Sugestão de trilha sonora para esse capítulo: Vicente: "All I Want, Olivia Rodrigo" Lisa: "Someone like you" Boa leitura e até o próximo capítulo, meus amores! ♥
78 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Debruçada sobre a mesa fria e metálica eu encarei os olhos do detetive debochado. Seu olhar desdenhado era lançado sobre mim, sem economia. —O que mais você quer que eu fale? —Eu quero detalhes, você está sendo superficial. —E expirou, esfregando as mãos. —Senhora François, vou deixar bem claro como as coisas acontecem por aqui, eu tenho provas concretas de que você esteve na cena do crime, de que você tentou se livrar das provas. Só preciso de uma confissão. Inspirei fundo e virei a cabeça para o lado, encontrando uma expressão apática do advogado. Ele me lançou um olhar que indicava para eu não confessar. —Eu estou cansada de mentir pra ele. Ele não merece ser suspeito de nada. —Sussurrei e tornei a olhar para o detetive novamente. —Detetive Paranhos, eu- —Senhor, estamos tendo problemas para conduzir o interrogatório do senhor Vicente François. Ele olhou por cima dos ombros. —Por que? —Porque ele apresenta incongruências durante o interrogatório, senhor.
79 Vicente François ⤝⥈⤞ Não há terror maior que a tensão de esperar por alguém com dificuldades para lhe revelar “segredos”. —Vai ficar me encarando desse jeito? Parece entalada, fala logo, Charlotte. Eu tenho que agilizar o meu dia- —Vicente, não é fácil, okay? —Como não? Senti o celular vibrando dentro do bolso e tive que deslizar a mão para pegar. —Vicente François, alô, alô, alô... —Vicente! O que você aprontou dessa vez? Porque o seu rosto está na TV? E que jeito é esse de atender á ligações? Porque você e Lisa Mary estão em uma delegacia? Estreitei os olhos e me aproximei da janela. Empurrei o dedo entre os trilhos da persiana e pude avistar a frente da delegacia repleta por repórteres. Eles pareciam como urubus. —Mãe, cuide para que o meu pai não assista por hoje. Não até que eu possa chegar para conversar com vocês dois, okay? —O que está acontecendo, Vicente? Meu filho, alguém tentou assaltar vocês? —Não, mãe. Eu estou indo pra casa. Já que estão fazendo transmis
80 Vicente François ⤝⥈⤞ “Diga ao espelho o que você acha que ela já ouviu.” Minhas mãos ficaram mais frias e meus pensamentos se tornaram reflexos do que eu sentia. Engoli. Se me olhasse direito, veria um homem sentado na cadeira segurando o próprio banco. Meus olhos paralisaram no painel à frente e minhas pernas se tornaram imóveis. Embora meus lábios se abrissem e fechassem naquele momento, nenhum som fora emitido do fundo da minha garganta. Talvez ela não estivesse me falando a verdade. Talvez fosse apenas mais uma daquelas peças sem graça que Charlotte costumava pregar em mim. Talvez fosse isso. Eu e meu encorajamento respiramos fundo antes de olhar nas faces dela outra vez. Ela expirou. É, não era uma peça. —É. Agora você sabe, Vicente- —Desce desse carro, agora, Charlotte. Estiquei a mão até o puxador e empurrei a porta com o cotovelo. Mordia a mandíbula como se fosse quebrá-la, mas era apenas a minha raiva se controlando para não ser um miserável covarde. De costas p
81 Vicente François ⤝⥈⤞ Mamãe me soltou, saindo do abraço, e segurou-me pelos ombros. —Vicente, meu filho. Olhe em meus olhos e diga que não sente nada por aquela mulher. Meus lábios se moveram. Abriram e fecharam, mas nenhum som fora emitido. Ela se preparou para me repreender, mas as portas se abriram e Charlotte entrou. Senti as unhas de mamãe arranhando minha pele quando a mesma tentou me segurar, mas foi de imediato. Corri em direção à Charlotte, sem pensar. —Desgraçada, miserável. CHARLOTTE! Você acabou com tudo. Você acabou com tudo!! —Estava prestes a alcançá-la quando senti novamente minha mãe me puxar. —Vicente, pelo amor do seu Deus, para com isso. O seu pai está lá em cima, vocês vão matá-lo! Tenham essa briga numa outra hora, eu imploro aos dois. Imediatamente, mamãe se lançou entre Charlotte e eu enquanto eu apontava o dedo no rosto da minha irmã, de maneira agressiva e ofensiva. —Do que você tá reclamando? Hã? Você não tem muito com o que se preocupar, não é m
82 Vicente François ⤝⥈⤞ É como a dor de um infarto, mas eu não poderia me manter cego tendo os dois olhos abertos. —Pai, eu- —Sem desculpas. Eu sei que tem algo acontecendo aqui e quero descobrir agora. Sua mãe não me deixa ligar a TV, você chutou sua irmã pra fora de casa e eu nunca vi você assim em toda a sua vida. O que está acontecendo? Refém do bom caráter, inspirei fundo e relaxei os ombros. —Pai, Lisa Mary está presa por ser suspeita de ter assassinado a Amanda Klein e Charlotte sabia de tudo. Eu sei, não contei toda a verdade. Mas, eu não queria que o meu pai retornasse para o hospital por causa das maldades daquelas duas, embora eu ainda estivesse tomando a decisão de ccontar ou não. Eu estava pensando enquanto aguardava por suas palavras. Eu achei que conhecia Lisa Mary. —Meu filho, essa é uma acusação muito perigosa- —Eles têm as imagens de câmeras de segurança. Eu sei, eu também não queria acreditar até ver e ouvir da boca dela. Pai, o que Charlotte fez, ao lado
83 Lisa Mary ⤝⥈⤞ Rendida. Era dessa maneira como eu me sentia. Charlotte saiu da delegacia como uma pessoa boa enquanto eu tive coisas acrescentadas ao meu processo. Já não havia uma esperança para mim. Vicente desistiu de mim, e era justo. Eu estava começando a passar pelo corredor da retribuição. Estava começando a pagar pelas coisas que havia feito e, por algum motivo, eu não me sentia incomodada com isso. Era uma forma de pedir desculpas. ⤝⥈⤞ Ter esperado até o julgamento despertou uma série de problemas dentro da minha cabeça, mas não me importei, afinal de contas, lá já era um hospício antes. —O seu julgamento é em dois dias, sabia? —Disse o guarda, passando o cacetete pelas grades de ferro. —É. Eu esqueci de trazer o relógio e o calendário. Que descuido. —Me encolhi na cama, juntando os joelhos ao corpo. —Você tem amigos… Poderosos. —Ele encostou o ombro nas barras de ferro. —Sabe, qualquer outra pessoa apodreceria no presídio por causa desse julgamento, se não morress
84 Lisa Mary ⤝⥈⤞ —Desce do carro, anda logo. A gente tá sendo vista, cuida. Ela bateu a porta do carro e acendeu um cigarro entre os dedos. Espremendo os olhos, Charlotte se distanciava pouco a pouco do veículo. Parei. Alisei as mãos pelas coxas e expirei. Talvez não fosse tão ruim fugir com ela, mas eu a entregaria ao final dessa fuga e me entregaria para a corte da França. Percebendo meu atraso, Charlotte abandonou a conversa com o rapaz em sua frente e me olhou por cima dos ombros, expirando uma fumaça cinza. —Ôh, caralho! Tá esperando um convite? Desce logo do carro, Lisa Mary. —Ela parece ágil. —Disse o rapaz com tatuagens de aranha no pescoço. —Sim, ela é ótima. —Informou com seu sarcasmo. —Se você gosta de capachos que se fantasiam de espantalhos magricelos e cometem burrices durante seu trabalho. O sorriso que ela sustentou nos lábios foi o impulso para que eu descesse do carro com ódio. —Bom, de qualquer forma e droga da lancha tá aí. Aí, o dinheiro tá na maleta,
85 Lisa Mary ⤝⥈⤞ A lancha velejou por mais algumas horas até que finalmente chegássemos a uma ilha. Com a lancha ancorada, descemos da mesma carregando algumas malas com tamanho e traços padrões. Dentro havia munições, granadas de mão e algumas pistolas. Charlotte conhecia todo tipo de gente e, naquele dia, eu pude confirmar isso. —Okay, o que nós faremos agora, Charlotte? Joguei as malas no chão empoeirado e uma nuvem mínima de fumaça subiu na altura das minhas botas, escondendo o preto em manchas de cor cinza. —Nós esperamos o meu irmãozinho. Ficaremos apenas nós três aqui, porque faltou verba pra contratar homens que nos ajudassem nessa droga de ilha. —Ela jogou o corpo lento sobre uma poltrona mal-acabada e jogou os pés para cima. —Consegue sentir? Eu lhe lancei um olhar, confusa, e embiquei. —Não consegue sentir como é se sentir livre? Nós finalmente nos livraremos de Vicente e daremos um fim às suas ameaças. Viveremos como rainhas, longe de todos. Nós conseguiremos nova