NortonTrês meses depois...A casa de minha mãe se tornou um lugar chato para ficar.Ela ainda insistia em me tratar com frieza, mesmo após três meses decorridos desde a última aparição de Cristina aqui. Realmente ela nunca mais me procurou depois daquele dia.Até cheguei a pensar em procurá-la depois que falei com o Normando, meio que para amenizar a confusão dela, mas acabei desistindo porque ela poderia achar que eu queria retomar um caso e deixei passar. Sei que eu deveria fazer isso, era o certo, mas acho que se fizer isso sem ter uma ideia definida do que sinto por ela, vai ser pior.Porque nem eu sei o que sentir agora. Nos primeiros dias fiquei puto com o modo como minha mãe me tratou, até fiquei um dias no meu apartamento e só depois voltei pra cá, mas com a passagem dos dias eu fui parando pra pensar um pouco e até que hoje dou razão ao meu irmão.Acho que o que eu fiz foi um ato de egoímos e foi muito feio de minha parte brincar com os sentimentos dela. Eu poderia ter chama
CristinaA vida era mesmo uma loucura. Acho que venho pensando isso demais nos últimos tempos. Olhando para minha barriga, agora consigo ver sinal de que tem um bebê crescendo dentro de mim e estou tão feliz e assustada que nem sei medir o quanto. Depende do dia.Tem dias que estou nas nuvens, me imaginando como mãe, organizando as coisas, cuidando de meu filho. Outros dias me pego desesperada por ser mãe de primeira viagem e ter que aprender sozinha como criar uma criança nesse mundo cada dia mais louco.Estou entrando na décima segunda semana de gestação. Minha barriga já está redondinha, ainda que baixa e dura. Se estiver usando uma roupa folgada nem dá para perceber.Foi muito difícil para mim nas duas primeiras semanas após descobrir que estava grávida. Fiquei com muita vergonha do que as pessoas iriam falar sobre mim, mas depois superei isso. Quem gosta mesmo de mim não vai me julgar por um erro e quem não gosta, vai achar defeito o tempo todo, então não tenho que ficar preocup
Norton A primeira vez que eu vi Cristina, achei que fosse bonita e diferente, só não imaginei o quanto. O desafio que ela representou para mim me fez criar um plano de sedução. Achei que depois de conseguir o que queria, eu a deixaria de mão e voltaria à minha vida normal.Não foi bem assim. Esse tempo todo eu ainda penso nela. Às vezes tenho raiva porque me envolver com ela mudou meu relacionamento com minha mãe. Já tem um tempinho que não fico direto na casa dela, apenas passo por lá e ainda assim, fico mais de conversa com o Normando quando está em casa. Aos poucos ela fala comigo mais calma, estou percebendo a mudança, mas está demorando muito.Sinto falta da minha mãe de antes.Lá embaixo os carros passam apressados. Tem uns dois dias que estou desanimado. Me sinto diferente, como se tivesse um peso em meus ombros e detesto essa sensação. Não fiz nada tão grave como minha mãe quer deixar parecer. Foi só uma transa. Quer dizer, foi mal, eu sei, mas não tanto assim, né?Muitas mu
CristinaAlgumas semanas depois...Hoje o dia está muito quente, mas sei que em breve vai cair uma pancada de chuva daquelas. Já ouvi na rádio e também na tevê do vestiário que vem muita chuva. Parece que tem um tufão bem na frente, na costa e se aproximando.Na Bahia já está chovendo horrores e muitas pessoas estão desabrigadas. Casas caíram, ruas ficaram inundadas, falta de energia e muita confusão. Meu medo é que isso vá acontecer por aqui também.Aqui é uma cidade plana em sua maior parte, mas alguns bairros são mais baixos que outros e como acontecia no meu bairro anterior, toda a água que vinha da parte mais alta descia pela escada que servia de caminho para chegar até o asfalto.Graças a Deus não moramos mais lá ou eu estaria bem nervosa agora. Estou no meu décimo sexto mês de gestação e minha barriga já está alta e bem redonda. Agora eu já sei que vou ser mãe de uma menina. Quando soube chorei como doida e a médica riu comigo, brincando que eu seria uma mãe babona. Não sei, a
Parte 1...Norton Já sabia que isso poderia acontecer. Estou ligado nas notícias desde ontem quando vi que falavam sobre toda a chuva que caía na Bahia e que provavelmente viesse para cá.O estado é pequeno e geralmente quando chove dessa forma por lá, respinga aqui, por assim dizer. E nesse caso, era o fim de um tufão. Espero que não faça tantos estragos.Mandei que fechassem tudo e baixassem as portas de segurança para proteger as paredes de vidro da empresa. Mandei que guardassem os carros mais luxuosos e caros no fundo onde o galpão é mais forte.Dispensei os funcionários. Dificilmente alguém iria aparecer para comprar um veículo nessa situação, apenas se fosse maluco o suficiente para isso. E não posso forçar meus funcionários a ficarem. A maioria deles mora muito longe e precisam pegar uma condução, às vezes mais de uma para voltar para casa.Não sei, mas meu pensamento voou para Cristina, quando vi duas funcionárias saindo apressadas em direçao ao ponto de ônibus. Será que ela
Parte 2...— Não esteve com mais ninguém?Ela se virou de novo para mim e dessa vez, seus olhos me matariam se tivessem raios saindo dele.— Não - disse apertando os dentes — Cruzar com um canalha já foi o suficente para mim, não tenho intenção de me meter com outros do seu nível - se virou e fechou a caixa maior — Se quiser um exame de DNA para comprovar, posso fazer aqui mesmo no trabalho, mas é seu.Pelo menos ela não disse infelizmente é seu. Porra!Fiquei incrédulo. Que absurdo. Eu nem sabia que seria pai. Toquei seu ombro.— Não ia me contar?— Claro que não. A criança é só minha - se virou.— É minha também - falei alto.Ela me olhou franzindo os olhos e começou a rir. Me senti um imbecil parado ali.— Sério que você acha mesmo - ergueu as mãos — Que tem algo a ver com essa criança? - segurou a barriga alta — Você foi só um deslize em mminha vida, nada mais. Não tem paternidade aqui.— Claro que tem - bati o dedo na testa — Está louca?— Estive, quando me deixei levar por seu
Cristina Quando entrei em casa minha pulsação estava acelerada. Sentei na primeira cadeira que achei pela frente. Minha mãe ficou preocupada.— O que aconteceu? Como ele veio parar aqui?— A senhora não imagina o susto que eu levei quando o vi no hospital, lá na clínica - puxei o ar — Nem sei de onde tirei forças para continuar de pé. Estava organizando as coisas para o internos idosos.— Vou pegar um copo com água pra você.Larguei a bolsa de lado quando minha mãe saiu apressada. Nem prestei atenção se ele já tinha ido embora. Levantei com as pernas tremendo e fui até a janela, puxando a cortina.A chuva estava forte, mas o carro não estava mais lá fora. Minha mãe voltou com o copo. Bebi tudo sem parar, de tão nervosa que estava. Nem sei mesmo como eu ainda consegui conversar com ele.— E agora? - mamãe estava preocupada.— E agora nada - devolvi o copo e me sentei de novo — Eu disse a ele que não tem que se preocupar, não quero nada dele.— Minha filha - ela gesticulava nervosa — E
Norton Cheguei em casa no modo automático. Nem sei como não fiz uma merda pelo caminho, com minha mente longe.Eu não conseguia parar de ver a imagem de Cristina com aquela barriga. Eu ia ser pai. Meu Deus, eu vou ser pai.— Norton... Que cara é essa?Olhei para o lado e vi meu irmão, Normando. Eu fui para a casa de minha mãe ao invés de meu apartamento. Nem percebi.— Você está todo molhado, cara.Balancei a cabeça jogando o cabelo molhado. Só agora notei isso. Preciso me livrar dessas roupas. Nem respondi e fui para o quarto, sendo seguido por Normando.Ele sentou na minha cama e eu fui até o closet procurar o que vestir. Estou com a cabeça a mil. Por que diabos eu estou me importando?— Vai me dizer que porra você fez?Parei com a roupa no braço. Olhei para meu irmão e ele entendeu que eu preciso de ajuda.Sentei ainda com a calça molhada na cadeira ao lado da janela e suspirei, olhando para baixo. Não sei, mas acho que estou emocionado.— Cristina está grávida - soltei.Ele abriu