O domingo prometia ser um raro oásis de tranquilidade em minha rotina. A luz suave da tarde banhava meu apartamento enquanto eu me perdia entre as páginas de um livro envolvente. O silêncio era um bálsamo para minha mente geralmente agitada. No entanto, a paz foi abruptamente interrompida pelo toque estridente do telefone. Peguei o celular e vi o nome de Nicolas no visor. Suas ligações eram raras, o que instantaneamente acendeu um sinal de alerta em mim. — Oi, Nicolas. Aconteceu alguma coisa? — perguntei, tentando manter a voz calma. — Jhulietta, desculpe incomodar seu domingo, mas o Ethan está com febre muito alta. Ele não para de chamar por você — respondeu ele, com uma mistura de urgência e preocupação em sua voz. Meu coração acelerou. Ethan era uma criança adorável, e nossa conexão era inegável. Talvez fosse a semelhança física com alguém importante em sua vida, ou simplesmente o laço que havíamos construído, mas ele parecia encontrar conforto em minha presença. A ideia
Nicolas Santorini Eu terminava minha fatia de torta, o olhar perdido no vazio, enquanto o peso das responsabilidades parecia esmagar meu peito. Jhulietta se preparava para sair da cozinha quando a chamei, quase sem pensar. — Jhulietta, você tem um minuto? — perguntei, sem muita certeza de como iniciar a conversa. — Claro, Nicolas. — Ela respondeu prontamente, seu tom respeitoso, mas sem a formalidade excessiva de antes. Suspirei, sentindo a necessidade de ar fresco. — Vamos ao jardim? Acho que precisamos de um pouco de ar. Ela assentiu e me acompanhou. No jardim, as luzes baixas iluminavam delicadamente as flores. O aroma das rosas se misturava à brisa noturna, criando uma atmosfera serena. Paramos perto da fonte, onde a água fluía suavemente. Olhei para o céu, as estrelas pareciam tão distantes quanto as respostas que eu buscava. — Parece que tem algo te incomodando, Nicolas. Quer conversar sobre isso? — perguntou Jhulietta, com uma voz gentil, mas firme. Hesitei por alguns s
Subi as escadas com passos apressados, o coração pesado a cada degrau. As palavras da empregada ainda ecoavam: "Ethan acordou e está te chamando." Era a primeira vez em muito tempo que ele pedia por mim.Ao abrir a porta do quarto, encontrei Ethan sentado na cama, os joelhos dobrados contra o peito, os olhos arregalados e úmidos, ainda brilhando com o resquício de lágrimas. Apertava forte seu cobertor azul, aquele que sua mãe costurou para ele quando era bebê. A luz suave do abajur projetava sombras dançantes nas paredes, intensificando a atmosfera tensa.— Ethan? — chamei, a voz baixa e suave.Ele me olhou, e foi como se toda a sua angústia se derramasse naquele olhar. Sem hesitar, corri até ele e sentei na beira da cama.— Papai — ele sussurrou, a voz trêmula.— O que aconteceu, meu filho? Pode me contar — perguntei, tentando transmitir segurança com meu tom de voz e um toque suave em seu ombro.Ethan respirou fundo, apertando o cobertor contra o peito. — No sonho… eu estava sozinh
Após o café da manhã com Ethan e Jhulietta, a hora de enfrentar a situação na escola havia chegado. Um misto de apreensão e determinação me consumia. Precisava fazer isso por Ethan, por nós.Jhulietta e eu seguimos para a escola em silêncio, a atmosfera no carro carregada de uma tensão palpável. Podia sentir o olhar preocupado de Jhulietta sobre mim, mas preferi me concentrar na estrada, tentando organizar meus pensamentos. A imagem do rosto de Ethan, antes hesitante e depois aliviado com minha promessa, permanecia gravada em minha mente. Aquele era o combustível que me impulsionava.Ao chegarmos à escola, respirei fundo antes de sair do carro. Jhulietta colocou a mão no meu braço, um gesto de apoio silencioso.— Vai dar tudo certo, Nicolas — disse ela, com um sorriso encorajador.Assenti, tentando transmitir confiança, mesmo que por dentro estivesse me sentindo como um garoto prestes a ser chamado na diretoria.Fomos recebidos por uma secretária com uma expressão severa, que nos dire
Jhulietta DuarteA semana que se seguiu à visita à escola de Ethan foi uma montanha-russa de emoções. A cada dia, eu me sentia mais envolvida na vida daquela família, e a melhora gradual de Ethan me dava um alívio imenso. Nicolas parecia genuinamente empenhado em cumprir sua promessa de ser mais presente, e isso refletia diretamente no bem-estar do filho. As conversas entre eles se tornaram mais frequentes, os sorrisos mais espontâneos. Era gratificante testemunhar aquela transformação.No entanto, uma sombra pairava sobre mim. A conversa com a diretora da escola me deixara com uma pulga atrás da orelha. A frieza e a aparente falta de empatia dela me preocupavam. Eu sabia que precisávamos continuar vigilantes, garantindo que Ethan estivesse realmente seguro e amparado.Em meio a essas reflexões, fui surpreendida por uma proposta inesperada de Nicolas. Ele me chamou para uma conversa em seu escritório, um espaço amplo e elegante, com uma vista panorâmica da cidade. A seriedade em seu s
Me instalei de vez na mansão e, aos poucos, organizei a rotina de Ethan. Ajustei seus horários, criando uma rotina de estudos mais eficiente e incentivando atividades extracurriculares que despertavam seu interesse. Mais importante do que isso, dediquei tempo para simplesmente conversar com ele. Apesar de sua relutância, ele começaria a ver um psicólogo infantil na próxima semana. Eu tinha esperanças de que isso o ajudaria a lidar melhor com suas questões internas.Naquela noite, após colocar Ethan na cama, fui para o jardim. Deitei no gramado fresco e fiquei olhando para o céu estrelado. Não sei ao certo por que, mas a imagem da minha mãe veio à minha mente. Talvez porque, assim como Ethan, eu também fui separada da minha mãe de forma tão abrupta.— O que está fazendo aqui a essa hora? — A voz grave de Nicolas me assustou, me fazendo dar um salto.— Desculpe, não queria assustá-la. Estava indo para casa, mas a vi aqui tão pensativa e resolvi me aproximar. Está tudo bem? Ethan deu alg
Nicolas SantoriniAs semanas que se seguiram à formalização do trabalho de Jhulietta foram como um bálsamo para minha alma. A casa, antes envolta em um manto de silêncio e melancolia, parecia ter ganhado vida. A presença constante de Jhulietta irradiava alegria e contagiava a todos, especialmente Ethan. Vê-lo sorrir com tanta frequência era um presente que eu não sabia o quanto sentia falta.Jhulietta tinha um jeito único com meu filho. Ela não era apenas uma tutora; era uma amiga, uma confidente, alguém que realmente se importava com o bem-estar dele. As conversas entre eles fluíam com naturalidade, e Ethan se abria com ela de uma forma que nunca havia se aberto comigo. Confesso que, no início, senti um leve ciúme, mas logo percebi que aquilo era exatamente o que ele precisava: alguém que o ouvisse sem julgamentos, que o entendesse além das minhas próprias limitações como pai.Eu também me esforçava para cumprir minha promessa. Ethan pediu para fazer aulas de futebol, e Jhulietta o a
Jhulietta DuarteAinda sentia o toque dos lábios de Nicolas nos meus. A lembrança daquele beijo parecia um sonho, algo tão distante e, ao mesmo tempo, tão real que fazia meu coração acelerar só de pensar. Passei a noite em claro, revivendo cada detalhe daquele momento mágico. O jeito como ele me olhou, como suas palavras eram cheias de gratidão, como a conexão entre nós parecia inevitável.Mas, junto com a lembrança doce, veio a dúvida. O que aquilo significava para ele? Para nós? Nicolas era meu chefe, um homem que enfrentava suas próprias batalhas. E eu... eu era apenas uma tutora tentando reconstruir a própria vida.Na manhã seguinte, decidi que manteria as coisas profissionais. Ethan era minha prioridade. Não podia deixar meus sentimentos interferirem em nada.Ethan já estava pronto para o futebol. Ele segurava a bola com entusiasmo enquanto esperava na sala.— Vou avisar o seu pai que estamos saindo, tudo bem? — perguntei.— Claro! Mas não demora, hein? — respondeu ele, rindo.Su