Subi as escadas com passos apressados, o coração pesado a cada degrau. As palavras da empregada ainda ecoavam: "Ethan acordou e está te chamando." Era a primeira vez em muito tempo que ele pedia por mim.Ao abrir a porta do quarto, encontrei Ethan sentado na cama, os joelhos dobrados contra o peito, os olhos arregalados e úmidos, ainda brilhando com o resquício de lágrimas. Apertava forte seu cobertor azul, aquele que sua mãe costurou para ele quando era bebê. A luz suave do abajur projetava sombras dançantes nas paredes, intensificando a atmosfera tensa.— Ethan? — chamei, a voz baixa e suave.Ele me olhou, e foi como se toda a sua angústia se derramasse naquele olhar. Sem hesitar, corri até ele e sentei na beira da cama.— Papai — ele sussurrou, a voz trêmula.— O que aconteceu, meu filho? Pode me contar — perguntei, tentando transmitir segurança com meu tom de voz e um toque suave em seu ombro.Ethan respirou fundo, apertando o cobertor contra o peito. — No sonho… eu estava sozinh
Após o café da manhã com Ethan e Jhulietta, a hora de enfrentar a situação na escola havia chegado. Um misto de apreensão e determinação me consumia. Precisava fazer isso por Ethan, por nós.Jhulietta e eu seguimos para a escola em silêncio, a atmosfera no carro carregada de uma tensão palpável. Podia sentir o olhar preocupado de Jhulietta sobre mim, mas preferi me concentrar na estrada, tentando organizar meus pensamentos. A imagem do rosto de Ethan, antes hesitante e depois aliviado com minha promessa, permanecia gravada em minha mente. Aquele era o combustível que me impulsionava.Ao chegarmos à escola, respirei fundo antes de sair do carro. Jhulietta colocou a mão no meu braço, um gesto de apoio silencioso.— Vai dar tudo certo, Nicolas — disse ela, com um sorriso encorajador.Assenti, tentando transmitir confiança, mesmo que por dentro estivesse me sentindo como um garoto prestes a ser chamado na diretoria.Fomos recebidos por uma secretária com uma expressão severa, que nos dire
Jhulietta DuarteA semana que se seguiu à visita à escola de Ethan foi uma montanha-russa de emoções. A cada dia, eu me sentia mais envolvida na vida daquela família, e a melhora gradual de Ethan me dava um alívio imenso. Nicolas parecia genuinamente empenhado em cumprir sua promessa de ser mais presente, e isso refletia diretamente no bem-estar do filho. As conversas entre eles se tornaram mais frequentes, os sorrisos mais espontâneos. Era gratificante testemunhar aquela transformação.No entanto, uma sombra pairava sobre mim. A conversa com a diretora da escola me deixara com uma pulga atrás da orelha. A frieza e a aparente falta de empatia dela me preocupavam. Eu sabia que precisávamos continuar vigilantes, garantindo que Ethan estivesse realmente seguro e amparado.Em meio a essas reflexões, fui surpreendida por uma proposta inesperada de Nicolas. Ele me chamou para uma conversa em seu escritório, um espaço amplo e elegante, com uma vista panorâmica da cidade. A seriedade em seu s
Me instalei de vez na mansão e, aos poucos, organizei a rotina de Ethan. Ajustei seus horários, criando uma rotina de estudos mais eficiente e incentivando atividades extracurriculares que despertavam seu interesse. Mais importante do que isso, dediquei tempo para simplesmente conversar com ele. Apesar de sua relutância, ele começaria a ver um psicólogo infantil na próxima semana. Eu tinha esperanças de que isso o ajudaria a lidar melhor com suas questões internas.Naquela noite, após colocar Ethan na cama, fui para o jardim. Deitei no gramado fresco e fiquei olhando para o céu estrelado. Não sei ao certo por que, mas a imagem da minha mãe veio à minha mente. Talvez porque, assim como Ethan, eu também fui separada da minha mãe de forma tão abrupta.— O que está fazendo aqui a essa hora? — A voz grave de Nicolas me assustou, me fazendo dar um salto.— Desculpe, não queria assustá-la. Estava indo para casa, mas a vi aqui tão pensativa e resolvi me aproximar. Está tudo bem? Ethan deu alg
Nicolas SantoriniAs semanas que se seguiram à formalização do trabalho de Jhulietta foram como um bálsamo para minha alma. A casa, antes envolta em um manto de silêncio e melancolia, parecia ter ganhado vida. A presença constante de Jhulietta irradiava alegria e contagiava a todos, especialmente Ethan. Vê-lo sorrir com tanta frequência era um presente que eu não sabia o quanto sentia falta.Jhulietta tinha um jeito único com meu filho. Ela não era apenas uma tutora; era uma amiga, uma confidente, alguém que realmente se importava com o bem-estar dele. As conversas entre eles fluíam com naturalidade, e Ethan se abria com ela de uma forma que nunca havia se aberto comigo. Confesso que, no início, senti um leve ciúme, mas logo percebi que aquilo era exatamente o que ele precisava: alguém que o ouvisse sem julgamentos, que o entendesse além das minhas próprias limitações como pai.Eu também me esforçava para cumprir minha promessa. Ethan pediu para fazer aulas de futebol, e Jhulietta o a
Jhulietta DuarteAinda sentia o toque dos lábios de Nicolas nos meus. A lembrança daquele beijo parecia um sonho, algo tão distante e, ao mesmo tempo, tão real que fazia meu coração acelerar só de pensar. Passei a noite em claro, revivendo cada detalhe daquele momento mágico. O jeito como ele me olhou, como suas palavras eram cheias de gratidão, como a conexão entre nós parecia inevitável.Mas, junto com a lembrança doce, veio a dúvida. O que aquilo significava para ele? Para nós? Nicolas era meu chefe, um homem que enfrentava suas próprias batalhas. E eu... eu era apenas uma tutora tentando reconstruir a própria vida.Na manhã seguinte, decidi que manteria as coisas profissionais. Ethan era minha prioridade. Não podia deixar meus sentimentos interferirem em nada.Ethan já estava pronto para o futebol. Ele segurava a bola com entusiasmo enquanto esperava na sala.— Vou avisar o seu pai que estamos saindo, tudo bem? — perguntei.— Claro! Mas não demora, hein? — respondeu ele, rindo.Su
Nicolas Santorini Eu estava em meu escritório em casa, debruçado sobre uma pilha de documentos importantes que exigiam minha assinatura. A luz da tarde entrava pela janela, iluminando a poeira que dançava no ar. Dona Bruna bateu na porta, anunciando uma visita. Imaginei que fosse meu amigo, então pedi que o deixasse entrar. Para minha surpresa, era Olivia.— Oi, meu benzinho! — Olivia disse, com aquele tom de voz meloso que sempre me dava arrepios.— Olivia, eu não tinha deixado claro que você não era bem-vinda aqui? — Minha voz saiu fria, cortante.— Ah, qual é, Nick? — Ela sorriu, como se estivesse tudo bem. — Eu entendi que era no seu escritório da empresa, não na sua casa. — Ela enfatizou as palavras, com um brilho malicioso nos olhos. — Estava morrendo de saudades, chuchu… Daquelas nossas noites… você sabe.Um calafrio percorreu meu corpo. A lembrança daqueles momentos me causava repulsa.— Olivia, aquilo foi há muito tempo. Acabou. E, sinceramente, me arrependo profundamente.—
Depois de algum tempo em silêncio, meu amigo, do nada, soltou uma gargalhada.— Meu Deus, Nicolas! Que confusão! Mas me diga uma coisa… você gosta dela, não é?Assenti, sem conseguir encarar meu amigo.— Estou começando a gostar, Eduardo.— Então não deixe essa vadia estragar tudo para você de novo! — Eduardo disse com firmeza. — Você não pode deixar que o passado te controle. Você tem que lutar pelo que você quer, Nicolas. E, pelo que me parece, você quer a Jhulietta.As palavras de Eduardo me atingiram como um raio. Ele tinha razão. Eu não podia deixar que Olivia, ou qualquer fantasma do passado, me impedisse de ser feliz.— Você tem razão — murmurei, com um novo ânimo. — Eu preciso falar com ela.— É isso aí! — Eduardo sorriu, dando um tapa no meu ombro. — Diga a ela que você não é o mesmo homem de antes. Diga que mudou, que aprendeu com seus erros. E, acima de tudo, mostre a ela o quanto você a quer.— Até que, para um idiota de marca maior, você tem bons conselhos.— Pode me cham