Jhulietta Duarte O despertador tocou às cinco da manhã, e abri os olhos com dificuldade. Meu corpo pedia mais cinco minutinhos, mas eu sabia que se me rendesse ao sono, perderia a hora de levar Ethan para a escola. — Levanta, mulher! — murmurei para mim mesma, jogando as cobertas para o lado e sentando na cama. Me espreguicei, bocejei e levantei, indo direto para o banheiro. Depois de um banho rápido e revigorante, coloquei uma roupa confortável e fui até a cozinha onde dona Neuza já estava preparando o café da manhã e eu a ajudei, quando vi que o relógio marcava seis horas fui para o quarto de Ethan. Como esperado, ele estava completamente esparramado na cama, dormindo como se não tivesse um compromisso na vida. Me aproximei e sacudi seu ombro de leve. — Ethan, acorda. Ele resmungou algo ininteligível e se virou para o outro lado. Suspirei. — Ethan! — chamei de novo, um pouco mais alto. — Só mais cinco minutos… — ele murmurou. Cruzei os braços e sorri de canto. — T
O restaurante tinha um clima aconchegante, com luzes amareladas pendendo do teto e um aroma delicioso de comida fresca no ar. Caio já estava sentado quando cheguei. Ele usava uma camisa preta dobrada até os cotovelos, os cabelos bagunçados no estilo que eu lembrava tão bem. Quando me viu, abriu aquele sorriso largo que fazia qualquer um se sentir bem-vindo. — Pensei que você fosse me dar um bolo — ele brincou, se levantando para me cumprimentar. — Você acha que eu perderia um jantar de graça? — brinquei de volta, piscando. Ele riu e puxou a cadeira para mim, o que me pegou um pouco de surpresa. Caio sempre foi do tipo mais largado, sem essas formalidades. Talvez ele realmente tivesse amadurecido. — Está diferente, hein? Desde quando virou um cavalheiro? — Desde que virei pai — ele respondeu, sentando-se de volta. — A gente aprende umas coisas. — Isso é verdade. — Sorri, pegando o cardápio. O garçom veio logo em seguida, e Caio sugeriu um vinho. Aceitei, porque não? Eu me
Cheguei em casa e, assim que joguei minha bolsa no sofá, liguei para minha amiga, que claramente já estava esperando minha ligação.— Até que enfim! Achei que ia me deixar curiosa a noite inteira — Renata disse, animada. — E então, como foi o jantar com seu amigo?Revirei os olhos, rindo.— Sabia que você ia perguntar isso logo de cara. Foi um jantar normal entre amigos.— Hum… — Ela fez um som desconfiado. — E não rolou nem uma faisquinha do passado?— Nadinha — garanti, me jogando no sofá.— Nem um friozinho na barriga? Um olhar prolongado? Uma lembrança que fez seu coração bater mais forte?— Amiga, Caio e eu nunca daríamos certo. Era uma amizade, uma paixão de juventude, só isso.— Mas ele está mais másculo agora? Ou continua a mesma coisa de quando eram jovens?Suspirei, rindo.— Tá, não vou mentir. Ele sempre teve aquele charme despretensioso. Mas isso não muda nada.— Sei… — Ela alongou a palavra, claramente sem acreditar cem por cento em mim.— Renata!— O quê? Só estou analis
O abraço de Nicolas era quente e firme, como se pudesse afastar todos os medos que ainda pulsavam dentro de mim. Eu sentia seu coração batendo forte contra o meu, como se quisesse me garantir que tudo ficaria bem. De repente, um trovão cortou o céu, iluminando a sala em um clarão intenso. Um arrepio percorreu minha espinha, e antes que eu percebesse, meus braços apertaram Nicolas com mais força. — Está tudo bem, Jhulietta — ele murmurou contra meus cabelos, sua voz grave e reconfortante. — Estou aqui com você. Assenti, ainda sem conseguir falar, apenas me deixando envolver por sua presença. Meu corpo tremia levemente, não só pelo medo que ainda latejava em mim, mas também pela adrenalina que parecia não querer me deixar. Nicolas afastou-se um pouco para olhar em meus olhos. Seu olhar escuro e intenso carregava uma preocupação genuína. — Vamos para o sofá — ele disse baixinho. Apenas assenti, permitindo que ele guiasse meus passos até a sala. Quando me sentei, Nicolas ajoel
Nicolas Santorini A chuva batia contra as janelas com uma força imensa, criando uma melodia incessante que preenchia o silêncio entre nós. Eu podia ouvir o leve tremor em sua respiração, o modo como Jhulietta ainda lutava contra o medo que parecia não querer se afastar dela. Ela estava ali, tão perto de mim, e ao mesmo tempo, tão distante, presa em seus próprios receios. Mas sabia que, de alguma forma, ela precisava de mim. Eu precisava dela.Ela estava com os olhos fechados, como se estivesse espantando seus demônios, e vê-la tão vulnerável partia meu coração. A cada respiração dela, eu sentia um impulso de protegê-la, de acalmá-la. A todo momento, eu dizia que estava ali para ela, e a cada vez que eu repetia essas palavras, ela parecia um pouco mais tranquila.— Jhulietta — chamei seu nome baixinho, a voz suave, quase como um sussurro.Ela virou para mim, os cílios ainda molhados pelas lágrimas que ela tentava conter. Cada pedaço dela que eu via, que eu tocava, me fazia querer prot
Jhulietta Duarte A noite ainda estava silenciosa quando abri os olhos. O quarto estava mergulhado em sombras, iluminado apenas pelos feixes fracos da lua que escapavam por entre as cortinas. Nicolas dormia ao meu lado, sua respiração tranquila e ritmada, o braço ainda descansando sobre minha cintura, como se temesse que eu escapasse.Mas eu não queria escapar.Fiquei ali, deitada ao lado dele, revivendo cada instante do que havíamos compartilhado. Meu corpo ainda sentia a presença dele, a maneira como ele me tocava, com reverência e paixão. Cada toque, cada beijo, cada palavra murmurada contra minha pele... tudo estava gravado em mim.E então, me lembrei do que ele disse no momento em que estávamos fazendo amor:"Olhe nos meus olhos, Jhulietta. Sempre que a chuva cair, quero que lembre desse momento... e não do que aconteceu antes."Fechei os olhos e deixei a lembrança da noite anterior me envolver. A chuva lá fora ainda caía, mas, dessa vez, seu som não me trazia medo. Trazia a memó
O sol brilhava no céu de uma forma que só fica depois de um dia chuvoso, e uma brisa fresca tornava o clima perfeito. Casais passeavam de mãos dadas, crianças corriam pelo gramado, e o cheiro de café recém-passado das barracas espalhava-se pelo ar.— Adoro esse lugar — murmurei, observando uma fonte próxima onde algumas crianças brincavam.— Eu também — Nicolas disse, entrelaçando seus dedos nos meus. — Mas só porque você está aqui comigo.Revirei os olhos, mas não consegui evitar um sorriso.— Ah, para!Ele riu, me puxando para mais perto.— Apenas digo a verdade.Enquanto caminhávamos, Nicolas e eu conversávamos sobre coisas aleatórias, rindo de pequenos momentos do nosso dia. O clima estava leve, confortável. Mas então, meus olhos pousaram em um grupo de crianças brincando.— O que foi?— Nada demais, só estou com saudades de Ethan.Nicolas sorriu de lado, balançando a cabeça.— Você realmente é apegada ao meu filho, né?— Muito mesmo. Mas precisamos conversar com ele… não sei o qu
Chegamos em minha casa e Nicolas fez questão de carregar as sacolas do mercado. O clima entre nós ainda estava leve, repleto da intimidade que havíamos compartilhado no parque. Nicolas parecia relaxado, mas algo em seu olhar denunciava que havia algo rondando sua mente. — Você pode ir escolhendo um filme enquanto eu preparo o almoço — digo abrindo as sacolas e colocando as coisas na pia da cozinha. — E perder a chance de te ver cozinhando? Nem pensar. Revirei os olhos, mas um sorriso brincou em meus lábios. Ele se encostou na porta da cozinha, cruzando os braços, e ficou ali, me observando com atenção. — Sabe que é estranho, né? — comentei, enquanto terminava de retirar os ingredientes das sacolas. — O quê? — Nicolas perguntou curioso. — Você me encarando desse jeito,chefe.Ele deu de ombros. — Gosto de te ver fazendo as coisas, e aqui não sou seu chefe. Ri baixinho e comecei a preparar o peixe. Cortei os ingredientes com cuidado, sentindo seu olhar atento em cada movime