, precisa gritar tão alto assim? Ele acha que eu sou surda? – Onde está a porcaria da pasta sobre os Brown?- Desculpe? – eu pergunto e me aproximo, mas dou um passo atrás quando vejo a carranca em seu rosto.- A pasta intitulada Brown, a indústria Têxtil- Sei que empresa está falando sr. Campbell. O que não sei é sobre a pasta, não a vi quando estava organizando- MerdaSuas mãos se movem abrindo e fechando gavetas e franzo a testa ao ver a bagunça começando a aparecer de novo em cima da mesa dele, mas volto o olhar para ele quando percebo que ele está resmungando de novo.- Pergunte a Sônia onde a secretária anterior deixou essa pasta, preciso das informações que est&a
Sabe aquelas máquinas potentes de café? Que basicamente faz tudo o que você pedir?Tipo, cappuccino, expresso, latte, macchiato, esse tipo de coisa. Café que mais parece uma refeição.Eu quebrei.É isso aí, eu quebrei uma máquina que com certeza custava muito dinheiro, e depois andei até a mesa dele e coloquei o café que consegui salvar antes que quebrasse.Provavelmente ele vai ficar sabendo uma hora ou outra, mas puta merda, buscar café toda vez que ele tem algum cliente é pura chateação.E eu sei que ele sabe o quanto eu odeio, o covarde.Porque quando a máquina chegou, Sônia estava na sala dele e pediu rapidamente um copo de café com aquela voz fina e alegre de sempre “Quero ser a primeira a estrear, pode trazer uma xicara para mim florzinha? Cappuccino por favor”.Eu tenho certeza que ro
- Eu vou matar você – eu rosno baixinho e Tori arregala os olhos fingindo inocência- Não é nada demais amiga, é só um experimento- Experimento? Você está maluca?Olho ao redor e vejo Sarah uma funcionária, nos observando curiosa enquanto diminui os passos pelo saguão. Estou esperando no térreo que Campbell chegue, mais uma reunião fora do escritório e dessa vez estou munida com informações mais que necessárias, só não esperava que Tori também tivesse informações nada desejáveis.- Olha, a gente vai e se diverte juntas. Mas estando acompanhadas de dois homens muito bonitos e simpáticos.- Você não sabe disso, lembra? Você acabou de concordar em um encontro as escuras Tori- Eu sei, mas a minha colega disse que são muito gentis e eu confio nela- N
Dizer que era uma péssima ideia viajar com o chefe irritante era dizer o mínimo, mas eu juro que somente pensei em coisas positivas, tipo, eu conheceria uma cidade nova, e entraria em um avião....Opa, ponto negativo.Viu? Nem pensamentos positivos servem mais. Coloco mais algumas camisas na mala pequena e averiguo de novo antes de fechar e a colocar em pé ao lado da cama, olho o relógio, nove horas da manhã, tenho uma hora antes que precise pegar um táxi.Entro no banheiro e tomo o banho mais relaxante que posso tomar, água gelada tende a fazer isso. Lavo os cabelos e depois o seco com o secador, criando pequenas ondas, faço uma maquiagem leve e passo brilho nos lábios, deixo o cabelo solto e coloco meu vestido preto justo, complementando com um sobretudo cinza.Calço as botas de salto alto e deslizo a mala de rodinhas pelo apartamento, mando uma mensagem de aviso a Jasper e ele