Jhulietta Duarte Acordei cedo, movida por uma curiosidade inquietante. O que Nicolas queria me contar? Durante a madrugada, minha mente viajou entre suposições, mas nada parecia se encaixar. Decidi ocupar o tempo ajudando Dona Neuza na cozinha. Talvez isso distraísse meus pensamentos.Assim que entrei, encontrei Dona Neuza de avental, mexendo uma panela cheia de cheiro de café fresco. — Bom dia, Dona Neuza! O que está preparando de bom? — perguntei, animada. — Bom dia, menina. Só o café mesmo e uns bolinhos. Vai cuidar da sua vida e deixa que eu resolvo aqui. — Ela sorriu me enxotando. Mas eu insisti. Era a minha chance de estar ocupada, já que havia deixado tudo que Ethan precisava pronto. — Ah, faço questão de ajudar! Além disso, não consigo ficar parada com tanta coisa na cabeça. Ela levantou uma sobrancelha desconfiada. — Tá bom, mas não vá fazer bagunça. Porque sabe o quanto já sou desastrada. — Ela disse e assenti sorridente. Enquanto lavava alguns pratos e ajudava
Depois do almoço, me certifiquei de que a mochila de Ethan estava pronta e pedi a Manolo que nos levasse até o curso de robótica. Ethan estava radiante, tagarelando sobre as palavras em alemão que havia aprendido.— E, tia Jujubinha, hoje o professor disse que vamos construir algo incrível! Não sei o que é ainda, mas aposto que vai ter LEDs! — Ele disse com os olhos brilhando.— LEDs? Olha só, já está falando como um verdadeiro engenheiro, hein? — provoquei, e ele sorriu, orgulhoso.Chegamos ao curso, e ele desceu animado, carregando sua mochila.— Boa aula, meu amor! — falei, acenando enquanto ele corria em direção ao prédio.Assim que ele desapareceu, virei-me para Manolo.— Manolo, pode me deixar em uma loja de brinquedos? Quero comprar algo especial para o Ethan.Ele assentiu, e seguimos até o shopping. Assim que entrei na loja, fiquei impressionada com a quantidade de opções. Caminhei pelos corredores, observando os brinquedos, até que um robozinho chamou minha atenção. Era peque
Na manhã seguinte, levei Ethan para o treino. Enquanto ele corria com a bola e interagia com os outros meninos, eu sentia algo estranho. Era como se estivesse sendo observada. A sensação era desconfortável e insistente, me deixando inquieta.Estava tentando afastar o incômodo quando meu celular apitou com uma notificação."Jupita, você continua linda."Reli a mensagem três vezes, tentando entender quem poderia tê-la enviado. O apelido era algo que poucas pessoas conheciam, o que aumentava meu desconforto."Quem é você?" — digitei rapidamente, meu coração acelerado.A resposta veio quase que imediatamente:"Sério mesmo que você não sabe quem sou?"A mensagem me deixou ainda mais intrigada, mas também irritada. Decidi não responder. Bloqueei a conversa e voltei minha atenção para o treino.— Jhu! — uma voz chamou, me tirando dos meus pensamentos.Ao me virar, vi o treinador de Ethan me observando com um sorriso descontraído. Fiquei surpresa com a forma como ele usou meu apelido. Desde q
O sol ainda nem havia nascido completamente quando levantei. Olhei para o relógio no criado-mudo: 6h30. Era cedo para um domingo, mas prometi a Ethan que passaríamos a manhã no parque. Depois de me espreguiçar, fui até o quarto dele, abrindo a porta devagar. Ele estava encolhido na cama, o rosto sereno enquanto dormia profundamente. — Ethan, campeão, está na hora de acordar. — Chamei suavemente, passando a mão em seus cabelos. Ele resmungou algo ininteligível antes de abrir os olhos preguiçosamente. — Já está de manhã, tia? — murmurou, a voz sonolenta. — Sim, e é dia de parque. Você não vai querer perder, vai? Ethan piscou algumas vezes antes de abrir um sorriso. — Parque? Ah, é verdade! — Ele se levantou de um pulo, a animação tomando conta. Enquanto ele se trocava, preparei uma mochila com água, frutas e protetor solar. Assim que ele apareceu na cozinha, pronto e sorridente, partimos. O parque estava calmo, com poucas pessoas circulando, o ar fresco da manhã criando um
Nicolas Santorini Cheguei a Minas para resolver as questões burocráticas do hotel, mas, na verdade, minha cabeça estava em São Paulo. O que será que Jhulietta e Ethan estavam fazendo em pleno domingo? Essa dúvida me consumia.Enquanto organizava alguns papéis, meu amigo Eduardo chegou com sua energia de sempre. Ele me deu um tapa nas costas, o que me fez lançar um olhar torto.— Que cara é essa, Nic? Pensando na professorinha? — provocou, rindo.Revirei os olhos e dei um soco em seu braço com força suficiente para fazê-lo recuar.— Já te disse, o nome dela é Jhulietta. — Minha voz saiu mais dura do que o esperado. Eduardo gargalhou, achando graça da minha reação.— Tá bom, tá bom. Relaxa, moreco. Vamos resolver o que temos que fazer, mas, antes disso, precisamos comer. Mereço um café reforçado.Enquanto caminhávamos em direção à cafeteria do hotel, uma senhora passou por nós e soltou um comentário inesperado:— O mundo está perdido mesmo, dois homens bonitos desses jogando pro outro
Três dias depois, Eduardo e eu retornamos de Minas. Assim que o motorista estacionou, perguntei se estava tudo tranquilo, e ele confirmou que sim. Entrei em casa e, pela porta de vidro, avistei Ethan e Jhulietta na piscina. Fiquei parado por um momento, observando a cena. Ethan parecia extremamente feliz, enquanto ela ria das brincadeiras dele.Assim que me viu na porta, Jhulietta saiu rapidamente da piscina, enrolando-se na toalha.— Desculpe, estou na piscina com Ethan. — Disse apressada, parecendo um pouco sem jeito.— Não precisa se desculpar. Ethan não teve aula hoje? — perguntei, curioso.— Não. A escola está sendo dedetizada, então eles cancelaram as aulas por hoje.Nesse instante, Ethan me avistou. Ele saiu da piscina correndo, mas foi rapidamente interceptado por Jhulietta, que ralhou com ele.— Ethan, não corra molhado, você pode se machucar!— Desculpa, tia Jujubinha! — Disse ele, cabisbaixo.Não consegui segurar o sorriso. Ethan então veio até mim, me abraçando apertado. R
Jhulietta Duarte Depois de tudo que Nicolas me contou, fiquei deitada olhando para o teto, tentando organizar meus pensamentos. Estava na casa de uma irmã que eu nunca soube que existia, cuidando do filho dela, que, na verdade, é meu sobrinho. E, para complicar ainda mais, estava apaixonada pelo marido dela. Não importa o quanto eu tente negar, os sentimentos estão lá. Mas agora, com essa descoberta, minha relação com Nicolas parecia errada.Decidi que, por respeito à memória de Laura, eu deveria me afastar de Nicolas. Talvez fosse o certo. Antes de dormir, me ajoelhei ao lado da cama e fiz uma oração, a mesma que ensinei a Ethan. Pedi forças, discernimento e, no fundo, queria acreditar que Laura e minha mãe estavam juntas, olhando por mim e por Ethan. Quando terminei, uma lágrima escapou, mas senti uma paz inexplicável.Na manhã seguinte, recebi um comunicado da escola de Ethan, informando que as aulas seriam suspensas por mais dois dias devido à dedetização. Pedi que enviassem ativ
Assim que os amigos chegaram, o entusiasmo tomou conta da casa. Violett, com seus cachinhos dourados, parecia ansiosa para saber como seria a aula. Aurélia, sempre curiosa e cheia de perguntas, já segurava o caderno como se estivesse prestes a desvendar um mistério. Emanuel, tímido, mas muito inteligente, sorria discretamente enquanto ouvia Ethan falar com orgulho: — A tia Jujubinha é a melhor professora do mundo! Vocês vão ver. — Ethan! — repreendi, rindo. — Não coloca tanta expectativa assim em mim! Eles me seguiram até a sala, onde eu havia improvisado um pequeno espaço com uma mesa grande, almofadas espalhadas no chão e uma lousa portátil que peguei no escritório de Nicolas. Sobre a mesa, deixei materiais como folhas coloridas, marcadores, lápis de cor e algumas peças de LEGO, que planejava usar na aula. Escolhi a sala por conta da acessibilidade para Aurélia. — Vamos começar com algo diferente. — Disse, chamando a atenção de todos. Eles se acomodaram nos lugares improvis